Acordei com uma sensação estranha no estômago. E quando eu acordava assim, significava que alguma coisa ia acontecer, boa ou ruim.

Claro que automaticamente minha mente foi parar no Nathaniel. Mas não tinha motivos para eu ter medo de algo, nós estávamos maravilhosamente bem.

Suspirei e levantei. Fiz minhas coisas, arrumei os bolinhos e fui pra aula.

O sabor novo dos bolinhos agradou muita gente. No dia anterior eu tinha feito os de cenoura, e hoje trouxe os de pão de mel.

Já vendi alguns no início da aula, mas só pensava se ele ainda ia comprar. Provavelmente não, né?

Bom, o jeito era esperar.

Quando o sinal do intervalo bateu, levantei e peguei a bolsa. Vendi alguns pro povo da sala e sai para o corredor. Vendi mais alguns e vi Nathaniel vindo.

Abri um sorriso sem perceber. Ah, olha o meu estado...

Ele se aproximou. — Olá, senhora arte. — Sorriu abertamente, parecendo feliz.

— Olá, senhor números. Fiquei me perguntando se você iria comprar hoje... Já que... — Deixei no ar, dando de ombros.

— Bom, na verdade, eu vou sim, mas não para mim.

— Ah é...?

— Nathaniel! — Alguém chamou alto.

Olhei para frente enquanto ele olhava para trás. Logo uma menina de cabelos castanhos e olhos azuis se aproximou, olhando para ele e depois para mim.

Ela respirava meio rápido. — Como você anda rápido.

— Eu preciso ser rápido, ou os bolinhos acabam. — Riu e me olhou, como se quisesse confirmar o que tinha dito.

— É, realmente.

— Ah, sim. — Nathaniel disse. — Essa é a Melody. — Gesticulou para a garota, e olhou para ela. — E essa é a Bianca, a criadora dos bolinhos dos deuses. — Sorriu e me olhou, parecendo rir de alguma piada interna.

Melody olhou para Nathaniel, parecendo analisar suas feições enquanto ele me olhava. Pigarreou. — Então... eu queria conhecê-la de uma vez, por isso te segui. — Sorriu.

Então essa é a menina que ele dava os bolinhos?

— Ah, prazer então — falei, olhando-a.

— Já que você está aqui... — Nathaniel tirou uma nota de dois do bolso e entregou a ela.

Melody sorriu e pegou a nota, e a estendeu para mim. — Um bolinho, por favor.

A peguei. — Você sabe que eu mudei o sabor? Hoje é de pão de mel com doce de leite.

Ela arregalou bem de leve os olhos, parecendo animada. — Nossa, que maravilha. Eu amo pão de mel.

Balancei e cabeça, peguei um bolinho e entreguei para ela. — Espero que goste.

— Obrigada. — O pegou. — Vamos, Nath? — Olhou para ele.

Nathaniel a olhou, parecendo em dúvida e me olhou. — Mais tarde conversamos — disse baixo, se aproximando um pouco.

Vi o sorriso da Melody murchar um pouco quando ele se aproximou. Vish...

Balancei a cabeça para ele, e os dois se foram.

Hm... Já saquei tudo.

Continuei vendendo os bolinhos até acabarem, depois voltei para a sala e o resto da manhã passou.

Enquanto andava de volta pra casa, fiquei lembrando das caras que a Melody fazia. Ela parecia muito perceptiva, do tipo que não deixa passar nem uma respiração.

Com certeza ela sentia algo por ele, isso era óbvio. E com certeza ela percebeu o jeito que ele me olhava...

Fui pra casa e me troquei. Ouvi as meninas chegando mas fiquei no quarto, mexendo no celular.

Quando sai, Ester estava aprontando o almoço e Stelfs já estava sentada na mesa, esperando.

Nos servimos e sentamos.

— Que cara é essa, Bia? — Stelfs perguntou me olhando.

— Como assim?

— Sei lá, tá com uma cara pensativa. Tá tudo bem?

— Sim, tá sim... Vocês acreditam que eu conheci uma menina que gosta do Nathaniel?

— Quê? — Ester se espantou, parando o garfo com comida no meio do caminho.

— Como assim? — Stelfs me encarou.

Eu tinha esquecido de explicar toda a história do Nathaniel e os bolinhos, então expliquei e contei sobre a Melody.

— Mas ela disse que gosta dele? — Ester perguntou.

— Não, né. Mas só de ver ela olhando pra ele já dá pra perceber.

— Mas como ele age com ela? — Stelfs se recostou na cadeira, terminando de comer.

— Normal, sei lá. Nada demais, ele a trata como colega.

— Então não tem motivos pra se preocupar — falou Ester.

— Não estou preocupada, achei até engraçado, na verdade. Parece que ela está na friendzone — falei com a voz grossa a última palavra e ri.

Elas riram e levamos as louças para a pia.

Stefs e foi fazer um trabalho com o povo da sala, na faculdade, e depois ia sair com eles.

Ester lavou a louça e disse que ia ver série com o Lysandre — claro, né.

Me sentei no sofá, aproveitando o silêncio.

Ele disse que íamos conversar mais tarde... Será que ele vai vir aqui? Será que ele vai tocar no assunto da menina?

Peguei meus fones e pluguei no celular. Coloquei no player aleatório para tocar e fechei os olhos.

— Haverá alguém que todo dia possa me escutar, haverá alguém me responda quando eu perguntar... — cantei. — ... Será você esse alguém? Será você ou não será mais ninguém... Será você esse alguém? Eu não vou procurar por mais ninguém! — Fiz meu celular de microfone. — ... Me disseram que esse tal de amor é o mesmo que sofrer... Mas eu preciso tanto de alguém igual a vocêêê!

Continuei cantando até acabar. E veio a próxima...

— ... Eu tenho medooo de te dar o meu coração, e confessar que eu estou em tuas mãos... Eu me afasto e me defendo de você, mas depois me entrego... — Me levantei. — Mas a verdade é que eu sou louco por você, e tenho medo de pensar em te perder... — Pausa dramática. — E nessa loucura de dizer que não te quero, vou negando as aparências, disfarçando as evidênciaaas. Mas pra quem me fingindo, já não posso enganar meu coraçãããooo. Eu sei que te amooooo. Chega de mentiras, de negar o meu desejo, eu te quero mais que tudo, eu preciso do seu beeeeijo!

Dei risada. A louca.

— Ooi?

Olhei para trás e vi Nathaniel com a cabeça para dentro do apê, sorrindo e me olhando.

Eita...

— Desculpa atrapalhar sua cantoria, mas eu bati na porta e você não ouviu... — Começou a entrar.

Virei de costas pra ele, sentindo a cara quente e a tapei com as mãos. O senti me abraçando por trás, e seus braços cercaram minha cintura.

— Quer dizer que você precisa do meu beijo? — perguntou com o rosto perto da minha orelha. Ele estava se divertindo.

Comecei a rir de vergonha. — Você ouviu a música toda? Porque vou ter que cobrar ingresso.

— Hm... Na verdade, ouvi duas. Mas tudo bem, qual a forma de pagamento?

Me virei, ficando de frente para ele. Ele continuou abraçado comigo.

— Não sei, como você quer pagar?

Ele sorriu e se aproximou, depositando um beijo rápido nos meus lábios. — Aceita isso?

— Até aceito, mas vai ter que me dar uns cem desses. — Sorri.

— Só cem? Uma cantora igual a você merece muito mais.

— Bom, já que você quer pagar mais, podemos negociar.

Nathaniel me puxou contra ele e me beijou apaixonado enquanto outra música tocava em meus ouvidos.

When I hear my favorite song, I know that we belong… You are the music in me.

Quão irônico isso era? Bom, que fosse!

Segurei seu pescoço e me deixei levar por ele.

Ficamos nos beijando sei lá quanto tempo. Eu não estava preocupada com mais nada.

Não que eu estivesse preocupada, mas o simples fato dele me segurar e beijar dessa forma era o suficiente para eu me sentir protegida e longe de qualquer dúvida ou problema.

Ah, eu estava mesmo apaixonada. Nem tinha como negar alguma coisa.

Outra música estava tocando e eu não tinha percebido.

But I won’t hesitate no more, no more. It cannot wait, I’m yours.

Please don’t, please don’t, please don’t. There’s no need to complicate. Cause our time is to short. This oh, this oh, this is our fate, I’m yours.

— Você está ouvindo I’m Yours? — Nathaniel me olhou de perto.

— Hm... estava. Por quê?

— Nada. — Sorriu e acariciou minha bochecha com o polegar.

— Então... o que temos para conversar?

— Como assim?

— Você disse que iriamos conversar mais tarde.

— Ah... não tenho nada em particular, só disse porque queria ficar com você.

Ai meu Deus... Esse homem ainda vai me matar de fofura.

O puxei para o sofá e nos sentamos abraçados. — E aquela menina? Onde vocês se conheceram?

— A Melody? Na escola. Estudamos juntos.

Então ela está a mais tempo na friendzone do que eu imaginei. — Uau, bastante tempo. Ela sempre gostou de você?

— Quê? — Me olhou meio assustado.

— Ah qual é, Nath. Dá pra ver de longe. — Dei risada.

Ele ficou sem graça. — É... ela sempre demonstrou sentir algo por mim.

— E ela nunca disse?

— Ela se confessou uma vez, no primeiro ano. Mas eu não sentia nada além de amizade.

— Pelo jeito ela não desistiu.

— É, pelo jeito não. Ainda mais porque passávamos bastante tempo juntos por causa das atividades do grêmio estudantil. Mas mesmo depois que eu sai, acho que os sentimentos dela não mudaram.

— E ela não ficou com esperanças por você ter dado os bolinhos pra ela? — Brinquei.

— Eu só dei os primeiros... Acho que três, depois disso eu falei que não ia comprar mais porque estava sem dinheiro, e perguntei se ela não queria que eu comprasse pra ela. Claro que eu queria continuar falando com você. — Sorriu.

— Ah... então ela te dava dinheiro e você ia comprar. — Ele balançou a cabeça, confirmando. — Hm... e do nada ela quis me conhecer.

— Pois é... Acho que ela percebeu que eu falava de você com muita animação.

Segurei o riso. Coitada. — Então você falava animado de mim, é?

— Claro, e tem como não falar? — Riu. — Meus amigos devem estar de saco cheio de me ouvir falando de você.

E ele ainda confessa assim, na boa. — Você não tem outros assuntos não? — perguntei com tom de brincadeira.

— Pior que não, minha lista de assuntos está igual sua lista de clientes fiéis.

— Todas as linhas estão escritas com Nathaniel? — Levantei uma sobrancelha, brincando.

Ele deu uma risada gostosa. — Não, tem dois nomes escritos nas linhas.

— Dois nomes? Como assim?! — Sorri e tentei levantar.

Nathaniel me segurou, rindo. — É, tem Bianca e Bia, só pra variar um pouco. — Me puxou pra ele e deu um beijo em meu rosto.

Derreti um pouco. Só um pouco.

Sorri, me sentindo totalmente acolhida e o olhei. Segurei seu rosto com as duas mãos e o puxei, o beijando.

Enquanto nos beijávamos, Nathaniel me empurrou para trás devagar, apoiando minhas costas e deitamos lado a lado no sofá.

Ficamos conversando sobre diversas coisas, rindo e nos beijando de vez em quando.