O Segundo Antes do Sol Voltar escrita por Eponine


Capítulo 9
Capítulo 09




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— Professora, eu sei que... — Sirius molhou os lábios lentamente, e Remus podia jurar que ele conseguia ter controle da dilatação dos olhos. Ele focou seus olhos acinzentados na professora de uma forma tão imersiva que ela parecia ter perdido a noção de espaço. Sua voz saía calma, intensa, rouca, ele utilizava-se de uma leve semicerrada de olhos, proximidade... — Eu sei que não tenho sido um aluno exemplar, mas... Eu realmente gostaria de refazer o teste. Sei que estou preparado, talvez eu estivesse nervoso demais... Ansioso... Não sei o que me deu. A senhora sabe que sou bom em Herbologia, certo?

Professora Sprout sequer piscava.

— Professora...? — Sirius sorriu lentamente e a professora limpou a garganta, parecendo retomar a consciência. Até Remus tinha que assumir que Sirius tinha um belo sorriso.

— T-Tudo bem, o senhor pode refazer o teste. — assentiu ela, vermelha. — Esteja aqui no horário, amanhã.

— Muito, muito obrigada mesmo professora. — ele colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha, ainda com um sorriso de canto de boca. Assim que eles saíram da estufa, James virou-se para o amigo, extremamente ofendido.

— Como você fez aquilo??? — esganiçou o Potter.

— Com um talento extra que você definitivamente não tem, James. — sorriu, apertando o ombro do amigo. — Temos que usar as armas disponíveis, certo?

No quarto ano, as coisas tomaram rumos peculiares.

Sirius, que nunca teve paciência para garotas, começou a utilizar-se daquele poder que ele demorou a perceber que tinha para conseguir absolutamente tudo que queria. Não que ele fosse burro e precisasse utilizar-se da beleza para se sobressair, mas o charme era quase sua mão direita. Um olhar fatal e qualquer garota lhe cedia um duelo à mais no Clube, um lugar especial nas maravilhosas aulas de Astronomia (mesmo ele chegando quase uma hora atrasado), talvez até mesmo uma polida em sua vassoura, tudo de graça, tudo na base da manha.

Entretanto, ficava implícito se ele realmente se envolvia ou não com essas garotas. Na opinião de Remus, não. Primeiro, porque Sirius não gostava de absolutamente ninguém, segundo, ele tinha a tendência à se atrair por qualquer coisa que o desprezasse, como por exemplo, Marlene McKinnon. Remus não entende muito bem como aquilo funciona, mas por alguma razão, Sirius ficava enlouquecido quando via a garota berrar até as veias saltarem do pescoço enquanto aponta o dedo na cara de James, que também não fica por baixo. Lupin pode jurar de pés juntos que Sirius deu um suspiro apaixonado quando viu o melhor amigo e Marlene rolarem escada a baixo entre tapas.

James também não consegue entender:

— Você tem que estar brincando com isso, como você pode gostar de alguém que tentou me matar mais de dez vezes! — era a segunda estadia de James na Ala Hospitalar após treinos violentos de Quadribol. Ele apontou para a perna quebrada. — OLHA ISSO! Foi a louca da sua namorada quem fez!

— Acho que meu tipo são mulheres que te odeiam. Evans até parece mais bonita agora. — A discussão foi encerrada porque James ficou muito bravo com o comentário.

Claro que Sirius não fica completamente sozinho, sempre tem uma garota ou outra que chama sua atenção, e são sempre semelhantes entre si:  uma sonserina que ficou a aula inteira rindo da cara de Peter o comparando à um rato, outra sonserina que pisou no pé de James mais de sete vezes em uma única semana, uma corvinal que espalhou para os sete cantos do mundo que Severus Snape nunca tinha beijado, entre outras.

— Eu nunca poderia ser o Batman, eu ia me apaixonar pelas vilãs. — ele apenas sorria, dando de ombros. — Digo, Morgana LeFay... Quem não?

— Isso é doente. — riu Peter, atraindo os olhos de Sirius para ele naquele sábado preguiçoso no jardim, onde James olhava fixamente para onde Lílian Evans conversava com uns amigos.

— Sabe Pete, eu fiquei essas semanas sem transar e cara... Agora eu sei porque você é tão focado, digo... Isso são superpoderes de virgem! Tudo está tão claro agora, acho que se eu ficar sem transar até o fim do mês que vem, eu vou me tornar um Deus. — debochou  Sirius fazendo James gargalhar e Remus virar o rosto, tentando não rir.

— Por que vocês só riem de mim? Remus também é virgem!

— Porque ele optou castidade eterna, já você pelo jeito está sendo forçado... — replicou Sirius, ainda não satisfeito.

— Você é cruel. — retrucou Remus, engolindo o riso, sério.

Sirius deu de ombros e deitou-se de vez na grama, fechando os olhos, com James ainda rindo alto, sem sequer olhá-los. Estava tão forçado que era incomodo.

Ao contrário de Sirius, James não sabia manipular seu charme. Não que ele não tivesse, ele tinha, mas era espontâneo, não uma arma como a de Sirius. Então todas as vezes que ele tentava utilizar-se dessa dádiva, saía horrível o suficiente para constranger todos ao redor, principalmente a pobre Lílian, que não entendia a obsessão de James com ela.

— Uma vez ele tentou conversar sobre o piso da Sala Comunal. — Lily e Remus sempre ficavam juntos nas aulas vagas após a aula de Runas Antigas, já que os garotos ainda estavam na aula de Adivinhação. Ela mordeu seu pirulito, segurando o riso. — Eu quis morrer, ele é muito estranho. Sinto saudades de quando ele não sabia meu nome.

— Ele gosta de você. — disse Remus, arrependendo-se em seguida. A garota focou seus olhos verdes no amigo, sorrindo lentamente, maliciosa. Lílian era definitivamente bonita, era um fato, todos sabiam daquilo. Entretanto, ela não seguia os estereótipos dados à garotas bonitas, e não que eles fossem ruins, mas... Lily era diferente. Primeiro porque ela era mais popular por ser extremamente amigável e capaz de conversar sobre tudo, e por ser doce e independente.

Ela tinha tantos amigos e tantos conhecidos que às vezes parecia que na verdade ela não era amiga de ninguém. Não de verdade, com real profundidade.

— Hum, não acho que ele seja meu tipo.

— Qual é seu tipo? — perguntou Remus, abrindo outro pirulito.

Ela deu de ombros, olhando para os lados. Acenou:

— Ei, Katie, como vai? Te vejo na aula de Astronomia! — gritou ela para uma garota com o rosto coberto de Varíola de Dragão. Ela virou-se para Remus, brincando com suas madeixas ruivas. — Sei lá, acho que eu gosto de caras engraçados.

— James é engraçado.

— É engraçado rir de James, não com James. — replicou ela, rindo. Ela gesticulou um pouco, animada. — Eu não sei, ele é tão... Ele é tão arrogante e pretensioso. E a pior parte é que ele parece ser mais que aquilo, mas ele não mostra... É argh.

Remus apenas riu, concordando. Ele nunca teria coragem de dizer à James, mas ele achava Lílian madura demais para ele. Ele via o amigo como um produto de seu ambiente: É óbvio que James não conseguia entender o desespero de McKinnon em relação à sua bolsa, porque James era milionário, ele nunca teve que se preocupar em juntar moedas para comprar uma pena, ele pode comprar a loja, a fábrica, o criador da pena caso ele queira. Os problemas sociais do mundo eram todos simples para ele porque ele nunca vivenciou nada daquilo, o que lhe dava um olhar ignorante e inocente em relação à absolutamente tudo.

Porém, era fácil dar-lhe um desconto, pois James jamais mantinha sua ignorância. Ele realmente ouvia os gritos de Marlene ou as respostas irritadas de Lílian, ou até mesmo Remus ás vezes, sobre assuntos que ele não entendia ou não fazia ideia que existiam. Sua evolução através dos anos era evidente e isso o fazia além de sua aparência esnobe.

Precisava admitir, ter algumas horas de conversa com Emmeline e Marlene sobre o quão sem noção eram metade dos alunos do Castelo era libertador, principalmente com Emms, quem Remus tem passado bastante tempo ao lado. Pensar em Emmeline era como aguardar menos de cinco minutos para sua mente ser invadida por pensamentos auto-depreciativos. Quando James contava suas aventuras sexuais com Jemima, Remus tentava se imaginar com Emmeline, mas ele jamais conseguia sequer chegar no ato em si, pois estava preocupado demais em como explicaria suas cicatrizes, seus sumiços, seus problemas hormonais, suas estranhezas, sua incapacidade de não achar que Emms estava debochando dele quando dizia que o achava bonito...

Ele sequer se sentia seguro para falar aquilo com os outros, porque eles não entenderiam. Sabia que estava pensando demais sobre algo pequeno, mas não podia evitar: era penoso demais, era quase como ser teletransportado para seus primeiros anos em Hogwarts, quando ele vivia em um constante ataque cardíaco, temendo alguém descobri-lo.

Passava tardes e tardes observando seus amigos praticarem Transfiguração e desejava fortemente que não desse certo, que desse tudo errado e eles desistissem daquela ideia e o deixasse em paz. Não queria que eles o vissem... Escutassem seus gritos, o choro desesperado, o som dos ossos quebrando, a roupa rasgando, a garganta se dilacerando, quase o nascimento de um demônio. Por vezes fitava o escritório do diretor, pensamento seriamente em denunciá-los e simplesmente cortar relações, assumindo seu destino.

E então, o desespero lhe cobre. A carência percorre em suas veias e ele aperta aquele laço com os três como uma mãe aperta o laço emocional com um filho que tenta se tornar independente. Faz as vontade de James cegamente, finge não ouvir comentários maldosos de Sirius, de não notar a maldade em certas atitudes de Peter. Quem era ele para julgá-los? Ele tinha que ser agradecido por tê-los por perto, por o aceitarem como ele era. Remus passa metade da noite fitando a parede fria ao seu lado, ouvindo a sinfonia de roncos no quarto, sendo incapaz de desligar sua mente, que produz cerca de vinte planos a cada minuto, de diversas possibilidades de seus amigos lhe virarem as costas.

E se Hogwarts inteira descobrir? E se ele matar seus amigos em uma noite de transformação? E Dumbledore, ele será demitido? Todos que sabiam de sua condição serão demitidos? Hogwarts então será fechada? Milhares de crianças terão que ficar sem ensino por culpa dele?

Desistir sempre soa como uma boa opção.

— O que são esses caras, afinal? — questionou James, virando mais uma página do Profeta Diário. Remus continuou tomando seu café, acenando para alguns conhecidos enquanto a mesa da Grifinória se preenchia lentamente pelo Salão Principal. Olhou com culpa para o professor Dumbledore, conversando com professora McGonagall, tendo certeza que ele ia ler a mente de Remus em algum momento e descobriria tudo de ruim que ele estava fazendo, sendo mal agradecido pela oportunidade. — Fala sério, como não pegaram ninguém ainda?

Sirius pareceu incomodado com o assunto enquanto mexia desanimadamente em seu mingau, ao lado de Peter, que também lia a mesma página que James, mas de outro jornal.

— Aqui diz que eles podem ser um grupo inspirado em Grindelwald. Como se fosse um plano de continuidade. — explicou Peter, mostrando a foto do analista político que escrevera o artigo.

— É, mas a mando de quem? — perguntou Charlie, servindo-se de mais café.

— O Profeta disse que é um tal de Lord das Trevas, mas não especificaram nada. Eu só sei que está morrendo tanto político que daqui a pouco vai ter tanta vaga no Ministério que o mundo bruxo não vai ter mais nenhuma outra profissão. — James fechou seu jornal e voltou para seu café. — Vocês viram a propaganda de uma vassoura alemã que...

Remus notou Sirius empurrar lentamente sua tigela para frente, coçando a nuca, pensativo. O garoto tinha a leve suspeita que talvez a família de Sirius tivesse envolvimento com aquela seita, o que era extremamente coerente. É um grupo sangue purista, e diversas famílias de sangue puro, como por exemplo, os Potter, foram a público deixar claro que não tinham nenhum envolvimento com aquilo e inclusive repugnavam aquele tipo de atitude em relação à minorias. Porém, famílias como os Black, Malfoy, Rosier e outras eram conhecidas pelo contrário.

O tom amargo que Sirius adquiria conforme o tempo parecia conversar com os acontecimentos. Remus queria que ele se sentisse a vontade para conversar sobre aquilo com os garotos:

— Eu já perguntei um milhão de vezes. — James bocejou, espreguiçando-se na Sala de Estudos, fechando alguns de seus livros em seguida, admirando apaixonadamente sua própria letra nos três rolos de pergaminho sendo que a Slughorn especificara que era um trabalho curto. — Ele fica irritado o suficiente para eu só tomar coragem de tentar novamente dois ou três meses depois.

Peter esticou-se para ver alguma coisa no trabalho pronto de James, que sorriu, recolhendo seu pergaminho bruscamente, mas logo em seguida dando a Peter o rascunho. Remus apoiou o queixo em uma das mãos, observando o local.

— Mas ele não precisa ter vergonha de nós. — pontuou Remus. — Nós sabemos que ele não é... Não é como os parentes.

— Ah sei lá, deixa ele. — James deu de ombros, guardando suas coisas em sua bolsa. — Acho que uma hora ele vai falar. Enfim, você acha que eu posso ganhar uma nota maior que Ranhoso nesse trabalho? Eu realmente me esforcei, eu encomendei um livro que só tinha na Itália com um artigo que Slughorn comen-

Remus deixou de ouvir James gradualmente, ainda envolto de pensamentos.

Naquele quarto ano, o professor de Defesa Contra as Artes das Trevas era estranho e detestava James o suficiente para tê-lo feito assinar um contrato de que ele só poderia abrir a boca em sua sala caso fosse solicitado e apenas após levantar a mão. E a pergunta tinha que ser relacionada apenas e unicamente com a matéria do dia. No começo foi engraçado, pois nenhum professor realmente se irritada com a curiosidade de James, mas depois tomou um tom estranho o suficiente para incomodar, já que James terminava a aula cheio de dúvidas e frustrado com as notas baixas.

Os garotos tentaram convencer James a denunciá-los, mas já era tarde demais: a desavença agora era pessoal.

James caiu de cabeça nos livros, estudando por conta própria e passando horas praticando no Clube dos Duelos, que naquele ano, fora assumido pelo novo professor no cargo de DCAT, e por calhar de ter também assumido a chefia da Casa da Sonserina, ele favorecia descaradamente mais tempo aos sonserinos na arena do que os outros alunos de outras Casas.

Professor Avery era alto, magro e tinha o queixo tão erguido que quando ele olhava para baixo, parecia estar de olhos fechados. Ele tinha uma barba bem feita abaixo de seu nariz pontudo e se vestia como um clássico bruxo aristocrata, de sangue puro. As poucas vezes que aparecia sem seu chapéu pontudo, era possível ver os fios grisalhos entre os negros, sempre bem penteados para trás.

— Relaxa, no fim do ano ele vai ser demitido. — disse Charlie, consolando James após o término da aula em que ele ganhou uma detenção por ter esquecido de seu contrato e aberto a boca sem levantar a mão. Remus conseguia sentir ódio enquanto Snape e seus amigos olhavam para trás, risonhos, felizes com a desgraça de James. — Esse cargo é amaldiçoado.

Quê? — Peter uniu as sobrancelhas, confuso.

— Por que você acha que todo ano temos um novo professor? — replicou Charlie, segurando os livros em seus braços, assim como todos os outros que saiam da sala. — É assim desde... Sei lá, desde sempre?

— Não é desde sempre, minha mãe disse que isso aconteceu pouco antes de Bella começar a estudar aqui. — explicou Sirius, enfeitiçando seus livros para que flutuassem atrás dele. — Ela sempre diz que esse lugar vai falir cedo ou tarde. Diz que minha geração vai ser a última a frequentar Hogwarts, o resto vai tratar de ser mandado para Durmstrang. Ela está bem louca, é claro, meus filhos vão estudar aqui nem que eu tenha que manda-la para Durmstrang.

— Você pode falar com seu pai, talvez ele possa conversar com Dumbledore. — opinou Remus, também frustrado com o tratamento que o amigo estava recebendo. Entretanto James apenas rolou os olhos, incomodado.

— Não posso acionar meu pai toda vez que algo ruim acontece comigo. — retrucou ele, irritado. — Se me irrito quando os Carrows usam o nome para conseguir as coisas, o que te faz pensar que vou fazer igual?

Remus apenas calou-se, sabendo que James estava irritado o suficiente para não ser simpático.

— Enfim, eu fiquei sabendo de algo que vai te alegrar, Potter. — sorriu Charlie, parando de repente no corredor movimentado, pomposo. James focou seus olhos no amigo, inexpressível. — Evans e Diggory romperam.

Os olhos castanhos de James cresceram em segundos, fazendo até com que sua postura desanimada se arrumasse. Ele perguntou um por que exasperado, colocando sua bolsa pesada no chão, passando as mãos no cabelo, arrumando o rosto e o uniforme.

— Bem, pelo que disseram, Evans acordou um belo dia e viu o quão pretensioso Diggory era. Ainda são amigos, se os boatos são verdadeiros.

Esse momento é meu! — sussurrou James, fechando a mão em vitória, olhando para o nada, animado e sorridente.

— É seu? E Jemima? — perguntou Peter.

— Olha, não tem como fazer um bom omelete, sem quebrar alguns ovos. — explicou ele, refazendo sua gravata. Após o silêncio dos amigos ao seu redor ele apenas deu de ombros e pegou sua bolsa no chão, colocando nas costas. — Foi uma relação de evolução!

— James, isso é errado! — cortou Remus, desacreditado.

— Pelo amor de Merlin, termine com ela hoje mesmo. E a faça ficar o mais longe possível de todos nós! — implorou Sirius. James virou-se para Peter, sorridente.

— Jemms... Eu tenho pensado e... Me sinto em um momento muito intimista de minha vida, muito conectado comigo mesmo. Todas essas coisas acontecendo no mundo bruxo, essa pressão sob minha família, esse maldito professor de DCAT... Eu preciso de um tempo para mim. Você compreende, certo? — Peter gaguejou algumas vezes, piscando, assentindo lentamente. James bateu as palmas uma vez, alegre e agarrou as bochechas de Pete, o beijando sua testa, saindo correndo em seguida, tropeçando em um primeiranista e quase caindo, recomeçando a correr.

Os dias se passaram e Lílian, mesmo solteira, continuava a ignorar James, que insistentemente tentava abordá-la de todas as formas. E o grupo, que pensava ter se livrado de uma figura feminina indesejada, acabara recebendo outra. E de brinde, uma pior ainda (segundo Peter). Era difícil ficar apenas com Emmeline, e os garotos gostavam muito dela, era difícil não gostar dela, mas Marlene sempre acabava aparecendo, cedo ou tarde, onde ela estava. Era difícil vê-las separadas, já que eram de Casas diferentes, sempre ficavam juntas quando possível.

O ínicio do que parecia ser um namoro com Remus, começou a deixar James e Marlene e estado de pânico.

— Você não pode namorar essa menina! — alertou James, em uma tarde livre de domingo após horas exaustivas de prática de Transfiguração. — Se você namorá-la, teremos que conviver com McKinnon mais do que já somos obrigados! Isso vai ser meu fim, Remus, meu fim!

— O que Emmeline tem a ver com isso? E olha, não estamos namorando... — esclareceu Remus, levantando-se para acompanhar os garotos ao suposto esconderijo que Charlie arranjou nas redondezas do Castelo. — Só foram alguns beijos e... — Remus ficou vermelho.

— Oh céus, não acredito que você ficou vermelho porque pegou na mão dela, porque debaixo das saias que não foi. — debochou Sirius, fazendo Peter rir.

— Me deixa em paz! — retrucou Remus, envergonhado, repreendendo o sorriso em seu rosto, dando um leve empurrão em Sirius enquanto eles desciam as escadas para a Sala Comunal. Encontraram a dita-cuja no sofá, com uma edição do Rei Arthur nas mãos, lendo distraidamente enquanto suas madeixas louras nadavam pelo sofá. Peter tomou a frente dos quatro, indo em direção da garota.

— Ei, esse quadrinho é meu! — o Pettigrew arrancou a revista da mão de Marlene, que sentou-se bruscamente no sofá.

— Calma, projeto de Pelúcio, eu ia devolver! — e chutou Peter, segurando-se para não cair do sofá.

— Oh Pete, faça uma caridade, dê seu quadrinho à McKinnon, mostre que você é melhor que ela... — ironizou James, cruzando os braços.

— O que são essas costeletas, Elvis? — gargalhou Marlene, apontando para James, que escondeu seu cabelo, magoado. A garota ergueu-se de supetão e Sirius ficou nervoso ao lado de Remus — Enfim, não deixe suas coisas espalhadas pela Sala Comunal, Pettigrew, ouvi falar que alguns Comensais estão se infiltrando em Hogwarts e... — Ela cruzou os braços, curvando-se um pouco para ficar do tamanho de Peter. — Você sabe que sempre matam o mais fracote primeiro, não?

Eu não sou fracote! — retrucou Peter, vermelho, enquanto Marlene arrastava os chinelos para fora da Sala Comunal. Então virou-se, rindo, fazendo volume ao redor da barriga com as mãos.

— Oh, claro que não, para quando são os gêmeos, querido? — riu mais um pouco e sumiu pelo buraco do quadro.

Ela é um monstro! — gemeu James, ainda cobrindo suas costeletas. — Ela é um monstro, eu a odeio, eu a odeio!

— Como você é amigo dela, Remus? — acusou Peter, enfiando sua revistinha no bolso da calça, irritado. Eles passaram pelo buraco do quadro e o Lupin preferiu não respondê-lo. Ele achava Marlene uma cópia de James, e ele também não sabia responder Lílian quando ela o questionava o porque dela andar com o Potter. Encontraram Charlie assim que pisaram no Saguão. Enquanto Smith detalhava o local à James, Remus lembrava de quando ficou sabendo de como os dois se conheceram, antes de Hogwarts, em um Acampamento de Verão Bruxo, onde eles aprendiam diversas coisas práticas dos trouxas e também como se virar sem uma varinha, mas utilizando-se de artefatos mágicos e outros.

Era engraçado com Charlie não tinha a menor paciência com James e nem o mesmo com Charlie, entretanto eles pareciam constantemente falar a mesma língua. Eles caminharam pelo jardim rumo a Torre Oeste enquanto Charlie entrava em um assunto que realmente interessava a Peter:

— Então eu expliquei que aquilo era puro suicídio social e ela aparentemente ficou irritada. — ele deu de ombros, com as mãos nos bolsos da calça. — Que drama, eh?

— Hum, o Coral é até que legalzinho. — opinou James, olhando para os lados.

— Você perdeu a noção do ridículo? — cortou Sirius. — O Coral é um contrato para você se manter virgem até os dezoito anos. Assim como o Clube de Xadrez... — e colocou seus olhos sob Remus.

— Mary fica bonita tocando o trombone. — disse Peter de repente. James tentou fortemente segurar o riso, virando o rosto enquanto Charlie parava, virando-se para Peter, que fazia-se de sonso.

— Pettigrew, o que você disse sobre minha ex?

Sua “ex”, — riu Sirius, fazendo aspas no ar. — que todo mundo pegava. Inclusive eu.

— Nós estávamos separados nas férias, ok? — Charlie apontou para Sirius.

— Eu só... Eu só acho que se você gostasse dela, não ia deixar um detalhe como esse... Passar e... — Peter estava falando baixinho, olhando para o nada, envergonhado.

Charlie cruzou os braços e fitou Peter por mais um tempo antes de voltar a caminhar, descrevendo o esconderijo. Em vez deles irem direto para a escadaria que levava ao Corujal, eles deram a volta nas rochas que se acumulavam até a construção da Torre, indo para as costas da escadaria, onde não tinha muito além de algumas árvores e o fim do lago. Os quatro olharam para os lados, curiosos enquanto Charlie acariciava a rocha maior, olhando para os amigos, animado.

— Eu estava prestes a tirar a calcinha de Kamile da Lufa Lufa, certo? Então ela se fez de sonsa, começou a dar umas desculpas esfarrapadas e saiu correndo. No auge da minha frustração, senhores, eu soquei essa rocha e eis que, observem!

Charlie deu sete leves soquinhos na rocha, quando ele ameaçou dar a quarta, ela simplesmente sumira, abrindo uma passagem. Os olhos dos quatro se iluminaram diante da descoberta. James fora o primeiro a correr em direção do buraco, empolgado, e os outros o seguiram. Remus cobriu a boca em choque com o local, parecia uma espécie de caverna, era difícil realmente ver tudo, pois apenas alguns raios de luz passavam pelas frestas das rochas acumuladas. O chão era um pouco úmido, mas era tão espaçoso que James estava prestes a chorar, provavelmente feliz por poder abandonar o banheiro da Murta-Que-Geme.

— E é a prova de som, pode acreditar, eu já testei! — sorriu Charlie.

— Você trouxa alguém aqui? — esganiçou Sirius.

— Claro que não, Black, eu não sou idiota. Eu já testei esse local de todas as formas possíveis, é simplesmente perfeito. — ele sentou-se em uma rocha, pomposo, pegando algo em seu casaco. James cruzou os braços, provavelmente pensando em como excluir Charlie de seus planos para o esconderijo.

— Perfeito para...? — questionou Remus.

— Noites boêmias, rapazes, ora! — ele acendeu seu cigarro. — Para que mais serve esse local?

— Ah sim, claro... —James forçou um riso, concordando, mas o olhar que deu para os três foi enfatizante o suficiente para saberem que teriam que dar um golpe em Charlie. Após o recesso, eles se reuniram naquele local algumas vezes, aproveitando-se do feitiço que Sirius aprendera no livro que roubara de sua mãe no Natal. Agora, eles conseguiam ver não só os passos de cada pessoa no castelo como o nome de alguma delas. No começo, eles colocaram apenas o nome dos professores, monitores e alguns sonserinos, mas aos poucos James acrescentou outros, como o de Lílian. “Só pra garantir”, explicou-se, envergonhado. Então veio o de Mary, e algumas outras meninas, e de Marlene. Por fim eles decidiram acrescentar o feitiço completo, que rastreava o nome de todos.

Com aquele poder em suas mãos, James , que passava a maior parte do tempo com o Mapa, começou a vigiar o professor Avery, acordando os amigos em uma madrugada de sexta, enlouquecido, dizendo que o professor estava andando pelo castelo com alguém cujo nome não aparecia.

Remus tinha certeza que era implicância de James, mas Sirius comprou a ideia e os dois se esconderam debaixo da Capa da Invisibilidade e foram vigiar o professor.

O garoto só viu os amigos na tarde do Sábado, em Hogsmeade.

— Onde vocês estavam? — questionou ele, abrindo um saco de doces com Peter. James e Sirius estavam de olhos arregalados, olhando para os lados desconfiados.

— Avery é o Lord das Trevas! — afirmou James, num sussurro. —É ele!

O Lupin não deu nenhum crédito ao amigo, mas aceitou ouvir a história: ele e Sirius seguiram o professor rumo a Floresta Negra, ele não estava sozinho, e sim falando com um espelho, e aquilo dava um bug no mapa, segundo Sirius. Ele estava relatando o que Dumbledore fizera na semana, que ele vasculhara uma sala no terceiro andar e desconfiava que o diretor havia mudado o objeto de lugar.

— E chegando a floresta, ele falou uma língua estranha... E então um unicórnio apareceu e... Ele matou o unicórnio! Eu vi, com meus próprios olhos! — gemeu James. — Eu quis intervir, mas Sirius me deu um soco aqui: — a apontou para um lugar estratégico em seu pescoço. — E eu nem conseguia me mover ou falar!

— É, meu pai fazia isso comigo o tempo inteiro. — explicou o Black.

— Enfim, nós temos que fazer algo! Temos que contar à Dumbledore agora!

Peter e Remus ficaram em silêncio, de olhos semicerrados, com James olhando para os lados, parecendo ter tomado altas quantidades de cafeína. Ele não julgava a história como mentira, até porque Sirius também estava lá. Entretanto, talvez o professor só estivesse recolhendo aquilo para uma poção, Remus não o achava tão ruim assim.

— Como você vai explicar a Dumbledore que seguiu um professor e o viu matar um unicórnio excluindo que você tem uma capa da invisibilidade, um mapa de Hogwarts e estava fora da cama fora do horário permitido? — indagou Peter.

James engoliu seco, fitando o nada.

— Ok, então eu mesmo vou resolver isso. — decidiu ele.

O que se seguiu foram meses intermináveis de James obcecado pelo professor de DCAT, perdendo noites de sono e até algumas aulas. Quando Remus voltou de seu “descanso devido a uma infecção alimentar”, soube que o professor estava preso e James em um coma induzido. Só fora achar seus amigos na Ala Hospitalar, onde Sirius lhe contou tudo: uma noite, ele acordou e James não estava em sua cama. Não tinha como saber onde ele estava, porque o mapa também estava com James. Então ele desceu até a Sala Comunal e desceu as escadarias na ponta dos pés para não acordar os fantasmas.

Quando ele achou James, ele estava enfiado quase debaixo de uma escada, desesperado, apontando a varinha para todos os cantos.

— Eu perguntei que porra ele estava fazendo ali, então ele disse que o professor o vira, que ele tinha achado o que ele estava procurando, que por acaso, era a espada de Godric Gryffindor. — Sirius fez pernas de índio na cama onde estava sentado. — Então eu perguntei onde estava sua capa, e James disse que ele espirrou sem querer e o professor conseguiu achar onde ele estava, mesmo com a capa. Ele pensou em atacar, mas ele preferiu se transfigurar. Então o professor o perdeu de vista e pegou a capa de James, sumindo.

— Então nós corremos em direção do Gabinete do professor Dumbledore, e quando chegamos lá, o professor Avery estava lá! James é tão idiota... — Sirius olhou o amigo na cama perto da janela, imóvel, dormindo tranquilamente. — Eu joguei um feitiço e me escondi, para não ser atacado, mas James não. Ele até que durou no duelo, mas então o professor jogou um feitiço tão forte que ele voou o corredor inteiro, batendo na parede com tudo. Eu pensei que ele tinha desmontado, sério... Tentei jogar alguns feitiços, mas a barulheira acordou os quadros, os fantasmas apareceram... O professor começou a voar pelo Castelo, tentando aparatar, que nem aquelas fotos que eles tiraram dos Comensais sobrevoando Londres... Então o professor Dumbledore apareceu e eles duelaram...

Remus começou a ficar com raiva enquanto escutava, não acreditando que as coisas históricas de Hogwarts sempre apareciam quando ele estava ausente. Quando achou que Marlene ter dado um chute no nariz de James fora o auge que ele poderia ter perdido de interessante, calha de James ter descoberto um Comensal da Morte.

— Enfim, James quebrou metade dos ossos, segundo Madame Pince, é melhor ele ficar desacordado enquanto ele passa pelo tratamento de reparo... — Sirius abriu mais um presente de James e comeu os chocolates, lendo a cartinha cor-de-rosa. — Agora estamos sem professor até o fim do ano. Que loucura, eh?

— Então o professor Avery era um Comensal esse tempo todo? — Remus deitou-se em uma das camas, desacreditado que estava tendo aula com um maluco. Devia ter desconfiado quando o mesmo passou três aulas explicando detalhadamente como se executava as Três Maldições Proibidas.

— É, agora faz sentido aqueles trabalhos extras de aulas que só são dadas em Durmstrang. — Peter também abria mais um presente de James, comendo os alcaçuzes, empurrando o amigo adormecido um pouco, para ter espaço para sentar.

— Dumbledore vai fazer uma cerimônia especial à James essa sexta! Ele virou um herói, até Evans veio visita-lo. — riu Sirius, amassando e jogando fora uma carta vermelha.

Um Comensal da Morte em Hogwarts parecia ter mudado o clima do Castelo terminantemente. Agora a escola parecia estar em perigo o suficiente para alguns alunos simplesmente se transferirem ou irem para casa mais cedo, temerosos. Pela primeira vez, Remus conheceu os pais de James e achou engraçado como ele não parecia com nenhum dos dois. Talvez apenas os olhos da mãe. O temor da guerra parecia finalmente ter penetrado pelas paredes do Castelo, preocupando até os nascidos trouxas, que até pouco sequer sabiam que estava acontecendo uma guerra.

Lílian ficou excepcionalmente preocupada, dizendo que aquele tipo de coisa já havia acontecido no mundo trouxa e nada garantia que esse tal Lord das Trevas não tinha também uma Auschwitz bruxa.

— Eu não acredito nisso. Eu sou judia, escapei de ter nascido na época do holocausto só pra passar por um holocausto bruxo! Fala sério! — ela girou os olhos, olhando o jardim cheio. — Enfim Remus, eu te vejo mais tarde, preciso escrever mais uma carta aos meus pais, eles estão desesperados agora que conseguiram assinar o Profeta Diário... Tchau.

— Tchau Lily... — despediu-se Remus, continuando sua caminhada pelo corredor.

Foi em direção de Emmeline, conversando algo com Marlene enquanto Sirius, Peter e Charlie ouviam, entretidos. Assim que se aproximara, ele notara as bochechas de Emms queimarem e involuntariamente as dele também pegaram fogo, assim como seu estomago, que parecia estar dando sovalacos. Ele não conseguia evitar, era só olhar o nariz pontudo e as madeixas comuns de Vance que ele já se derretia... Marlene girou os olhos, cuspindo seu chiclete para longe, balançando suas botas de exército.

— Enfim, se eu fosse o diretor, eu expulsaria todos os sonserinos. Vai saber se não foram eles quem colocaram aquele cara aqui? Dizem que ele foi uma recomendação excepcional do pai dos Carrow. — comentou ela.

— O que você está falando aí, caipira? — gritou Amycus Carrow, empurrando alguns de seus colegas para conseguir ver Marlene. Eles não tinham notado que havia um grupo de sonserinos bem ali, era difícil diferenciar todo mundo em roupas comuns.

— Que você é um racista idiota que nem toda a sua família e se dependesse de mim você ia estudar no inferno de tão forte o chute que eu ia dar na sua bunda. — replicou Marlene, erguendo-se. A gargalhada de Charlie destacou-se entre os risos animados de todos que assistiam.

Alecto riu, cruzando os braços. Ela estava ao lado de Snape, que apenas assistia, com alguns pergaminhos em sua mão.

— É uma pena que o professor Avery não tenha ficado tempo o suficiente para mostrar a Hogwarts o que é bruxaria de verdade e limpar esse lugar de ralé como você. — debochou a Carrow, com suas madeixas ruivas balançando um pouco com o vento forte da tarde de sábado.

Ralé? Minha família é trezentos anos mais antiga que a sua, testa de amolar adaga! — retrucou Marlene, ofendida.

— Oh, desculpe McKinnon, é que é fácil confundir você em meio... — Snape focou seus olhos em Emmeline, molhando os lábios rapidamente ao medi-la dos pés a cabeça. — sangue-ruins.

Remus congelou com a ofensa, como se ela tivesse sido direcionada a ele. Olhou Emmeline rapidamente, completamente inexpressiva, assustando-se em seguida ao ouvir o som do punho de Marlene quebrar o nariz de Snape. Assim que o garoto caiu no chão em um grito, segurando o nariz, ela o chutou no meio das pernas, causando dor em todos os meninos presentes.

— Se você se atrever à falar algo de Emmeline mais uma vez... — ameaçou ela, cuspindo em Snape. Em segundos alguns monitores apareceram e a confusão estava feita: Eles tentavam segurar Marlene, enlouquecida, tentando chutar Snape mais um pouco, que se rastejava, chorando com o nariz quebrado, enquanto seus amigos apontavam e gritavam, exigindo que pontos fossem tirados da Grifinória, que ela fosse punida. Charlie, Sirus e Peter foram tentar acudir Marlene, mas Emmeline ainda estava estática, assistindo a tudo.

Lene! — chamou Emmeline, com a voz trêmula, vendo a amiga ser arrastada pelos monitores.

— Está tudo bem, Emms... Eu já volto! — gritou ela, ainda tentando se soltar, sendo seguida pelo grupo de Snape e os meninos, protestando o destino de Lene.

Ela abaixou os olhos, esticando sua blusa, um pouco trêmula.

Remus não sabia o que dizer, então apenas sentou-se com Emmeline, que apertara seus joelhos, brincando um pouco com as manchas em sua jeans. Ela colocou algumas mechas de cabelo atrás da orelha e suspirou, semicerrando os olhos para o Pátio.

— O que é... O que é um sangue ruim? — ela olhou Remus. — Não é a primeira vez que me chamam disso, mas... Eu nunca entendi. Eu não sei o que é.

O garoto a olhou, sentindo-se terrivelmente mal. Não queria explicar para Emmeline que aquilo era uma ofensa gravíssima e ela não devia deixar ninguém chama-la daquilo. Passou a mão no rosto, respirando fundo, cruzando os braços em seguida, olhando seus próprios sapatos, tentando achar uma forma de explicar aquilo.

 — Essa ofensa é... É uma forma de denegrir pessoas que são nascidas trouxas. — ele olhou Emmeline. — É horrivelmente preconceituoso, não deixe ninguém te chamar disso...

Ela uniu as sobrancelhas.

— Meu sangue é diferente?

— Não, claro que não! — alarmou-se Remus, tocando seu ombro. — Por favor, não, todos nós temos a mesma quantidade de sangue “mágico”, olha, isso não tem nada a ver, por favor, não acredite em nada disso, é uma desculpa esfarrapada criada por um bando de racistas...

Emmeline abaixou a cabeça, segurando o banco e Remus apertou seu ombro, ainda se sentindo mal. Não queria que ela se sentisse inferior.

— Me sinto tão burra o tempo inteiro nesse lugar. — ela olhou Remus, com os olhos marejados. — Eu nunca vou conseguir aprender tudo, nem sei quando alguém está me ofendendo, quem dirá me defender!

O garoto acariciou suas costas, fazendo-a encostar sua cabeça em seu ombro, cobrindo o rosto. Ele nem tinha como consolar Emmeline, dizer que nada aconteceria com ela era utópico e mentiroso. Queria dizer a ela que eles estavam no mesmo barco, mas conteve-se, apertando sua mão, tentando lhe passar ao menos uma falsa sensação de conforto.

Pouco antes do último dia de aula, Remus pedir Emmeline oficialmente em namoro, mesmo ainda sem saber como contaria a ela seu segredo, se contaria... James, que finalmente tinha sido despertado de seu coma, o aconselhou ficar quieto e usar as desculpas esfarrapadas de sempre, aproveitando-se da “ignorância” dela com o mundo bruxo, mas ele não achava aquilo justo. Queria que ela soubesse sua mais profunda fraqueza, assim como ela confiou à ele as dela.

A apresentou para seus pais na estação e não conseguiu parar de sorrir enquanto seu pai o parabenizava na volta para casa, reforçando o quão bonita Emmeline era.

 

Nancy & Frank Sinatra - Something Stupid

 

Sorriu com a primeira imagem da manhã seguinte, com a coruja de Emmeline em sua janela com uma carta, impedindo a entrada do sol. Levantou-se, pagando a coruja com alguns petiscos, ainda sonolento quando se sentou em sua escrivaninha, abrindo a carta ansiosamente.

Sabia que era de Emmeline pela coruja, mas ela não escrevera uma carta. Dentro do envelope, só tinha um pedaço do que parecia ser um livro em que ela arrancara uma página. Pegou o pedaço rasgado no fundo da carta, abrindo-a:

“Posso dizer-lhe que a amo, Não, diga só que gosta de mim, Já o disse, Então guarde o resto para o dia em que for verdade, se esse dia chegar, Chegará, Não juremos sobre o futuro, esperemo-lo para ver se ele nos reconhece”.

Rele diversas vezes, extasiado.

Grudou na parede de frente para a escrivaninha e segurou o sorriso que queria dominar seu rosto...

Não conseguia parar de pensar que tinha uma namorada.

 

 

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Essa citação é de um livro do Saramago, por isso que não tem pontuação...

Espero que gostem.



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