Nevava em Winterfell. Era começo da primavera mas ainda assim nevava. Jon gostava das neves de verão,parte porque não era frio o suficiente para ficar dentro de casa e parte porque era fácil caçar.Os animais ficariam famintos em suas tocas e assim que o clima melhorasse sairiam para se alimentar. Então essa era a hora certa para espalhar armadilhas.
Ele geralmente não tinha necessidade de caçar mas estava juntando dinheiro para comprar um brinquedo, um cavaleiro dornês.Era de madeira e se mexia, o garoto estava decidido a tê-lo.Por isso arrumou várias formas para conseguir o veado de prata que o carpinteiro cobrou. Uma delas era caçar, nunca tinha caçado antes até pouco tempo atrás mas aperfeiçoou sua técnica e agora suas armadilhas quase sempre eram bem sucedidas.No entanto parecia que hoje seria um dia do quase, pensou em voltar mas não estava pronto para retornar ao castelo.
Hoje era o sétimo dia do nome de Robb Stark, herdeiro de Winterfell e meio irmão de Jon, e haveria um banquete em sua homenagem. Vários lordes do Norte e de Correrrio foram convidados. Então um bastado fazia bem em não impor sua presença a convidados tão importantes.
De forma que preferiu ficar na floresta. Jon carregava consigo um arco bem maior que ele próprio e uma aljava com flechas que ele mesmo havia feito na noite anterior. Depois que começou sua empreitada em busca do cavaleiro sua habilidade com o arco tinha melhorado muito.Rodrik estava orgulhoso.
Era tarde e a neve passara e se Jon esperava voltar para casa com alguma coisa,além de mãos vazias, essa era a hora certa. Os animais diurnos voltariam para as tocas e os noturnos deixariam as deles. Então Jon procurou um lugar alto próximo a uma trilha de animais e esperou.
A espera foi recompensada quando um cervo entrou em seu campo de visão. Era um macho jovem, que se alimentava de uma relva rasteira, ignorante ao menino que lhe apontava uma flecha. Morreu sem percebê-lo.
Enquanto se aproximava do animal, um cavaleiro apareceu de repente. Um homem alto, quase tão alto quanto Hodor. Com toda certeza era nortenho.
—Diabos garoto, roubou minha caça.-exclamou indignado.
Jon se surpreendeu com o tom do homem.
— Desculpe meu lorde,eu não sabia.
O grande homem desmontou, se pôs na frente do menino e o encarou com o rosto fechado. Depois voltou sua atenção para o animal morto.
—Foi uma bela flechada essa aí, bem na cabeça. Quantos anos tem menino?
—Seis
—Passado para trás por alguém que mal deixou de usar cueiros- o homem sorriu.
Agora mais de perto, Jon pode ver o broche no manto que usava. Enfim pôde identificá-lo.
—Como pretende levar o cervo para casa?
O garoto não havia pensado nessa parte. Na verdade era o maior animal que já tinha caçado. Era mais pesado que ele com certeza. Percebendo o olhar do menino, o lorde se pronunciou.
—O que vai fazer agora? Eu podia livrá-lo do incômodo, me venda o animal e encerramos essa história. Ofereço 5 moedas de cobre.
Isso serviria bem a Jon, venderia o animal sem ter que carregá-lo por quilômetros.Mas não por esse preço.
—Dez.
—O que disse?
—Vendo por dez moedas de cobre.
—Está tentando me roubar fedelho! Sabe quem eu sou?
—É Lorde Umber, Senhor da Última Lareira.
Isso surpreendeu o homem mas ele logo fez uma carranca.
—Então sabe que faria bem em não me irritar.
—Não estou tentando irritá-lo. O preço é dez moedas- o tom do menino é taxativo.
—É demais moleque, nem é um cervo tão grande assim.
— Grande ou não, é a única chance que tem de comer cervo fresco hoje, já está anoitecendo.
Grande Jon soltou uma gargalhada.
— Seu pai deve ter orgulho de você,poucos meninos de seis anos negociam assim. A propósito ele sabe que você está aqui sozinho na floresta?
Jon não sabia o que responder, Lorde Stark provavelmente nem se importava com o que ele fazia.
—Não meu lorde.
Lorde Umber observou o rosto de Jon com mais atenção,o garoto percebeu que era avaliado e sabia a que conclusão ele chegaria.
—Você é Jon Snow.Tem a cara do seu pai.
O menino já ouvira isso antes e por mais que não pudesse se ver no rosto de Lorde Stark, achava que devia ter algo de verdadeiro nisso, uma vez que essa parecia ser a opinião de todos. Ás vezes , Jon esperava que alguém comentasse que ele se parecia com alguma mulher que tinham visto em algum lugar. Pelo menos teria alguma pista da mãe. Até agora ter “a cara do pai” não havia trazido nada de bom.
—O senhor vai comprar o cervo ou não. Tenho certeza que alguém em Winterfell comprará.
—Oito moedas.
—Não, dez.
—Pelos deuses garoto, barganha feito uma velha com um peixe.
—Eu preciso do dinheiro.Tenho que juntar o suficiente para um veado de prata.
—O senhor seu pai lhe nega uma quantia tão ínfima que você tem que se embrenhar na floresta para consegui-la?
O garoto olhou para o chão, nunca sequer pensou em pedir ao pai, quase nunca falava com ele e quando isso acontecia era sempre Lorde Stark que o procurava.Jon não tinha coragem de ir até ele, muito menos para pedir dinheiro.
—Eu nunca pedi.
Lorde Umber pareceu entender pelo menos parte da situação. O rosto triste do garoto dizia muita coisa. Pôs o animal no lombo do cavalo e entregou ao menino um veado de prata.
—Mas é demais-protestou Jon.
—É o que você precisa não é.
—Não é justo, não posso aceitar.
—Pelos sete infernos. Eu quero lhe dar essa moeda então aceite de uma vez.
—Desculpe mas eu não quero. O senhor pode ficar com o cervo, eu consigo o dinheiro de outro jeito-Jon estendeu a moeda de volta.
—Não é a toa que o escondem tão bem Jon Snow, herdou do seu pai mais que a aparência- sorriu Grande Jon- Dez moedas de cobre então.
.....
A noite encontrou Jon na muralha oeste do castelo.Preparava mais flechas para seu estoque, enquanto pensava no Cavaleiro de Dorne. Sentia as moedas em seu bolso. Estava mais perto agora.
O barulho que vinha do grande salão aumentava conforme o convidados se embriagavam. A recente vitória sobre o Greyjoys e o dia do nome do jovem lorde deixou todos com o espírito alegre.
Jon nunca participou de nenhum evento no grande salão.Tudo o que sabia é que havia muita comida, bebida e música. Sempre se sentava ali para ouvir as canções.Eram histórias cheias de damas,cavalheiros e finais felizes.Muito diferente das historias da Velha Ama. Jon passava horas aos pés da velha senhora. Suas preferidas eram as histórias de além da Muralha, normalmente cheias de gigantes, wargs e outros monstros prontos a devorar garotinhos desobedientes.
Jon achou estranho quando a música parou de repente.Mas sua confusão durou pouco, já que logo apareceu correndo, Joselin, uma das cozinheiras.Era apegada a Jon, cuidou dele depois que sua ama de leite se fora. Sempre tinha algum doce escondido nos bolsos para ele e se preocupava com o fato de ele não comer o suficiente.
Agora ela parecia pálida e agitada. Pegou Jon pelas axilas e o desceu da amurada.
—Vem, tá na hora de dormir.
—Mas...
Jocelin não parou para ouvir.Puxou o garoto pela mão e começou a arrastá-lo para o quarto.Quando chegaram, empurrou o garoto para dentro.
—Você fica aqui. E não sai até eu vir te buscar.
—O que foi que aconteceu?-Jon já estava começando a se assustar.Jocelin agia como se tivesse visto os Outros.
—Lady Stark tá passando mal. Houve um...um...
Agora Jon viu que era mesmo sério o que acontecia.Jocelin não costumava perder a fala com muita frequência.
—Mestre Lwin tá com ela agora.Parece que ela ficou nervosa e o bebê sentiu.
— Ficou nervosa com o quê? E porque eu preciso ficar aqui trancado por causa disso?
Jocelin o olhou avaliando se deveria lhe contar ou não. Por fim começou a sussurrar:
—O grande Lorde, aquele que é meio gigante.
—Lorde Umber.O que tem ele?
— Bebeu muito vinho e acabou falando demais.
—O que ele disse?
—Ele perguntou por que você não estava lá.E Lady Stark respondeu que ali não era lugar para um bastardo.
O garoto sentiu algo ruim no estômago.Sabia que nada de bom viria daquilo.
—O grande Lorde estava muito bêbado. Ele acabou perguntando se isso era por que o lobo havia uivado mais alto no ventre da outra.
Jon tinha apenas seis mas entendia o suficiente sobre o que significa ser bastardo para saber que só ele sofreria as consequências daquilo.