Ametista e Garnet saíram em missão, Stevonnie terminara seu treinamento e agora as crianças brincavam na praia. O templo estava calmo. Um silêncio há muito não apreciado por Pérola. Estava tão quieto que a Crystal Gem decidiu ocupar-se com alguma coisa. Mas tudo o que ela fazia não parecia fazer nenhum sentido.

E qual era a necessidade de perder tempo com uma coisa que não teria frutos?

Pérola sentou na cadeira, segurando um pedaço de papel. Recordou-se de quando havia abordado aquela misteriosa mulher de cabelo rosa na cafeteria e depois acabaram se encontrando novamente em um show de música que a Gem achava bem barulhenta.

O número de telefone estava ali, o aparelho de telefone também. Bastava Pérola unir os dois e iniciar uma chamada. Iriam conversar sobre diversos assuntos triviais e ririam de situações que ambas sentiriam completas ou apatetadas.

Era muito simples. Só que seus dedos não estavam digitando o número. Então o que estava acontecendo? Já vira muitos humanos utilizarem aparelhos de comunicação antes, não era nem um pouco difícil.

Ora essa, uma Crystal Gem de tantos anos de experiência em batalha não poderia ser vencida por um aparelho tão pré-histórico como o telefone residencial.

Com o peito inflado de orgulho de determinação, Pérola fez a chamada e colocou o telefone no ouvido. E foi aí que ela começou a sentir sua energia esvair de nervosismo. Pensou em desligar, mas já era tarde demais.

— Alô?

Pérola murmurou um som incongruente, percebendo que estava apavorada.

— Alô?

A voz daquela mulher era tão segura, fazendo Pérola pensar que precisava segurar a emoção que sentia e falar com ela.

— Oi, alô. Sou eu, a Pérola.

— Pérola?

— Foi o que eu disse. — Pérola bateu a mão na testa. — Digo, isso, sou eu. Nos conhecemos no show do Mike Krol. Você não se lembra mais de mim?

— Oh! Sim, Pérola. Claro que lembro de você. Eu adorei o seu cabelo.

— Eu também adorei o seu cabelo.

— Você está bem?

— Sim, eu me sinto perfeitamente bem, com tudo no lugar.

— Que ótimo. Qual a boa do final de semana?

— A boa? Errr... — Pérola tentou se recordar das gírias utilizadas por Steven, mas aquela era uma novidade. — Vai fazer sol, então eu acho que é uma boa para os habitantes de Beach City.

— Com certeza.

Pérola ouviu risos e pensou se não estava falando alguma bobagem ou deixando-a entediada.

— E qual a boa do seu final de semana?

— Uma banda nova vai tocar no antigo píer, você conhece?

Como Pérola não conheceria? Aquele píer foi destruído pelas Gems. Mas talvez aquela não era hora de dar detalhes sobre suas aventuras por Beach City.

— Sim, eu conheço.

— Seria legal te encontrar lá, vai começar as sete horas no sábado.

— Parece ótimo, a gente se encontra lá.

— Perfeito, até mais Pérola.

— Até mais...

Antes de Pérola perguntar o nome dela, a mulher misteriosa desligou o telefone. No papel havia apenas um S. e o número do telefone. Parecia bastante rude da parte de Pérola ir encontrar uma pessoa sem saber o nome dela.

E foi então que Pérola pensou que havia marcado um encontro. Embora estivesse orgulhosa de ter se saído muito bem ao telefone, ela precisava de ajuda, já que nunca havia estado em um encontro.

Não poderia contar com a assistência de suas colegas, era autoexplicativo o motivo. Também não poderia falar de tal assunto com Steven e Connie, eles não entenderiam. Ou entenderiam? Quem mais poderia ajuda-la naquele momento?

— Você tem um encontro? — Greg perguntou surpreso, segurando a mangueira, desperdiçando a água no chão.

— Sim, isso é tão estranho?

— Na verdade é sim. — Greg olhou a água agora estragar o estofado do carro. — Minha nossa, o que eu estou fazendo? — Ele correu para desligar a água e deixou a mangueira no chão.

— Eu só quero que você me diga o que eu devo esperar de um encontro com uma humana e o que preciso fazer com ela. — Pérola experimentava um momento anormal, pedindo conselhos para Greg. E ele parecia mais vermelho do que nunca.

— Ai, cara. Um encontro é quando duas pessoas saem juntas para se conhecer mais. Conversar sobre as coisas que gostam. Seja você mesma. — Ele levou a mão ao queixo e mudou de ideia. — Pensando melhor, seja você, mas não seja muito.

— Como assim? — Pérola comprimiu os lábios.

— Esse lance de garota do espaço pode até conquistar alguém, mas a parte de monstros e missões perigosas, eu só diria depois de uns dez encontros, se tudo estivesse saindo bem.

— Então você acha que eu não deveria falar sobre o que eu faço? E se ela me perguntar?

— Ah! Fala das coisas que você gosta de fazer. Por exemplo, você não é espadachim? E você também não dá aulas para Steven e Connie?

— Sim. Essas são afirmações verdadeira.

— Certo, então você é uma professora, mestre em espadas e ótima dançarina.

— De fato eu sou tudo isso que você falou. — Pérola começava a compreender onde Greg queria chegar.

— Eu tenho certeza de que essa garota vai gostar de você. — Ele deu um sorriso ao melhor estilo Greg e Pérola agradeceu pelos conselhos.

No outro dia, Pérola fez o possível para desviar do assunto sobre a “boa” do fim de semana e achou estranho que agora todo mundo usava aquela expressão. Ela afirmou que passaria a noite em seu quarto, cuidando de coisas importantes. E quando todos pareciam muito ocupados em algum lugar bem longe dela, decidiu sair do templo e ir para o antigo píer. Só não esperava encontrar Ametista e Garnet por lá, junto com Steven e Greg.

— Olha lá a Pérola. — Ametista gritou e começou a acenar. — Vem, Pérola.

O embaraço de Pérola era evidente e para piorar, Steven também começou a gritar. Ela balançou a mão e gesticulou o quanto pode para afastá-los. Só que era uma operação quase impossível.

— E seu grande encontro? — Greg perguntou, fazendo todos olharem para Pérola. — Opa, desculpa, eu não queria te entregar.

— É por isso que você está tão bonita? — Ametista perguntou, gargalhando em seguida.

— Até vestiu uma calça, você não é disso. — Steven estava com os olhos brilhando. — Espera, você tem um encontro com quem?

— Acho que eu sei quem é. — Ametista apontou na direção do calçadão, onde algumas pessoas estavam estacionando seus carros e motos. — É aquela garota misteriosa de cabelo rosa.

Pérola não viu mais porque esconder seu encontro e narrou toda a situação desde a ligação que fez para S.

— Ela está vindo. — Avisou Garnet.

— Atenção todos. — Greg bateu as mãos duas vezes. — Vamos deixar a Pérola em paz. — Ele deu uma piscada para Pérola, levando todo mundo para não muito longe dali, pois até mesmo ele estava curioso em ver o que iria acontecer.

A mulher de cabelos rosados caminhou pela areia da praia, sem se preocupar com suas botas afundando na areia. Ela usava calça jeans rasgada nos joelhos e uma camiseta branca com decote. Os cabelos rosas estavam deslumbrantes, talvez mais brilhosos desde a última vez que Pérola havia visto.

— Oi, Pérola. Eu cheguei tarde? — Ela chegou bem perto de Pérola e deu um beijo e seu rosto. O piercing branco preso em seus lábios era gelado e Pérola gostou da sensação.

— N-não, está perfeitamente dentro do período estipulado ao telefone. — Pérola deu um sorriso desajeitado.

— Você está gostando da música? — Ela perguntou, mas a única coisa que Pérola conseguia pensar era em como aquela mulher exalava autoconfiança. — Quer beber alguma coisa?

— Eu não bebo.

— Quer comer algo?

— Eu também não como. Isso é um problema?

— Nenhum, você tem mesmo esse tipo físico de bailarina.

— É mesmo? — Pérola não percebeu, mas começava a relaxar e a conversa que ela achou que seria difícil, fluiu perfeitamente bem. E aos poucos, aquela sensação de sua pedra vibrar se ansiedade, foi diminuindo até as duas começarem a rir por alguma bobagem que falaram.

— Quer dar uma volta de moto?

— Quero sim, obrigada por perguntar. — Pérola acompanhou S. até o calçadão e recebeu dela o capacete para subir na moto. Mesmo que nada ruim fosse acontecer com ela em uma voltinha de moto, ouviu com atenção as dicas de segurança.

— Segure com força se você ficar com medo, ok?

— Ok! — Ela confirmou e então S. ligou a moto.

A sensação de ter o vento bagunçando seus cabelos era divertido, não poderia deixar de se lembrar como foi a primeira vez que chegou na Terra e ouviu o vento com atenção, como Rose havia lhe ensinado.

De repente, Pérola apertou as mãos ao redor da cintura de S. A moto acelerou ainda mais, fazendo Pérola segura-se com mais força.

O que ela sentia não era medo da velocidade, mas o medo do futuro. Pérola não possuía poderes de prever o futuro como Garnet. Talvez isso também não ajudasse muito, já que provavelmente ficaria mais paranoico com cada previsão.

A verdade era que Pérola temia o futuro com S.

Ou a falta dela em seu futuro.

Era tudo confuso, mas tão divertido, Pérola apoiou a cabeça nas costas de S., sentindo novamente aquela vibração em seu ser. E era um sentimento tão bom que desejava reproduzi-lo constantemente. Não importava qual era o futuro que estava destinado para as duas.