O Segundo Antes do Sol Voltar escrita por Eponine


Capítulo 4
Capítulo 04




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Remus olhou ao redor mais uma vez, não tendo certeza se devia ter ficado para o Natal.

Entretanto, James parecia tão concentrado em seu pudim quanto Peter. Ele olhou rapidamente para o espaço vazio ao seu lado e suspirou, com toda certeza sentindo falta de Sirius, mas ele não podia ficar de jeito nenhum: sua prima mais velha, que deixava Remus inegavelmente nervoso e com a barriga dando loopings sempre que aparecia, apertou sua orelha forte o suficiente no último dia, o forçando a fazer as malas e voltar para casa.

O pouco que Remus soube sobre os Black naqueles meses perto de Sirius é que eles eram uma típica família aristocrática sangue purista da época, Remus os achou semelhantes as famílias do sul dos Estados Unidos nos anos trinta e quarenta, que renderam o clã que fora o Ku Klux Klan. Por algumas semanas, ele temeu Sirius também ser um racista, mas além de amigável, parecia mais preocupado em terminar suas lições do que perseguir mestiços e nascidos trouxas.

Era para eu estar na Sonserina, sabe. — explicou ele, dobrando suas roupas. — Eu sei que pode parecer, mas eu não pedi pra cair na Grifinória, minha cabeça estava limpinha para a decisão do chapéu.

Ele fechou a mala e sentou-se na cama, dando de ombros para Remus.

— Às vezes as coisas acontecem comigo de uma forma que eu posso jurar que é algum ser superior testando os limites dos meus familiares. — ergueu-se em um pulo e pegou a mala. — Bem, se essa for a última vez que serei visto em vida, foi bom te conhecer, Moony.

Remus franziu o cenho, sentindo seu coração dar um salto.

Moony? — gaguejou, parando de enrolar a bainha de seu suéter. Sirius segurou a porta, dando-lhe um sorrisinho sonso.

— É por você ser desligado... Alguém já te contou o quão aluado você é? — e fechou a porta, o deixando sozinho. Remus olhou a cicatriz em sua mão, parecendo sentir o peso do silêncio ao seu redor.

Todo mês ele pegava uma doença diferente. Terminou as respiratórias, naquele mês ele pegaria alguma infecção no estomago, depois no fígado, algo no pâncreas, depois o intestino, e talvez seus ossos lhe rendessem dois ou três meses de mentira. Quando sumira em Outubro, James realmente ficou preocupado e ofereceu até mesmo os serviços médicos de sua família:

— Meu tio é o medibruxo mais renomado de Londres, uma vez ele atendeu o Ministro em pessoa. E desde então, só ele cuida da família do Ministro. Pode acreditar. — mas Remus riu, sem graça, dizendo que não havia cura para seu sistema imunológico fraco. Ele teve que criar uma memória de ferro para cada mentira que dissera, temendo se enrolar em alguma delas em algum momento, James estava sempre trazendo o assunto a tona, perguntando, procurando detalhes, e a forma como ele olhava para Remus lhe dava a certeza que ele ia desconfiar de que tinha algo errado a qualquer segundo, quase matando Remus de ansiedade.

Madame Pomfrey diz que se ele descobrir, ele também pode esquecer, caso seja essa a preocupação de Remus. O garoto continua fitando o teto cumprido da Ala Hospitalar sentindo-se pior ainda: para ter amigos, teria que interferir na memória deles também? Aquilo era terrivelmente egoísta! E doentio! Não podia deixar ninguém descobrir nunca, se não além deles terem as memórias apagadas, Remus teria mais um peso nas costas para carregar.

Ele sentia-se tão mal o tempo inteiro que estava considerando a possibilidade de fingir algum drama e afastá-los para sempre, assim sentiria menos pressão. Entretanto, quando ele se vê no dormitório, gargalhando de algo que Peter dissera apenas para deixar James mal humorado, e a forma como Sirius ri da provocação, ajudando o Pettigrew, ele sente a onda de egoísmo dominá-lo por completo: ele não pode abrir mão dos primeiros amigos que teve em toda sua vida.

— É tão chato aqui sem todos os alunos, eu devia ter ido para casa. — reclamou James, largando sua colher. — Sem ofensa, meninos.

— Eu também queria ter ido... Digo, nunca fiquei tanto tempo sem meus pais. — confessou Remus, um pouco arrependido.

James colocou as mãos na nuca, olhando o Salão ao redor, entediado. Acabou focando seus olhos em alguém ao longe, sorrindo lentamente.

— Por favor, não. — disse Remus, sem sequer precisar olhar para ver.

—Ah, fala sério, é Natal! — sorriu James. — Me deixe ter um pouco de magia!

Ele pulou do banco e saiu andando, enquanto Peter dava um olhar aprofundado para Remus antes de se levantar e seguir James. Estar naquele grupo trouxe a Lupin algumas experiências não muito boas: Sirius e James são um imã natural para qualquer coisa que renda no mínimo uma detenção ou um risco de morte. Em três meses, Remus conseguiu cumprir duas detenções por ser pego fora da cama em fora do horário, sendo que uma delas fora extremamente constrangedora já que os quatro estavam correndo pelos corredores, desesperados e trêmulos de medo, correndo de algo que eles julgavam ter dois metros de altura, mas que no fim era apenas a gata de Filch furiosa e determinada a mata-los.

E a quase morte fora uma experiência de James em querer saber se a Lula Gigante era ou não real, propondo que os quatros deviam entrar no Lago e tirar aquela história a limpo de uma vez por todas.

Depois que essas coisas aconteciam, Remus se perguntava como aquilo aconteceu se soa tão burro, mas a culpa está na excelente oratória de James Potter, capaz de convencer até mesmo Dumbledore que tirar a limpo a história da Lula Gigante é sim algo relevante para Hogwarts.

Ele tinha necessidade em intrometer-se em absolutamente tudo, como se TUDO fosse sobre ele, ou pelo menos fosse para ele resolver, como se os exercícios não fossem o suficiente, muito menos seus próprios problemas. Remus achava aquilo curioso no começo, mas chega um momento em que a hiperatividade de James deixa de ser algo divertido e passa a ser algo degradante. Apenas depois de um acontecimento Remus notava que fora manipulado facilmente por James em poucas sentenças bem elaboradas e um bom sorriso de peito estufado, sempre pronto para uma nova. Às vezes, nas aulas de História da Magia, enquanto o professor se delicia com a leitura clara e ritimada de James em alguma passagem do livro, Remus o observa, assim como a classe inteira, e então o encanto se quebra ao término da leitura, e ele sente que fora enfeitiçado, assim como todos os outros.

Ele não se surpreenderia se James desse um golpe de estado sutil no Ministério futuramente.

— Feliz Natal, feioso. — Snape, o nome do garoto era Severus Snape e Remus teve que prestar atenção pela chamada, já que nem James sabia mais qual era o nome do tal Ranhoso. A existência de Severus Snape causava constrangimento e muito dor de cabeça à Remus. O garoto podia até segurar o riso no momento, mas no silêncio da noite, a consciência aperta o ombro de Remus de forma cruel. No começo, o garoto ficava assustado com a agressividade de James e agradecia aos céus quando Snape retrucava algum xingamento ou algum feitiço, assim fazia as coisas parecerem mais justas.

Ele chegou a perguntar à James uma vez o porquê daquilo:

— Sei lá, foi ele que começou. — explicou, ainda concentrado em suas lições. — E sejamos sinceros, não é muito fácil gostar de alguém que parece o resultado de um cruzamento entre um corvo e um humano.

Remus ignorou o riso de Sirius e James notou a expressão do amigo, tirando os óculos e dando de ombros para Remus, o olhando em tom de desafio e deboche, cruzando as mãos sob a mesa do Grande Salão.

— Olha, isso é entre Snape e eu, você não precisa fazer parte.

— Não é essa a questão. — disse Peter, ao lado de James.  O Potter demorou algumas semanas para aceitar como relevante a respiração do Pettigrew perto dele. Por algum motivo, ele não gostava muito de Peter, pois, segundo o que Remus supunha, achava que o garoto não tinha muito o que oferecer à ele. Ele só esboçou um sorriso para Peter um mês depois de convivência, quando o garoto afanou do professor de DCAT um guia de como inventar feitiços. — Assistir você fazer meio que é ser conivente.

James recolocou os óculos, sério, suspirando antes de olhar Peter.

— Acho que todos aqui estão esquecendo que Snape não é nenhum santo. Ele também me ataca.

— Na verdade ele retruca... — murmurou Sirius, ainda escrevendo, não muito preocupado em participar da discussão.

É sério? — esganiçou James. — Eu sou o vilão aqui? Eu comentei sobre que casa eu queria cair e ele debochou de mim, foi ele quem começou!

A discussão foi além, mas resumidamente James não deu o braço a torcer e todos ficaram cansados demais de tentar. Remus aprendeu a conviver com o incomodo que era Snape e também saboreou adquirir a habilidade de Sirius: fingir que nada estava acontecendo e seja o que Merlin quiser.

E mesmo que ele quisesse concertar aquilo, o estrago já estava feito. Snape olhava para os três como se fossem mini-James que ele também tinha que combater.

— Sai daqui! — expulsou a garota ruiva sentada com Severus, Lílian. James uniu as sobrancelhas, semicerrando os olhos para ela, surpreso.

Quem é você? — indagou ele. Remus ainda se surpreendia com a habilidade do amigo em esquecer qualquer rosto que não fosse relevante para ele. Lílian arregalou os olhos, novamente ofendida com a memória curta de James.

— Alguém mais digno que você. — retrucou Snape, frio. Ele ergueu as sobrancelhas fingindo surpresa, extremamente sarcástico — Perdão, me esqueci que pode ser qualquer um.

James cruzou os braços.

— Que bom que ficou para o Natal, Snape, pelo menos nessa ceia você vai ter o que comer.

Lílian levantou-se bruscamente e empurrou James, assustando todo mundo, principalmente o garoto.

— Cala a sua boca se não eu mesma vou calar e eu aposto que você não conhece o jeito nascido trouxa de resolver as coisas. — ameaçou Lílian, extremamente irritada. Severus também se levantou abruptamente, tocando o braço da amiga, assustado. Alguns alunos olhavam e sussurravam, os professores pareciam ter notado a movimentação e James ainda estava estático com o acontecido, tocando o local em que fora empurrado. Ele molhou os lábios, tentando recompor-se.

— Eu não...

Poupe-se. — cortou Severus, dando um olhar enojado a James. Severus e Lílian viraram-se para sair do Salão e James sentou no local onde Snape estava sentado, parecendo confuso.

— Cara, você não devia ter dito aquilo. — disse Peter, receoso.

— Por que? — questionou James. — Eu vi que ofendi, mas... O que? Ele é...? Ele é bolsista? Eu não estou entendendo.

— Snape tem inicio de anorexia, eu ouvi Lily comentar uma vez com Mary.  — contou Peter, ainda de pé.

— Quem é Lily? Quem é Mary? — indagou James, confuso.

— Ele tem o que? — perguntou Remus, chocado, por mais que não soubesse muito bem que problema era aquele. Peter rolou os olhos, colocando as mãos no bolso.

— Olha, pelo que eu sei, Ranhoso não é muito dos afortunados porque o pai dele, segundo Lily, é doido de pedra. A família dele é toda problemática, ele tem vários problemas de saúde, então por isso eles se ofenderam quando você disse aquilo. E bem, mesmo que esses problemas não existissem, aquilo que você disse foi ofensivo de qualquer forma.

James suspirou fortemente e tirou os óculos, apertando a ponte do nariz. Levantou-se, suspirando mais uma vez e então deu de ombros.

— Vou ter que pedir desculpas praquele traste. — disse ele, decepcionado.

...

Que porra aconteceu com seu olho? — riu Sirius assim que largou as malas na Sala Comunal.

James sorriu para o amigo, abaixando o jornal, amostrando seu olho roxo.

— Bem, Ranhoso aprendeu uma bela de uma maldição nesse recesso. — explicou levantando-se do sofá para abraça-lo. — Fui pedir desculpar por uma indelicadeza e ganhei esse presente.

— Desculpas? — Sirius uniu as sobrancelhas.

— Longa história, mas a melhor parte é que eu consegui dramatizar tão bem que fiquei um dia na Ala Hospitalar e ele recebeu uma bela detenção de uma semana. — James deu um sorriso orgulhoso, como se estivesse contando à mãe uma boa nota que recebeu em uma matéria complexa. Remus girou os olhos, sorrindo ao receber um abraço de Sirius, que sentou ao lado de Peter após abraça-lo. — Como foi seu Natal?

O garoto suspirou, segurando um sorriso.

— Digamos que minha mãe teve a cara de pau de colocar Verissaterum no meu café da manhã para garantir que eu não tinha sabotado a família pedindo para cair na Grifinória... — James gargalhou. — De resto, dias comuns na Mui Antiga e Fodida Casa dos Black.

— E ainda tem gente que tem a coragem de dizer que os bolsistas são os mal educados. — Sirius uniu as sobrancelhas e virou-se lentamente para a garota loura sentada na mesa atrás do sofá, com os pés em cima da mesa, lendo uma revista de Quadribol. Marlene McKinnon olhou para Sirius, séria, e voltou para sua leitura.

Sirius apenas virou-se para frente, a ignorando. Ele olhou para Remus e sorriu:

— E você, Moony? Como está de saúde?

Ele forçou um sorriso, sabendo que já estava dando os sinais de fraqueza que sempre o rondaram quando a Lua Cheia se aproximava. As pessoas começavam a olhá-lo estranho, “você está bem?” se tornava algo além de supérfluo, só para iniciar uma conversa, e James começava a ficar mais desconfiado, analítico...

No último mês de aula, Professor Dumbledore encontrou Remus sozinho em um dos corredores, observando os primeiranistas no jardim, jogando snap explosivo animadamente, com James irritando algumas pessoas por conta da competitividade, mas sua grande maioria o adorava, rindo de suas artimanhas para vencer Sirius. Em momentos como aquele, era como se Remus olhasse para todos através de uma película, o separando da normalidade. Ele poderia ir até lá e juntar-se a eles, mas nenhum daqueles garotos e garotas se transformariam em algo vil quando lua cheia tomasse o céu em determinado período do mês.

Era uma mão fria apertando seu ombro e ele podia se ver pequeno e pesado, assistindo...

— Madame Pomfrey contou-me sobre suas preocupações. — começou o Professor, constrangendo Remus sentando-se ao seu lado, também observando o jogo. Ele apertou as mãos, trêmulo.

— Eu... Eu não tive a intenção de preocupa-lo, senhor.

— Não estou preocupado, senhor Lupin. — Remus atreveu-se olhar os olhos azuis seguindo o snap pelo ar, deixando seus rastros. O garoto sofreu ao tentar manter seu olhar firme quando o diretor o olhou, por mais dócil e confiante que fosse seu olhar. — E creio que o senhor também não deva se preocupar.

— Senhor, eu... — Remus olhou para Peter ao longe e molhou os lábios, sentindo vontade de chorar. — Se eles descobrirem...

— Eles não vão descobrir. Já ouviu falar da Casa dos Gritos? — acalmou Dumbledore, aprofundando seu olhar, lhe cedendo um sorriso. Remus riu baixinho, envergonhado. — E caso descubram, o que o senhor tanto teme?

Remus olhou James rebater o snap e o olhar voraz em seus olhos. Calculista. O garoto piscou algumas vezes e voltou a olhar Dumbledore, confuso e temeroso.

— Eles descobrirem pode... Colocar Hogwarts em risco, até mesmo o seu cargo, senhor...

Dumbledore sorriu lentamente, ainda observando o jogo, e então olhou Remus, assentindo lentamente.

— Claro, claro... — concordou, mas Remus sabia que ele não tinha concordado em nada. — Bem, creio que nos vemos no último jantar. Espero que tenha tido um bom ano, senhor Lupin.

 

Cat Power - Werewolf

 

Ele assistiu o professor encaminhar-se para fora do corredor e voltou a observar seus amigos. James ficaria enojado e Sirius endureceria os olhos para Remus, sendo o primeiro a recolher a mão, conclusivo, sendo que ele fora o primeiro a estender. Peter sentiria-se traído e tudo que Remus poderia fazer era sair do Castelo, provavelmente também perdendo seu anonimato: o mundo inteiro saberia de sua condição miserável e o exílio seria a única solução. Remus nunca sentia dor ao pensar naquelas coisas, aceitar aquilo era como preparar-se para o pior.

Imaginar o bom soava utópico demais.

A despedida na Estação, Remus considerou a última, caso eles descobrissem algo de alguma forma durante as férias. Finalmente viu os rostos são comentados e sorriu com a delicadeza da avó de Peter, realmente parecendo alguém que lhe força comer frutas no café da manhã. A mãe de James, o mimando excessivamente, cuidadosa. O quão ocupado e ao mesmo tempo amoroso o pai do mesmo parecia ser. Já os pais de Sirius ele não pôde ver, já que quem fora busca-lo na estação foram os tios, que o deixaram para trás resmungando e brigando com as primas que jogaram as bolsas em cima dele.

Por favor, volte em cada recesso. — implorou sua mãe, o abraçando tão forte que ele ficara até mesmo sem ar. Remus parecia ter respirado tranquilamente pela primeira vez em um ano ao sentir o cheiro doce e confortável da mãe. Olhou para cima para sorrir para seu pai, que o olhava orgulhoso, segurando sua mala.

Não precisava mais esconder quem era.

 

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem...

Beijos!



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