Old Habits escrita por kelly pimentel


Capítulo 8
Caprichos


Notas iniciais do capítulo

Sinto muito pela demora. Espero que gostem :)



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—Bruxismo. –Afirmo enquanto MB massageia meus pés. Estamos deitados na minha cama, estou finalizando o material que prometi colocar na pasta compartilhada do meu trabalho ainda hoje, enquanto o MB tenta responder o questionário sobre mapeamento de doenças em nossas famílias.

—Bruxismo? Isso nem conta como doença, e nem deve ser genético. –MB pontua me olhando.

—Você deveria ligar para sua mãe. –Afasto minha visão da tela do computador e encaro os olhos que parecem esmeraldas como se o dono deles tivesse perdido a cabeça. Não vou ligar para minha mãe, não depois de tudo que aconteceu mais cedo. Ainda não superei minha indignação, nem estou pronta, além disso, continuo parcialmente preocupada com o bem-estar do bebê, mas não preciso dizer tudo isso ao MB, então apenas digo “Sem chances”, o que faz com que ele solte meus pés e venha sentar-se ao meu lado. Ele passa a mão nos meus cabelos afastando-os do rosto. –Como é que eu vou embora e te deixar assim, emburrada Lica? Você precisa...

“Ele vai embora” é tudo que o meu cérebro processa, havia esquecido disso. MB não mora mais em São Paulo, ele vai embora em pouco tempo e eu queria pedir para que não fosse, mas não posso fazer isso, não posso porque não sei o que quero, e não posso porque se a minha mãe soubesse que eu estou voltando com o MB, bem, aí sim ela não iria me perdoar.

—Eu não estou emburrada. Estou cansada. –Também estou frustrada, chateada, prestes a chorar, provavelmente graças aos hormônios da gravidez, ou talvez eu queria usá-los como desculpa. –E preciso terminar isso. –Falo apontando para a tela do computador.

—Quer me contar no que está trabalhando? – Ele pergunta. Sei que seu interesse tem o propósito de fazer com que eu pare de pensar nos meus problemas, mas aceito o conforto, aceito porque realmente preciso de qualquer conforto no momento, não quero pensar em coisas que não posso controlar.

—É uma campanha da Starbucks. –Falo mostrando as primeiras peças já finalizadas. –Criei um padrão de ilustração divertido que mescla o café com atividades diárias. O conceito da redação é “Starbucks em todos os momentos”. -Tenho apenas mais uma peça para terminar, só uma, enquanto isso os outros arquivos estão sendo carregados na pasta compartilhada da agência.

—Ficou incrível, como você. – Ele afirma me fazendo tirar os olhos da tela outra vez, sinto uma vontade enorme de beijar MB.

—Se eu disser que quero você agora, mas que não tenho certeza sobre depois, isso seria terrível? – Pergunto sendo honesta.

—Seria melhor se você tivesse simplesmente me beijado. –MB responde aproximando sua boca da minha. –Mas eu não posso negar o desejo de uma grávida, posso? – Ele pergunta sorrindo. Eu sei o quanto o meu comportamento o machuca, mas, por mais cruel que isso seja, eu sabia a reposta antes da pergunta, porque sei que quem gosta aceita as migalhas mesmo que elas entupam as veias. Eu mesma me contento com migalhas no sentido que não me permito entender como me sinto, entender o que de fato desejo. Prefiro essas pequenas doses de MB do que arriscar e descobrir que não damos certo, pois, temo ele perceba quem eu sou de verdade e simplesmente pare de me amar.

........................x......................

Um ano e meio atrás

A campainha toca duas vezes e eu abro meus olhos irritada. O braço de MB está por cima de mim, seu peso dificulta meu movimento, e nesse meio tempo alguém toca a campainha novamente.

—Não tem ninguém acordado?! – Grito. Olho para o relógio, são oito da manhã, estamos num sábado. Ellen deveria estar acordada, Tina é quem costuma ficar na cama até mais tarde, mas considerando que faz apenas pouco mais de uma semana que Jota foi embora talvez ela estivesse sim dormindo, nada mais justo. Eu mesma estaria enterrada na cama, tendo uma ressaca gigantesca.

—Ei, o que foi? – MB pergunta. Seu rosto está vermelho, o que me faz sorrir, sua expressão esnobe de quem não queria ter sido acordado contribui com o sentimento.

—Alguém está tocando a campainha MB, preciso atender, volte a dormir.

Levanto da cama, visto a primeira coisa que encontro, que é uma camisa gigante com a qual costumo dormir – e tenho quase certeza de que pertencera a Felipe, algo que MB não iria gostar de saber – e saio do quarto. Assim que abro a porta, para minha surpresa, dou de cara com a minha mãe.

—Lica, pelo amor de Deus, finalmente, estou tocando aqui tem quase meia hora. – Ela fala com seu tom obviamente exagerado. – Não acredito que você ainda não está pronta.

—Pronta? – Pergunto sem entender nada.

—Sim, vamos para casa de campo do Luís, você sabia disso. A Clara vai, você disse que ia também, que gostaria de passar mais tempo perto dela, principalmente sem o seu pai por perto.

—Claro, pode me esperar lá embaixo? Preciso de uns vinte minutos. –Minha mãe me olha curiosa, como se estivesse prestes a agir com sua intuição materna e habilidades investigativas, mas por um milagre ela desiste, sei porque sua sobrancelha baixa e eu posso ver a expressão dela ficar mais tranquila.

—Tudo bem, mas...

—Ô Lica... – A voz de MB ecoa. –Você viu a minha camisa? –Então MB aparece, usando apenas sua calça jeans e com o celular na mão, os olhos na tela. – Meu pai tá me ligando, parece que aconteceu alguma coisa na empresa e ele precisa que eu resolva, você... – ele para quando, finalmente, nota a presença da minha mãe. –Dona Marta...

—Olá MB. –Ela diz um pouco fria. –É uma surpresa te ver. Não sabia que vocês estavam em contato novamente. –Ela coloca uma ênfase na palavra contato.

—Mãe... – Digo fazendo com que ela me olhe. -15 minutos, no máximo, eu te encontro lá embaixo. Ela se despede dizendo que é bom ver MB bem, mas sei que isso é também a sua forma de me dizer que ela lembra de tudo e que não vai me deixar escapar disso. -Eu marquei de ir com ela para casa de campo do Luís, a Clara vai estar lá e eu realmente tenho que ir.

—Lica... – MB fala me pegando pelo braço, suas mãos acariciam a minha pele a expressão dele é de dor, claramente. –Você deveria ter me dito que ela se sentia dessa forma... Na verdade, eu deveria ter adivinhando.

—Faria alguma diferença? Você está me dizendo que não estaria aqui agora, é isso?

—Eu não sei, mas você sabe que eu adoro a sua mãe, que eu admiro tudo que ela fez por você e como eu me sinto com relação a isso, eu não quero atrapalhar a relação de vocês. -Ela afirma me olhando nos olhos, sei bem do que está falando, a mãe de MB havia deixado ele o pai quando ele ainda era pequeno, tinha ido embora, para fora do país, eles tinham uma péssima relação, sempre foi só ele e o pai, que como pai, é um ótimo empresário.

—Você está falando como se ela te odiasse, ela provavelmente só está receosa com tudo que aconteceu.

—Ela teria direito de me odiar, eu me odeio por aquilo. Lica... você tem noção de que poderia estar do meu lado naquele acidente? Eu aposto que a sua mãe pensa nisso.

—Mas eu não estava. -Digo encostando minha cabeça na sua. –E eu estou feliz que você esteja aqui agora. Deixe que eu me resolvo com a minha mãe, ok?

Arrumo rapidamente uma pequena bagagem e desço junto com MB, que também precisava ir embora para resolver algo na empresa do pai. Ele me dá um beijo no rosto quando chegamos na frente do prédio, mas eu o seguro pela mão e faço questão de um beijo apropriado.

No caminho minha mãe faz o favor de não falar nada. Passamos para pegar Clarinha e as coisas ficam menos constrangedoras, já que Clara é o tipo de pessoa que tem sempre um assunto, fazendo com que o silêncio deixasse o ambiente. Fico grata por isso, estava começando a achar que os olhares da minha mãe iriam me fazer explodir.

—Vocês brigaram? –Clara pergunta quando entramos no quarto que optamos por dividir, passar um tempo junto seria bom.

—Não exatamente. Ela me encontrou com MB mais cedo. Na verdade, ela encontrou o MB sem camisa na sala do meu aparamento.

Clara dá uma risada.

—Vocês voltaram ela pergunta?

—Mais ou menos. – Respondo. Eu nem mesmo tinha dito a ela sobre o fim com Felipe. –Sinto muito por não ter contado sobre Felipe, achei que você não queria saber.

—Não queria mesmo. – Ela responde um pouco sem jeito. Um silêncio se estabeleceu e eu quase torci para que a minha mãe entrasse e começasse a falar sobre MB, mas então Clarinha me olhou com um carinho que eu reconhecia. –Eu queria que vocês dessem certo, nunca achei de verdade que iriam, mas se funcionasse, então tudo faria sentido, significaria que vocês se amavam de verdade e eu teria sido a garota que não ficou no caminho do amor verdadeiro, que saiu em retirada com graciosidade.

—Sinto muito. –Digo entendendo o que ela quis dizer. Da forma como tudo aconteceu, Felipe e eu sempre fomos um capricho, primeiro da minha parte, depois, talvez, da dele. Me perguntei se ele não havia começado a me namorar novamente por isso, para compensar o fato de que ele não sabia como lidar com a ideia de ter perdido Clara.

—Sem problemas. Agora você e MB, desde a primeira vez que os vimos, juntos, e você me perguntou de qual deles eu estava afim, desde aquele momento eu soube que o Maurício estava encantado com você, e ele continua te olhando assim até hoje.

—Eu sei. E é isso que me assusta. – Confesso. –Além disso, minha mãe não está nada contente com a ideia.

—E desde quando a Heloisa deixa de ir atrás do que quer porque alguém reprova?

—Bem... – respondo sorrindo. –Eu não deixo.

—Ótimo, agora vista um biquíni e vamos para piscina. Quero aproveitar o sol.

Começo a me despir e então lembro que não perguntei a Clara por seu noivo.  Ela me responde que ele está bem de forma pouco animada e eu não digo mais nada sobre o assunto, tenho certeza de que ela falará algo se sentir vontade, mas ela nunca falou mais nada sobre o assunto, nem naquele final de semana nem por muito tempo.

.....................x.....................

Enjoada ou cansada? –Tato pergunta sem tirar os olhos do forno. Estou na cozinha do apartamento em que ele e a Keyla moram, sai da sala dizendo que precisava de um copo de água, mas na verdade precisava de dez segundo comigo mesma, sem Anderson, Tina, Benê e Guto fazendo perguntas sobre o bebê e sobre o que eu o MB vamos fazer daqui para frente, sem precisar encarar MB e lembrar de que teríamos transado na noite anterior se ele não tivesse me parado no meio do caminho e perguntado se podíamos mesmo transar, “considerando que o bebê estava agitado durante a ultrassonografia”.

—Ambas as coisas. – Respondo me servindo um copo de água gelada.

—Bom, pelo menos você não tem só dezesseis anos. –Ele afirma rindo. –Quando a Keyla ficou grávida e eu disse que o Tonico era meu, todo mundo só tinha duas reações: a primeira era dizer que éramos irresponsáveis, imaturos que não estavam prontos para um filho, a segunda era perguntar se iriamos nos casar. 

—Acho que as coisas não são tão diferentes mesmo quando você já passou dos vinte. Minha mãe também acha que eu sou uma imatura irresponsável e todo mundo também está perguntando se eu o MB vamos casar.

—Como se você já não tivesse que se preocupar com o fato de que uma criatura minúscula e dependente está vindo para ocupar espaço na sua vida. –Ele pontua.

—Tato, nesse exato momento, eu juro que você é a minha pessoa favorita do mundo todo.

—Deixa a Keyla ouvir isso. –MB diz. Tiro meus olhos de Tato e os movo em sua direção, ele está parado no arco que separa a cozinha da sala de jantar e tem um sorriso cínico do rosto.

—Então, quando vocês dois vão se casar? – Tato pergunta me fazendo rir. MB me encara como se não entendesse a piada, o que de fato é verdade. –Só estou perguntando porque minha empresa precisa ser responsável ela comida. –Ele também está rindo.

—Ok, eu obviamente perdi alguma coisa. –MB diz.  –Mas acho que você deveria se preocupar em um de se casar de verdade com a Keyla antes de tentar organizar o meu casamento.

—É só você convencer a Keyla. –Tato responde sorrindo. –Ela diz que não precisamos de um pedaço de papel e uma festa para provar que nos amamos.

—É uma mulher esperta. – MB afirma.

—Você veio conferir se me perdi? – Pergunto.

—Bom, com o tamanho desse apartamento e o seu senso de direção, eu não acho que seja difícil. –Ele retruca. – Vim ver se você estava bem sua ingrata.

—Estou ajudando o Tato.

—Apoio moral. –Tato confirma. –Mas já estamos terminando. O jantar vai ser servido em alguns minutos. Por falar nisso, pode ver se a Keyla colocou a mesa?

—Pode deixar! –MB diz saindo.

Permaneço na cozinha enquanto Tato termina de montar a sobremesa.

—Você não deveria se preocupar tanto. –Ele diz me olhando. –Vocês dois podem até não se entenderem, mas claramente se amam e essa criança é o resultado desse sentimento. De qualquer forma, ela já é sortuda.


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