Querido São João escrita por Paloma Machado


Capítulo 3
À pesca de um amor - Lysandre


Notas iniciais do capítulo

Olá! Aqui é a Misaki ^^

Falei que iria trazer o próximo capítulo ainda essa semana. Promessa é divida. E cumprida! XD

Boa leitura.



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Eu não sei se é obra do destino, castigo divino ou operadora ruim, mas sempre que saio para alguma festa num lugar grande e repleto de gente, meu celular fica sem sinal.

Carla me convidou pra ir à festa junina que vai ter no sítio dos avós dela. Estou receosa, porque quanto mais árvores, mais interferência e menos sinal. Ai você deve estar se perguntando: Mas quem se perde numa chácara? Bem... É porque não se trata de um simples "quintalzinho" com algumas galinhas ciscando, o lugar é tão grande que eu tenho certeza de que daria pra construir um parque de diversões com umas 100 atrações. Se eles colocarem algumas girafas e hipopótamos lá, vira um zoológico.

Apesar de ficar no interior, é um lugar de fácil acesso, então a prefeitura fez um negócio com os donos para poder hospedar a festa de São João todos os anos. É um lugar muito bonito e com uma grande área aberta e gramada, que proporciona uma das melhores festas na qual já fui.

Ouço uma buzina na frente de casa, coloco a cabeça para fora da janela do quarto, há um Peugeot 308 branco parado no portão.

— Oi Laura! – Carla acena saindo pelo lado do carona. – Vamos?

— De quem é esse carro? – grito da janela. Estou no segundo andar.

— Dá Débora, oras – ela faz uma careta.

— E de quem ela roubou? – pergunto rindo.

— Eu ganhei dos meus pais, sua otária – diz Débora baixando o vidro do motorista, sacudindo uma habilitação na mão. – Chegou ontem, fresquinha.

— Aposto que comprou – sacaneio.

— Cala a boca e vem logo!

Termino de me arrumar e olho o celular. Bateria cheia. Sinal ótimo.

Desço as escadas e dou tchau pra minha mãe que está na cozinha fazendo sua própria receita de quentão. Eu a convidei pra ir junto, mas depois que meu pai faleceu, ela nunca mais quis sair. Fecho a porta da frente e tranco o portão.

— Tem um capacete ai? – pergunto me sentando no banco de trás do carro.

— Ai que engraçadinha, devia guardar uma dessas suas piadas infames pra conquistar um garoto – Débora dá partida.

— Não começa – cruzo os braços.

— Foi você quem provocou – diz Carla apontando o dedo na minha cara. – Você vai ficar pra titia Laura, tem quase vinte anos.

— Nossa! Como estou velha. Já posso ver as rugas – digo em tom sarcástico. Carla faz linguinha. — Desculpe se eu não fiquei com o primeiro cara que apareceu na minha vida.

— Ah é?! Mas estou muito bem, obrigada – Carla fica brava e vira pra frente.

Carla namora um garoto desde os doze anos, o Paulo. Os dois são muito legais e até que combinam, mas depois que ele começou a faculdade de engenharia naval, a relação começou a esfriar. Temo que uma hora um deles vá achar que perdeu muito tempo e tudo vai acabar numa grande mágoa.

— Temos que passar no centro pra pegar a Bia. – Débora avisa, quebrando o gelo.

Bianca é o cupido do grupinho, vez ou outra ela me empurra um de seus “conhecidos”. A verdade é que ela fica com vários homens na balada e se acha algum interessante, joga pra mim. Uma vez ela passou meu número para um deles, eu quis matá-la, o cara ficou me atormentando uma semana a fio. Tive que trocar de número por causa daquela desmiolada.

Dez minutos depois pegamos a Bia e enfim seguimos para o sítio. Confesso que Débora dirige bem, não esperava tanta aptidão depois de vê-la num kart mandando os cones da pista para os ares.

— Caraca que gente linda – é a primeira coisa que Bianca observa quando chegarmos à festa. – Quem sabe hoje em Laura? – ela me dá umas cotoveladas.

Eu reviro os olhos. Sei que não adianta negar, mas também não vou fingir entusiasmo.

— Por onde vamos começar? – Carla pergunta pegando sua pesada e rechonchuda bolsinha de moedas.

— Comida! – Débora urra e corre em direção à barraca de espetinho de carne.

Eu as sigo, arrastando os pés. Toda festa é a mesma coisa. A Débora come feito uma porca e passa mal, a Carla bebe feito um camelo e passa mal, a Bianca gira tanto atrás de um namorado para mim que passa mal. E eu passo mal por ter que cuidar das três.

Visitamos todas as barraquinhas de comida e sentamos num dos bancos perto do lago, Carla trás um copo de quentão pra cada uma enquanto Débora equilibra uma bandeja de isopor cheia dos mais variados tipos de petiscos.

— Olha aqui, eu não vou ser babá de vocês hoje não – digo enquanto tento abrir um pinhão.

— Sai dai adulta – Débora me taca uma pipoca.

— Se tivesse um namorado não precisava ficar com a gente – Carla diz tirando um pedaço de cravo do meio dos dentes.

— Mas claro que sim! Ela é nossa amiga — Bianca franze a testa.

— Se pelo menos vocês fossem responsáveis, isso já facilitaria o meu trabalho. – Finalmente descasco o pinhão, mas ele escapa e cai na água. – Legal...

— Mas se focemos responsáveis você não teria porque se preocupar conosco, logo nos deixaria de lado – Débora argumenta.

Eu suspiro – É claro que não, vocês são minhas bebezinhas – damos um abraço grupal.

— Bebê precisa fazer xixi – Bianca juntando as pernas e começa a dar pulinhos.

— Eu não vou naqueles banheiros químicos – Débora faz cara de nojo.

— Vamos até a casa dos meus avós – Carla joga os copinhos plásticos num latão ao meu lado. – Você vem Laura?

— Não. Estou de boa – numa guerra pra descascar um pinhão, mas na boa.

As três correm como gazelas e somem no meio do pessoal. Fico ali no banco, brigando com minhas sementes cozidas de araucária. Depois de conseguir comer algumas, percebo que as meninas ainda não voltaram.

— Mas onde foi que aquelas três se meteram? – me pergunto olhando o relógio, já se passaram 20 minutos. – Talvez Débora esteja mal – recolho minhas coisas e vou atrás delas.

Perambulo pela festa tentando encontrar um caminho, infelizmente me dou conta tarde demais de que não sei onde fica a casa dos avós de Carla, e são tantas luzes que não consigo distinguir as coisas. Pego o celular e tento ligar para Bianca.

Celular indisponível ou fora da área de cobertura — aquela gravação chata da operadora. Tento ligar para Carla, meu celular apita e desliga a chamada. Olho para o símbolo de sinal no canto superior direito do aparelho. Há uma pequena barrinha apenas, fico a encarando por alguns segundo e puf! ela some, sendo substituída por um “X”. – Mas que merda!

Tento ir para um lugar mais alto e fico chacoalhando o celular no ar feito louca. As pessoas começam a me olhar estranho. Respiro fundo, desisto e começo a descer o morro, a grama está molhada devido ao sereno e a sola do meu tênis é lisa. Péssima combinação.

Como se um ser invisível estivesse ali pronto para me caçoar, eu escorrego e saio de rolo pelo gramado, só paro quando acerto um pobre coitado que por ventura passava por ali. Fico estatelada no chão me perguntando: por que eu?

— Você está bem? – a pessoa que acabo de atropelar me estende a mão.

— Sim, obrigada – me levanto com sua ajuda e tiro as folhas da roupa. Olho para frente para pedir desculpa, mas a única coisa que faço é ficar com a boca semiaberta, feito uma palerma.

— Prazer, Lysandre – ele me dirige um sorriso.

— Laura... – fico hipnotizada por seus olhos heterocromáticos – m-me desculpe, eu estava tentando encontrar o sinal do celular...

 — Entendo, eu também me perdi – ele cora ligeiramente – estou procurando meu bloco de notas.

De repente ouço a voz de Bia em minha mente: Vai garota! Essa é a sua chance.

Eu franzo a testa, pensativa. Não creio que vou fazer isso.

— Estou procurando as minhas amigas, talvez eu e você pudéssemos unir forças para encontrar seu bloco também – sugiro, torcendo os dedos.

— Acho uma ótima ideia – ele me estende o braço. Eu o seguro com a mão e começamos a andar pelas barracas.

Começo a contar como cheguei ali e que uma das minhas amigas é neta dos donos do sítio. Ele conta que já morou numa fazenda e que até teve coelhos de estimação. O tempo vai passando e eu não percebo. Lysandre tem um efeito tranquilizante sobre mim, seu jeito calmo e ao mesmo tempo misterioso me deixa curiosa, fico presa em suas palavras seguindo cada movimento de seus lábios.

— Quer jogar? – ele pergunta apontando para a pescaria.

— Claro – tiro minha carteira do bolso.

— Eu convidei – ele diz me fazendo guardar o dinheiro, pagando o senhorzinho da barraquinha com uma nota.

O velhinho nos entrega uma vara que possui um pequeno anzol preso na ponta de uma linha comprida. Há vários peixinhos de plástico boiando numa piscininha de água. Eu tento várias vezes pegar um vermelho, mas sem sucesso.

Lysandre está me olhando de um jeito estranho, o queixo apoiado sobre a mão, os olhos brilhando e um leve rubor nas bochechas.

— Hm... acho que é a sua vez – digo lhe entregando a varinha de pesca.

— Qual prêmio você quer? – ele me pergunta.

— Eu? – ponho o dedo no meu próprio peito.

Lysandre faz um sinal afirmativo com a cabeça.

— Deixa eu ver... – olho a prateleira dos brinquedos – o panda de pelúcia.

— Certo – ele se concentra. O peixe com o nome do meu prêmio parece ser o mais difícil de fisgar, mas num manejo rápido de mão, Lysandre consegue pescá-lo com facilidade.

— Uau! Eu não conseguiria pegá-lo nem se segurasse o anzol – digo surpresa.

O dono da barraca me entrega o ursinho.

— Por que escolheu esse? – Lysandre pergunta acariciando as orelhas da pelúcia.

— Bem... – coro violentamente – porque ele se parece com você.

— Que fofa – ele sorri e beija a minha testa.

O anúncio de que a fogueira será acesa é transmitido por um autofalante, nós dois seguimos até o local, sem pressa. Se meu panda fosse de verdade, ele já teria morrido sufocado, pois estrangulo o pobre ser de espuma com frequência, a festa está acabando e eu fico cada vez mais nervosa. Vejo as três pestinha pulando perto do fogo. Carla me vê e acena.

— Parece que encontramos suas amigas – Lysandre diz.

— Pois é... – digo tristonha. – Mas e seu bloco? Ainda não o encontramos.

— Na verdade ele estava aqui o tempo todo – ele tira um caderninho de capa marrom do bolso do casaco. Eu fico sem entender. – Minha carona chegou – ele aponta para um carro na estrada. – Foi um prazer te conhecer, linda Laura – ele beija a minha mão e se vira pra ir embora.

— Espera! – digo pegando seu bloco de notas e anotando meu número na última página. – Talvez nós pudéssemos tomar um café qualquer dia... – digo constrangida.

— Eu adoraria – Lysandre passa o polegar sobre minha anotação e a guarda.

Fico o admirando até ele entrar no carro e partir.

— Aham! Agora sabemos o porquê da dona Laura querer tanto ficar sozinha – ouço Débora atrás de mim.

— Foram vocês quem me deixaram sozinha – digo absorta. – Onde é que vocês estavam?!

— Por ai... – Carla gesticula com as mãos.

Eu a olho feio.

— Qual é? Parece que você foi a única a tirar proveito dessa situação – Bianca comenta.

— A Laura, você e mais os cinco homens com quem tu se atrelaste pelo meio do caminho, né Bia? – Carla dedura, contando nos dedos.

— Ei! – Bianca protesta.

Eu começo a rir e logo elas caem na gargalhada também. Elas são as melhores amigas que eu poderia ter, mesmo sem quererem, sempre acabam fazendo o melhor para mim.


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Notas finais do capítulo

Foi um romance bem leve, sem beijo ou grande confusão. Mas espero que tenham gostado mesmo assim.
Por favor, comente. Preciso muito deste incentivo.
Diga o que achou, no que posso melhorar. Não se acanhe :3

Beijos :*



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