Laços escrita por EsterNW, Biax


Capítulo 48
Fique comigo


Notas iniciais do capítulo

Ester:

Hello hello, peps! Como vão vocês? Morridos depois dessa treta toda? Bemmm... Então vão continuar assim mais um pouco, porque o cap tá vindo com tudo xD

Bia:

Oi, pessoas! Preparem os lenços (de novo) porque hoje... xD
Voltamos com a Ester e seus conflitos.
Boa leitura!

Stelfs:

Oie :)
Gente, adivinhem quem está de fériaaaaas?! SIM! Euzinha o/
Então, agora eu vou poder dar um jeito nas minhas fics atrasadas e responder vocês com mais calma (UHU o/). Bom, como o dia hoje tá muito lindcho, soltamos esse capítulo bem da bad pra vocês (q?). Brinks. Mais um capítulo da Exxxter e do Sr. Lysandre ♥
Ele está muito amor [ o capítulo E o Lysandre :*]
Buona lettura



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/736807/chapter/48

Apertei a alça da mochila no ombro, quase afundando as unhas no tecido, enquanto esperava o elevador. Estava voltando da segunda aula à irmã da Lorraine, Bruna.

Certo, o que aconteceu? No sábado, quando eu fui na casa da minha amiga pra fazer um trabalho, a irmãzinha dela estava lá, toda confusa com a matéria pra prova de geografia dela. O que eu fiz? Acabei ajudando a coitada. A mãe da menina gostou e me ofereceu pra dar aulas particulares à filha dela, com um pagamento por aula dada. Na minha atual situação, é óbvio que eu aceitei. E a Bruna também é um amor.

Enfim, com isso daria pra eu segurar as coisas um pouco, já que eu tinha apenas nove dias pra ficar na cidade. A grande questão era: como eu faria pra ficar definitivamente? O ultimato dos meus pais foi claro, eu tinha que arranjar um jeito de segurar as contas ou ir embora.

O problema era que o prazo estava acabando e eu não consegui nenhuma solução em definitivo. As aulas com a Bruna somente não seriam suficientes pra segurar minhas despesas.

Fui tirada dos meus pensamentos ao ver que o elevador chegou. Entrei e apertei o botão do meu andar. Encostei a cabeça na parede espelhada, desesperada e uma verdadeira pilha de nervos. A faculdade estava começando a apertar, com as provas quase chegando. Porém, de nada adiantaria, se eu tivesse que ir embora. Então, eu tinha que correr contra o tempo e encontrar uma solução, que parecia estar tão distante.... Pensava, pensava e pensava e não chegava em lugar nenhum.

O tempo estava passando e passando e eu continuava no lugar. Se foi um mês e eu não tinha avançado, não tinha conseguido nada.

Como eu vou fazer pra continuar aqui? Não quero ir embora, eu estava começando uma vida essa cidade. Como vou deixar tudo pra trás? E se eu não conseguir voltar mais? Como vou fazer com a faculdade? Eu preciso...

Quase tomei um susto quando o elevador parou. Sai e passei pela porta de emergência, chegando no meu andar. Dei de cara com o Lys, apoiado na parede, com as mãos no bolso do casaco e encarando o chão, como se fosse a resposta pra tudo.

Fiquei olhando pra ele, que parecia não ter percebido que eu estava lá parada. Será que aconteceu alguma coisa?

— Lys? — chamei e foi então que ele olhou pra mim. Sorriu ao me ver.   — Tá esperando alguém? — perguntei incerta e peguei a chave do apê que estava no bolso da mochila.

— Estou esperando Castiel chegar. — Endireitou o corpo, com uma expressão calma, ainda olhando pra mim. — Esqueci minhas chaves no apartamento e estou trancado do lado de fora — disse isso com a maior calma na voz e um sorriso de “fazer o que, né? ”. Balancei a cabeça, num gesto de “tinha que ser”.

— O Castiel vai demorar muito pra voltar? — Me compadeci dele, pensando no coitado lá parado, esperando pra entrar na própria casa. Será que não estava cansado de ficar em pé? — Aliás, faz quanto tempo que você tá aí?

Lysandre olhou no relógio de pulso.

— Creio que quarenta minutos — afirmou e eu ergui as sobrancelhas. Ele estava parado lá esse tempo todo? Haja paciência!

— E quando que o Castiel volta? — Lysandre respondeu que não sabia. Balancei a cabeça, achando a cara dele uma situação dessas. — Quer entrar? Você espera lá comigo até o Castiel chegar — ofereci na maior cordialidade e amor.

Não precisei insistir e ele aceitou. Eu queria ficar sozinha, porém não podia deixá-lo lá. Quarenta minutos esperando!

Destranquei a porta, com o Lys do meu lado, e entramos no apartamento silencioso. Stelfs já devia ter ido trabalhar e Bia talvez estivesse dormindo ou saído. Ela não ficava muito em casa, por um motivo chamado Nathaniel, já que não queria encontrar o dito cujo. Eu não tirava a razão dela, mas o rolo deles era outra história, que eu ainda não conseguia entender, depois daquela briga no domingo.

— Quer tomar café? — ofereci ao Lys, que estava sentando à mesa. Coloquei minha mochila no sofá e fui até a cozinha. — Vai ficar com fome até a hora dele chegar?

— Eu não recusei — disse com um sorriso divertido. — Mas aceito.

Virei as costas e comecei a pegar as coisas.

Vi que o café tinha acabado (acho que alguém está se preparando pra época das provas e “estocando” cafeína). Liguei a cafeteira e comecei a preparar uma nova bebida. Cruzei os braços e fiquei observando a máquina funcionar.

Entre nós dois, silêncio. Queria conversar com o Lys, mas não conseguia. Estava estressada demais pra isso, não ia sair uma conversa muito boa. Ele já estava na bad por eu ir embora, ia piorar isso mais ainda? Melhor ficar quieta.

E o que isso iria adiantar? Ele estava assim por causa de mim. Que diferença um pouco de silêncio faria?

Mas não quero preocupá-lo mais, o que que eu faço? Calma, tenta relaxar, pense devagar. Tenta ocupar sua mente com outras coisas pra poder falar com ele. Calma...

De repente, ouvi o barulho da cadeira ser arrastada e passos se aproximando. Com o canto do olho, vi Lys vindo até mim.

Ele me abraçou pela cintura e se abaixou, me dando um beijo delicado no pescoço. Fechei os olhos e engoli em seco, com o corpo tenso. Tenho certeza que isso não passou despercebido por ele.

— Ester, você está.... Bem? — perguntou preocupado, com os olhos bicolores em mim.

Suspirei e me afastei um pouco, desfazendo o abraço. Apoiei as mãos na bancada.

— Só preocupada, só isso. — Dei isso como desculpa e me calei.

— Você está preocupada com o seu... Problema, não é? — questionou cuidadoso e eu apenas afirmei com a cabeça como resposta, ainda sem me virar. Senti-o apoiar a mão no meu ombro. — Ester, nós vamos encontrar uma solução, confie em mim. Eu...

Não deixei ele terminar de falar e suspirei alto. Erguendo o rosto e pressionando a mão na bancada.

— Encontrar uma solução? Lys, faltam nove.... Falta quase uma semana — comecei a falar, com a voz em um tom baixo e tentando medir as palavras. — Uma semana pra eu ir embora e ainda não achei nada. Nada! — exclamei, já sentindo os olhos ficarem cheio de lágrimas. Calma, não se exalte, não chora. Respirei fundo, tentando engolir o choro, que insistia em querer sair. — Eu sei que você está comigo, eu sei que as meninas estão comigo, eu sei que vocês todos estão me apoiando. — Dei uma pausa e engoli em seco. A cafeteira apitou, avisando que o café ficou pronto. — Mas a questão não é essa. — E peguei as xícaras, pra colocar o café. Minhas mãos estavam tremendo, enquanto segurava o bule pra encher. — A questão é que o tempo tá acabando e eu não cheguei em lugar nenhum...

Antes que eu continuasse o que fazia e acabasse derrubando café na pia, ele tomou o bule das minhas mãos.

— Não seja tão dura consigo mesma — falou com a voz suave e colocou o bule sobre a pia. Tentou olhar pra mim e eu abaixei a cabeça, pra que os cabelos cobrissem meu rosto. — Você está tentando, não é impossível que... — Parou a fala. Eu permanecia com as mãos sobre a pia, tamborilando os dedos e respirando fundo. — Não é impossível que você consiga encontrar algo. Eu estarei do seu lado até o fim. — Além dessa fala maravilhosa, tentou me reconfortar, pondo a mão no meu ombro e afagando.

Lysandre se aproximou mais de mim e eu recuei, me encaminhando mais pra perto da mesa. Parei lá e cruzei os braços. O tempo todo de costas, não permitindo que visse meu rosto.

— Eu sei disso, Lys. — Finalmente consegui formular uma resposta no meio de tanta coisa que estava pensando. — Eu nunca duvidei ou questionei isso. — Soltei o ar devagar, tentando me conter. — A questão é que eu vou ter que embora em poucos dias. É essa aflição que tá acabando comigo aos poucos! Todo dia, quando eu converso com o meu pai, ele me pergunta como que tá as coisas. Eu sei que é só preocupação dele comigo, mas sabe o quanto me aperta o peito dizer que não consegui nada? — Aumentei mais a voz nessa última frase e minha garganta apertou de novo. Respirei fundo algumas vezes, sentindo o peito subir e descer.

Ouvi seus passos se aproximarem e fiquei tensa de novo, porém, eles pararam no meio do caminho.

— Ester, eu compreendo sua aflição. Entendo suas razões em estar assim. — Ele voltou a andar e senti-o a alguns centímetros de distância de mim. Continuei no mesmo lugar, mantendo os braços cruzados, pra tentar disfarçar o nervosismo, que era visível pelas mãos. — Se desesperar não leva a lugar nenhum...

— E como você quer que eu fique? — Ergui as mãos, exasperada, e levantei a voz. — Ninguém consegue achar uma solução e o tempo tá acabando. Cada dia fica mais perto do meu último aqui! O que você quer que eu faça? Como você espera que eu não me desespere com tudo isso? Eu não aguento mais! — Só faltou minha voz fazer eco, devido à altura e o silêncio no apê. Me virei pra ele, tentando acalmar minha respiração, com o peito subindo e descendo.

Olhei pro rosto do Lys e vi sua expressão de choque. Foi então que eu percebi como eu estava agindo. De tanto nervosismo, acabei soltando um monte pra cima dele, que não tinha culpa de nada.

Será que eu não conseguia fazer nada certo e ainda ia despejar minhas aflições, dessa forma, em cima de uma das pessoas que mais se preocupava comigo?

Antes que ele respondesse, dei as costas e fui em direção ao corredor, praticamente correndo. Fechei a porta do meu quarto e encostei as costas nela.

Eu fazia tudo errado, tudo. Como ia falar com ele depois disso? Por que eu tinha que piorar as coisas?

Pra piorar, eu estava chorando. Ótimo, agora eu quero ver você fazer isso parar!

— Ester? — Ouvi ele chamar meu nome e bater na porta. — Ester, abra a porta, por favor — ele pediu, sem erguer a voz além do necessário.

— É melhor a gente não conversar agora — disse, com a voz já tremendo e quase quebrando. Eu não queria que Lysandre me visse chorando. Ele ia tentar me consolar e eu não ia conseguir parar de chorar. Eu não queria que ele se sentisse ainda mais aflito por causa de mim.

Eu não devia ter me exaltado, não devia ter reagido daquela forma ao carinho dele, não devia...

— Ester, por favor. — Mais uma vez ele bateu. — Apenas quero conversar... — Foi então que ouvi um barulho da maçaneta e a porta ia abrir.

O mais rápido que pude, empurrei ela de volta e fiquei segurando, para que não abrisse. Vi que ele estava tentando abrir a porta, mas coloquei força, pra que isso não acontecesse.

— Ester, por favor.... Abra a porta — pediu gentil e parou de mexer na maçaneta.

Eu apenas encostei a cabeça na porta, não a soltando. Não respondi, apenas chorava calada. Para de chorar pelo menos, criatura!

Por que que eu fui tocar no assunto, por quê? Podia muito bem ter desviado do tópico, feito alguma graça ou então saído por uns instantes e ter voltado depois, com uma resposta já pronta. Mas não, tinha que jogar tudo em cima do Lysandre, que não tinha culpa de absolutamente nada. Pelo contrário, só ajudou desde o começo.

Como ele devia estar se sentindo depois dessa? E tudo por quê? Porque eu não soube a hora de parar, não soube como me expressar, não soube segurar o que sentia. Só faltava mais essa...

Continuava de frente pra porta, com uma mão fechada em punho nela e a outra sobre a boca, impedindo que algum soluço saísse. Se ele estivesse lá fora ainda, era perigoso que ouvisse.

Porém, depois quando começo, era difícil eu parar de chorar. Era sempre assim. Por mais que eu tentasse ficar calma, pensar mais racionalmente.... As imagens ficavam voltando e voltando e eu pensava no que poderia ter feito ou não. Pra completar, ainda tinha o motivo da conversa, que era o que me afligia tanto...

Escorei as costas na porta e não consegui mais segurar os soluços. Mesmo que estivesse com as mãos sobre a boca, não adiantou. Eu precisava me sentar...

Voltei a ouvir um barulho na porta, porém não fui rápida o bastante para segurar e também não me lembrei de trancá-la. Lysandre a abriu e eu estava pronta pra sair correndo em direção ao banheiro. Não queria que ele me visse assim.

Antes que eu me afastasse muito, senti-o segurar o meu braço. Então, fui puxada e envolvida em um abraço.

Fiquei ali parada, sem entender o que estava acontecendo. Os braços ao lado do corpo, enquanto ele me segurava com carinho, aproximando minha cabeça do peito dele e afagando meus cabelos.

— Não chore.... Eu estou aqui — sussurrava pra mim, enquanto tentava me acalmar. Fiquei parada, ainda processando tudo.

Mas....

— Lys, você não está... — Tentei procurar alguma voz pra conseguir falar. — V-você não está bravo comigo? — questionei baixo, com vergonha da cena que eu tinha feito antes.

Lysandre ergueu meu rosto com delicadeza. Evitei de fitá-los nos olhos. Não era pra ele me ver assim.

— Por que eu estaria? — Retornou a pergunta e começou a passar os dedos pelo meu rosto, sobre minhas lágrimas, que ainda caiam um pouco.

— Mas, eu, eu, eu... — Abri e fechei a boca por uns instantes, com a mente completamente confusa. Minha voz saia um pouco rouca e chorosa.  — Mas eu gritei com você e... E, e eu tenho estado tão distante nesses últimos dias. — Ele parou de passar os dedos sobre minhas lágrimas e segurou as laterais do meu rosto com as mãos. — Eu sempre estrago tudo... — E fechei os olhos, voltando a chorar. — Eu....

E não terminei com as minhas “lamentações”. Lysandre se aproximou de mim e tomou os meus lábios com os seus, fazendo com que eu ficasse sem saber o que fazer, de novo. Como ele sempre fazia. Sempre me deixava sem saber o que fazer. Eu não entendia como ele podia estar tão calmo e ainda ser tão protetor e compreensivo.... Tão ele. Mesmo quando eu agia dessa forma.  

Fiquei alguns segundos tentando processar o que acontecia, enquanto ele segurava o meu rosto e dava seu beijo calmo e suave.

Acabei beijando-o de volta, não conseguindo corresponder a todo aquele sentimento. Ainda estava confusa, sem compreender o que acontecia.

Em um certo momento, ele parou de me beijar e distanciou o rosto, continuando próximo de mim. Abri os olhos e o encarei, com os lábios entreabertos, sem fala.

— Lys, me desculpa... — soltei em um sussurro, finalmente conseguindo pensar de forma mais coerente.

Ia tentar falar mais, porém, senti seu dedo sobre meus lábios, em um gesto de silêncio. Ele manteve-o ali por alguns segundos, fazendo um carinho.

— Não é necessário — respondeu baixo e eu acabei retornando o abraço, finalmente, encostando a cabeça nele.

— Precisa sim. — E fechei os olhos, dando um tempo entre a próxima fala. — Eu gritei com você, que só queria me ajudar. E também tenho andado tão distante nos últimos dias. — Senti-o erguer o meu rosto de novo e fixar o olhar no meu. Tentei desviar.

— Você precisava colocar isso para fora, precisava do seu espaço — disse, enquanto descia as mãos, parando-as na minha nuca e deixando-as ali. — Eu entendo sua reação. Já passei por desespero semelhante... — E deixou a frase no ar. Alguma lembrança rápida passou pelos olhos dele, mas logo sumiu. — Eu te darei o espaço necessário. — E começou a mexer com meus cabelos na nuca. — Mas também estarei aqui quando precisar.  — E sorri fraco com essa declaração dele. Como ele podia ser tão compreensivo assim?

Senti meu coração inflar com essa declaração. Claro, não era a primeira vez que ele dizia algo parecido, mas naquele momento....

Ignorei toda a culpa, incerteza, todo aquele sentimento ruim que tinha pouco antes, e o abracei forte.

— Obrigada, Lys. — E ele retribuiu o abraço na mesma intensidade.

...

Depois desse momento lindo e de eu, finalmente, ter voltado a pensar com um pouco mais de clareza e realmente me acalmar, fui ao banheiro pra lavar o rosto, enquanto ele foi terminar de preparar o café, que já devia estar frio.

Sai de lá, ainda com o rosto inchado e os olhos vermelhos, e vi que Lys já estava sentado à mesa. Me viu aparecer no corredor e puxou uma cadeira ao seu lado.

Fui até lá e vi que tinha uma xícara para mim. Ele havia esquentado o café, no meio tempo que eu gastei no banheiro.

— Não quer comer nada? — ofereci e então me levantei pra pegar um bolo, pratos e garfos. Deixei-os na mesa, à nossa frente.

Cortei um pedaço e comecei a comer, mesmo não muito bem do estômago, ainda um pouco calada e pensativa. Vi que o Lys também cortou um pedaço pra ele.

— Será que o Castiel já voltou? — perguntei, finalmente achando assunto, lembrando do porque eu tinha convidado ele pra tomar café comigo.

Ele olhou no relógio de pulso, antes de responder.

— Provavelmente.

 E ia pegar no garfo, pronto pra comer o bolo, quando eu segurei na mão dele.

— Fica mais um pouco comigo? — pedi. Às vezes eu não entendia como eu mudava de ideia tão rápido. Minutos antes, queria ficar sozinha, depois, queria que ele ficasse.

Porém, acho que eu precisava dele. Precisava dele comigo um pouco. Mesmo que eu negasse. Eu não queria preocupá-lo ainda mais, mas, no fundo, eu precisava de uma companhia.

Lysandre pegou a minha mão e deu um beijo nela. Ele ia ficar.

Permanecemos um pouco em silêncio, enquanto comíamos o bolo. Eu, pensava no que aconteceu mais cedo, é claro.

— Lys — chamei a atenção dele, enquanto brincava distraída com o garfo. — No meio disso tudo, a gente não parou pra pensar numa coisa. — E olhei pra ele, que assentiu, pra que eu continuasse. — Eu tava, e estou, preocupada em ir embora e tudo... — Suspirei e deixei o garfo no prato. Apoiei o rosto na mão, enquanto olhava pra frente. — Mas e a gente? ­— E olhei pra ele, esperando uma reação. Acho que não foi uma boa ideia puxar essa conversa agora...

— O que você quer dizer sobre nós? — perguntou e também deixou o garfo no prato.

— Como.... Como a gente vai fazer comigo longe? — E mordi o lábio, antes de falar mais. Tentei procurar o que dizer, mas não dava pra evitar de falar a realidade. — Eu não sei quando e nem se eu vou voltar...

E ele colocou a mão sobre a minha, em um gesto de apoio.

— Ainda temos alguns dias — disse e eu olhei pra ele. — Supondo que você tenha mesmo que ir... — soltou, com certo pesar na voz. — Eu gostaria de manter nosso relacionamento, mesmo à distância. — E apertou minha mão, pra passar confiança. — A não ser que...

— Eu não quero terminar — emendei direto, pra não deixar ele tocar nessa possibilidade. — Eu fiquei pensando nisso, depois que soube da Stelfs e o Castiel. — Lys olhou pra mim, pedindo pra que eu continuasse a explicação. — Eles vão continuar o namoro, mesmo em países diferentes! E a gente só, — pausa pra pensar nesse “só, — vai estar a uma hora e pouca de distância do outro. Então por quê...

— Você deseja continuar, apesar da distância? — Completou minha linha de pensamento e eu assenti. Lysandre virou de lado na cadeira, para ficar de frente a mim. Continuou segurando minha mão e, com a outra, amparou a lateral do meu rosto. — Se você realmente quer, saiba que não importa quão longe estivermos. Meus sentimentos por você nunca mudarão — declarou, enquanto acariciava com os dedos minha bochecha esquerda.

— Lys... Como você consegue... — Não completei a frase, ainda encantada com a declaração anterior. Ele ergueu a sobrancelha, confuso com minha frase. Eu ri levemente da confusão dele e me aproximei, beijando-o. Creio que eu não era tão delicada quanto ele, mas tentava não parecer desesperada.

Estávamos ali, completamente perdidos em nós, quando ouvimos um barulho na porta.

— Opa! — Era a voz da Bia. Acabamos nos afastando e olhamos pra ela. — Tô indo pro quarto.

E, rapidinho, ela sumiu no corredor e ouvimos uma porta fechar. Eu e o Lys nos olhamos.

— Nem deu tempo de eu oferecer café pra ela — comentei e peguei o garfo voltando a comer. Demos um último olhar e ele sorriu, voltando a comer também.

...

Depois de terminarmos de tomar café, sendo que na verdade já era quase hora da janta, e lavar a louça, Lys disse que tinha que voltar pro apê dele.

Fui com ele até a porta, com um bico.

— Vê se não esquece as chaves amanhã — comentei, finalmente sendo divertida naquela tarde. — Apesar de que... Vou querer companhia de novo pro café — disse, enquanto fechava a porta atrás de mim.

— Quer que eu venha amanhã nesse horário? — perguntou e eu respondi com um aceno. Íamos nos despedir, quando o rosto dele pareceu se iluminar em uma ideia e um sorriso surgiu. — Ester, você tem mais alguns minutos livres nessa noite? — propôs e eu estranhei, mas disse que sim.

Em seguida, me guiou pela mão até o elevador, apertando o botão do último andar. Eu continuava com aquela cara de intrigada, porém, ele não cedeu, continuando misterioso.

O elevador parou e nós saímos. Lys pegou minha mão de novo e passamos pelo corredor do último andar. Entramos por uma porta que eu nunca tinha visto (era a saída de emergência) e subimos um lance de escadas.

— Lys, pra onde a gente tá indo? — perguntei, enquanto subíamos.

Lysandre abriu a porta da saída de emergência e deixou que eu passasse primeiro. Estávamos no terraço do prédio.

— Ué, o que que a gente veio fazer aqui? — questionei, achando estranho. Ele colocou a mão nas minhas costas e me guiou pelo lugar.

Era vazio, só tendo a entrada pra saída de emergência e a mureta, que separava a gente de uma loooonga queda.

— Alguns dias atrás, você mencionou querer conhecer a cidade — Lys explicou e paramos. — Resolvi te trazer aqui... Não é uma vista tão bela como a do mirante, talvez, porém...

Caminhei um pouco mais, olhando a cidade abaixo. Lys também andou e parou perto da mureta. Ofereceu a mão pra mim.

— E-eu acho melhor não. — Negativei com a cabeça e cruzei os braços, tentando me aquecer do vento só com a blusa fina de mangas compridas que eu usava. — Medo de altura — comentei baixo e ele fez um gesto de entendimento, se aproximando de mim.

— Desculpe — pediu e parou ao meu lado, me abraçando pelo ombro. — Quer ir um pouco mais perto? — ofereceu e paramos à cerca de um metro da mureta. — Está bom aqui? — questionou e eu fiz que sim com a cabeça.

A vista era linda. Dali, víamos a faculdade, o parque, as luzes do centro, alguns outros prédios e enxergávamos até os edifícios da área nobre da cidade. Era maravilhoso de se ver.

Ficamos um pouco em silêncio, apenas admirando a vista na companhia um do outro. Então, Lysandre começou a falar onde ficava o que, apontando dali de cima, apesar de eu já conhecer várias coisas.

Acabei deixando que ele falasse, tirando os olhos de lá de baixo e admirando-o. Ele era mais lindo do que qualquer vista de uma cidade à noite. A luz natural chegava até seus cabelos e ressaltava a cor. Além de iluminar-lhe o rosto. Sorri, encantada com a cena.

— Ester? — chamou e então percebeu que eu o estava encarando. — Não está admirando a vista? — perguntou e eu coloquei a mão no queixo, pensativa.

— Hum.... Digamos que eu tenha coisas mais bonitas pra admirar — soltei com um sorriso e consegui outro dele. Estava sentindo falta disso nos últimos dias...

O abracei pelo lado, encostando a cabeça nas costelas dele. Ele voltou a me abraçar pelo ombro.

— O que você dizia? — E foi então que ele voltou a explicar o que falava antes. Eu ouvia tudo, sem fazer comentário algum, apenas apreciando o som da voz dele e olhando a beleza da cidade durante à noite.

....

Depois de ficarmos alguns minutos lá, ele me ofereceu pra voltar, porém, pedi para que ficássemos um pouco mais. Acabamos sentando no chão, encostados na porta da saída de emergência.

Permanecemos mais um pouco em silêncio, enquanto observávamos o céu. Já tinha escurecido completamente e estava estrelado. De lá de baixo, era audível barulhos de carros e do trânsito.

— Quer ouvir uma música? — ele ofereceu de repente e eu concordei com a cabeça, me encostando nele.

Lysandre tirou o celular do bolso e começou a procurar alguma coisa pra ouvir. Me aproximei ainda mais, tentando me proteger do frio com o calor dele.

Um piano começou e ele colocou o celular no chão, do lado dele.

— Está com frio? — perguntou, com uma leve preocupação. Apenas balancei a cabeça. Dava pra aguentar.

Continuei bem próxima a ele, abraçando os joelhos. Fui surpreendida, ao ver que ele retirava o próprio casaco e colocava ao redor dos meus ombros.

— Lys, não precisa ­— tentei reclamar, porém ele apenas sorriu. Balancei a cabeça. Claro que ele nunca ia perder esse cavalheirismo todo.

Dei um jeito de vestir a roupa e abracei-o. Ficamos os dois sentados, em silêncio, com apenas a música tocando e só então eu fui perceber qual era. Ele realmente queria...

— My world ‘ll never be the same, and my heart is never going to break, for you are loved in endless ways — cantou esse verso, olhando pra mim e acariciando-me o rosto com suavidade. Sorri docemente.

— Vou sentir saudades de você cantando — afirmei, tentando não parecer triste. Virei de frente pra ele e aproximei a mão do rosto dele e fiquei com ela parada ali e, com a outra, brincava com os cabelos da nuca dele.

— É apenas provisório — soltou baixinho, tentando me animar. — Você irá voltar um dia. Você mesma disse que não iria desistir...

— Eu sei. — Suspirei e me aproximei mais, mantendo o rosto a centímetros de distância do Lys. — Se eu for mesmo embora, Lys, eu vou voltar, eu prometo. Mesmo que demore seis meses, um ano, dois... Eu vou voltar. — Só não sabia quando eu iria cumprir isso, mas, sim, eu retornaria, não iria desistir. Nem dele, nem dos meus sonhos, nem de nada.

Encostamos nossas testas e ficamos ali. A música continuava, como se fosse uma trilha sonora pro momento.

— There’s no way of knowing, what could be waiting — ele começou a cantar, acariciando-me a lateral do rosto, delicadamente, com a mão.

— There’s no way of knowing, the dream I’m creating — completei a estrofe, desafinadamente e ele sorriu. E eu também.

Não havia como saber o que viria dali pra frente. Mas iríamos sonhar. E iriamos tentar.

Lysandre abaixou o rosto e senti sua respiração. Olhei em seus olhos, tentando transmitir confiança, que ele mesmo passou a mim, horas mais cedo.

Fechei os olhos e ele juntou seus lábios aos meus. Não era tão delicado como os beijos anteriores, porém, não deixava de passar o que ele sentia. Medo, saudades, amor.... Não evitei de beijá-lo de volta.

“For you are loved in endless ways

[...]

There’s no way of knowing

What could be waiting

There’s no way of knowing

The dream I’m creating

The dream I’m creating

The dream I’m creating”


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Ester:

Altas emoções nesse cap, não? Esses dois ♥
A música que toca no final é Endless Ways, do Anathema: https://youtu.be/5LzHSn6bdfQ
Até sexta, gente o/


Bia:

Ahhhh malditos ninjas cortadores de cebola D:
Esse Lysandre é um amor tão grande ♥
Nos vemos na sexta o/

Stelfs:

Ainn, gente D:
Meu coração está com buraquinhos -q
Mas esse capítulo é muito amorzinho e muito gracinha, amo ele de paixão ♥
Agora,

fazendo uma propagandinha básica, Eu, Bia e Ester estamos postando nessa semana uma long short (q?) com todos os paqueras do AD. Eu explico: São pequenas ones relacionando cada um dos paqueras a um sentido do corpo humano. Foi um desafio que fizemos a nós mesmas e agora o resultado tá aí. Então, se vocês gostam do nosso trabalho e quiserem se arriscar, aqui está:
https://fanfiction.com.br/historia/748879/Cinco_Sentidos/
https://fanfiction.com.br/historia/748877/Cinco_sentidos/
https://fanfiction.com.br/historia/748880/Cinco_Sentidos/



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Laços" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.