Dragões do Norte escrita por Snowfall


Capítulo 8
Cyvasse




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Quando Jon imaginou Solar Ruivo, pensou que seria algo parecido com a Vila do Inverno. No entanto esse lugar era totalmente diferente. Não havia casas, só tendas. Grandes o suficiente para abrigar famílias inteiras. A única construção de madeira era um grande salão usado para encontros dos anciões e guerreiros.
Era lá que Jon se encontrava agora. No meio de vários homens grandes e barbudos que discutiam seu futuro. A chegada dele não foi bem vista por todos. Muitos não aprovaram a escolha de Tormund de trazê-lo ali. Alguns até chegaram a apontá-lo como um espião sulista que fora mandado para encontrar suas fraquezas.
Era noite, a única luz que tinham vinha do fogo aceso no meio do cómodo. Ele acariciou Fantasma atrás das orelhas para se acalmar. O lobo nunca deixara o seu lado desde de que chegaram. O que era reconfortante para Jon.
—Já disse que o moleque é minha responsabilidade! Se o quer tanto assim, Garth, tudo que tem que fazer é passar por mim!- os gritos de Tormund ecoavam pelas paredes e faziam a alegria do grupo de curiosos que se amontoava do lado de fora.
Garth era um homem grande de cabelos e barbas escuras, e o único naquele lugar que parecia capaz de fazer frente a Tormund. Ao que parecia, Garth também sabia disso. Desde de que chegaram e se reuniram ali, a maioria dos homens já haviam aceitado a história dele.
Menos Garth. Jon achava que tudo isso tinha mais a ver com Tormund do que ele próprio. Havia uma rusga entre os dois homens e agora ele estava no meio dela.
—Sua tolice não tem limites. Trouxe o filho do inimigo para viver conosco, como se não importasse que a família dele vem nos matando por gerações.
Aí estava novamente. Vinham circulando em volta desse assunto desde de que disse qual era o nome do seu pai. Pensando por um momento, achou que talvez fosse melhor ter mentido. Mas se fosse descoberto depois, seria muito pior.
—Um maldito Stark! Devíamos mandá-lo para os corvos. Um membro de cada vez.
Não era a primeira vez que foi ameaçado naquela noite. Já passaram por decapitação, esfolação, enforcamento e até ser dado aos Thenns para engrossar a sopa do dia. Mas apesar das palavras duras, aquelas pessoas não eram monstros, todos pareciam ter os ânimos esfriados quando foram lembrados de que Jon ainda era uma criança.
Apenas Garth resistia.
—Já disse que vai ter que passar por mim primeiro.
—Acha que é assim tão difícil- disse Garth desembainhado a faca. Mas ele não se dirigiu a Tormund e sim a Jon.
Antes que ele pudesse fazer alguma coisa, Fantasma pulou na mão que segurava a faca, sem fazer nenhum barulho. O grito de Garth cortou o ar e no instante seguinte Fantasma estava a frente de Jon mostrando os dentes cobertos de sangue. Um dedo de Garth, no chão entre eles.
Houve uma pequena comoção e o garoto só pôde distinguir uma palavra. Warg. Quando enfim se calaram, todos olhavam para Jon de forma diferente. Garth até parecia um pouco temeroso. Ignorava por completo o sangue que escorria da sua mão.
— O garoto pertence ao Norte. O verdadeiro Norte- disse alguém.
A voz era fraca e moderada. Vinha de um senhor idoso que se sentara perto do fogo e não falara uma só palavra desde que o encontro começou. Seus olhos finalmente deixaram as chamas e encararam Jon.
—O menino fica.
E tudo ficou por isso mesmo. O ancião, seja lá quem fosse, tinha grande influência entre os guerreiros.
Jon deixou o salão com Tormund e só quando se afastou, foi que soltou a respiração que estava segurando. Ele foi levado para uma tenda grande, de onde saia um cheiro maravilhoso de ensopado. O homem pediu que ele esperasse do lado de fora e entrou. Quando voltou, veio acompanhado de uma mulher.
Era robusta mas baixinha. Tinha feições inexpressivas, enquanto o avaliava de cima abaixo. Os cabelos castanhos caiam em volta de um rosto redondo. Ela se portava de um jeito que fez o garoto perceber que se tratava de uma Esposa de Lanças. Mulheres guerreiras, segundo havia lhes explicado Tormund.
—Esta é Varla. É mãe de um filho meu. Vai ficar com ela agora.
Jon não disse nada. Quando o homem se afastou, teve vontade de sair correndo até chegar do outro lado da Muralha. Não conseguiu manter o olhar da mulher, então baixou os olhos e encarou os pés.
—Vem comer menino. Parece meio esfomeado.
Quando o levantou o rosto, viu que o rosto dela não estava mais tão severo. Ele apenas concordou com a cabeça.
Do lado de dentro, a tenda parecia muito maior. Não havia cadeiras nem mesas. Só montes de peles para dormir e alguns utensílios, do teto pendiam tiras de carne seca que defumavam na fumaça do fogo no centro. Neste uma panela fervia.
Um menino estava acocorado perto da panela, provavelmente esperando que o ensopado ficasse pronto. Ele se voltou para Jon e por um momento pareceu um pouco desapontado.
—Meu filho Toregg-disse Varla simplesmente.
O jantar foi silencioso. Os olhares que recebia dos outros dois deixou Jon desconfortável. Depois de dividir sua porção com Fantasma, Jon se sentou em um canto.
—Por quê seus chifres ainda não nasceram?-perguntou Toregg, quebrando o silêncio.
—Me desculpe?- Jon não entendeu.
—Desculpar pelo quê?
—O que quero dizer é que não entendi sua pergunta- explicou Jon.
—Perguntei por quê seus chifres ainda não nasceram? O povo do outro lado da Muralha tem chifres como carneiros.- afirmou com convicção.
—Não temos chifres.
—Ninguém?
—Ninguém.
—Não acredito que é sulista. Parece um menino normal.
—É claro que sou normal. Esperava que fosse um monstro?
—Todo mundo sabe que os sulistas tem chifres e pele azul. Você deve ser anormal por isso te mandaram pra esse lado.
Jon estava ficando zangado. Já o haviam lhe chamado de várias coisas mas nunca de anormal. Quando Jon ia retrucar dizendo que eles que eram anormais que faziam roupa com pele de gente, foi interrompido por Varla.
—Quem é sua mãe?
—Está morta.
—Não perguntei se ela estava viva. Perguntei quem é ela-cortou Varla.
Jon pensou por um tempo se devia mentir. Mas nunca foi muito bom nisso. Então optou pelo caminho mais curto.
—O nome dela era Shaena.
—Tormund é seu pai?- o tom da mulher era calmo, como se perguntasse como ele gostava do seu chá.
—O quê? Não! Só conheço Tormund a pouco tempo, senhora.
—Senhora- ela riu- Por um instante pensei que aquele idiota, que pensa mais com a cabeça de baixo, tinha feito você em alguma mulher por aí e agora estava me empurrando para criar.
—Lhe garanto senhora, que seu marido não é meu pai. Só aconteceu de nos encontrarmos em um momento de necessidade.
—É mesmo sulista menino, com todas essas palavras grandes e bestas- a mulher ainda estava bem humorada. Jon, que sempre se orgulhara da boa educação, fechou a cara- E aquele tolo ruivo não é meu marido.
—Mas ele é pai do seu filho...
—Não é preciso ser casado pra fazer um filho.Você acha que eu casaria com um homem que tem mais pau do que juízo.
Todas as palavras faltaram a Jon. Nunca vira uma mulher falar assim. Ela percebeu o rubor na sua face, o que a fez rir mais ainda. Jon escondeu seu embaraço por trás de uma carranca.
—Ora vamos, não fique assim. Ninguém ri do seu lado da Muralha?
A mulher foi até as peles e puxou uma grande e espessa. Caminhou até Jon e lhe estendeu. O menino ficou parado por algum tempo até que aceitou.
—Durma perto do fogo, a noite vai ser fria.- o sorriso agora era gentil.
—Obrigado.
A noite foi mesmo fria. O vento estava forte e só piorava o clima. Jon se deitou junto ao fogo. Se agarrou com Fantasma e fez de tudo para não pensar na estranheza daquele lugar ou da sua situação.
.....
Jon não gostava de Toregg. E o garoto também parecia não gostar dele. E deixava isso bem claro. O menino parecia ter uns três anos a mais que Jon e tirando o cabelo castanho que herdara da mãe, era todo Tormund. Ele parecia que ainda não havia perdoado Jon, por não ter chifres ou pele azul.
Uma noite foi dormir e encontrou uma cabeça de peixe podre nas suas cobertas. Toregg nunca falava com ele mas ficava encarando Jon de longe. Para ser sincero ninguém falava com ele. Os adultos o ignoravam. Pelo menos a maioria.
As crianças, Jon podia dividir em dois grupos. As medrosas, que achavam que ele era uma espécie de demônio sulista. E as hostis, que lhe jogavam pedras e tentavam pegá-lo sozinho. Para sua sorte eles tinham medo de Fantasma e o lobo nunca estava longe.
Toregg não se enquadrava em nenhum dos dois grupos. Sua raiva era mais refinada. Além da cabeça de peixe, Jon encontrou suas botas cheias de lama uma vez.
Por isso Jon se afastara daquela gente. Hoje resolvera fazer um tabuleiro de cyvasse. Era umas das coisas que mais gostava de fazer com Miestre Lwin. Sentara-se em frente da tenda e agora entalhava sua infantaria. É claro que tinha o problema de ele não ter um parceiro para jogar. Mas pensaria nisso depois.
—O que está fazendo?
Era Toregg. Olhava para Jon, com os braços cruzados, tentando parecer maior.
—É um jogo.- respondeu Jon sem levantar os olhos do trabalho.
—E como se joga?- Toregg parecia estranhamente interessado.
—É difícil de explicar- falou Jon secamente, ainda não esquecera a cabeça de peixe.
—Hum, deve ser uma besteira qualquer que vocês sulistas desocupados fazem enquanto estão sentados em seus castelos de pedras- debochou.
—É um jogo de estratégia que exige inteligência e sagacidade. Não que vocês, selvagens, entendam dessas coisas.- Jon pensou que estava sendo maldoso mas ainda não havia conseguido tirar toda a lama das suas botas.
Toregg apenas entrou na tenda pisando forte. Não demorou muito para Jon ouvir um rosnado vindo de lá de dentro. Quando entrou viu Fantasma mostrando os dentes para o outro menino, que segurava a trouxa de pelúcia que Lorde Eddard lhe dera.
—Junto, Fantasma, junto.- Por mais que não gostasse de Toregg, não queria que ele acabasse sem um dedo, como Garth.
Quando o lobo se acalmou Jon pode perceber que suas coisas estavam todas remexidas.
—Agora está tentando me roubar?- perguntou incrédulo. Era verdade o que diziam, esses selvagens não tem honra.
—Não estava roubando. Eu só... o que são essas coisas?-falou tirando uma das moedas da sacola.
—São dragões de ouro- respondeu simplesmente.
—Para que servem?- Toregg não virava a moeda nos dedos como se fosse algo extraordinário.
—É dinheiro. Serve para comprar coisas.
Percebeu que o outro não queria roubar. Só estava curioso. Jon suspirou, se sentou e começou a pôr tudo de volta no lugar. Observou Toregg se aproximar pelo canto do olho.
—Quem te deu isso?
—O meu pai.
—Ele tem muito ouro?
—O suficiente.
—E ele tem um castelo?
—Tem- respondeu Jon simplesmente. Não gostava de falar de Lord Stark.
—Ele te deu a espada também?- Toregg agora se sentara ao seu lado e lhe olhava curioso.
Jon lhe contou como conseguira a espada. O outro garoto o encheu de perguntas sobre as suas coisas. Ficou muito interessado nos livros.
—Esse é o barco que te trouxe?- olhava agora os desenhos de Jon.
—Sim. Esse é... era o Bem Aventurado. Ele naufragou, eu acho. Na última vez que o vi estava pegando fogo.
—E essas pedras?
—Não são pedras.São ovos de dragão. Só estão petrificados.
—Se estão petrificados são pedras- rebateu Toregg.
Jon não pôde deixar de rir. Ele tinha razão.
—Devia esconder suas coisas. Já vi os outros de olho nelas.
Jon não tinha onde esconder os livros e a espada. Mas viu o buraco cheio de cinzas onde Varla fazia o fogo todo dia e viu o lugar certo para esconder os ovos. Quando ele e Toregg enterraram os ovos no fundo do buraco e cobriram com cinzas, Jon decidiu que estava na hora de fazer a paz.
—Posso te ensinar se quiser.
—O quê?
—Cyvasse. O jogo que estou fazendo.
Depois disso, o silêncio acabou entre eles. Ambos tinham perguntas demais sobre a vida um do outro. Jon se viu falando de Winterfell e as pessoas de lá. E ouvia sobre os gigantes, que tinham um acampamento não tão longe dali. Jon ficou animado com a ideia de vê-los até descobrir que era proibido ir até eles.
Lia para Toregg e Varla a noite, por insistência do garoto.Depois de algum tempo decidiu que ensinaria Toregg a ler e escrever. Se conseguiu com Joselin, com certeza conseguiria com ele.
Dias depois, quando o jogo ficou pronto, Jon iniciou a difícil tarefa de ensinar Toregg. Só agora ele via o tamanho da paciência de Miestre Lwin. Seu aluno aprendeu as regras com facilidade mas era muito impulsivo e sempre perdia nas primeiras rodadas, se irritava e ia embora.
— Tem que mandar a cavalaria primeiro.- explicou Jon pela milésima vez.
—E que diferença faz quem vai primeiro? O lado mais forte vai ganhar no fim mesmo.
—A cavalaria serve para desestruturar o exercito adversário. Nem sempre o mais forte vence. Às vezes é o mais preparado ou o que pensa mais.
O outro garoto pareceu descrente.
—É por isso que nem um Rei-Para-Lá-da-Muralha conseguiu ter sucesso no sul. Muitos deles tinham mais homens e eram mais fortes mas nenhum deles pensou muito no que fazer, uma vez que estivessem do outro lado. Por isso perderam. A luta estava perdida antes mesmo de os exércitos se encontrarem no campo de batalha.
Toregg ficou pensativo por um instante. Depois se virou para Jon com a expressão decidida.
—Quero que me ensine.
—Quê?
—Quero que me ensine a lutar como um sulista.
—Não acho que essa seja uma boa ideia-Jon exitou- Não sei tudo, só tenho seis anos.
—Não importa. Me ensina o que sabe.- insistiu Toregg
Jon observou o outro por um instante. E depois teve uma ideia.
— Posso te ensinar mas vai ter um preço.
—O que você quer. Não tenho esse dinheiro de que você falou.
—Quero que me leve até os gigantes.
—Não ouviu o que eu disse? É proibido.- objetou o outro. Mas Jon já estava preparado.
—O trato é esse. Me leva até os gigantes e te ensino a lutar- estendeu a mão. Toregg exitou por um momento. Mas depois apertou.
......
Na manhã seguinte Jon acordou antes que amanhecesse. Ele e Toregg escaparam para fora da tenda enquanto Varla ainda roncava alto em seu canto. Jon se armou com arco e suas melhores flechas. Também carregava seu livro de desenhos e lápis. Só voltaria quando tivesse em desenho de gigante.
O acampamento deles ficava a meio dia de distância dali, segundo Toregg.
—Tem sorte deles ainda estarem aqui. Quando é verão costumam subir as montanhas e só voltam no inverno. Mas já faz tempo que o inverno acabou e eles ainda continuam aqui.
— Por qual motivo estão se demorando?- perguntou. Jon era grato por esse motivo, seja qual fosse. O outro garoto lhe contara dessas montanhas. Ficavam a quase uma lua de distância e eram cheias de platôs que só os gigantes sabiam como alcançar. Se eles estivessem lá agora, não haveria a melhor chance de vê-los.
—O grande Magnar Mag morreu no último inverno- a resposta de Toregg levantava mais perguntas que respondia.
—Quem é Magnar Mag?
—Esse é o nome que se dá ao senhor dos gigantes. Aquele que monta o grande Bahuk. Todas as tribos de gigantes tem seus líderes mas apenas o Magnar Mag lidera a todos. Magnar significa senhor na língua antiga, Mag significa grande.
— Seria o mesmo que rei dos gigantes?- o termo parecia estranho e poderoso.
—Pode-se dizer que sim. Só Magnar Mag pode montar Bahuk, o grande mamute.
—Então com o rei morto, os gigantes não podem fazer a migração para as montanhas?
—Não. Apareceram vário gigantes, das tribos mais ao sul, das montanhas a leste e até das tribos isoladas do rio e tentaram mas ninguém conseguiu montar Bahuk. Três já morreram até agora.
Alcançaram o acampamento no começo da tarde. A primeira coisa que Jon viu foi os mamutes. Era uma manada de quase duzentos. Criaturas magníficas, os pelos avermelhados contrastavam com os grandes marfins brancos.
Dava para ver as tendas dos gigantes dali. Todas arredondadas. Pareciam individuais e eram cobertas de ramagens, peles e cascas de árvores. Um bramido muito forte fez Jon voltar sua atenção aos mamutes.
Bahuk. Jon reconheceu imediatamente. Era alto o suficiente para olhar por cima de todos os outros e era o único que tinha pelo negro reluzente. Seus marfins eram adornados por anéis de ouro.
Teve a impressão que o mamute olhava direto para ele. Sentiu-se deslizar e a cabeça ficar leve. Logo depois estava no meio da manada. O mundo não tinham as cores que costumava ter. Tudo estava acinzentado. Seus olhos podiam não perceber tudo mas seu nariz sentia um riacho que estava à quilômetros dali.
—Jon! Jon!- ele estava no chão, de volta no seu corpo, sendo sacudido por Toregg. Sentia uma dor aguda nas têmporas e cambaleou quando tentou se levantar.
—O que aconteceu!? Num instante estava tudo bem e no seguinte você tava no chão todo duro- Toregg estava mesmo assustado.
Jon olhou novamente para Bahuk. Os grandes olhos amarelos ainda estavam focados nele.Estivera no corpo do mamute, assim como acontecera com Fantasma. Viu tudo pelos olhos dele, sentiu sua força e a autoconfiança que vinha com ela. Se sentiu poderoso.
—Vamos ver os gigantes ou não.É por isso que estamos aqui, não é?- achou melhor mudar de assunto, estava assustado demais para compartilhar a experiência com o amigo.
Encontraram um bom lugar. Ficava à poucos metros do acampamento mas escondido por trás de umas pedras. O que os permitiria ver sem serem vistos.
Jon puxou o lápis e papel e se preparou.Toregg disse que os gigantes eram mais ativos a noite, optando por deixar suas tendas só no fim da tarde. Então Jon teria pouco tempo de luz do dia para desenhar.
Depois do que pareceu uma eternidade, o primeiro gigante deixou sua tenda. Devia ter uns cinco metros de altura. Tinha feições brutas mas a sua fisionomia era muito humana. O gigante se pôs a fazer o fogo e Jon a desenhar.
Enquanto se concentrava nas difíceis feições do gigante,o céu de repente escureceu. Não podia ter anoitecido ainda. Quando se virou para comentar isso com Toregg, viu que a sombra estava apenas sobre eles.
Não teve tempo nem para gritar quando sentiu uma mão lhe puxar pela parte de trás das roupas. O gigante o ergueu até a altura dos olhos e começou a gritar com ele numa língua brusca e estranha.
Toregg, numa perfeita imitação do seu pai, invés de correr, se lançou contra o gigante com um grito estridente e tentou atacar suas pernas. O seu captor apenas o ergueu pelo pescoço com a mesma facilidade com que um homem ergue um coelho.
O outro garoto se pôs a xingar e amaldiçoar o gigante enquanto se debatia tentando chutá-lo. Quanto a Jon, estava ocupado demais amaldiçoando a própria estupidez. É claro que haveria um vigia junto aos mamutes. Só um idiota os deixaria desprotegidos durante o dia inteiro.
Ficou falando para Toregg sobre como era importante pensar antes de agir. E ali estava ele, um idiota precipitado. Enquanto o gigante os levava para o meio do acampamento, Jon pensava como morreriam. Aquele povo podia não comer carne mas isso não os impediria de matá-los e jogarem os corpos na floresta para os gatos das sombras.
Foram jogados com força no chão com força. Quando caiu Jon, deixou o livro escapulir da sua mão. Este caiu aberto no desenho mais recente.
O gigante parou e pegou o livro. Depois falou qualquer coisa com seu companheiro, aquele que ele havia tentado desenhar. Muitos gigantes começaram a deixar as suas tendas e o seu livro passou de mão em mão. Em alguns momentos o seu captor parecia explicar algo para os outros e apontar para Jon. No fim o maior gigante se pôs na frente dele e começou a falar rápido e apontar para o desenho. E pareceu se irritar quando o menino não respondeu. No fim já estava gritando.
—Desculpe, mas não compreendo- falou Jon exasperado.
—Ele quer que faça um desenho dele- disse Toregg ao seu lado.
—Entende o que ele diz?
—Um pouco. A mãe vem me ensinando.
— E por quê não disse antes?!
Toregg apenas deu de ombros. Um gesto que sempre irritou Jon. Os dois tinham mesmo que melhorar sua comunicação. No fim ele apenas suspirou.
—Diga que preciso do meu lápis.
Quando a noite caiu, Jon estava desenhando uma giganta. Ela se sentava bem imóvel a sua frente. Tinha posto as suas melhores peles e usava anéis de ossos nos cabelos. Ela tinha se enfeitado para ser desenhada. Ele mudou a sua posição no tronco que estava sentado e puxou a capa mais para junto do corpo. Era impressão sua ou estava ficando frio demais.
Esse era o terceiro desenho que fazia até agora e estava começando a ficar cansado. Os gigantes pareciam fascinados com eles. Alguns até se sentaram atrás de Jon para vê-lo trabalhar.
—Temos que ir embora. A mãe vai me matar.- reclamou Toregg.
—Fique á vontade para informar isso aos gigantes- Jon comentou, sem tirar os olhos do papel.
O outro garoto apenas fungou e virou o rosto.
Jon ouviu o som alto vindo de um dos mamutes que foi logo seguido por vários outros. Ninguém deu muita atenção até o som ficar ensurdecedor. Três gigantes se levantaram e foram olhar os animais.
—Está ficando mais frio-comentou Toregg, o bafo saia congelado da boca dele.
Jon viu que acontecia o mesmo com a sua respiração. Isso era incomum, tinha sido um dia quente. Pelo menos para os padrões daquele lugar.
Os três gigantes voltaram correndo, gritando em sua língua estranha. Logo se espalhou um pandemônio.
Todos se puseram de pé e correram para pegar suas armas, a maioria clavas de ossos ou bastões de madeira. Só o gigante chefe trazia um arco. Todos correram para acender tochas nas fogueiras.
Em meio ao pânico uma palavra se repetia, várias e várias vezes.Yewmonlak.
—O que quer dizer Yewmonlak?- perguntou para Toregg.
Quando se virou para encarar o outro garoto, percebeu que ele estava pálido com os fixos nas árvores a sua frente como se esperasse que alguma coisa aparecesse a qualquer momento. Suas mãos tremiam levemente.
—Yawmun Lak- corrigiu com a voz fraca- quer dizer Morte Que Anda. São os Vagantes Brancos.


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Notas finais do capítulo

Queria agradecer o apoio de vocês e o carinho que demonstram nos comentários,
You are the best!!!



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