Back to Home escrita por Ana


Capítulo 31
Tempo e Amor


Notas iniciais do capítulo

Tenho tanta coisa para falar, mas vou deixar para as notas finais, tá?
Música: Sleeping At Last North YP: https://www.youtube.com/watch?v=byHSQoemFvI / Peço que escutem com carinho, porque ela significa muito para mim, e quando lerem a letra, não pensem em uma casa física, mas no lar que Emma e Regina encontram em seus beijos.
E pela a última vez nessa estória, perdoem os erros que passam despercebidos.
Tenham todas uma boa leitura



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— Você fez a escolha certa ao aceitar, Regina.

— Parece que fiz sim. — sorriu para ele.

Regina caminhava com Gold por um dos corredores do hospital depois de uma reunião com o conselho onde acertaram os detalhes da sua saída.

— Ah, e eu fico feliz que você e a Swan tenham acertado isso da sua mudança.

— Não mais que eu, vamos todas nos mudar para Califórnia.

— Não me diga?!

— Pois é, decidimos isso.

E assim como os planos de Emma sugeriram, tudo foi feito.

Alguns dias após o casamento da sua irmã, Regina se desligou do Boston Hospital Center, o que ela achou que seria mais fácil, mas não foi bem assim que aconteceu, aquele havia sido o lugar onde cresceu em muitos sentidos, o lugar em que por anos criou a Luíza ali na creche, onde foi usado como alavanca para se reerguer depois que alcançou o limbo, o lugar ao qual ela se entregou e dedicou grande parte da sua vida a construir um hospital de excelência hospitalar e fazê-lo com que crescesse no meio, e que apesar de tudo, de todas as provações que o último ano lhe trouxe, aconteceu através do Ranking Hipócrates de Inovação Hospitalar, mostrando mais uma vez que ela  possui a capacidade de ser uma boa líder, de gerenciar e obter resultados, e depois de tudo, depois do ranking, o convite para bolsa foi uma massagem no seu ego profissional.

Esvaziava a sua sala colocando os objetos que tinha levado para tornar o lugar mais pessoal dentro de uma caixa, quando o seu staff médico, agora não mais tão seu, entrou.

“Mills é uma boa companheira, Mills é uma boa companheira, Mills é uma boa companheira, ninguém pode negar”, Robin, Neal com cornetas, e Ruby com uma caixa em mãos entraram cantando.

— Olha, eu brigaria com vocês por causa do barulho, mas legalmente, não sou mais a chefe do departamento, e nem cirurgiã daqui. — deu de ombros como se aquilo não fosse nada, mas a sua voz estava carregada de saudosidade.

— Você sempre vai ser. — Robin disse a abraçando e os dois fizeram o mesmo.

— Vocês não precisavam terem se incomodado com isso.

— Era o mínimo que podíamos fazer, depois do tanto que você trabalhou por esse hospital.

— Obrigado, Ruby.

— E fora que, se tivéssemos feito todo o movimento que eu planejava lá no refeitório, sem dúvidas, que aí sim você iria querer sair correndo do hospital.

— Neal! —  riu daquele que sempre fora o mais agitado. — Olha, obrigado, de verdade, trabalhar com vocês tornou todo o trabalho mais fácil, não tenho dúvidas disso. A pessoa que assumir esse cargo vai ter muita por sorte por trabalhar com vocês, e ah, antes que me perguntem, não sei quem vai ficar na chefia do departamento, tá? — disse assim que Robin começou a abrir a boca.

— Tudo bem, nós te perdoamos por isso, e por nos abandonar e levar junto a nossa chefe do trauma, é Stanford. — ele disse rolando os olhos.

— Nossa, obrigado por isso. — Robin riu. — O que te nessa caixa?

— Ah, não é nada demais. — Ruby disse ao abrir a caixa e mostrar o bolo que nela trazia, nas cores vermelho, branco e verde, e em cima estava escrito “Go Stanford!”.

— Vocês não existem, obrigada, muito obrigada. Mas agora vamos comer esse bolo, porque nesses últimos dias ando precisando de açúcar. — falou culpada por dias a ansiedade ter se feito maior. 

Depois de ter recolhido as suas coisas, os seus ex-funcionários e amigos a ajudaram as descer e levar as caixas para o carro, e enquanto caminhava pelos os corredores, era saudada pelos outros funcionários que faziam questão de abraçá-la ao se despedirem, e se lamentavam por terem descoberto apenas naquela manhã e por não terem tido tempo de organizarem uma festa de despedida. Podia ser apenas bajulação, mas Regina preferia acreditar que não, pois a falta que sentiria de tudo ali seria descomunal.

— Eu estou sentindo falta da Emma, aqui. — Ruby disse quando chegaram ao carro de Regina.

— Ela está em cirurgia desde cedo. Por enquanto, além do trauma, ela vai ficar com as cirurgias eletivas junto com você.

— Que bom, achei que eu fosse ser deixada na mão. Ah, eu esqueci de dizer que a Bauer não veio porque ela também estava em cirurgia.

— É... Bom, agora eu preciso ir, vou pegar as meninas no colégio e aproveitar o máximo do tempo que eu tiver com elas hoje.

Mais uma vez a abraçando, lhe desejaram boa sorte na nova estrada que ela iria começar a percorrer.

Depois de pegar as meninas na escola, Regina foi com elas para a casa dos seus pais, teriam um almoço de despedida com eles e Zelena.

— Você tem certeza, filha, você nunca foi para tão longe, nem quando foi fazer faculdade.

— Cora... — Henry chegou por trás e pôs as mãos nos ombros da esposa. — A Regina não tem mais dezoito anos, nenhuma das nossas filhas tem.

— Eu sei, mas é que eu não sou médica, não entendo o porquê disso, ela já faz tanto aqui.

— Acredite em mim, é importante. Está animada, filha?

— Confesso que estou, pai, todo o estudo e a proposta do Dr. K. Leopold, não tem como não ficar.

— E quanto as meninas, Regina? Para mim a Luna voltou praticamente ontem.

— Mãe, eu vou estar sempre em contanto com elas, e depois que elas forem para Califórnia, nós iremos ligar para vocês todos os dias, prometo.

— E você e a Emma?

— Eu não podia estar mais feliz com o apoio que tenho recebido dela.

— Que bom, que bom que estão bem. Eu vou sentir tanta saudade minha filha. — a puxou para dentro de um abraço de urso, fazendo jus a mãe que era.

— Também vou, mãe, de todos vocês. 

 

Quando Emma chegou em casa, pôde ouvir as vozes animadas vindas do andar de cima, significava que já tinham chegado da casa dos Mills. Havia passado o dia pensando na mudança de Regina e na sua futura, então não demorou para subir as escadas, pois naquele momento não desejava estar com ninguém mais que não fossem as suas meninas. No seu quarto estavam Luna e Luíza sentadas no meio da cama e encostadas nos travesseiros, enquanto Regina fazia a sua mala, pois viajaria na manhã do dia seguinte.

— Mãe, então quer dizer que nós vamos poder e ir à praia e tomar banho no mar sem congelar? — Luíza perguntou

— Com certeza, na Califórnia é verão quase todos os dias do ano.

— Vocês deveriam estar ajudando a mãe de vocês, e não vendo ela trabalhar enquanto estão sentadas. — Emma disse ao entrar no quarto.

— É que ela tava falando para a gente como é lá na Califórnia. — Luna se justificou. — Até agora eu já sei que lá tem muitas praias e que as águas não são de congelar.

— Mãe, quando a gente se mudar, nós vamos voltar para ver o vô David, a vó Mary, o vô Henry e a vó Cora, e a tia Zelena e o tio Killian?

— Claro que vamos, Luíza. — Emma respondeu.

— Vocês poderão vir nas suas férias, e também vamos vir nas festas de final de ano, como no natal e no ano novo. — foi a vez de Regina responder, mas resposta essa que foi dita mais como um alento para o seu próprio coração, já que todas as suas raízes estavam presas ali.

Por fim, as garotas e Emma ajudaram Regina a terminar de fazer as suas malas, que nunca imaginou ter tanta coisa até precisar fazer aquilo.

Para o jantar, pediriam comida chinesa, e contradizendo todas as regras de Regina, comeram em cima da cama no seu quarto, enquanto passava algum programa semanal na televisão, mas elas não prestavam muita atenção, conversavam sobre os seus planos e respondiam todas as perguntas das garotas quanto ao novo estado e a mudança.

— E a escola, mãe? Queria uma como a que a gente estuda aqui, ela é legal.

— Assim que eu chegar lá vai ser uma das primeiras coisas que vou procurar.

— E a casa, a gente podia ter uma casa na praia, de frente para o mar.

— Ai Luna, você não existe. — Emma bagunçou o cabelo da filha.

— Mas quem sabe, se eu achar uma em Palo Alto e perto do campus, quem sabe.

— Ah, nós vamos poder levar a Lucy?

— É claro, a Lucy é da família, não vamos deixar ela para trás.

Depois de muito conversarem, as garotas começaram a se renderem ao sono, então Emma e Regina as levaram para a cama.

— Mas mãe, ainda vai demorar quanto tempo para a gente ir ficar com você? — Luíza perguntou após ela e a irmã serem colocadas em suas camas.

— Vocês vão terminar o ano letivo, e assim que ficarem de férias, vão com a Emma.

— A gente não pode ir agora e ficar com você?

— Oh meu amor, eu queria muito, muito mesmo, que todas vocês fossem comigo amanhã, mas vocês ainda estão estudando, e eu não posso mudar vocês de escola no final do ano letivo.

— E quanto tempo falta para ele acabar? — Luna perguntou se sentando na cama.

— Contando de hoje, e se vocês não ficarem de recuperação, dois meses.

— Isso tudo ainda, mãe?! — Luíza fez uma careta em desaprovação. Há muito Luíza já havia se acostumado com a rotina que tinha com Regina, mesmo passando grande parte do dia com os avós anteriormente, sabia que veria a sua mãe a noite ou pela manhã no dia seguinte, e que depois seria recompensada com um dia inteiro juntas, mas agora o fato de passar dias sem vê-la não lhe agradava muito.

— Mas mãe, é só você falar com a diretora, igual a mamãe falou quando a gente veio para cá. — Luna, que tinha desaprendido a ser só ela e Emma, não gostava da ideia de que a mãe que tinha descoberto há tão pouco tempo, quando comparado com o tempo que viveu na escuridão, estava se mudando, e ela não poder ir junto, pelo menos não por hora.

— Dessa vez não é a mesma coisa, Luna, e eu não posso tirar vocês da escola assim. Nós acertamos tudo do nosso plano, e o tempo vai passar rapidinho, não é, Emma?

— É verdade. — Emma que estava sentada na beirada da cama de Luna respondeu — Daqui a pouco estaremos todas juntas de novo.

— Viu, vocês vão ver como vai ser rápido. — pelo menos era no que preferia acreditar, que em um piscar de olhos estaria com a sua família ao seu lado novamente, já havia esperado tanto para que aquilo acontecesse, que dois meses não poderiam estragar nada.

— Eu ne acredito que elas aceitaram a mudança, achei fossem bater o pé e não fossem querer ir, mas pelo contrário, se pudessem iriam comigo amanhã. — Regina disse quando voltaram para o seu quarto.

— Elas estão animadas com as praias e com o novo clima mediterrâneo, mas acho que elas também sabem que é importante para vocês

— O que você disse a elas?

— Elas são suas filhas e te conhecem, sabem que está animada como o seu estudo, e além do mais, é instinto familiar, não deixar que uma ovelha se desgarre. — disse enquanto puxavam as cobertas da cama preparando ela para dormirem.

— E eu sou uma ovelha? — olhou desconfiada para a esposa.

— Ah, você me entendeu que eu sei. — disse jogando umas das almofadas que estava em cima da cama em Regina.

— Mas a verdade é que se eu pudesse esperar o ano letivos delas acabar para só então ir, eu esperaria. — jogou a almofada de volta.

— Elas vão ficar bem, você vai ficar bem lá, e nós também vamos ficar. — se deitaram sob as cobertas.

— Obrigado, Emma.

Negando com a cabeça, ela sorriu enquanto observava as palmas de suas mãos unidas e os seus dedos se entrelaçando.

— Eu queria ter feito o mesmo por você.

— Eu sei que sim.

— Você vai mesmo desistir da chefia do trauma e do seu laboratório para me acompanhar?

— Eu já tive a minha vez, Regina, e agora é a sua vez de alçar voou, eu vou te seguir de perto, seja lá para onde você for, acompanhada das nossas borboletinhas.

Regina a olhava serena, mas com um sorriso tenro nos lábios, pois tinha certeza de que fariam com que tudo desse certo.

Deitada de lado e olhando para Regina, uma mecha da franja de Emma caiu em seu rosto, e sem resistir ao instinto, Regina a colocou atrás da orelha. O roçar das pontas dos dedos dela no rosto de Emma lhe acendiam fagulhas, que queimava a pele de forma excitante. Tomando-a de surpresa, Emma se colocou em cima de Regina, apoiando os braços no travesseiro ao lado da cabeça dela.

— Disso eu vou sentir falta nesses dois meses.

— Só disso?

— 90% disso, 10% do restante.

— Regina! — Emma cedeu o peso do seu corpo sobre o dela.

— É brincadeira. — afagou o rosto dela, que lhe olhava de baixo para cima com o queixo apoiado em seu peito.

— Então você vai sentir a minha falta?

— Mais do que tudo, mas dessa vez eu tenho a certeza de que vamos nos encontrar depois, e agora eu também tenho uma data para isso. Espero que esse tempo voe.

— E vai, você vai se envolver como a pesquisa, com o estudo... Vai ser empolgante, você está empolgada.

—É, eu estou mesmo.

— Isso é bom.

Por incontáveis segundos se mantiveram ali, olhando uma para a outra. Há um ano, se dissessem a Regina que ela tornaria a olhar para Emma com doçura e tão apaixonada quanto eram há sete anos, ela riria com escárnio e desdém, pois a ideia parecia absurda, a ideia de se apaixonar novamente por alguém que lhe magoou não passava de puro masoquismo, mas ali estava ela, desejando se fundir a Emma e carregá-la consigo seja lá para onde fosse, porque havia descoberto algo muito maior dentro de si, o auto perdão.

Naquela noite se amaram como se o amanhã jamais fosse chegar, como se por mais que temporária, a partida e a mudança não acontecessem, em um loop de tempo que era só delas, onde tudo e qualquer coisa que estivesse fora das paredes daquela casa, não existisse fora daquela bolha perolada.

Na manhã do dia seguinte todas acordaram bem cedo, tomaram o café da manhã juntas e depois ajudaram a descer as malas de Regina. O trajeto até o aeroporto foi feito sob a conversa das meninas, que falavam o tempo inteiro sobre casas na praia, ondas e surfe.

No aeroporto, esperando o seu voou ser anunciado, Regina lembrou da última vez em que esteve em um lugar daqueles, e da ansiedade e da tensão que assolava o corpo, ainda sentia as mesmas coisas, mas dessa vez não pelos mesmos motivos, não da mesma maneira. Quando o voou 325 para Califórnia foi anunciado, um comichão despertou em seu estômago.

— Você já vai, mãe? — Luna perguntou quando a levaram para a fila de embarque.

— Já. — disse se agachando para ficar na altura das filhas, mas se surpreendeu ao perceber que não precisava mais fazer aquilo, naquela posição, as garotas já lhe passavam à centímetros de altura.

— Esses meses não vão demorar, não é, mamãe? — Luíza com os seus oceanos no lugar de olhos, idênticos aos de Emma, se aproximou com eles marejados e os lábios trêmulos.

— Não, não vão, o que eu te disse ontem é verdade, vão passar rápido, e nós vamos nos falar todos os dias, vamos fazer chamadas de vídeo antes de dormir e vamos falar sobre tudo o que fizemos, tá bom? Eu vou querer saber de tudo mesmo. Eu amo vocês. — abriu os braços e as duas atiraram neles a abraçando apertado.

Ao se levantar, Regina também teve Emma atirada em seus braços.

— Cuida bem delas. — sentia os seus olhos queimarem diante das lágrimas que afloravam.

— Como se cuidasse da minha própria vida. Lembra que eu te amo, e boa sorte. 

Regina abriu a boca para também dizer que a amava, que a amava muito, mas então uma voz feminina soou dos alto falantes do aeroporto anunciando a última chamada do seu voou.

Emma não precisou que as palavras fossem proferidas, o olhar de Regina já dizia tudo, ele sempre lhe disse tudo.

— Vai, está na sua hora.

Com o olhar carregado da saudade que já se instaurava dentro de si, Regina apanhou sua bagagem de mão e desapareceu na fila do check-in.

 

Com a viagem de Regina, no hospital Emma e Ruby se revezaram em realizar as cirurgias eletivas da ex-chefe da cirurgia, dando tempo para o conselho se organizar e contratar novos médicos para o cargo de cirurgiã geral e traumatologista.

Como prometido, todas noites ligavam para Regina, ou visse e versa, Emma e a garotas se amontoavam em sua cama e conversavam por chamadas de vídeos, contando tudo o que tinham feito, as coisas novas que tinham aprendido e sobre o desejo de estarem juntas, até que  Luna e Luíza adormecessem, e então elas continuavam conversando, Regina falava animada  sobre o quanto os equipamentos do laboratório eram avançados, sobre as casas que tinha procurado e como o clima praiano era gostoso, conversavam até que adormecessem, o que não era muito difícil para Regina, que ainda se acostumava com a nova rotina e o fuso horário, e por vezes e vezes Emma ficava vendo ela dormir, até que a bateria do notebook descarregasse, ou que também dormisse.

Com duas semanas para o ano letivo acabar, as provas das garotas chegaram, Luíza já era conhecida por gostar de estudar, mas Emma nunca tinha visto Luna tão empenhada e preocupada em tirar boas notas, pedia ajuda a irmã quando o assunto era matemática, e a ajudava com informática, estudavam juntas e até discutiam os assuntos. Em suas folgas, Emma sempre as oferecia a sua ajuda, mas diziam que não precisavam, afirmando que tudo ia bem.

Com a ajuda de Zelena, Mary e Cora, Emma começou a embalar as coisas que levariam e os móveis que iriam para um depósito e aguardariam a sua volta.

No dia anterior a mudança, finalizada as provas e sem ninguém ter ficado em recuperação, Emma e as garotas fincaram a placa de aluga-se no jardim da frente, deixando Zelena e Killian como responsáveis pelo o imóvel.

Quando o dia finalmente chegou, todos fizeram questão de acompanhá-las e de se despedirem, abraçaram os avós e os tios, que lhe desejaram boa viagem e boa sorte, e quando seguiram ao lado de Emma na fila para o embarque, acenaram para os que deixavam para trás, mas que realmente nunca realmente estariam.

 

Empurrando o carrinho com as bagagens, Emma olhava em todas as direções a procura de Regina, antes de entrar no avião com as meninas, haviam se falado por ligação e confirmado a hora em que o voou chegaria, e como não houve atraso ou problema nas escalas, haviam chegado na hora prevista, e o aeroporto nem estava tão cheio, pensava consigo mesma quando as meninas dispararam a correr tentando ao máximo possível evitar se chocarem contra as outras pessoas que estavam ali.

Regina abraçou as filhas como se através do calor pudessem juntar as três em uma só. Solta das meninas, se aproximou de Emma que estava parada logo atrás com o carrinho.

— Não passou tão rápido quanto nós dissemos que iria passar. — Emma falou com a voz embargada.

Assim como fez com as filhas, Regina a puxou para dentro do seu abraço como se quisesse fundir o corpo dela ao seu, enquanto afagava os cabelos ruivo.

— Dessa vez eu tenho tempo, dessa vez tenho todo o tempo do mundo. — disse quando se afastaram um pouco, o suficiente para olharem uma nos olhos da outra. — Eu te amo, Emma.

 

Nove anos depois...

— Luíza, anda logo, nós vamos nos atrasar. — Luna gritava ao pé da escada. — Você vai fazer a gente perder o voou, Luíza!

— Já vou, estou tentando fechar a mala. — Luíza gritou do quarto.

— Todo ano a gente faz essa viagem, você sabe que são só quinze dias, não precisa levar o closet inteiro não.

— Deixa de ser ranzinza, você sabe que as roupas de frio ocupam espaço.

— As mães já estão no taxi, só falta você.

— Porque que vocês não saíram ainda? — Regina perguntou ao entrar na casa. — Cadê a Luíza?

— Ainda está fazendo a mala.

— Não estou não. — falou quando saiu do quarto e chegou topo da escada.

— Vamos que a Emma já está no carro com o Daniel.

North

Nós podemos chamar esse lugar de nossa casa

A terra em que nossas raízes podem crescer

Mesmo que as tempestades nos puxe e empurre

Nós iremos chamar esse lugar de nossa casa

Quando saíram, o taxista abriu o porta-malas e Luna ajudou a irmã a colocar o guarda roupa em forma de mala dentro. Quando o carro deu a partida, deixaram para trás a tão desejada casa, com piscina e guarda-sóis na frente, e que para chega a calorosa praia, só se fazia necessário descer a rua do condomínio.

Diferente da Califórnia solar que tinham deixado, como era comum no final de ano, Boston se encontrava coberta por um manto branco e gelado, mas que trazia todo um encanto para a decoração de natal que adornava toda cidade, fazendo com que as árvores sem folhas reluzissem com as luzinhas amarelas, enquanto os pinheiros multicoloridos, ostentavam grandes e belas estrelas em seu topo. Para Regina, Emma e Luíza, ver aquele lugar daquele jeito acendia fagulhas acalentadoras em seus peitos, e junto delas, as mais genuínas lembranças de suas infâncias onde esperavam ansiosas pela chegada da neve, e Luna, mesmo não tendo crescido ali, os anos em que voltava para os natais a fizeram compartilhar do mesmo sentimento que as suas mães e irmã, pois a neve era o gatilho associado à sua família, ao momento de ver os seus avós, tios e primos, pessoas que ela amava, e assim também seria para o pequeno Daniel, que fazia a sua segunda viagem para lá desde que nasceu, e que agora, quietinho, abraçado com um coala a Luíza, observava pela janela do carro todas a luzes coloridas que enfeitavam a cidade á fora, enquanto Emma ao lado do taxista, Regina e as suas irmãs cochilavam com o barulho e o balanço do carro.

Nós iremos contar as nossas histórias nestas paredes

Todo ano, medir o quão alto

E assim como uma obra de arte

Nós iremos contar as nossas histórias nestas paredes

Esse ano celebrariam o natal na casa dos Mills, que ansiosos, buscavam deixar tudo impecável para a família, em especial para os netos, que quando todos se reuniam, traziam um colorido que enfeite ou luz alguma seriam capazes de dar.

Considerado o dia mais curto do ano, ao redor daquela mesa cheia de gente e de comida a noite de véspera de natal parecia ter as suas horas incalculáveis, os risos agudos das crianças enchiam a sala de jantar, as garotas que não eram mais crianças, mas que para as suas mães ainda não eram adultas, participavam joviais dos assuntos. A lareira poderia estar apagada, e o aquecedor desligado, que o calor gerado do afeto e do amor manteria a todos aquecidos. Todo o ano que passavam sem se verem rendiam assuntos para mais de natais em volta da mesa.

Deixe os anos que tivermos aqui sejam gentis, sejam gentis

Deixe os nossos corações, como portar, abrirem, abrirem

Acomode nossos ossos como madeira ao longo do tempo

Nos dê pão, nos dê sal, nos dê vinho

Muitos dizem que o passado é uma roupa que não nos servem mais, mas sem entender ou por pura desobediência, muito tentam vesti-lo, e ele é aquele tipo que trava nas cochas, e que quando sobe aperta na cintura lhe roubado ar, que prende os braços e impede que você os levante acima da cabeça, que tem uma gola que quase não passa na cabeça, mas a gente continua puxando, até que ela desce e aperta o pescoço. Ali, ao redor daquela mesa, duas pessoas em especial tentaram por muito tempo vestir essa roupa, e todas as tentativas só causaram dor e hematomas, mas que descobriram que todos os arranhões e machucados foram importantes para que se comprassem roupas novas.

Após o jantar e de muitos casacos colocados, saíram para brincar na neve, que recebiam os seus pés como colchões fofinhos e gelados.

Luna que saiu depois dos primos e da irmã com Regina, deixou a porta aberta que foi vista muita volúpia por Daniel, que em seus passos ainda cambaleantes, correu em direção ao portal em busca do reino gelado, mas quando o seu pezinho alcançou a soleira, foi tirado do chão por a sua gigante mamãe.

— Neve. — conseguiu dizer a pequenina palavra enquanto se debatia nos braços da mãe.

— Espera, Daniel, como que você pode ser a cara da Luíza, mas ser tão Luna por dentro, heim?

— Neve. — balançou a mãozinha em direção a porta, por onde via os outros brincarem.

— Me deixar colocar o seu gorro e a gente vai. — Emma disse enquanto o caçula mexia a cabeça fugindo do gorro de lã.

— Vai?

— Uhum, agora deixa a mamãe colocar. — e quando o pôs, o abaixou de proposito até a altura do olhos do menino, que ria sempre que a mãe fazia isso.

Do lado de fora, Eloise e Hansel pulavam nas costas de Killian, afim de derrubar o pai na neve, enquanto Zelena e Regina travavam uma guerra de bolas de neve como se nunca tivesse crescido, e atingindo Luna e Luíza no percalço.

Um pouco quebrado, um pouco novo

Nós somos o impacto e a cola

Capaz de mais do que imaginamos

Nós iremos chamar este conserto de casa

— Luna, eu sou a sua mãe, você tem que me ajudar, e não a Zelena. — disse boquiaberta ao ser atingida por uma bola de neve no peito.

— Não fui eu não, foi a Lu... — mas não conseguiu terminar, uma bola de neve lhe atingiu bem na testa.

— É guerra que você quer, mãe? — como a metralhada que Luna imaginasse que fosse, Luna começou a jogar bolar para todos os lados, atingindo a todos, e quando finalmente parou, deu de cara com irmã com os punhos fechados em torno da neve, pronta para lhe acertar bem na cara.

— Não, de perto não. — implorou. Porém foi mais ágil que Luíza, e se abaixou bem na hora que a neve foi jogada, e que se não fosse pelo o seu gorro, teria acertado em cheio a cabeça de Emma.

— Não existe mais a regra do café com leite, eu estou com o Daniel?

— Nunca teve café com leite nessa família. — Regina se aproximou passando uma bola de neve de uma mão para outra.

— Não, Regina, por favor.

— Mas eu não vou jogar em você não. — riu e selou os seus lábio com o de Emma, e mesmo em um frio de  -2ºC, seu beijo era cálido e apaixonado.

Quando se separaram, ainda com a bola de neve em mãos, Regina a encostou na pontinha do nariz de Daniel, que ao sentir o gelo, riu sacodindo a cabeça. Curioso como era, aproximou a mão da mãe para perto si e ficou mexendo com a neve ali, ainda tentou tirar a luva para sentir melhor no tato, mas estava muito frio e Regina não deixou, então ele continuou a mexe com ela, e para sentir o gelado, baixava a cabeça até a palma da mão da mãe e encostava o nariz, que o fazia dar muitos risos, fazendo com que as suas mães também sorrissem.

Emma ia muito bem no hospital e a adaptação das meninas ao local havia sido sem igual, então depois que os quatro anos da bolsa de Regina acabaram, decidiram permanecer na Califórnia, e depois disso, a decisão mais importante que tomaram foi a concepção de Daniel, que carregado por Emma, desde que nasceu tem dado as suas mães a oportunidade de dessa vez fazerem tudo juntas, tudo que em um passado distante foi perdido. E se Daniel pudesse falar, sem sombra de dúvidas diria que estão indo muito bem.

De volta a casa, Hasel e Eloise saíram em busca de todas as almofadas da casa para levarem para sala, e Luna saiu para ajudar os primos mais novos, pois a hora da história de natal iria começar.

Com cada ano, nossas cores desbotam

Devagar, a nossa pintura racha

Mas iremos achar a força

E a vontade que precisar

Para repintar e repintar e repintar todos os dias

— Oi, mãe. — Luíza disse se sentando ao lado de Regina, que se aquecia em frente a lareira.

— Oi. Você já recebeu o e-mail de Stanforf? — perguntou ao ver a filha com o celular na mão. — O da Luna chegou há um tempo já, achei vocês fossem até receber as respostas juntas.

— É... O meu chegou mãe, a resposta chegou no mesmo dia em que a da Luna chegou. — falou olhando para os seus próprios dedos. — Eu sinto muito, mãe, sinto muito que eu não tenha conseguido passar em medicina como a Luna, ou como você, a mamãe e o vovô Henry. Eu sei que era o que você queria, mas eu vou tentar de novo próximo ano, eu vou conseguir, eu prometo.

— Era o que eu queria?

— Era, queria que eu fosse como você. — Luíza não conseguia olhar nos olhos da mãe, não queria ver decepção ali.

— Filha, um dia, quando e se você for mãe, em algum momento você também imaginar os seus filhos seguindo a sua carreira, principalmente quando você ama o que faz.

— Mas é que você ficou tão feliz quando soube do resultado da Luna...

— Olha para mim — segurou as mãos da filha nas suas — Eu fiquei feliz sim, mas foi porque ela passou em algo que ela gosta, a Luna tinha oito anos quando decidiu que queria ser médica, então eu fiquei feliz sim, mas se medicina não é algo que você gosta, não é algo que você queria estudar, eu fico feliz que não tenha passado, e esse resultado só reflete isso. Então me diga, o que a minha luzinha quer fazer?

— Ai mãe. — riu do apelido — Mas eu não sei.

— Tem certeza? Sobre o que você gosta de ler? Luíza...

— Quando a Luna e mamãe voltaram para cá, ela levou a gente para uma amostra no shopping, pelo menos eu acho que era, mas lá tinha sido montado o sistema solar, eu lembro que lá tinha tantas luzes piscando e de cores diferentes, e o clima mudava quando a gente ia de um planeta para o outro, eu amei, eu fiquei fascinada de verdade, e depois que a gente saiu, nós fomos em uma livraria e ela comprou para mim e para a Luna um livro, o título era “ Uma viagem Pelo Espaço”, a Luna logo riscou e cortou ele todo, mas eu guardei o meu, a mamãe até leu ele para mim na época em que a gente ficava com ela na casa da vó Mary, e eu tenho esse livro até hoje. De muitas maneiras ele significa muito para mim... É isso que eu quero estudar mãe, astronomia, e quero escrever sobre tudo que eu descobrir.

— Então teremos uma astrônoma e escritora na família.

— Você é uma mãe incrível, e eu só não vou dizer que é a melhor do mundo porque eu tenho duas.

— Em boa parte, você que me ensinou a ser essa mãe. — uniu a sua testa com a da filha. — Eu também diria que você é a melhor filha desse mundo, mas eu tenho mais dois, e do seu jeito único, são todos maravilhosos.

— Eu sei, mãe.

— Presamos contar para a Emma sore a astrônoma que nós teremos.

— Ela já sabe. — respondeu culpada.

— Sabe?

— Aham, eu queria que ela me dissesse o que fazer, queria que ela me ajudasse a contar isso para você, não queria te decepcionar.

— E o que ela te disse?

— Que eu só te contasse porque você iria entender, e ela acertou.

— Saiba que você pode ser o que você quiser, Luíza, que eu confiarei nas suas escolhas, e isso serve para Luna e futuramente para o seu irmão, porque eu me orgulho das pessoas que vocês têm se tornado.

— Obrigado mãe. — e a abraçou, tão forte quanto da primeira vez em que se viram depois que Regina se mudou para a Califórnia.

— Agora você precisa sentar lá com os outros, sei que você já ouviu essa história só 18 vezes, mas o vô Henry gosta de ter todos vocês para ouvirem.

— Tá bom. — Luíza se levantou e tornou a sentar em uma almofada do lado da Luna, que tinha o seu irmão mais novo sentado no meio de suas pernas.

Deixe os anos que tivermos aqui sejam gentis, sejam gentis

Deixe os nossos corações, como portar, abrirem, abrirem

Acomode nossos ossos como madeira ao longo do tempo

Nos dê pão, nos dê sal, nos dê vinho

Quando Regina se virou em busca de Emma, a encontrou sentada ao lado de Mary e com a cabeça encostada no ombro da mãe, matando a saudade que sentia daquele colo. Emma, que desde o momento em Luíza sentou ao lado de Regina, tinha o seu olhar voltado para as duas, sorriu com o canto da boca quando o olhar de Regina encontrou seu. Quando se levantou e saiu de perto da lareira, sentou no encosto de braço da poltrona em que Emma estava sentada, e essa por sua vez tirou a cabeça do ombro da mãe e se encostou em Regina passando os braços em torno da cintura dela, que os afagou.

— Há muito tempo, na floresta de Burzee, Ak o ser supremo de todas as criaturas mágicas, encontrou um bebezinho no meio de uma clareira, ele não parecia um elfo, tinha orelhas redondas demais para isso, mas também não era um animal, pelo menos não dos que moravam ali, aquele pequeno ser que se esperneava no chão era um humano, não muito comum naquela parte da floresta, e então comovido pela fragilidade da doce criatura, Ak resolveu ajuda-lo...

Elas já haviam ouvido a história, mas se mantiveram ali, ouvindo-a como uma narração de fundo enquanto contemplavam o que tinham feito de melhor nessa vida, a herança que deixariam para o mundo esperando que as suas existências tenham significado, pequenas versões suas mais jovens, mais esperançosas e com mais sonhos.

Ali estavam as suas raízes, não presas a terra e imóveis, mas fluidas e com potência para desbravar o mundo, e tempestade alguma seria capaz de arranca-las.

Menor que a poeira neste mapa

Está a melhor coisa que temos

A terra em que nossas raízes podem crescer

E o direito de chamar de casa

O tempo que foi perdido passou, esse sob o ponto de vista da física é impossível de ser retomado, e o futuro com máquinas do tempo ainda parece improvável, mas já o amor considerado perdido, esse de veras nunca se perde, não enquanto houver aquela música, um sabor na boca, um lugar, ou o seu próprio reflexo no espelho. Então não, o amor nunca esteve perdido, ele só esteve guardado em uma caixa num canto do sótão, à espera de alguém disposto a subir e a tirar a caixa de lá, alguém que o deixe tomar um pouco de sol, que o deixe respirar e que o permita florescer novamente.

Ele nunca esteve perdido, não aqui, não para elas.

 


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Notas finais do capítulo

Agradeço de coração a todos que acompanharam e que comentaram, queria poder citar as pessoas aqui, mas posso correr o risco de esquecer alguém, mas vocês sabem que são vocês, não sabem?
Eu comecei a postar Back to Home em um momento em que as coisas estavam um pouco difíceis nessa estrada louca que a gente chama de vida, então escrever aqui foi a minha válvula de escape, afinal, ostra feliz não faz pérola, e o feedback que eu recebia nos comentários foi muito importante para mim. Eu vi coisas em mim mudarem quando as minhas personagens começaram a acertar os seus caminhos. E daí veio o ano novo, eu fiz aniversário, vieram alguns rompimentos, e eu acordei, igual a Regina, acordei para mim mesma e tem sido incrível me redescobrir. E porque eu tô falando isso aqui, né? Porque eu e a estória passamos basicamente por o mesmo percurso, e tanta gente se abriu para mim (nós), nos comentários, que eu achei que tinha chegado a minha vez.

Então, depois de BTH eu penso em terminar Fallmountain que se passa na idade média e é do gênero ficção-fantástica, mas ela está na outra plataforma, então se alguém aqui gostar, pode passar por lá e conhecer um outro lado meu, e já tenho uma ideia para outra fic, talvez eu poste daqui a dois ou três meses, não sei, e também tenho algumas ones.
Para quem me conheceu através dessa fic, foi um prazer conhecer você também e não suma, para quem já me conhecia de Uma Chance Para Duas, foi muito bom te ver de novo, e para todos, nos encontraremos na próxima.

Um beijo enorme em todas, muito obrigado mais uma vez por ter percorrido esse caminho comigo

Twitter @xnxruth, https://twitter.com/xnxruth
IG: anxruth, https://www.instagram.com/anxruth/, mandem um salve, me deixem conhecer vocês já que viram tanto de mim em Back To Home.