Tu e Eu escrita por Arisusagi


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Estou me metendo em vários desafios de escrita esse ano, né? kkk
Essa fanfic aqui foi bem gostosinha de escrever. Resolvi escrever em segunda pessoa, e até que foi uma experiência bem legal :D Agradeço muitíssimo à Shiro, que me ajudou a escrever isso aqui ♥
Escrevi bem em cima das cenas do filme, então talvez fique meio confuso pra quem não assistiu.
Boa leitura!



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Gostas de um som tempestade
roque lenha
muito heavy
Prefiro o barroco italiano
e dos alemães
o mais leve.
És vidrada no Lobão
eu sou mais albiônico.
Tu,fão.
Eu, fônico.

 

“Aqui, é por minha conta.”

Você entrega a garrafa de água com gás para ele.

“Obrigado.”

“Não é nada comparado com o que você fez por mim. Mas como essa é a última vez...”  Seu coração se aperta, e você não sabe bem por quê. “Você me ajudou bastante, obrigado.”

O parque está praticamente vazio àquela hora da noite, e a temperatura está agradável, está muito mais fresco sem o sol forte da manhã e da tarde.

Você se senta ao lado dele, e o concreto do pátio ainda está quente. O breve silêncio entre vocês dois é preenchido pelo som da água correndo na fonte ali em frente. Você dá um gole ou dois na sua bebida, sentindo o ardor agradável da água com gás lhe descendo pela garganta.

“Então…” Kusakabe murmura de repente. “Você se esforçou tanto assim na música só pelo Hara-sen?”

Aquela pergunta é estranha, e te deixa muito incomodado por algum motivo. Por que Kusakabe estava te perguntando aquilo com um ar tão triste?

A confusão é tanta que a garrafa escorrega de sua mão, caindo no chão e rolando enquanto deixa um rastro de água.

“Opa.” Kusakabe se levanta, e você faz o mesmo.

“Ah, não, tudo bem…” Você se agacha junto com ele. “Eu pego.”

E tudo acontece muito rápido.

A garrafa de água com gás. A mão de Kusakabe na garrafa. A outra mão está na sua nuca. A água se espalhando pelo chão, e… Um beijo?

Sim. Um beijo. Seu primeiro.

Os olhos de Kusakabe são castanhos e os cílios são longos, dá para ver isso claramente daquele ângulo. Os lábios dele estão rachados, e a sensação de tê-los apertados contra os seus é muito estranha.

Estranha, mas não ruim.

De repente ele se afasta. “Ah, hm, desculpa!” Você está tão surpreso quanto ele, tão surpreso que nem consegue reagir.

A garrafa dele também cai enquanto ele pega a bolsa desajeitadamente. Você o chama, mas Kusakabe foge, te deixando sozinho com as duas garrafas e o céu escuro.

O que acabou de acontecer?

Depois de um tempo, as duas garrafas vão parar em uma lixeira do parque e você vai para casa. Durante o caminho, você não consegue parar de pensar no que aconteceu, e tem uma sensação muito esquisita se chacoalhando dentro da sua barriga.

Aquilo foi um beijo. Certo. Mas foi intencional? Ou um mero acidente? Por que Kusakabe o beijaria?!

Você sabe que existem homens que gostam de outros homens por aí, mas a existência deles só se torna relevante para a sua vida naquele momento. Seria Kusakabe um deles? O Kusakabe dos cabelos loiros, que tocava em uma banda e tinha uma porção de moças caindo aos seus pés? Não parecia certo, nem um pouco.

E, mesmo que ele fosse, não faria sentido ele te beijar assim por livre e espontânea vontade. Você é só um nerd que se esconde das pessoas atrás dos livros e de suas notas impecáveis. Nenhuma menina demonstrou interesse em você em todos os seus breves dezesseis anos de vida, então por que Kusakabe ― o tão popular Kusakabe Hikaru ― se interessaria?

Era só um mal-entendido. Ele perdeu o equilíbrio, talvez pela forma como agachou ou coisa assim, e seus lábios acabaram encostando sem querer. Só isso. Nada mais. Foi só um acidente bobo e, talvez, até um pouco engraçado.

(Mas, por algum motivo, você se sente incrivelmente mal em pensar nessa possibilidade.)

    Mais tarde, o sono demora a chegar, porque você só consegue pensar naquele beijo acidental, e nas mãos quentinhas de Kusakabe, e em como você sentiu como se tivesse ido aos céus no instante em que os lábios dele tocaram nos seus.

    Nas suas poucas horas de sono, você sonha com ninguém mais ninguém menos do que Kusakabe Hikaru. Vocês estão no colégio, sozinhos, e ele está falando você, mas não dá para escutar nada. De repente, ele te beija e você acorda assustado com o som do despertador. É a primeira vez que você se lembra de um sonho tão claramente assim.

E é só nisso que você pensa pelo resto da semana, em Kusakabe e em seu cabelo comprido demais, em seu jeito desleixado com o uniforme amassado e o colarinho desabotoado, em sua voz linda e melodiosa e… Sua concentração durante a aula vai para o espaço e o professor te chama a atenção várias e várias vezes, coisa que atrai os olhares da sala inteira para a sua direção, inclusive o dele e — deus do céu — você sente que vai desmaiar toda vez que seus olhos se encontram.

Não dá para viver assim, não dá.

No colégio, Kusakabe age normalmente, como se nada tivesse acontecido, e você tenta fazer o mesmo, mas é tão, tão difícil, e você se pergunta se não está fazendo papel de idiota na frente de todo mundo.

Você tenta se aproximar dele algumas vezes para perguntar sobre o que aconteceu. Em uma delas, vocês estão em frente aos armários de sapatos, depois da aula. Kusakabe tira os tênis surrados de sua portinha e os calça com desleixo, e você observa a cena de longe, enquanto pensa no que vai falar para ele. Antes que você consiga encontrar as palavras exatas, os amigos dele chegam, e te olham de uma forma muito intimidadora, enquanto Kusakabe acena para você, sorrindo como ele sempre fazia. E é isso que te dá a certeza de que tudo não passou de um acidente.

Pelo menos até o festival de coral.

Você e Kusakabe se aproximaram tanto assim só por causa desse dia. Seus encontros quase diários foram só para que você pudesse aprender o básico para acompanhar a turma na música. Depois dessa apresentação, era bem provável que Kusakabe nunca mais falasse com você, e pensar nisso te dava um aperto tão forte no peito que era difícil respirar.

 

O dia do festival chega, enfim, e você repete a letra da música como um mantra, para não se esquecer na hora da apresentação e, secretamente, para afastar todos os pensamentos sobre Kusakabe de sua cabeça.  

    Durante a apresentação, você consegue cantar a música do jeito que ele te ensinou, e acompanhar o resto da turma. E você acha que Kusakabe também está indo muito bem — é óbvio que ele estaria, afinal — até o momento em que todo mundo para de cantar ao ouvir um soluço vindo dele.

    Por que diabos Kusakabe estava chorando no meio da apresentação?!

    Ao perceber todos os olhares sobre ele, Kusakabe desce do palco e corre para fora do auditório, e você vai atrás dele sem nem pensar duas vezes. Alguns professores vão atrás de vocês dois, mas você não se importa, no momento a única coisa que você quer saber é se Kusakabe está bem.

    Você o  segue até o pátio, perguntando várias vezes o que aconteceu, e ele só chora e grita alguma coisa sobre o Hara-Sen. O que aquele professor tem a ver com isso?!

    “P-Porque parece que eu me apaixonei por você!”

    O mundo para de girar por um segundo. Você está sem fôlego e ainda não consegue processar direito o que acabou de acontecer.

    Kusakabe… acabou de dizer que está apaixonado por você?

    “Mas você… Só se esforçou pelo Hara-sensei e tal…” Kusakabe resmunga, bagunçando os próprios cabelos, e você ainda está tentando entender por que ele está surtando daquele jeito.

    “Kusakabe?”

    “... E agora eu não consigo parar de gaguejar que nem um idiota…!”

    É estranho ver Kusakabe — o tão belo e popular Kusakabe Hikaru — se desmanchar daquele jeito na sua frente, mas você se sente mais próximo dele, de alguma forma. Ele se agacha, ainda resmugando sem parar, e você não consegue acreditar que ele está daquele jeito por sua causa.

“Kusakabe, escuta. Eu nunca disse que era pelo Hara-sensei.” Você se agacha ao lado dele e toca seu ombro com cuidado, depois de finalmente entender o que ele quis dizer.

Kusakabe se vira bruscamente e te encara, incrédulo. Você sente que está prestes a confessar coisas que deveriam ficar escondidas no fundo de seu peito. Seu rosto está quente, e você até solta uma palavra ou duas, mas se segura no último instante. Não, você nunca contaria para ninguém sobre como você ficava ansioso para passar aquele curto tempo com Kusakabe depois da aula, enquanto ele te ensinava a cantar e a ler as notas musicais.

Ele te pressiona para continuar o que estava dizendo, e enquanto você se recusa, vocês ouvem os professores chamando seus nomes.

“Vem cá, rápido.” Antes que você se dê conta, Kusakabe está te puxando pela mão.

Ele te leva até um depósito, e vocês ficam lá, em silêncio, escutando os professores chamando por vocês dois. Você está encostado na porta do quartinho, e você pensa se vocês dois vão receber alguma punição pelo que acabaram de fazer. Kusakabe está tão perto de você que dá pra sentir a respiração dele batendo em seu rosto, e isso te faz te lembrar daquela vez em que vocês se beijaram.

E, por falar nisso, ele não tinha acabado de dizer que estava apaixonado por você?

“Sajou, o que você ia falar?”

“Quê? Ah, não…”

Kusakabe se aproxima cada vez mais, e isso faz o seu coração disparar.

“Eu estava pensando, naquela última vez…” As mãos dele — quentes, muito quentes — vão parar em seus braços. “Você acha que os óculos atrapalham na hora de beijar?”

Ele está perto, segurando seu queixo entre o indicador e o polegar, e uma sensação estranha explode dentro da sua barriga na hora em que ele te beija. As cigarras cantam lá fora, e ainda dá pra ouvir os professores procurando por vocês dois, e você fica estático, sem nem saber se estava gostando ou não de ser beijado, e sem ter ideia de como reagir. Os lábios de Kusakabe estão rachados, assim como naquela primeira vez, só que agora você consegue sentí-los muito melhor.

Você não sabe ao certo quanto tempo vocês passam lá dentro, mas os professores não estão mais por perto quando vocês saem. Kusakabe parece estar feliz, apesar de não dizer nada. Você ainda está pensando no que ele disse sobre estar apaixonado, e você não sabe o que achar disso.

Passar o tempo com Kusakabe era bom, e te deixava feliz, mas era estranho, de certa forma. Mesmo que vocês fossem próximos, seus universos eram completamente diferentes. Kusakabe tinha vários amigos, era extrovertido e tocava em uma banda, e você era o cara quieto que colecionava notas excelentes e não interagia com praticamente ninguém na escola. As suas diferenças eram bem claras, dava para ver muito bem pela forma como os amigos de Kusakabe te olhavam quando ele te cumprimentava pelos corredores.

E, além disso, você não gostava de homens, ou pelo menos achava que não. Bem, você nunca parou para pensar sobre relacionamentos em toda a sua vida. Os estudos sempre foram sua prioridade, e você nunca nem sentiu vontade de estar assim com alguém. Pelo menos até agora. Seria Kusakabe seu primeiro amor?

Mesmo com todos esses questionamentos, de uma coisa você tem certeza: de que você, querendo ou não, gosta de estar com Kusakabe.

 

Gostas daquelas festas
que começam mal e terminam pior.
Gosto de graves rituais
em que sou pertinente
e, ao mesmo tempo, o prior.
Tu és um corpo e eu um vulto,
és uma miss, eu um místico.
Tu, multo.
Eu, carístico.


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Notas finais do capítulo

Eu não sabia bem o que escrever quando vi que esse poema tinha saído pra mim no sorteio. Pensei em uns 3 ships (TadoMaki, HaruMichi e AsaNoya), e fiz uma enquete no twitter com a opção "lek de Doukyuusei" só pra ver se alguém se interessava, porque eu não tava querendo me arriscar num fandom novo, mas acabou que foi essa que ganhou, kkkk. E o poema combinou muito bem com eles, né? Principalmente esses trechos que eu coloquei no começo e no fim.
Enfim, de qualquer forma, foi muito bom escrever, principalmente porque eu gostei muito desse filme.
Eeenfim, espero que tenham gostado ♥



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