A Chuva de Rani (EM REVISÃO) escrita por Elle Maria


Capítulo 4
Capítulo quatro - Um gole de coragem.




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A faixada era extravagantemente rosa, com belas roseiras na entrada e por toda loja. Dentro era o sonho de qualquer criança, doces de todos os tamanhos e formas cobriam as delicadas prateleiras brancas.

O jovem casal, donos da loja estavam na cozinha terminando as últimas encomendas enquanto discutiam sobre a chegada do novo entregante na família.

— Não sei porque ainda discuto com você, sempre faz o que quer. - Disse o marido para a sua esposa, enquanto essa sorria e mexia a massa de biscoito.

— Não seja ranzinza querido. Um animalzinho vai trazer sorte para nossas vidas. - Disse a bela mulher de cabelos dourados.

Estavam tão distraídos que nem notaram a chegada da jovem transtornada na loja.

— Você sabe que tenho alergia a cachorros, isso vai atacar minha sinusite. - Disse o homem coçando a ponta do nariz.

— Deixe de ser bobo homem, você não tem alergia. - Explicou a mulher ao marido, antes de sair em direção a frente da loja de doces.

Rani estava sentada na última mesa a direita, em um ponto onde o sol não batia. Ela se tremia e soluçava baixinho se encolhendo como um bichinho acoado.

— Ela está bem? - Perguntou o homem se aproximando da esposa que observava a jovem acoada.

— Está sim, querido. - Respondeu com um sorriso no rosto. Pegando um avental florido a mulher se arrumou para atendê-la.

— Como você sabe? - O marido curioso.

— Simples. Eu também fiquei assim quando me apaixonei com você. - Respondeu ela indo em direção a mesa da jovem.

— Meu amor, você e um caso isolado, não deveria se usar como referência.

Dando de ombros a mulher chegou perto de Rani que mais uma vez se encontrava perdida; com os olhos parados no tempo e uma tristeza profunda na áurea.

— Olá meu bem, eu sou a Rosa, como você se chama? - Se apresentou a mulher começando uma conversa amigável.

Com o olhar cinzento Rani observou a mulher e viu como ela parecia irradiar luz. Era tão incomodo e irritante que teve que tirar a visão dela.

— Rani. - Respondeu secamente a mulher. — Não quero ser grosseira, mas não quero conversar. Logo vou embora.

A mulher sorriu e se sentou ao seu lado em uma das cadeiras enfeitadas.

— Sabe, estive na mesma situação que você se encontra agora. - Disse a mulher com o peito estufado e com o ar de sabichona na voz. — Você acha que não tem solução a não ser fugir e esconder. Mas eu tenho um pequeno segredo. Você quer saber?

Rani não tinha certeza se a mulher realmente sabia o que estava falando, mas decidiu ouvir de toda forma. Ela então balançou a cabeça confirmando que queria saber, a mulher prosseguiu.

— Coragem. - Disse com o ar vitorioso.

— Como?

A mulher se levantou de sua cadeira e disse com a voz alta e o punho balançando em direção ao teto.

— Simples minha cara. Coragem para enfrentá-lo e dizer tudo e fazer tudo o que quer fazer. Atitude!

— Certo, mas não sei se tenho. - Disse Rani cabisbaixa pronta para se retirar.

— Bobagem. - Disse a mulher, sacudiu a mão em desdém ao comentário de Rani. — Tenho um elixir para isso. Só um minuto. - Disse a estranha Mulher desaparecendo nos fundos do estabelecimento junto com seu tonto marido.

Se escutou um burburinho e alguns sons de portas se abrindo e fechando, seguido de um estranho silêncio. Rani não estava tão longe da porta, já havia se levantado estando bem próximo a porta.

— Espere! Está aqui o elixir. - A bela mulher chamada Rosa trazia com sigo uma garrafa de vinho enrolada em um saco de papel.

— Querida, não acho que ela precise se embriagar. - Alertou o homem a esposa.

Rani segurou a garrafa franzindo a sobrancelha, as nuvens do seu passado a fazia lembrar que esse tipo de bebida não trazia tranquilidade para ninguém. Ela agradeceu e se retirou, não antes de ouvir as instruções de Rosa.

O sol estava no alto, era meio-dia, as ruas ensolaradas e os rostos das pessoas tão nítidos irritava a visão escura de Rani. Se acostumou com o escuro, depois de anos em meio a escuridão qualquer luz a mais a irritava. Por favor, não pense que ela virou um ser obscuro, mas sim um ser deprimido com a vida, enxergando apenas o lado negro, negativo do mundo.

Quando Rani chegou ao seu apartamento percebeu algo estranho, estava quente e cheirava a erva-cidreira. Sobre a mesa havia uma xícara de camomila ainda quente, a sensação de um abraço quente preencheu seu corpo frio, aquela cena lhe convidava a se sentar e se deliciar com o chá. Rani puxou a cadeira, colocou de qualquer jeito sua bolsa e seu vinho, se sentando encarou o chá. Não havia vontade para tomar. Com o dedo indicador começou a desenhar a borda da xícara branca listras verdes, ficou assim até escurecer. Rani de um suspiro e disse para a casa vazia:

— Você era feliz enquanto ainda vivia? - Disse encarando a xícara. — Eu só queria poder voltar e fazer diferente. Eu já perdi tanto, mas o que perdi a três anos não se compara. - Dizendo isso ela tocou levemente sua barriga com a mão esquerda.

— Não me importa mais se você e uma ilusão ou um fantasma, eu só quero agora alguém para conversar.

Rani nunca desejou ter uma companhia fantasmagórica, sempre as odiou pelo que fizeram a ela na infância, e o modo como a perturbavam e a seguiam. O que ela queria era pessoas de verdade ao seu redor, queria uma família adorável como nos romances que lia para encher sua cabeça até não ter mais espaço para eles perturbar. Depois que as vozes de sua cabeça se calavam e sumiam, ela ficava no profundo silêncio em um quarto de paredes brancas. Ela nunca se perguntou o que eles queriam, nunca os convidou para um gentil conversa em um por-do-sol, mas já estava farta, não tinha o que perde naquele início de noite, ela sentia uma estranha sensação de leveza em sua mente.

A cadeira a sua esquerda se moveu para trás para logo em seguida aparece o fantasma de Derek.

— Enquanto ainda vivia sempre tentava fazer de cada dia o melhor da minha vida, mas, ainda assim, tenho arrependimentos que me prendem aqui. - Derek parecia triste, triste duas vezes, por ele e por Rani que ainda parecia desconhecer a felicidade e o amor sincero.

Rani parou de encarar seu chá para encarar o homem de suspensórios, os olhos de Rani estavam cinzas tentavam buscar significado e uma ação, porém, nada podia ser ver deles.

— Rani te suplico! - Disse Derek em tom desesperado. Ele de uma alguma forma conseguia tocar em Rani, pegando suas mãos delicadas continuou: — Me ajude a solucionar o meu problema e eu te prometo te trazer a felicidade.

Rani o encarou assustada por alguns instantes antes de soltar uma gargalhada.

— Se nem os médicos, e nem as pilulas conseguiram, como um fantasma pode me ajudar.? - Disse em tom seco e sarcástico.

— Rani você ainda não percebeu? Estou segurando sua mão, consigo te preparar chás e toca o piano. Por algum motivo posso tocar nos objetos quando estou nesse apartamento e com você. - Derek falava as palavras em tom alto e claro na intenção de que Rani as ouvisse bem, enquanto apertava levemente sua mão para que o sentisse.

Fantasma não são gentis, fantasma não pedem ajuda e prometem ajudá-la, fantasma não te tocam, você não pode senti o calor de um, apenas sua sinistra presença. Porque Derek podia tocá-la, como ela conseguia o sentir? Por que ela, logo ela? Um ser frágil e carente

— Não! Isso não é real, não é. - Gritou Rani correndo em direção a seu quarto. Trancando a porta deixou que suas costas escorresse por ela. Rani escutava as batidas na porta e as suplicas de Derek para que o ajudasse. Isso nunca havia acontecido, ela podia senti-lo, toca ló.

— Rani, você e a minha única esperança. - Gritou o homem fantasma na tentativa de comovê-la.

— Eu sei que você se sente inútil, mas para mim você e a minha única luz, só você pode me ajudar. - Disse o fantasma em prantos. — Estou desesperado e com medo, Rani. Me ajude.

A pobre Rani teve que botar a mão na boca para conter seus soluço . O que ela sentia era seu peito arde, como se uma faca estivesse atravessado, sentia seu peito palpita como se voltasse a viver ou lutasse para sobreviver. 


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