Dragões do Norte escrita por Snowfall


Capítulo 5
O Lado Errado




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/737206/chapter/5

“Jon estava em frente o rosto no carvalho novamente. Quando chegou mais perto para ver a senhora que rezava ao pé da árvore. Estranhou. Era a mesma mulher mas seu cabelo estava preto.
Era noite e a luz da lua não era suficiente para ver detalhes mas o menino pode ver que a cor não era natural. A princesa Shaena fazia suas preces e parecia não perceber Jon, apenas alguns passos atrás.
—Senhora?-chamou o garoto inseguro, não era educado interromper as orações de uma pessoa.
A mulher não o ouviu ou decidiu ignorá-lo. Suas palavras se tornaram mais altas. Ela ergueu a cabeça para o rosto zangado na árvore e sua expressão era suplicante.
—Sei que não são os meus deuses mas são os deuses do pai da criança que carrego por isso vim pedir, por favor, que meu filho se pareça com ele. Não é seguro que ele se pareça comigo. Vai ser um menino, eu sei, e não é seguro ser um menino Targaryen nesse momento. Ele tem que ter aparência dos Stark.
Quando ela se levantou Jon pode ver a barriga redonda de uma gravidez avançada. Enquanto a mulher se afastava Jon se sentiu angustiado , não queria que ela fosse embora sem falar com ele. Tinha muitas perguntas.
—Senhora?- repetiu, mas não houve respostas.
—Senhora Shaena?-falou mais alto.
Nada.
—Mãe!
A mulher se virou e olhou por instante ao redor.
Mas a cena se desfez em um borrão negro e logo Jon se encontrava em um beco imundo no que pareceu ser um porto.O barulho dos marinheiros bêbados nas tavernas quase encobria o barulho do mar. Pelo caminho enlameado desciam dois homens encapuçados a cavalo.
—Por aqui Reed. Na carta dizia que estavam em uma casa neste beco.
O menino ficou sem ação quando reconheceu aquela voz.
—Sim, meu lorde.
Eles se aproximaram de uma casinha com paredes de madeira, uma luz fraca saía de uma janela.
—É essa aqui.
Ned Stark bateu na porta e uma mulher magra de cabelos pretos abriu a porta. O lorde de Winterfell se apressou em entrar, seguido de perto pelo outro homem. Com uma luz melhor Jon pôde ver o rosto do pai. Mais jovem e sem barba. O garoto conseguiu enfim, ver a semelhança que todos falavam que eles tinham.
—Onde ela está?
A mulher baixou a cabeça.
—Sinto muito milorde, chegou tarde.
—Como assim? Onde está Shaena?
—Os homens do Usurpador nos encontraram milorde. Já estavam aqui quando chegamos. A princesa viu que não havia chance de escapar. Só teve tempo de guiar os assassinos para outra direção enquanto nos escondíamos.
—Está morta?- era difícil descrever a dor no rosto de Lorde Stark, Jon nunca pensou que um dia o veria a beira das lágrimas.
—Sinto muito milorde.
—Quando foi isso?
—Faz uns quinze dias senhor.
Ned se sentou em uma cadeira próxima, parecia ter perdido a força nas pernas.
—Ela se foi?
— Meus pêsames, meu lorde- falou lorde Reed, que não parecia nem um pouco surpreso.
Lorde Stark não aparentava escutar, encarava o chão fixamente, tinha as feições cansadas.
—Primeiro foram o pai e Brandon, depois Lyanna, agora a minha Shaena. Será que nada de bom vai restar depois dessa guerra?
Todos ficaram calados. Mas um choro alto vindo do quarto ao lado respondeu a pergunta de Ned Stark.
—O que foi isso?- o lorde se pôs de pé de um salto.
—O pequeno príncipe deve ter acordado com fome. Vou vê-lo agora. Com sua licença milorde.
Mas Eddard não deu importância ao que mulher dizia. Com três grandes passadas atravessou o sala e abriu a porta do quarto. Porém parou no batente quando viu o berço. Jon avançou até ver o pequeno bebê que se agitava para libertar os braços da manta que o cobria. Não aparentava ter completado um ano ainda. Outro choro infantil cortou o silêncio que se prolongava entre os adultos.
O som tirou Lorde Stark de seu lugar à porta.
O homem se aproximou do berço quase temeroso, ocorreu a Jon que ele temia o que havia ali dentro.
Quando finalmente os olhos se encontraram, homem e bebê se encararam, até que a criança se debateu e estendeu os braços. Lorde Stark soltou um ruído do fundo da garganta e tirou o nenem do berço. Com o menino no braço deixou o quarto.
—Veja Reed, é meu filho- Lorde Stark sorria, uma mistura de alegria e de incredulidade. Jon nunca o vira demonstrar emoção dessa maneira.
Lorde Reed se aproximou e deu uma olhada no menino.
—Se parece com o senhor meu lorde.
—A princesa ficou muito feliz com isso, ela temia que o pequeno príncipe tivesse a aparência da família dela. O que faria o menino correr mais perigo do que já corre.
—Mas ela nunca me contou que estava grávida. Por quê Shaena omitiria uma coisa dessas de mim?
—Sua Alteza achou que era um risco. Se a mensagem fosse interceptada e os inimigos descobrissem da existência de um outro príncipe com sangue Targaryen, nunca parariam de caçá-lo.
—Ao julgar pelo que aconteceu, a princesa estava certa-comentou Reed.
—Sim senhor, se aqueles homens estivessem procurando pelo bebê com certeza teriam nos encontrados mas estavam focados apenas na princesa, isso nos deu tempo para escapar.
—Temos que tirar a criança daqui meu senhor, não é seguro. Os homens do rei ainda podem está perto.
—Bobagem, Robert nunca faria mal a um filho meu.
—Com todo respeito meu lorde, mas o senhor está enganado. Essa criança não é apenas seu filho, é também um príncipe Targaryen e segundo a lei ele vem logo depois de Viserys na linha de sucessão. Não esqueça o que aconteceu com as crianças de Raeghar. Sem falar nos possíveis problemas com os Tully.
—O que tem eles?
—Meu senhor esquece que a senhora Catelyn já deu a luz um filho seu, e que outra criança sua e ainda por cima neta do Rei Louco poderia ser vista como um insulto. Sem falar de uma ameaça ao direito de nascença do neto que Lorde Tully almeja ver em seu lugar em Winterfell um dia.
—Que ameaça? Robb é mais velho, será o herdeiro. Isso é o que o velho Hoster Tully quer. Não há porque fazer mal ao meu filho. Não que eu permitiria isso, para começo de conversa.
—Meu Lorde não se recorda que é senhor do Norte.
—É claro que me recordo. Por quê isso importaria?
—Meu Lor...- Reed se interrompeu- Ned, escute um amigo, você se casou com mãe desse bebê em frente a uma árvore coração. Diante dos deuses do Norte. Diferente do seu casamento casamento com a Senhora Catelyn. Se um dia os senhores do Norte acharem uma falta qualquer no seu filho Robb, quanto demoraria para declararem ele um herdeiro ilegítimo em favor dessa outra criança.
Lorde Stark olhou do homem para o filho em seus braços.
—O que acha que devo fazer então?”
Jon acordou com um sobressalto. Esse sonho foi um dos muitos que tinha tido na semana em que passara junto ao represeiro. Não sabia o que fazer com eles. Eram sempre estranhos e mostravam coisas impossíveis. Como quando sonhou com miestre Lwin rezando junto a árvore coração de Winterfell. O miestre nunca fora um homem religioso.
O garoto se levantou e pôs mais lenha na fogueira. Tomou água e foi checar suas armadilha para ver se conseguira algo para o desjejum. As espalhara por toda parte quando percebeu que ficaria ali por algum tempo. A tal ajuda de que a Princesa Shaena falara parecia atrasada. Jon pensou que alguém dos Mormont chegaria a qualquer instante mas se passou uma semana inteira e nada.
Já teria partido se não houvesse a possibilidade de que seu sonho fosse real e que a princesa fosse realmente a sua mãe. Jon preferiu não arriscar .Nas histórias da Velha Ama, nada de bom acontecia com crianças que desobedeciam as mães.
Ele pensou mais uma vez que estava sendo um tolo.Não deveria dá ouvidos a conselhos que ouviu enquanto dormia.
Para a Velha Ama, os sonhos eram a maneira dos deuses de nos guiarem e nos darem avisos.Mas para Miestre Lwin, eram apenas projeções de nossas mentes atribuladas e que são reflexos de nossos medos.
Jon estava mais inclinado a acreditar na Velha Ama, não via como a sua mente, por mais perturbada que estivesse por causa de tudo que aconteceu nos últimos dias, projetasse coisas tão absurdas.
Ele se pegou rindo sozinho, pensando no que diria Miestre Lwin se lhe contasse os seus sonhos. Os dois sempre embarcavam em discussões acaloradas quando o garoto teimava em recitar as coisas que a Velha Ama lhe dizia como se fossem verdades absolutas. Jon se lembrava de uma vez que ela lhe contou que o céu é azul porque viviam dentro do olho de um gigante de olhos azuis.
—O senhor não vê,Miestre Lwin, faz todo o sentido. Quando ele está acordado é verão e quando dorme é inverno. Por isso as estações não tem tempo definido, tudo depende do tamanho do cochilo.
—E como você explicaria os dias e as noites Jon?
—Mas não é óbvio, isso é quando o gigante pisca.
O menino se lembrava da risada de Miestre Lwin. Era uma das coisas que sentia falta. De como ele sorria quando Jon fazia alguma coisa que o deixava orgulhoso ou falava alguma bobagem.
Já havia checado quase todas as armadilhas e levava uma lebre amarrada a cintura quando ouviu um barulho não muito longe dali. Parecia vir de algum lugar detrás das árvores. Jon colocou uma de suas novas flechas no arco, e se aproximou devagar.
Além das árvores, em uma pequena clareira, um homem lutava com um grande urso negro. O urso estava ganhando. Seu adversário já mostrava sinal de cansaço e sangue empapava seu ombro esquerdo. O urso se erguia em suas patas traseiras e esperava o seu adversário tolo chegar ao alcance de suas garras. O homem ruivo parecia tolo o suficiente, deu grito estrondoso e avançou contra o urso, esse o atingiu no peito e o homem caiu.
“Ele só pode ser um idiota”. Jon pensou enquanto apontava a flecha. O urso caiu antes que pudesse dar o golpe final. Uma morte rápida.
Jon andou até o homem devagar. Quando este se recuperou o suficiente para olhá-lo,não conseguiu esconder a surpresa.
—Pelos sete infernos, é um menino!
— O senhor está bem?- Jon se preocupava com a quantidade de sangue que se espalhava pelo chão.
— O que deu na sua cabeça garoto, para se meter na minha caçada?
—Sua? Parecia mais que o urso caçava o senhor.
—Há! Seus olhos não estão funcionando direito moleque, eu tinha o maldito bem onde queria.
A roupa de retalhos de peles do homem estavam encharcadas agora e ele parecia pálido.
—O senhor tem que ficar quieto. Vou trazer algo para estancar o sangramento.
—E quem é você, algum tipo de curandeiro? Ou eu finalmente conheci um dos filhos da floresta?
—Sou Jon Snow.
—Snow. Um nome agourento.
—Eu salvei sua vida, não trouxe tanto agouro assim.
As palavras eram rispídas mas Jon estava cansados de comentários com o seu nome.
— Já disse que estava tudo sobre controle. Um ursinho desses não é nada. Era tudo um truque para que o animal pensasse que eu estava ferido e baixasse a guarda.
—Pois o senhor fez um ótimo trabalho. A poça de sangue enganaria qualquer um.
—Não fale bobagem garoto.Tive ferimentos maiores me barbeando.
Para Jon pareceu que homem não se barbeava com muita frequência.
— Então o senhor vai ficar bem aqui sozinho- disse se afastando. Queria ver até onde ele chegaria com essa história de que era tudo parte de um plano.
—Vou mesmo! Esses arranhões não são nada.
Quando o ruivo tentou se levantar, voltou ao chão com um ruído surdo.
—Oh! Para o inferno!
Jon se apressou em ajudar. Quando enfim conseguiu pôr o homem sentado, ele perdeu os sentidos por uns instantes.
—Eu vou matar aquele urso moleque e vou usar a pele como manto, pode acreditar. Ha!
—Só se for na próxima vida.
Perdeu a consciência de vez depois disso. Jon tinha visto Miestre Lwin tratar ferimentos o suficiente para saber que tinha que parar o sangramento. Tiras cortadas do seu manto serviram bem para isso. Não conseguia mover o homem de jeito nenhum então o deixou ali enquanto misturava folhar amassadas com água como Miestre Lwin fazia.Não conhecia nenhuma erva que pudesse ajudar a sarar as feridas mas tinham que protegê-las do ambiente. Se os ferimentos infeccionassem estariam em apuros.
Quando Jon terminou . O homem acordou murmurando coisas sem sentido. O garoto o convenceu a ir até seu abrigo. A curta caminhada esgotou as poucas energias que ele tinha por isso voltou a dormir assim que chegaram. Depois disso se pôs a cuidar da lebre. Enquanto ela assava, passou para o urso. Tirar aquela pele se mostrou uma tarefa ardônia, a diferença de tamanho era uma barreira a ser superada.
Quando terminou estava exausto mas tentou salvar o máximo de carne que podia. No fim a deixou para assar devagar em uma armação de madeira que improvisou . Era trabalho demais mas não podia desperdiçar nada, era o que Jory havia insistido em lhe ensinar durante todo o caminho até Bosque Profundo.
Seu paciente não acordou mais naquele dia. Teve febre durante a noite e Jon fez tudo que pôde para baixar sua temperatura. No dia seguinte o enfermo acordou desnorteado mas o garoto estava preparado.
—Tome, beba um pouco de água- tinha usado sua luva de couro para transportar água até ali- quando terminar pego mais.
O garoto estava meio temeroso, pensou várias vezes que o homem morreria durante a noite passada. Nunca tinha visto ninguém morto.
—Você deve está com fome. Tem carne de lebre e urso, a de lebre é melhor porque precisa de algo leve.- Jon se ocupou de passar a comida e desviou o olhar do ruivo que o encarava sem falar nada desde que acordou.
—Cadê sua família menino?
Jon foi pego de surpresa.
—Família?
—Seu pai e sua mãe.
—Minha mãe está morta- falou simplesmente.
—E seu pai?
—Está vivo.Ele me mandou para cá mas o navio que eu vinha foi atacado e vim parar nesta parte da ilha.
—Então está sozinho neste lugar.
—Sim.
—A quanto tempo?
—Pouco mais de uma semana- respondeu Jon.
Isso surpreendeu o outro.
—Quantos anos tem?- perguntou o homem enquanto media Jon de cima a baixo.
—Seis.
—Mas é quase um bebê de colo!
—Não sou não, tenho quase sete.
—Isso faz de você quase um homem, não é?Há!
Jon não gostava do tom com que falava, estava rindo dele depois do menino passar a noite em claro tentando de todas as maneiras baixar a febre daquele ingrato . Sua paciência e disposição para ser caçoado tinha se esvaído com a falta de sono.
—Deve ficar deitado, vou buscar mais água-falou friamente.
Quando ele retornou, sua companhia mal agradecida estava com uma de suas flechas na mão. A ponta de vidro de dragão reluzia um pouco na luz do sol.
—Você que fez isto?
—Sim senhor.- Miestre Lwin disse uma vez que nunca se deve perder a boa educação e o respeito aos mais velhos. Essa era uma tarefa difícil naquele momento.
O homem soltou um resmungo.
—Um moleque sulista não devia saber fazer essas coisas.
—Não sou sulista, sou de Winterfell. Fica no Norte.
Seu incomodo ruivo tinha uma expressão curiosa no rosto.
—Onde acha que está garoto?
—Na ilha dos Ursos, é claro. É que vim parar na parte errada da ilha mas estou esperando alguém aparecer para me levar até os Mormont.
—Vai ficar aqui até quando?
—Estou esperando ajuda.
—E se demorar?
—Eu espero- teimou Jon.
—Não pode ficar aqui sozinho.
—Posso sim!- gritou. Que se dane a boa educação.
—Moleque, não passa de uma criança, precisa de um adulto para cuidar de você.
—Não sei se o entendeu bem a nossa situação. Eu sou criança e você é adulto mas eu que estou cuidando do senhor. Embora o senhor não tenha as boas maneiras para agradecer.
—É garoto, você tem cunhões, tenho que admitir. Mas ninguém dos Mormont vai aparecer.
Jon não gostou daquilo. Sua cabeça começou a doer por causa da noite mal dormida. Avaliou aquela pessoa a sua frente, vestida de roupas de pele de um tipo que nunca tinha visto antes. No começo ele não soube como descrever a impressão que isso transmitia mas agora tinha a palavra certa para descrever esse homem. Incivilizado.
Teve a sensação de que estava deixando passar algo muito importante.
—Como sabe disso?
—Porque não está na Ilhas dos Ursos.
—E que lugar é este?
—Você está na Costa Gelada, garoto- a voz expressava, pela primeira vez, algo a mais que gozação. Embora Jon preferisse gozação à piedade que homem demonstrava.
Se sentiu nauseado. A tempestade não o levara para o lado errado da Ilha dos Ursos. O levara para o lado errado da Muralha.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Dragões do Norte" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.