As 7 Notas da Vida escrita por Mandy


Capítulo 2
Capítulo 2




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Um ano antes...

Seis meses que Ana havia chegado em Cleveland, nos primeiros dias na cidade e na academia a garota se sentiu totalmente deslocada, não conhecia ninguém ao redor e nada daquela cidade. Não demorou muito para que fizesse amizades, apesar dela ser considerada uma adolescente diferente dos outros, ela sabia muito bem se enturmar, ainda mais num lugar em que pelo menos 90% de estudantes que estava com ela compartilhava do mesmo gosto musical. 

Ana estava sentada embaixo de uma árvore e vendo várias pessoas com instrumentos nas mãos, estudando ou simplesmente descontraindo enquanto a aula não começava, e ela era uma dessas. Sonata ao Luar soava em seus ouvidos até que Bia, uma das amigas que Ana havia feito e colega de quarto, sentou ao seu lado e tirou os fones de ouvido da amiga para que desse total atenção a ela. Bia segurava algum tipo de panfleto nas mãos e sorria abertamente.

— Vamos? – Bia perguntou esperançosa.

— Festival de fogos? – Ana pegou o panfleto da amiga para olhar.

— Esse festival não acontece sempre, é bem raro e quando tem... é imperdível! – Bia explicava animada – Parece que muita gente aqui vai e como você é teoricamente nova, é teoricamente obrigada a ir comigo.

Ana olhou irônica para a amiga e não conteve a risada ao ver a cara dela.

— Vou pensar no seu caso – Ana disse, rindo – não vejo motivos suficientes para eu ir. 

— Ah, qual é? Você precisa ir, se distrair um pouco. Vai se arrepender se não for... acredite.

Ana continuou a encarar a amiga pensando na possibilidade de ir ou não ao tal festival. Bia tinha razão e Ana sabia disso, talvez seria bom se distrair um pouco e aproveitar o tempo que ainda tinha naquela cidade, então a garota se deu por vencida e cedeu ao convite de Bia, que estava praticamente insistindo.

Bia, sem hesitar, agarrou Ana sentindo-se feliz por ela ter aceitado o convite. Logo depois que Bia se afastou para ir à aula, Ana colocou novamente os fones de ouvido e antes que abrisse o livro de teoria da música, três garotos passaram por ela, mais adiante. Um deles ela reconheceu por fazer a mesma aula de piano com ela, mas havia um que segurava uma guitarra e olhou diretamente para onde ela estava, Ana chegou a olhar para trás... talvez ele estivesse olhando para outra pessoa? Quando ela voltou a olhar para frente, viu que ele ria alto e para confirmar a dúvida de Ana, ele mandou um "tchauzinho" nada discreto à ela o que a fez ficar sem reação. A garota ignorou o suposto guitarrista e abriu o livro em suas mãos revirando os olhos, vez e outra olhando na direção dele que agora estava sentado numa mureta com os amigos. 

Aqueles 10% que faltava para compor as pessoas da academia... certamente ele fazia parte desse grupo. 

Ana aumentou o volume da música em seu celular ao perceber que quase não conseguia ouvir quando o garoto da guitarra começou a tocar e cantar em alto som. Ela não sabia se ficava nervosa por não conseguir estudar ou por saber que é impossível disputar um "simples" piano com uma guitarra barulhenta, odiava admitir essa posição. Muitas pessoas estavam ao redor dele, sem contar os amigos que já faziam companhia a ele antes do "show", a música que ele tocava... não era estranha para Ana, ela conhecia. No exato momento, sorriu ao lembrar do irmão e das várias vezes em que tentou a convencer a ouvir as músicas dele e ela sempre se recusava.

— Isso é só barulho... – Ana reclamou sozinha ao fechar o livro em suas mãos e levantar para sair daquele meio.

— Quem é aquela? – Danny, o guitarrista, perguntou ao amigo sentado ao seu lado na mureta.

Ele continuava a tocar músicas conhecidas, especificamente alguns rock's, mas permaneceu seu olhar em Ana que guardava seus livros na bolsa com uma expressão não muito agradável em seu rosto. Danny deduziu que, assim como muitos naquele instituto, talvez ela fosse mais uma "obsoleto da música" e isso não era algo que o incomodava, porém ele não conseguia ver sentido algum nesse conceito de que o clássico é música verdadeira e os novos ritmos não passasse de algo "inovador" e sem sentido, isso para muitos que ele conhecia e pensava assim. 

— Ana, ela é da minha turma de piano. – o amigo, Ben, respondeu, agora, também olhando a garota se afastar da árvore onde estava. – Esquece, cara, você não vai conseguir ficar com ela.

Danny desceu da mureta onde estava sentado e seguiu em direção ao prédio do instituto acompanhado pelos amigos e com a guitarra em suas costas. As pessoas que assistiam a performance dos garotos, algumas foram cada uma para o seu canto e outras continuaram no encalço dos rapazes, conversando entre si ou apenas ouvindo sobre o que falavam. 

— Eu não conversei muito com ela, mas pelo pouco que interagimos... – Ben continuou o assunto enquanto Danny apenas ouvia. – você é o tipo de gente que ela não gosta, digamos assim. 

Danny esboçou um breve sorriso no rosto, achando graça.

— Eu não ligo. – disse ao chegar nos corredores da academia. – E isso me pareceu um desafio.

[...]

Ana, após sua aula teórica sobre ritmos e tempos musicais, se encontrava na companhia de Bia em uma das salas disponíveis para os alunos praticarem. As teclas pesadas do piano eram tocadas pela garota fazendo com que sons leves e suaves soassem pela sala com a performance de Gustav Holst, Jupiter; Ela, vez e outra, fechava os olhos a fim de conseguir prestar atenção nas notas tocadas e sentir a música. Cada vez que Ana tocava algo e fechasse os olhos, era como se tentasse visualizar algum sentido para aquelas notas, a ordem a qual elas seguem ou o porquê da composição dela, Ana acreditava que os compositores, Beethoven ou Chopin, por exemplo, não criavam e determinavam um ritmo por simplesmente parecer algo "sentimental" ou "tocante", mas que poderia ter alguma história por trás delas. Uma história ou mensagem que teria o intuito de fazer aquele que ouve, pensar.

Como um autor qualquer, seja de um livro ou poema, nenhuma história é apenas escrita. Pode ser o livro menos valorizado em quesito de "literariedade", mas o autor vai buscar um meio de lhe fazer pensar por meio das palavras dele. Acontece o mesmo com a música clássica... você se emociona ou se arrepia ao ouvir determinadas notas, mas não sabe o porquê, e é exatamente esse ponto que faz Ana se aprofundar cada vez mais em teorias e música.

Bia, enquanto ouvia a amiga tocar, estava sentada num dos bancos da sala mexendo no celular. Apesar de ela não ser tão dedicada como Ana, ela entendia perfeitamente a paixão que a amiga tinha pela música e respeitava seu momento. Ela sentia o mesmo quando tocava seu violino. A garota tirou sua atenção do celular quando ouviu seu nome ser chamado, pensou ser Ana, mas ela continuava a tocar atenciosa, olhou então para a porta da sala e, pela vidraça, viu que Ben fazia sinais para que ela fosse até ele. 

Olhou mais uma vez para Ana, a música continuava a soar. 

— O que fazem aqui? – perguntou ao fechar a porta atrás de si, olhou para Danny encostado na parede e sorriu.

— Seremos rápidos, só nos responda uma pergunta. – Ben pronunciou. Os amigos se entreolharam e Danny soltou a pergunta.

— Qual é a da pianista? 

Bia sem saber como reagir, apenas olhou para trás e viu que a amiga trocava as partituras, talvez nem tenha percebido sua ausência. Apenas achou graça e riu. Voltou sua atenção ao Danny que segurava sua guitarra pelo braço e ao Ben com os braços cruzados.

— Ana? Seja lá o que querem com ela, esqueçam.

— Em que acha que estamos pensando? Só queremos conhecê-la – Danny defendeu-se mostrando indignação.

— Ela namora.


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