Dragões do Norte escrita por Snowfall


Capítulo 10
E uma para a morte...


Notas iniciais do capítulo

Hey guys, esse capítulo é dedicado a todos que acompanham essa história, as pessoas que deixam comentários de apoio e a Is Malfoy e Zafira pelas lindas recomendações.



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Quando o fogo foi finalmente apagado, só restavam escombros. Toregg observava a fumaça fraca que ainda subia. Teve vontade de chorar. Não tinha percebido que Jon tinha começado a ocupar o lugar de um irmão. Um irmão mais novo. Se bem que algumas vezes Jon parecia o mais velho. Não sabia quando isso tinha acontecido.
Como o odiou no começo. Lembrava que quando o viu pela primeira vez, ficou tão desapontado. O menino que entrou na tenda da sua mãe, não se parecia em nada com que imaginara que fosse um sulista. Não tinha nem um chifrezinho sequer. Tudo o que viu foi um magricela de canelas finas.
Seu desapontamento logo se transformou em raiva. Jon sempre estava fazendo alguma coisa esquisita e falava de um jeito abobado, que o irritava até a raiz do cabelo.
Para completar, o pai enchia a boca para falar do sulista. Espalhava para os quatro ventos, como Jon tinha matado um urso com uma flechada só. Como era corajoso e esperto para sobreviver sozinho na Costa Gelada. Grande coisa.
Quando Toregg olhava para o outro garoto, não via isso tudo que o pai falava. Via apenas, um metido que se achava melhor que ele, só porque crescera em um castelo de pedra. Quando comentou isso com a mãe, ela apenas sorriu e disse que ele tava era com ciúme e que Jon era um ótimo garoto.
Sua raiva só cresceu depois disso. Não bastava Jon lhe roubar o pai, que ainda tinha que dividir com Dormund e Munda, mas agora estava querendo lhe roubar a mãe também.O pai vivia na tenda da sua esposa, junto com os outros filhos, e Toregg se acostumou com isso. Mas a mãe era dele. Só dele.
Por isso tentou de tudo para fazer Jon se mudar da tenda da mãe. Tudo mesmo, de cabeça de peixe podre, à lama nas botas. Tudo em vão. No fim chegaram a um entendimento. Toregg descobriu que tinham histórias parecidas. Ambos tinham uma família confusa.
Nunca foi muito próximo dos irmãos. Dormund está sempre doente, e quase nunca sai da tenda da mãe. E Munda era irritante de um jeito que só as meninas sabiam ser.
Quando era menor pediu um irmão à mãe. Só um, pra poder brincar. A mãe riu e disse que ele já dava trabalho o suficiente. Então, foi até o represeiro escondido naquela noite, e pediu um irmão aos deuses.
Eles mandaram um. Que agora estava morto, debaixo desses escombros. Ouviu um ganido no meio da confusão de vozes.
Os adultos se reuniram em volta do que restou da tenda e discutiam à horas. O pai estava furioso. Ele foi o primeiro que percebeu que Jon havia sumido, e o primeiro a associar o desaparecimento à tenda em chamas. Quase se queimou tentando apagar o fogo.
Muitos já foram acusados. O líder gigante do leste, que tentara montar Bahuk e falhara e os Wargs recém-chegados, mas principalmente Garth, que ainda não foi encontrado. O pai prometeu que vai fazer um cordão com os dedos e os olhos do assassino.
Ouviu o ganido novamente, agora mais alto. Viu Fantasma preso em uma árvore. O lobo fizera tanta força para se soltar que a corda havia se apertado em seu pescoço.
Correu para soltá-lo. Quando desfez o nó, o lobo saiu em disparada em direção aos retos do incêndio.
—Não! Volta!- tentou impedi-lo. Não era seguro andar por ali.
Mas nunca conseguiria ser mais rápido que o lobo. Quando chegou, Fantasma já tinha entrado no meio dos escombros. Procurava por algo. Seu focinho furava as cinzas.
—Aqui Fantasma, vem.
Mas o lobo não lhe dava ouvidos.
Quando chegou ao lugar onde a mãe costumava fazer o fogo, parou e começou a cavar. A varas de madeira de sustentação do teto tinham caído e agora eram varas de carvão que impediam o avanço de Fantasma.
Quando percebeu o desespero do animal, Toregg resolveu ajudar. Atravessou com cuidado, se ainda saía fumaça queria dizer que alguma coisa ainda queimava. Assim que empurrou a madeira torrada para o lado, Fantasma avançou sobre o monte de cinzas do fogareiro.
O coração de Toregg quase partiu as suas costelas e saiu correndo, quando viu Jon deitado lá.Suas roupas haviam queimado, mas fora o galo na testa, estava inteiro. Se estava dormindo ou desmaiado, não sabia dizer.
Fantasma começou a lamber o rosto do dono e ele acordou, levou as mãos aos olhos para limpar a fuligem.
Toregg esfriou quando alguma coisa se mexeu ao lado de Jon. Viu três animais perto dele, tinham o tamanho de gatos. Estavam cobertos de cinzas mas dava pra notar as cores. Um era azul, outro dourado e o menor era branco.
Quando o outro garoto finalmente limpou os olhos o suficiente para abri-los, percebeu os animais ao seu redor. Acariciou o animal mais próximo, que esfregou a cabeça na mão dele e abriu as asas brancas, levantando uma pequena nuvem de cinzas.
Asas. Toregg sentiu alguma coisa cair do seu estômago.Aquelas criaturas tinham asas. Jon tinha lhe mostrado um livro com figuras de bichos como esses, só que muito maiores, sendo montados por homens em armaduras de aço. Sabia o que eram.
Jon sorriu pra Fantasma. Essa foi a ideia errada. O riso se transformou em tosse e o garoto finalmente olhou para Toregg.
—Água-pediu, em meio a tossidas roucas.
Toregg ainda tentava acalmar seu coração e não se apavorar. Quando se recuperou o suficiente. Se virou em direção as pessoas que discutiam ali perto, ignorantes ao que acontecia a poucos metros. E gritou a única coisa que achou sensata nessa situação.
—Mãe!
Quando reconheceram Jon e os animais dentro daquele buraco, instalou-se um silêncio tão grande que Toregg podia jurar que ouvia as batidas do próprio coração. Então as criaturas começaram a fazer um barulho, de um tipo que nunca tinha ouvido antes, e que achava que ninguém tinha ouvido em séculos.
Os dragões cantaram.
.....
Cada respiração se tornou uma agonia. Jon nunca pensou que chegaria o dia em que temesse a próxima inspiração. Desde do acontecido na tenda de Varla, ele sentia dor no peito.Parecia que seus pulmões estavam cheios de farpas que se contraiam quando o ar entrava. Podia ser imune ao fogo mas não a fumaça que inalou.
Nevou todos os dias desde do incêndio. Hoje foi o primeira vez que o sol resolvera aparecer. Enquanto caminhava Jon olhava para cima. O cometa vermelho cortava o céu acima dele. As pessoas chamavam de Estrela de Sangue mas os gigantes tinham outro nome, muito mais perturbador. Chamavam de Augúrio dos Deuses.
Deuses. Tinha que tocar nos dragões, de vez em quando, para se certificar de que estavam mesmo ali, que eram reais.
Nunca esteve tão confuso como quando acordou, em meio as cinzas, com Fantasma lambendo seu rosto.
“ A primeira coisa que notou foi a dor na sua testa, e a segunda, que não enxergava nada. Quando tentou abrir pálpebras sentiu as cinzas entrarem e os olhos arderem.
Seu peito doía e a garganta queimava. Assim que limpou os olhos o suficiente para enxergar, viu que não estava sozinho naquele buraco. Borrões se movimentavam ao seu lado mas não conseguiu distinguir o que eram. Tocou um dos vultos e era quente.
Olhou para cima e reconheceu o corpo entroncado de Toregg. Pensou em suas prioridades e pediu água. Depois se voltou para as coisas que se mexiam perto dele. Seriam pássaros? Com toda certeza tinham asas. Mas não eram como nada que tivesse visto antes.
Só quando começaram a cantar, que reconheceu o que eram. Mal teve tempo de ligar as três criaturas, aos ovos que deviam estar ali, quando foi cercado por pessoas que falavam todas ao mesmo tempo.”
Agora, duas semanas depois, tudo ainda parecia surreal. Mesmo que nesse momento, caminhasse por Solar Ruivo, com um dragão em seu ombro. Uma sombra passou voando por ele. As escamas azuis de Gaothrax reluziram no sol.
Qual não foi sua surpresa quando o dragão encheu o chão de sua tenda com cristais de gelo um dia. Um dragão de gelo. Por isso deu a ele esse nome. Gaothrax era a Fúria do Inverno.
Quando entrou no Salão do Conselho, os gigantes que faziam sua proteção ficaram de guarda na porta. O lugar estava vazio. Se dirigiu ao fundo, onde foi posta uma cadeira de encosto alto. Foi posta no melhor lugar, frente ao fogo. Não existiam muitas cadeiras em Solar Ruivo, e nenhuma naquele salão. Só aquela que ele sentava. Tentou não pensar no que isso significava.
Reparou em seus dragões. Eles os deixavam maravilhado. Eram parte dele assim como Fantasma e Bahuk. Imaginava como ficariam quando fossem adultos. Tentava vê-los como os monstros pintados nos livros mas não conseguia.
Como qualquer filhote, eram curiosos por natureza e sempre pregavam sustos nele. O primeiro foi no dia que nasceram, quando tentou alimentá-los. Se recusaram a comer qualquer coisa que traziam. Jon, ainda zonzo com o que tinha acontecido, não conseguia pensar no que dar a eles. Até leite de cabra foi trazido, até notaram que não se tratavam de mamíferos e sim, répteis. Mais tarde, quando o cérebro de Jon voltou a funcionar e começou a ter pensamentos coerentes, se lembrou que dragões comiam carne assada.
Depois disso começou a reler seus livros de dragões. Infelizmente, não eram textos de estudo mas um conjunto de fábulas da Antiga Valíria. Toda a informação que tinha eram desconexas e sujeitas a interpretação. Mas havia algumas coisas que podiam ser confiáveis. Como por exemplo, o comando para fogo de dragão sempre era Dracarys.
Assim, Jon começou a treiná-los. O dragão dourado foi o primeiro que conseguiu cuspir fogo. Na primeira vez, o fogo não foi muito forte mas queimou todos os pelos do braço de Toregg, que estava muito perto. Chamou-o Valkius. Brilho do Verão.
“O dragão tem três cabeças: uma para o gelo, uma para o fogo e uma para a morte.”
Acariciou a cabeça do dragão branco, que agora estava no braço da cadeira. O único que ainda não cuspiu nada, nem fogo nem gelo, nada. Jon olhava para o seu dragão com o peito apertado. Talvez fosse por isso que ele ainda não tivesse nome. Os outros dois foram fáceis de nomear depois que descobriu suas naturezas. Mas esse continuava uma incógnita.
Valkius era muito ativo, sempre voava para mais longe do que na vez anterior. Gostava muito de Fantasma, vivia seguindo-o por aí. Agora mesmo rolavam um com outro no chão. Enquanto mordia a calda do lobo, este lhe puxava a asa esquerda. Jon sempre tinha que interferir nessas disputas, para que os dois não se machucassem.
Gaothrax, o maior de todos, era indolente e de natureza independente. Só ficava perto de Jon quando era hora de comer ou dormir. Amava a neve. Se enterrava nela e era difícil fazer com que saísse de lá.
O branco tinha virado sua sombra. Havia clamado o ombro direito de Jon como seu e quando não estava voando por perto, estava empoleirado nele. Jon teve que impedi-lo duas vezes de arrancar sua orelha. Era o menor e também o mais gentil.
Temia que o fato de ainda não soltar fogo significasse que tinha alguma coisa errada com seu dragão. Tentara olhar dentro de sua garganta uma vez e quase foi mordido. Depois disso resolveu esperar.
Estava tão entretido olhando-os que não reparou no homem que entrou no salão, até que este estivesse a poucos metros. Era Baran. Jon gostava do ancião, não esquecera que foi por causa dele que foi aceito em Solar Ruivo
—Ficam maiores a cada dia- comentou se acocorando perto do fogo, no seu lugar de sempre.
—Em breve estarão maiores que Fantasma.
—Em breve estarão maiores que este salão- falou sombriamente.
—Isso preocupa você? Que se tornem grandes e perigosos?
—Na verdade não.Temo você,jovem Magnar. O que pode se tornar.
—Teme a mim- repetiu Jon devagar, não via motivos por que ele o temesse. Não se lembrava de uma única vez que pudesse ter intimidado Baran.
—Uma faca não mata, garoto, mas quem a impunha. Seus dragões são facas e você é a mão que as guia.
—Seu medo é que use meus dragões de uma forma ruim-concluiu.
—Qual é a forma ruim? Vi seu dragão queimar o braço de Toregg só porque ele chegou perto de você de forma brusca. Tem o pior tipo de faca, garoto. Aquelas que pensam, e que fariam qualquer coisa por você.
—Está dizendo, que meus dragões podem machucar inocentes apenas por acharem que estou sendo ameaçado?
—Conheci Wargs o suficiente para ver as coisas que acontecem quando o animal assimila a raiva dos homens. O tipo de pessoa que você é definirá o que os seus dragões se tornarão.
Pensou um pouco no que o homem disse. Teve sorte que aquela foi a primeira vez que Valkius soltou fogo. Se as chamas tivessem sido um pouco mais fortes, podiam ter causado muitos danos a Toregg.
Nesse momento um grupo de pessoas entrou. Em seguida um homem foi jogado de joelhos na sua frente. Por trás de todo o sangue e inchaço, reconheceu o rosto de Garth.
Desde de que Jon apontou Garth como seu atacante, Tormund começou uma caçada humana. Essa manhã, um mensageiro chegou avisando que finalmente tinham tido sucesso.
Os olhos de Garth ameaçavam pular das orbitas quando o reconheceu.
—Mas... eu matei você- sua voz falhava.
Jon não confiou na própria voz para responder. Nada tinha lhe preparado para a emoção que se sente quando encara alguém que tentou te matar. Ficou surpreso com a intensidade da raiva que sentiu.
Os animais sentiram sua instabilidade. Fantasma começou a rosnar e Gaothrax apagou o fogo com uma única rajada de gelo. Lembrou-se nesse momento da conversa que acabara de ter com Baran. Se ele se entregasse as suas emoções, logo perderia o foco e seus dragões também, e se isso acontecesse, o que seria do mundo?
Tentou se acalmar e respirou fundo, mesmo que isso doesse como o inferno. Olhou para o homem amarrado a sua frente.
—Por quê?- perguntou simplesmente. Queria entender o que fizera aquele homem para que quisesse tanto ele morto.
—Como... não pode...- as palavras saiam desconexas. Pelo jeito Garth apanhou no caminho todo até aqui. Não conseguiria uma explicação sensata.
— Ele fez uma pergunta! Responde ou perde a língua- disse uma Esposa de Lanças.
— Não devia está aqui... vai ser a desgraça de todos- conseguiu dizer Garth.
— Pode ser que tenha razão. Felizmente para você, não estará vivo para ver esse dia- disse Jon friamente.
—Era isso que queria ouvir- disse Tormund puxando uma faca- dê ele pra mim garoto, vou cortar todos os dedos dele e fazê-lo engolir.
—Não. A decisão é minha e a execução também.
Aquele que dita a sentença maneja a espada. Esse era o jeito do Norte. E ele não podia se esquecer de quem era e nem dos seus princípios. Tinha que fazer isso por seus dragões, que precisariam dele com a mente sã.
— Então como quer fazer isso? Podemos trazer uma corda para enforcá-lo ou podemos usar cavalos para esquartejá-lo- sugeriu a Esposa de Lanças- Ou podemos queimá-lo como ele gosta tanto.
A imagem se formou na cabeça de Jon. Imaginou como seria amarrá-lo em uma tenda e tocar fogo. Por um instante louco ouviu os gritos do seu inimigo. A sangue correu em suas veias. Podia sentir a satisfação nesse exato momento. Valkius se empertigou e soltou labaredas que quase alcançaram o rosto de Garth
Jon percebeu o terror no olhar do homem. Agarrou o braço da cadeira com força para se controlar.
—O que é você?- Garth lhe dirigiu um olhar que estava além do medo. Parecia que via um monstro.
Toregg uma vez disse que ele tinha parado desse lado da Muralha, porque era anormal. Começava a temer que estivesse certo. Jon engoliu suas preocupações e tentou se manter inexpressivo. Esse não era o momento para fraquezas.
—Tragam minha espada.
Todos se reuniram no lado de fora para ver a execução. Garth foi posto sobre um banco.
—Estique bem o pescoço. Nunca fiz isso antes e quero fazer um corte limpo. A dor será só sua se eu falhar.
Mantinha a espada de Otto bem limpa e afiada e isso lhe serviu bem naquele momento. Pôs todo o corpo no movimento e a cabeça de Garth rolou no chão.
Era a primeira vez que matava alguém. Se não contasse Otto. Não sabia o que deveria sentir mas ficou aliviado em perceber que não estava feliz. A morte de uma pessoa, embora às vezes necessária, nunca devia ser comemorada. Ser Rodrik havia lhe dito uma vez.
Seus dragões se aproximaram do corpo mas Jon os afastou rapidamente.
—Deixe Jon-discordou Tormund- Pelos menos o corpo desse maldito servirá de alguma coisa.
—Permito que isso aconteça hoje e na primeira vez que sentirem fome, o que os impedirá de devorar a primeira criança que virem?- Tudo que não precisava era que eles vissem seres humanos como alimento. Inimigos provavelmente mas comida não. Sabia que seus dragões matariam no futuro mas queria que fosse pelos motivos certos. As palavras de Garth passaram bem perto do alvo. Não queria ser a desgraça de todos. Mas em breve teria poder o suficiente para sê-lo.
Tormund entendeu sua preocupação.
—É. Deve ter razão.
O dragão branco voltou para seu ombro. Todos o olhavam esperando algum tipo de atitude de sua parte. Não sabia exatamente qual mas como diziam os Stark, o inverno estava chegando e precisavam se preparar. Então se virou para Tormund.
—Reúna os guerreiros e anciões. Temos muito o que fazer.
....
Meio ano se passou, e as coisas realmente começaram a mudar. Para começar a população quase duplicou. Pessoas vinham de todos os lugares para vê-lo. Ninguém acreditava no começo que ele pudesse ter matado um Vagante ou que tivesse sobrevivido ao incêndio. Um homem até tentara pôr fogo nele uma vez para fazer um teste, mas Win Tun o ergueu pelos calcanhares e quebrou seu crânio em uma pedra.
Os gigantes eram uma coisa a parte. Se tornaram mais protetores e se agitavam para cumprir suas vontades. Mais tribos Kortan chegaram, até as tribos do rio. Agora contava com mais de um milhar e quase o dobro de mamutes. Tan Mung lhe presenteou com um par de braceletes de ouro, o gigante o usava nos pulsos. Talvez quando fosse adulto pudesse usá-los nos braços mas até lá guardou os presentes.
Jon se aproveitou dessa recém chegada devoção para pô-los para treinar, agora tinha todos no acampamento treinando duas vezes por dia. Até as gigantas, que se mostraram ferozes com um machado na mão. Começou também a treinar também humanos. Toregg e os dois menino Warg, Sura e Kena, eram muitos aplicados.
Tinha o problema de conseguir aço para armar todo esse povo.
Já começou a negociar com as aldeias mais próximas e conseguiu aumentar os rebanho de Solar Ruivo ao dobro. Quando viu que podia fazer queijo de leite de mamute, viu ali uma ótima moeda de troca. Leite de mamute e seus derivados começaram a movimentar o comércio na região.
Desde de então a comida não tinha mais sido um problema. Mas nada de aço ou Obsidiana até agora. Discutiu isso com Tormund, uma noite.
“Os melhores ferreiros do povo livre são os Thenns- informou Tormund.
—Infelizmente- suspirou Jon. Os Thenns eram um povo espinhoso que preferia não ter nenhuma relação. Mas realmente precisava das armas.
—Um mensageiro chegaria até eles em menos de uma lua. Podemos negociar, eles tem fome como a maioria de nós.
Jon não gostou disso. Mandar um mensageiro mostraria aos Thenns que precisavam deles. Não era uma boa posição para começar uma negociação.
—Não. Quero apenas que espalhe a notícia que procuro os melhores ferreiros e que pago bem. Mas apenas os melhores.
Deixe que os Thenns venham até nós,pensou. Se tem uma coisa que sempre podemos contar é com o orgulho daqueles que são considerados os melhores. Uma lição que Miestre Lwin lhe ensinou uma vez, jogando Cyvasse.”
Agora, dois meses depois, o peixe mordeu a isca. Esperava por visitantes em seu cadeirão. O dragão branco no seu ombro e Fantasma deitado aos seus pés. O lobo já estava maior que qualquer cão em Solar Ruivo.
Tinha mais alguém com ele. Um Warg. Que lhe fazia proteção. Jon não gostava de ser constantemente seguido onde quer que fosse mas gostava de conversar com o velho senhor.
Apareceram mais cinco Wargs, entre eles, Hull que tinham quatro ursos brancos. Conseguia controlar todos os quatro de uma vez. Contou a Jon que morava em uma caverna com os ursos até ouvir que Wargs eram bem vindos em Solar Ruivo.
—Minha mãe costumava contar, que num passado muito distante existiam feras voadoras que cobriam a terra de terror.
—Ela disse o que aconteceu com eles?- perguntou Jon, se lembrando do esqueleto na montanha.
—Não, mas suponho que foi o que acontece com todos. Encontraram seu fim como todas as coisas vivas.
—No entanto aqui estão- acariciou a cabeça do seu dragão.
—É isso que me assusta. Muitas coisas que não existiam mais, voltaram a existir nos últimos tempos.
—Como os Vagantes Brancos.
—Talvez seja por isso que seus dragões estejam aqui. Talvez seja por isso que você esteja aqui.
Tormund entrou no salão escoltando um grupo de doze guerreiros. Todos carecas com entalhes feito a faca em suas cabeças.
Não gostou deles logo de inicio. Tudo que ouvira sobre eles o deixou apreensivo mas precisava deles. Naquele lugar eles eram os únicos que faziam armaduras e Jon necessitava urgentemente armar os gigantes.
Serviu a melhor comida que podia oferecer. E ficou quieto enquanto a devoraram . De vez em quando paravam para encarar o dragão mas nunca diziam nada.
Jon estava decido a não quebrar o silêncio, precisava daquela gente mas tecnicamente, não havia chamado-os ali, vieram por que querem alguma coisa e eles teriam que pedir primeiro.
—Quando me disseram que o novo Magnar Mag era jovem, não imaginei que ainda engatinhace- comentou o mais novo. Os outros riram.
Jon não respondeu, percebeu que Sigorn estava nervoso. Não devia ter quinze anos ainda e essa deveria ser a primeira vez que o pai o mandava em missão representando o seu povo.
A risada morreu quando Jon tirou sua atenção deles e passou a se concentrar no dragão em seu colo. Não demorou muito para que tivesse a reação que desejasse. Sygorn pigarreou e se remexeu inconfortável.
—Tem algum motivo importante para estarem aqui ou viajaram toda essa distância para comentar a minha idade?
—Disseram que precisa de armas e armaduras pra seus gigantes.
—Divido que vieram até Solar Ruivo preocupados com o que preciso. É melhor falarmos do que vocês precisam.
Sygorn fechou a cara. Isso era bom, porque significava que entendeu que não ditaria as condições nessa negociação.
—O povo tem fome. O último inverno foi muito rigoroso, todas as provisões acabaram e não temos como repor os estoque porque não há o suficiente.
—Qual a sua proposta?- Jon ouviu esta história muitas vezes nos últimos meses. O último inverno havia quebrado a região.
—Podemos armar os seus gigantes, se nos manter alimentados até que recuperemos os estoques.
—Soube que o lugar onde moram é rico em minerais e que tem os melhores mineiros desse lado da Muralha.
—O que tem isso?
—Quero armas para os homens de Solar ruivo e também quero uma promessa.
Os homens se agitaram. Uma coisa era armarem gigantes e outra bem diferente era armarem outro bando.
—Que promessa?
—Quando eu achar Vidro de Dragão, quero que o minere para mim.
—Quer que façamos armas para seus homens e gigantes, e que mineremos pra você em troca de alguns punhados de queijo e nabos?- Sygorn estava irado.
—Não, a comida será em troca das armas para os gigantes, o resto será em troca de uma promessa minha.
—E que você prometeria?- perguntou o outro intrigado.
— Que nunca usaria as armas que fizeram contra vocês e que sempre os veria como aliados.Prometeria também que quando a Longa Noite chegar estenderei aos Thenns qualquer proteção que possa oferecer.Ter essa segurança pode ser bem útil um dia.
A outro estava indeciso, então estava na hora de apelar para a impulsividade adolescente.
—Sei que é uma decisão difícil. Fique a vontade para voltar e pedir permissão ao seu pai.
Quando o rosto se Sygorn escureceu, viu que agora o tinha bem onde queria.
—O pai disse que falava em seu nome, não preciso de permissão. Aceito a sua oferta. As armas chegaram em lotes a cada duas luas e mineraremos Vidro de Dragão pra você se um dia achar algum.
—Está feito então.
Quando apertaram as mãos e selaram o acordo, Jon sentiu que podia confiar. O povo livre podia ter vários defeitos mas quando diziam que fariam uma coisa, faziam mesmo. Naquele lugar palavra ainda era a única coisa com valor.
Naquele dia resolveu sair para caçar. Não tinha tido muito tempo para fazer isso recentemente. Parecia que sempre tinha que algo para fazer.
Saiu com Fantasma e os dragões. Mas logo estava sozinho com o dragão branco. Gaothrax achou logo um monte de neve em que se enterrar e Valkius saiu com Fantasma em sua própria caçada.
A quase três quilômetros de Solar Ruivo, achou o lugar certo para uma tocaia. Seu dragão voou para longe a procura de água. Então Jon ficou livre para se concentrar na caçada.
Pelas pegadas, um alce passara por ali recentemente, por isso era só questão de tempo agora.
De repente sentiu a já conhecida sensação de deslizar de seu corpo e em seguida estava se debatendo em uma rede, suas asas estavam contraídas de uma forma que machucava e lutava para voar, mais peso da rede o puxava para baixo.
Quando retornou Jon estava caído no chão. Correu o mais rápido que pôde e encontrou o grupo ainda na margem do riacho.
Os reconheceu de imediato. Eram mercadores vindos do Passo dos Guinchos, tinham vindo uma semana atrás. Tinha trazido um rebanho de quinhentos Bisões para trocar por um dragão.Quando descobriram que os dragões não estavam a venda, foram embora furiosos. Mas parecia que resolveram roubar o que não puderam comprar. E foram inteligentes o suficiente para escolherem o único dragão que não podia se defender.
Disparou a primeira flecha sem nem mesmo pensar. Quando seu companheiro morreu, um dos homens correu até onde seu dragão se debatia e pisou no seu pescoço. O dragão soltou um grito esganiçado de dor. O coração de Jon falhou uma batida.
—Aparece moleque, ou quebro o pescoço da sua besta.
Quando Jon saiu de atrás das árvores foi logo desarmado e recebeu um soco no estômago que o fez cair de joelhos. Olhou para o seu dragão e sentiu sua agonia.
—Traga a gaiola- disse o homem. Trouxeram uma armação de madeira que nunca seguraria Gaothrax ou Valkius mas serviu para prender o irmão.
O desespero do dragão se misturava com o seu, por isso se forçou a se acalmar. Pouco tempo depois seu desespero foi substituído por algo totalmente diferente.
Ódio se espalhou por seu corpo e atingiu o dragão, que parou de se debater e passou a encarar o agressor, nos olhos verdes Jon percebeu a mesma raiva que sentia. Um calor se espalhou por seu peito.
—Vou dizer o que vai acontecer Magnar. Vou levar o seu bichinho e se perceber que estou sendo seguido mato o dragão. Entendeu?
Jon fez fossa para se levantar. Quando olhou para homem, sorriu. Suas mãos tremiam de emoção. Tudo que queria ver era aquele maldito arder. Sua voz saiu quase como um riso louco.
—Dracarys.
As chamas verdes cobriram o homem e ele deixou de existir. Não queimou, foi incinerado. O fogo começou a se espalhar pelo chão e consumir tudo que havia pela frente. Os homens nem tiveram tempo para reagir antes de serem riscados da existência. As árvores próximas viraram cinzas a seguir.
Jon também foi atingido, as labaredas corriam por seu corpo, queimando as suas roupas mas nada além disso. A sensação era estranhamente reconfortante.O dragão voou para o seu braço.
“... e uma para a morte”
Enfim entendeu o que isso queria dizer. Enquanto a floresta ardia ao seu redor, percebeu que enquanto seus outros dragões eram mortais, esse era a própria destruição. Não haveria nada que pudesse pará-lo, varreria cidades do mapa como um espírito da morte.
—Seu nome é Morghon- disse enquanto o levava para fora dali.
...
Toda a parte da floresta que ficava ao norte do rio foi devastada. Árvores e animais. Tudo virou nada em instantes.Graças aos deuses, o riu salvou a outra parte. Quando as chamas alcançaram as margens descampadas do rio enfraqueceram e morreram
Jon sentia a culpa se revirá no seu estômago. A parte boa que os únicos mortos humanos, foram os ladrões.
A noite se sentou em sua tenda com Toregg para jogar uma partida de Cyvasse.
—Morghon. O que significa?- perguntou Toregg.
—Significa morte em Alto Valeriano.
—Eu ainda não acredito que um dragão tão pequeno tenha causado tudo isso.
Jon estava começando achar que acontecimentos recentes, o tinham deixado anestesiado e que as coisas nunca mais o afetariam como deve ser.
—O fogo-vivo é a substância mais inflamável que existe. Temos sorte de que tudo se passou na floresta. Não sei o que teria acontecido se Morghon tivesse soltado fogo-vivo no meio do acampamento.
—Eu sei. Todos nós estaríamos mortos e só restaria você- disse Toregg simplesmente, enquanto fazia seu movimento.
— Fala como se não fosse nada de mais, que eu pudesse ter matado todo mundo.
—O dragão, não você.
—Somos a mesma coisa.
—Tem que se acalmar, o que aconteceu já passou. Não pode deixar isso perturbar você.
—Por quê acha que estou perturbado?- rebateu.
—Porque acabei de vencer.
Jon olhou o tabuleiro e viu seus comandantes cercados. Teve vontade vontade de gritar com alguém.
—Não quero mais jogar.
Saiu da tenda antes que descontasse suas frustrações em Toregg. De repente estava correndo. Só parou quando chegou no meio do rebanho de mamutes. Sentou numa árvore próxima e abraçou os joelhos. Observava Bahuk pastar ali perto, só quando a vista ficou nublada foi que percebeu que estava chorando.
Logo Morghon chegou, não gostava de ficar longe de Jon. Bahuk deitou-se sobre as patas ao seu lado. Depois veio Fantasma seguido por Valkius. Até Gaothrax apareceu e começou a lamber as lágrimas que escorriam no seu rosto.
Jon afundou a cabeça nos braços quando ouviu passos se aproximando.
—Tá no hora de jantar Jon- era Tormund.
—Não tenho fome, abrigado- respondeu sem tirar a cara de onde estava.
Ouviu Tormund soltar um suspiro e se sentar ao seu lado.
—Ás vezes esqueço que tem apenas seis anos...
—Sete- corrigiu.
—Grande diferença-bufou-Age tanto como um adulto que passei a vê-lo como um. Me esqueço que é criança.
Tudo que Jon não queria naquele momento era ser lembrado que ainda era uma criança.
—Olhe pra mim.
Jon ergueu a cabeça e ficou contente com pouca luz, assim Tormund não veria seu rosto.
— Tem medo, Jon?
—Sim- admitiu com a voz rouca.
—Sei que fizemos um péssimo trabalho em proteger você nos últimos tempos, mas vamos melhorar.
—Não é disso que tenho medo.
—Qual o problema então?
—Hoje dei um comando para um dragão e acabei queimando metade da floresta. Se tivesse feito isso mais perto, teria matado todo mundo. Fui inconsequente. Não sabia a natureza de Morghon e mesmo assim dei o comando.
—A floresta crescerá de novo menino. Vai demorar um pouco mas crescerá, e quanto aos patifes que matou, não receberam mais do que mereciam.
—Tinha que ser mais prudente. Sabia que os dragões são perigosos mas mesmo assim me deixei ser guiado pela raiva e veja só o que aconteceu- disse enquanto acariciava as escamas de Gaothrax. Jon devia está mesmo horrível para que o dragão viesse lhe consolar. Gaothrax não gostava de companhia.
Tormund suspirou.
—Você me faz ter fé nos deuses, menino. Me faz acreditar que eles não nos abandonaram totalmente.
Não entendeu o que o homem queria dizer, então esperou que continuasse.
—De todas as pessoas que podiam ter um poder como esse, os deuses escolheram você. Te conheço o suficiente pra saber que fizeram a escolha certa. Sabe por quê?
—Não.
—Porque está aqui chorando um erro enquanto a maioria estaria festejando a vitória sobre um inimigo.
—Como sabe que um dia não perderei a razão e acabarei sendo a desgraça de todos como disse Garth?
—Não sei. Mas confio minha vida ao menino que passou a noite toda cuidando de um desconhecido. E que é o garoto mais corajoso que já conheci. Tenho fé em você, Jon Snow. Não por que você não queima ou por que monta um mamute ou tem dragões mas porque tem um coração gentil, e que pensa nos outros mais do qualquer um que conheci.
Os dois ficaram em silêncio enquanto Jon digeria aquelas palavras.
—Mais pessoas tentarão roubar meus dragões e não posso tocar fogo em tudo toda vez que isso acontecer.
—O que pretende fazer então?
A visão daquele homem pisando no pescoço de Morghon veio a sua mente.
—Levantarei acampamento e levarei os gigantes para as montanhas. Só descerei de lá quando os dragões forem fortes o suficiente.
—Ótimo- disse o outro simplesmente- agora vamos, a comida tá esfriando.
No dia seguinte acordou antes do sol. Se reuniu com Sygorn e deu a ele metade dos bisões que tomaram dos mercadores do Passo dos Guinchos . Jon percebeu o assombro no rosto dele. A destruição da floresta tinha causado uma impressão e tanto. Ótimo. Assim pensariam duas vezes em traí-lo. Os Thenns partiram com o rebanho e doze carroças carregadas de comida.
Quando Jon saiu do salão, percebeu um alvoroço.
— O que está acontecendo?
—Todos estão se preparando para partir-respondeu Tormund.
—O que está esperando? Queremos partir antes do meio-dia- Toregg lhe apressou.
—Não pedi que ninguém me seguisse- disse a Tormund.
—Esse é o Povo Livre, garoto. Vamos aonde queremos e seguimos quem queremos. Esse é o seu povo agora. Quer você queira, quer não.
Naquele dia, mais de dez mil pessoas seguiram Jon em direção as Montanhas. Uma mistura de gigantes, gente de Solar Ruivo e das vilas vizinhas.
Montou Bahuk e olhou para trás, para a coluna que se formara. Fez uma prece aos deuses que o dessem sabedoria, porque a vida de cada uma dessas pessoas era dele agora.
Morghon tomou seu lugar no ombro de Jon, enquanto Gaothrax e Valkius voavam uns vinte metros a frente, seguindo Fantasma.
Só esperava que Bahuk conhecesse o trajeto, porque não tinha ideia de qual caminho tomar para as tais montanhas.


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Notas finais do capítulo

Quando comecei essa fic, nunca pensei que a parte mais difícil seria nomear os dragões mas tive até que baixa um tradutor de valiriano.
Enfim, Gaothrax e Valkius eu inventei a partir de alguns sufixos de nomes valirianos mas Morghon significa mesmo morte em Alto Valiriano.
Então, todos prontos para uma passagem de tempo? Tá mais do que na hora de Jon se envolver mais no jogo dos tronos.