Detesto Pessoas Corajosas escrita por Izzy Hojou


Capítulo 1
Enviado Ao Paraíso


Notas iniciais do capítulo

Essa fic é uma alternativa à Décima Temporada, então os fatos desta na série não ocorrem nem interferem na fanfic. Para ambientar a leitura, sugiro ouvir Earth, do Sleeping At Last ;)



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O Doutor pegara o costume de sair da Tardis e sentar sobre seu topo externo desde o incidente. Qual era exatamente o incidente ele não recordava, porém sabia que aquilo havia lhe deixado marcas profundas, pois apenas por deixar ecoar o nome Clara pelo interior de sua mente seus olhos se enchiam de lágrimas. Estas coisas humanas o estavam afetando tal maneira que estava prestes a desistir de se intitular o “Doutor”. Uma agonia constante permeava seus dias tediosos naquela máquina do tempo azul, enquanto sentia os corações lhe comprimirem o peito de maneira insuportável.

Ele tinha para si que ainda conseguiria encontrar a humana intitulada Clara, porém sequer possuía alguma lembrança dela. Não tinha um rosto, roupas, gostos pessoais, sequer um cheiro de perfume – aquelas eram as características humanas que marcavam-nos quanto às possibilidades de encontrarem uns aos outros no meio de sete bilhões de semelhantes. Ao menos ainda possuía um pouco de sanidade para matutar sobre aquilo, o que não vinha durando muito nos últimos dois meses.

Era comum que, com o passar das horas e sem qualquer companhia viva por perto, o Doutor se deixasse levar por algo que poderia ser chamado de instinto. Primitivo e avassalador, ele se flagrou diversas vezes em meio a ataques de ira completamente descontrolados, nos quais atirava coisas ao chão, chutava o painel de controle da Tardis, socava as paredes com tamanha força que certa vez pensou ter quebrado o pulso. Outra constante era a tristeza. Súbita e terrível, se alocava nos corações do Doutor sem sua permissão, causando picos depressivos nos quais as lágrimas lhe desciam pelo rosto pálido incessantemente, chegando a fazê-lo soluçar como uma criança assustada.

Naqueles momentos, escondia-se em um canto que alguém descobrira: uma alta prateleira, grande o bastante para que um homem lá se sentasse, localizado ao fundo da sala hexagonal e escondido o suficiente da porta que levaria a uma das piscinas. Ali o Doutor espremia o corpo, segurando os joelhos junto do peito e se deixando chorar, assim a Tardis não o veria tão explicitamente abalado.

Aqueles dois extremos estavam enlouquecendo o Doutor aos poucos, e no decorrer dos dois meses que passou à deriva no espaço, chegara a pensar em suicídio, afinal gallifreynianos não eram religiosos, tampouco se comoveriam em vir apanhar uma antiquada Tardis defeituosa e um corpo que não se decomporia devido ao vácuo e ao fato de ser um gallifreyniano. Voltou a pensar na possibilidade de suicídio. Por que não? 

Deixei tantos morrerem e mais ainda morreram por minha causa. Eu estaria fazendo um favor ao Universo. Todos se veriam livres de um louco como eu e talvez até fizessem uma comemoração intergaláctica-intertemporal em cima do meu túmulo. Lembrou-se de que seu túmulo seria Trenzalore e que não poderia alterar esse pequeno fragmento de futuro. Ir até lá para me matar daria trabalho, mas não seria uma viagem tão terrível. Posso ouvir algumas músicas talvez... Dançar sozinho, realizar cálculos difíceis para passar o tempo — riu com o breve trocadilho – ou simplesmente direciono o curso da Tardis e durmo. Dormir também é uma ideia. Nunca tive uma boa noite de sono, não de verdade.

O Doutor se divertia com seus ideais suicidas de maneira assombrosa, enquanto seus pensamentos iam e vinham acerca do nome “Clara”. Ele tinha completa noção de que Clara foi alguém importante em sua vida. Sabia que ela o ajudara, que os dois tinham uma forte conexão, que se entendiam mesmo quando brigavam. Tinha pleno conhecimento de que nutrira por Clara um sentimento, algo forte e de certa forma proibido. Algo que sem sombra de dúvidas foi o causador de toda aquela agonia que o vinha perturbando.

Começou a chorar. As lágrimas lhe rolaram pelo rosto inconvenientemente, rápidas e grossas, não demorando para gotejarem de seu queixo na barra da camisa amarrotada. E de repente, o Doutor se deixou levar por aquele choro. Soltou um som incoerente que aparentava ser um soluço e se permitiu com aquilo também gritar, sentindo pontadas nos corações que aceleravam a cada segundo. O nó em sua garganta apertou-se, um barulho de engasgo se seguiu e depois tossiu para recuperar o fôlego, gemendo palavras doloridas que faziam eco em sua cabeça. Seu choro era desesperado, incontido, abalador. E se alguém naquele espaço o pudesse ouvir e ver, sem sombra de dúvida tentaria acalmá-lo, pois conforme as lágrimas iam rareando, a ira tomava o lugar da tristeza.

Enxugou os olhos já em tom avermelhado com a manga da camisa. Olhou para o espaço e todas aquelas estrelas, planetas, sóis, galáxias, e tudo aquilo que ele deixaria de explorar ao lado de Clara; de um ímpeto, esmurrou a cobertura da Tardis em um ataque silencioso. Repetiu o ato. Novamente, com intervalos cada vez mais curtos e utilizando de mais força os socos meio ritmados desencadearam mais uma enxurrada de lágrimas pela face do Doutor, que com o derradeiro murro, debruçou-se sobre aquele teto azul e se entregou completamente àquilo que tinha dentro de si, desabando de vez.

O Doutor sequer conseguiu notar a passagem das horas, visto que ficou no telhado deixando que a tristeza se esvaísse de si. Aquela era a primeira vez que conseguiu manter um pouco de controle em suas ações desde sua primeira crise. Levou algum tempo até notar que havia cochilado ali em cima.

Estava com frio. Sentia arrepios nos braços e nuca. Sentou-se de pernas cruzadas e esfregou os olhos para espantar a sonolência e tirar o ardor que restou das tantas lágrimas caídas. Suspirou profundamente e ergueu os braços na intenção de se alongar um pouco, e então notou uma presença. Na verdade, mais de uma. Dois soldados armados observavam o Doutor pacientemente.

— Você é o Doutor? – o mais alto perguntou tentando soar ameaçador. Não houve resposta.

— Você vem conosco. Está preso sob a lei Zward. Levante os braços e largue quaisquer armas que carregue consigo – o soldado mais baixo ordenou, descansando a arma na correia de braço para poder prender as mãos do Doutor em algemas espessas com fechamento automático.

Os tais soldados não chegaram a perceber que o Timelord de cabeça baixa atrás deles tinha o semblante de quem foi interrompido em seu luto. Era possível notar mesmo de longe, as sobrancelhas cerradas, testa franzida, a boca comprimida em uma linha fina. E se lhe tirassem as algemas, perceberiam os punhos fechados com força. Era aquele com certeza um dos raríssimos momentos onde o Doutor sentia ódio.  


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Notas finais do capítulo

Espero que esteja crível o suficiente para DW ;)



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