Prudence tinha gosto de festas e erros da noite passada, era seu licor de cereja e cigarros a descansaram no cinzeiro. Ela era feita de roupas curtas e escapadelas no meio da noite, tinha um gosto por delinquentes, e um gosto ainda maior para quebrar seus corações.

Uma estrela que contentou-se em brilhar intensamente em alguns parágrafos de uma peça de teatro há muito encenada, apenas para apagar-se novamente por detrás de cortinas de veludo vermelho em um teatro qualquer. Sem próximas datas, sem bis, sem aplausos, sem qualquer resquício de que sua existência houvera sido notada, ao menos recebera alguns olhares incrédulos em seu último ato, ou talvez eles pensassem que o grand finale ainda estava por vir.

Tudo tão perfeitamente como sempre ocorrera, colocada em moldes e interpretando dezenas de papéis que não o seu próprio, caminhando pouco e lentamente rumo ao seu fim, ou de tudo o que realmente importava. Agora ela era apenas como as outras pessoas, seus parafusos soltos haviam sido recolocados e sua mente ocupava-se apenas com os zeros em sua conta bancária.

Você cresceu, minha querida.

E eu não pude fazer nada para impedi-la.

Os garotos com jaquetas de couro e óculos escuros haviam sido trocados por ternos engomados e carros importados, os beijos roubados por seu doce delinquente juvenil agora não valiam tanto quanto costumavam. Eu me pergunto o que aconteceu com a garota não tão prudente quanto seu nome parecia-lhe apresentar, as madrugadas passadas ao lado de desconhecidos e seus segredos revelados depois algumas doses de um vinho barato. Eu me pergunto em que esquina nos perdemos, em que esquina deixamos de ser feitos de para sempres e começamos a ser até outro dia.

Até amanhã.

Até depois.

Até nunca mais.

Nos amávamos como gregos e troianos, protagonistas de nossa própria história sem fim, ouvi dizer que no amor e na guerra vale-se tudo, mas você ainda pensa que o amor é um jogo ou leva isso um pouco mais a sério? Nós fomos feitos um para outro, apenas não fomos feitos para durar, nós éramos o que a vida havia dado ao mundo de melhor, vivíamos na melhor época e no pior dos tempos. Talvez nossa história fosse diferente se estivéssemos em outro lugar que não o fundo do poço e em outra época que não os depravados anos noventa.

Nós não tínhamos futuro algum e sabíamos muito bem disso, éramos deuses caçoando de nossos próprios destinos. Os primeiros a chegarem em suas grandes festas e os últimos a saírem. Nós fomos feitos para ficarmos juntos até o final dos tempos.

Minta um pouco mais.

Onde você esteve que não no mesmo bar com sua meia calça arrastão e sorriso frouxo a espera de alguns novos amigos? Descartando todas as suas noitadas por gentilezas, caindo em um crise comum, seu buraco negro de emoções enfim arrumado, sua desordem mental colocada em completa ordem. Se estrelas cadentes fossem de verdade e se moedas na fonte funcionassem, se máquinas do tempo existissem e eu ainda acreditasse em velas de aniversário, você seria Wendy e eu Peter Pan.

Mas eu não acredito há muito em nenhuma dessas coisas.

E nem em você.