Moonlit Bear escrita por Arisusagi


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Oi gente!
Alice escreveu mais uma fanfic do anime de bike, para a surpresa de ninguém. Risos. A surpresa fica no tamanho do bagulho pq oLHA
PRIMEIRAMENTE queria agradecer às lindas da Nat e da Kizie que me ajudaram mUITÃO nessa bagaça. Vocês são maravilhosas e eu amo vocês ♥.
Enfim, eu tava escrevendo outra coisa com TadoMaki, mas mudei de última hora porque não tava gostando do que eu escrevi e resolvi botar essa ideia que tava guardada aqui comigo desde 2014, até porque, ela é um universo alternativo e vai dar pra mais gente ler.
Eenfim, eu tinha mais algumas coisas pra falar, mas não lembro e o tempo tá curto, depois edito essas notas se lembrar kkk.
Observação importante: quem não conhece o anime deve ficar meio perdido em umas partes, não sei, vou explicar aqui os pontos que coloquei na história: A família de Toudou tem mesmo uma pousada (ryokan), com fontes termais e tal. Makishima estuda moda na Inglaterra junto com o irmão. A família de Tadokoro tem mesmo uma padaria, e a imagem dele é sempre associada a ursos.
Acho que é só isso, qualquer dúvida é só perguntar que eu respondo kk.
Boa leitura o/



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Makishima sabia que era uma má ideia ir até a pousada de Toudou a pé.

Ele estava de passagem na cidadezinha, e resolveu atravessar a floresta sozinho para ir até a casa do amigo ao invés de pegar um ônibus. Afinal, se Toudou fazia isso praticamente todos os dias, não deveria ser tão difícil.

E, de fato, não levava mais do que vinte minutos para atravessar aquela floresta - mas era necessário saber o caminho, coisa que Makishima não sabia. Toudou tinha até se oferecido para ir buscá-lo, mas Makishima garantiu que conseguiria chegar sozinho. Afinal, depois de um dia estressante, qualquer coisa era melhor do que aguentar Toudou falando sem parar, não é mesmo?

Mesmo que continuasse indo em frente, a impressão era de que as árvores eram todas iguais. Depois de quase duas horas, ele finalmente percebeu que estava andando em círculos. O sol estava se pondo, e o resto da bateria de seu celular havia se esgotado enquanto o aparelho procurava por sinal. Isso sem falar na fome que apareceu depois de ele passar praticamente um dia inteiro sem fazer uma refeição decente.

Makishima não fazia ideia de que tipo de bicho se escondia entre aquelas árvores, mas ele tinha a sensação de que não era uma boa ideia passar a noite ali. Temendo o pior, ele gastou o resto de sua energia caminhando, na vaga esperança de encontrar a pousada de Toudou. Se já era difícil desviar das árvores enquanto estava claro, no escuro era pior ainda - sem mencionar o fato de que havia o risco de ele tropeçar em algo e se machucar.

Makishima estava quase desistindo quando ouviu alguns galhos quebrando. Ele parou por um instante, e escutou a respiração ofegante do que parecia ser um animal bem grande - e que, pelo jeito, estava muito perto dali. Foi aí que ele se lembrou da vez em que Toudou disse alguma coisa sobre ursos vivendo naquela floresta.

Seu sangue gelou e ele correu o mais rápido que pôde. Aquela, com certeza, não era a decisão mais inteligente a se tomar, mas Makishima não conseguiu pensar em nenhuma outra alternativa viável. Quanto mais ele corria, mais sua cabeça doía, e ele sentiu que estava prestes a desmaiar. Não dava para saber se o bicho ainda estava atrás dele, e parar para descobrir também não era uma boa opção.

Makishima sabia que não encontraria a pousada de Toudou antes do amanhecer, mas no momento ele só precisava de algum lugar para passar a noite a salvo. Em certo momento, Makishima pensou ter visto uma luz bem fraca em meio às árvores. Porém, antes que pudesse ter certeza de qualquer coisa, ele tropeçou e foi para o chão.

Pelo menos parece que aquele animal grande não está por perto, Makishima pensou antes de desmaiar.

ʕ •ᴥ•ʔ

Makishima acordou com a vaga lembrança de ter visto um céu estrelado. Teria sido aquilo um sonho? Bem, sua cabeça estava doendo demais para pensar nisso. Para a sua surpresa, ele não estava no chão da floresta, mas sim deitado em um sofá.

Ele se sentou bruscamente, mas se arrependeu de imediato ao sentir uma dor pulsante atrás dos olhos.

“Ei, ei, calma aí.” Um homem se aproximou do sofá enquanto secava as mãos no avental que vestia.

“O quê…?” Makishima resmungou enquanto massageava as têmporas com os dedos, na tentativa de aliviar a forte dor que sentia.

“Eu te achei na floresta ontem à noite. Você estava desmaiado. Está tudo bem?” O tom preocupado de sua voz fez Makishima se sentir terrivelmente envergonhado. Ele odiava preocupar os outros daquele jeito.

“Ah, sim. Eu acho.”

“Está com fome? Eu acabei de preparar o café da manhã.” Makishima estava prestes a recusar o convite quando o homem o interrompeu. “Você precisa comer alguma coisa.”

“...Ok.” Por mais que não quisesse comer, Makishima sabia que não seria bom para o seu corpo passar tanto tempo em jejum.

Ele se levantou com certa dificuldade, principalmente porque seu tornozelo esquerdo estava doendo um pouco, e acompanhou o homem até uma mesa não muito grande posta para duas pessoas. Makishima se sentou em uma das cadeiras, sentindo-se levemente intimidado pela quantidade absurda de comida apresentada a ele.

“Pode comer à vontade.” O homem tirou o avental e se sentou de frente para ele.

Makishima pegou uma maçã que estava na fruteira e a comeu enquanto observava seu anfitrião. Ele era enorme, tinha os braços grossos cobertos de pelos escuros e uma barba bem cheia e não muito comprida. Enquanto Makishima mal havia comido metade da maçã, ele já havia devorado três pães inteiros. Era meio assustador vê-lo engolir tanta comida em tão pouco tempo.

“O que foi?” Ele perguntou assim que percebeu que Makishima o encarava.

“Ah… É que…” Makishima desviou o olhar para a maçã em suas mãos. “Eu não sei seu nome.”

“Tadokoro Jin.” Ele passou a mão pela barba para tirar os farelos de pão que estavam ali. “E você é…?”

“Makishima Yuusuke.”

E aí os dois ficaram em um silêncio desconfortável, pelo menos para Makishima, enquanto comiam.

“Então, Makishima, “ Tadokoro disse depois de um tempo. “Você não é daqui, é?

“Não. Sou de Chiba.” Ele respondeu enquanto enchia um copo com a água de um jarro.

“O que estava fazendo por aqui?”

“Eu estava indo para a Toudou-An, mas acabei me perdendo.” Ele olhou para o próprio colo e coçou a pinta que ficava logo abaixo de seu olho esquerdo, sentindo-se um pouco envergonhado.

“Toudou-An? Fica perto daqui, posso te levar até lá.”

Makishima já estava pensando em como faria para chegar até a pousada. Ligar para Toudou era uma opção, mas ele não sabia se era pior aturar os chiliques dele pelo telefone ou pessoalmente.

“Eu agradeço.” Ele deu uma última mordida na maçã e deixou o miolo no canto do prato.

“Só vai comer isso?” Tadokoro perguntou ao vê-lo se levantar. “Você desmaiou de fome, não foi? Come mais alguma coisa, eu insisto.”

“Isso já é mais do que suficiente, obrigado.” Ele respondeu de forma ríspida e se levantou.

Alimentação era um assunto bem delicado para Makishima, e ele odiava que o pressionassem a comer. Ele estava um pouco arrependido de ter sido tão rude com alguém que o ajudou, no entanto.

“Está com pressa?” Tadokoro também se levantou. “Eu posso embalar alguns pães para você comer mais tarde, se quiser.

“Não precisa se incomodar…”

Tadokoro pegou o cesto de pães da mesa e desapareceu atrás da porta do que parecia ser a cozinha, como se não tivesse ouvido. Makishima simplesmente permaneceu calado onde estava, e observando os detalhes daquela casa.

Era uma cabana de madeira meio pequena, com a mesa redonda encostada na parede bem ao lado do sofá de dois lugares, que ficava de frente para uma lareira imunda. Além da que devia ser da cozinha, havia outras duas portas, provavelmente de quartos ou de um banheiro.

O que aquele homem fazia morando sozinho no meio de uma floresta?

“Aqui, prontinho.” Tadokoro voltou da cozinha com um saco de papel nas mãos.

“Obrigado.” Makishima respondeu timidamente, colocando uma mecha verde atrás da orelha enquanto pegava o pacote.

“Já quer ir?” Ele perguntou, e Makishima balançou a cabeça positivamente. Conhecendo Toudou, ele já deveria estar prestes a chamar a polícia, então era melhor ir logo.

Os dois foram até a porta, e Makishima só percebeu que estava descalço quando viu suas botas perto do degrau.

“Ah, eu tirei e limpei um pouco o barro, perdão.” Tadokoro constatou ao ver para onde ele olhava.

“Sem problemas.” Makishima enfiou os pés nos calçados cuidadosamente, por causa do pé dolorido, enquanto Tadokoro destrancava a porta.

A frente da casa era, surpreendentemente, muito arrumada. Arbustos muito bem podados rodeavam a casa junto a uma cerquinha torta de madeira, que se estendia um pouco mais próximo a uma hortinha.

“Vamos?” Tadokoro chamou, e só então Makishima percebeu que havia se distraído pensando em como seria ver um homem enorme como ele cuidando de plantinhas tão delicadas.

A floresta parecia tão mais amigável a aquela hora da manhã, com o sol ainda fraco e os passarinhos cantando. Os dois andavam lado a lado, calados, Makishima segurando o pacote de pães junto ao peito e Tadokoro com as mãos nos bolsos da calça. Era agradável, de certa forma, caminhar em silêncio daquele jeito.

“Vai se hospedar na Toudou-an?” Tadokoro disse de repente. “Soube que as termas de lá são ótimas.”

“Não é bem isso.” Makishima olhou para o chão e coçou a pinta debaixo do olho. “Eu vou visitar um amigo. A família dele é dona do lugar.”

“Ah sim, entendi.”

E essa foi a única vez em que eles falaram em todo o trajeto até a pousada, que durou quase quinze minutos.

A entrada do estabelecimento estava deserta, como esperado de dias de semana como aquele. Dava para ouvir o som distante de conversas e da água correndo vindo de lá dentro.

“Muito obrigado pela ajuda e pela hospitalidade.” Makishima murmurou, curvando-se brevemente para Tadokoro.

“Tudo bem. Pode aparecer lá em casa se você se perder de novo.” Tadokoro soltou uma risada sem graça enquanto coçava a nuca. “Ou se você quiser, mesmo…”

Makishima sentiu o rosto esquentar. Ele queria vê-lo mais vezes? Era isso?

“Bem, obrigado.” Ele se curvou mais uma vez e passou pelos portões da pousada apressadamente, e atravessou o jardim da entrada da mesma forma.

Interação social era algo muito difícil para Makishima, e ele queria muito saber reagir apropriadamente a situações como aquelas. Tadokoro estava flertando? Ele não fazia ideia! Diferenciar um mero gesto de simpatia de uma insinuação talvez até maliciosa era tão complicado que sua cabeça estava latejando. Bem, isso também era por causa da fome.

“Maki-chan!” Ele estava tão imerso em seus pensamentos que só percebeu que já estava na recepção da pousada quando Toudou se atirou sobre ele.

“E-Ei!” Makishima ergueu os braços para evitar que os pães ficassem amassados entre os dois, enquanto Toudou abraçava seu pescoço e falava sem parar.

“Maki-chan! O que aconteceu?! Você disse que vinha ontem à tarde, mas só me aparece agora! Tem noção de quantas vezes eu te liguei?! Sabia que eu quase chamei a polícia?!” Isso Makishima sabia, com certeza. ”Eu fiquei aqui, atrás desse balcão, até às 3 da manhã te esperando! Achei que você tinha morrido!”

“Calma, Toudou, eu estou bem.” Depois de repetir essa frase pelo menos dez vezes, Makishima conseguiu fazer com que ele o soltasse.

“É, agora eu vi que você está bem, mas eu não sabia o que tinha acontecido, você não atendia o celular!” Toudou resmungou enquanto esfregava os olhos com as costas mão. Ele estava chorando? Sério? “Você podia ter sido comido por um urso e eu não teria como saber!”

“Na verdade foi um urso que me salvou…” Makishima falou bem baixinho, só para si mesmo.

“Hein?”

“Ah, não foi nada.”

ʕ •ᴥ•ʔ

A visita que deveria durar apenas uma tarde acabou se estendendo por dois dias por insistência de Toudou. Makishima já imaginava que isso fosse acontecer, então não reclamou, apenas enviou uma mensagem de texto para sua irmã - que provavelmente nem havia notado sua ausência - e para seu irmão avisando que ficaria uns dias fora.

A maioria das visitas que Makishima fazia à pousada corriam da mesma forma: Toudou falava sem parar sobre qualquer coisa enquanto ele simplesmente escutava, fazendo um comentário ou outro, dependendo do assunto. Hoje, Toudou estava muito empenhado em falar mal do novo namorado de sua irmã que, segundo ele, não merecia alguém de um nível tão alto como ela.

“Maki-chan, ele cuspiu no jardim. Que tipo de pessoa cospe assim na casa dos outros?” Já era a terceira ou quarta vez que ele falava aquilo e Makishima estava começando a se arrepender de ter aceitado ficar lá por mais tempo. “Ei, você tá me ouvindo?!”

“Estou.” Na verdade, ele já tinha parado de prestar atenção há um tempo. Pensar no moço que o ajudou na floresta era muito mais interessante do que aquela conversa, de qualquer forma.

Será que eles se veriam de novo? Makishima queria muito que isso acontecesse, mas a ideia de aparecer assim, sem mais nem menos, na casa de uma pessoa que ele mal conhecia lhe parecia muito incômoda.

“Já sei o que podemos fazer essa tarde!” Toudou disse de repente. “Eu vou te ensinar como ir daqui até a cidade passando pela floresta!”

“Por quê?” Sinceramente, Makishima não estava lá com muita vontade de andar no meio daquelas árvores, mas pensar que havia a chance de eles passarem pela cabana de Tadokoro no caminho o deixou mais animado.

“Ora, você se perdeu, não foi? Se eu te mostrar o caminho, isso não vai acontecer de novo!” Toudou se levantou do sofá em que estavam sentados. “Eu vou trocar de roupa, já volto.”

Makishima suspirou, ainda sem saber se seria bom ou ruim reencontrar Tadokoro. Bem, como já dizia Toudou, ele tinha que sair da sua zona de conforto às vezes.

ʕ •ᴥ•ʔ

    Cinco minutos já foram mais do que suficientes para Makishima perceber que andar pela floresta não era uma experiência tão pacífica e agradável quando se estava com Toudou. Ele falava sem parar, como sempre, mas dessa vez, ele estava tentando mostrar para Makishima como cada árvore tinha suas características únicas, e insistindo que ele usaria isso como guia para não se perder.

    “Olha só, Maki-chan, essa aqui tem um corte no tronco, tá vendo? Eu sei que estou perto de casa quando passo por ela.” Já era a quarta árvore com um corte no tronco que eles viram na tarde, e Makishima não conseguia ver absolutamente diferença nenhuma entre elas. “Ah, sim, e ali na frente fica a cabana!”

    Makishima sentiu uma coisa muito estranha dentro de sua barriga. É óbvio que ele havia contado para Toudou sobre o homem que o encontrou desmaiado na floresta, mas ele não tinha dado todos os detalhes.

    “É lá que o moço que te salvou mora, não é? Sempre quis saber quem morava aí, vamos lá cumprimentar ele, Maki-chan!” Toudou segurou pelo pulso e disparou em direção à cabana. “Eu quero agradecê-lo por ter salvado sua vida”

    “Ei, Toudou, espera!” Makishima ainda não estava preparado para aparecer assim de repente na casa de Tadokoro.

    Tadokoro estava do lado de fora da casa, trancando a porta, no momento em que os dois chegaram, e Makishima não sabia dizer se estava feliz ou triste por isso.

    Toudou o arrastou até o portão, e parou ali para ajeitar sua tiara.

    Tadokoro olhou por cima do ombro enquanto guardava a chave no bolso e abriu um sorriso quando viu que Makishima estava ali.

    “Oi, Makishima!” Ele foi até os dois. “Ainda por aqui, hein?”

Toudou estava imóvel ao seu lado, encarando Tadokoro com os olhos arregalados.

    “Pois é…” Makishima olhou para o chão, sentindo-se um pouco envergonhado.

    “Então você é o Tadokoro?” Toudou finalmente disse, olhando para Makishima pelo canto do olho de um jeito bem estranho. “Muito obrigado por salvar o Maki-chan!”

    “Ah, não foi nada. Você é…?”

    “Toudou Jinpachi.” Ele estendeu a mão para Tadokoro, que a apertou sem hesitar.

    “Da Toudou-An? Prazer, Tadokoro Jin.”

    E aí eles ficaram em um silêncio bem desconfortável enquanto Toudou olhava para Tadokoro de um jeito nada discreto. Makishima nunca se arrependeu tanto de aceitar dar aquela volta na floresta.

    “Então, Tadokoro-san, ” Toudou finalmente disse após aquela pausa muito estranha. “você mora aqui sozinho?”

    “Bem, a casa é dos meus pais, mas sou eu quem fico nela a maior parte do tempo.” Tadokoro não parecia estar incomodado com o momento. “Aliás, eu estava indo para a cidade para ver como eles estão e dar uma ajuda na padaria.”

    “Padaria?” Makishima perguntou.

    “Minha família tem uma padaria. Meus pais cuidam dela com o meu irmão, e eu vou lá dar uma mão, às vezes.”

    “Ah, Tadokoro Pan, né? Já ouvi falar. Deve ter umas coisas bem gostosas lá.” Toudou disse do jeito mais provocativo que conseguiu e Makishima sentiu uma vontade enorme de desaparecer dali.

    “Vocês deviam ir lá algum dia.” Novamente, Tadokoro pareceu não ter percebido as insinuações de Toudou, ou simplesmente estava as ignorando. “Aliás, também estão indo para a cidade?”

Makishima abriu a boca para responder, mas foi imediatamente cortado por Toudou.

    “Não, a gente estava só dando uma volta por aqui mesmo.”

    “Ah, entendi. Bem, tenho que ir, minha mãe está lá me esperando.” Tadokoro olhou para Makishima e sorriu. “Apareçam aqui outro dia para comer alguma coisa!”

    “Claro que a gente vai, né, Maki-chan?” Ele concordou com um resmungo enquanto olhava para os próprios pés, encabulado.

    Tadokoro se despediu e seguiu na direção oposta a de onde os dois vieram.

    Então a família dele tinha uma padaria? Isso explicava a quantidade de pães naquela mesa de café da manhã. Será que Tadokoro havia feito aqueles com as próprias mãos? Makishima se sentiu um pouco culpado por ter comido apenas uma maçã naquele dia.

    “Makishima, por que você não me contou?!” Toudou disse assim que Tadokoro desapareceu por entre as árvores.

    “Não contei o quê?”

    “Que o cara que te salvou é gostoso pra caramba!”

    É óbvio que Makishima não tinha dado nenhum detalhe sobre a aparência de Tadokoro para ele, muito menos falado no provável flerte que ocorreu na frente da pousada. Toudou tinha essa mania bem chata de bancar o cupido contra a vontade dos envolvidos, e Makishima detestava lidar com os surtos e chiliques dele quando ele cismava que alguém era “seu par perfeito”.

    “Makishima, você sabe que meu radar não falha” Toudou disse cheio de orgulho, enrolando uma mecha de seus cabelos pretos no dedo. “aquele lá gosta de homem.”

    “Não falha, é? E aquela vez que você deu em cima de um cara que tinha esposa?”

    “Isso é outra história que não vem ao caso agora.” Aquela era uma ferida que Makishima adorava cutucar. “Mas é sério, Maki-chan, aquele cara tá interessado em você.”

    Ele não soube o que dizer. Para falar a verdade, Makishima não conseguia entender por que alguém estaria interessado nele sem nem conhecê-lo direito. Sua aparência era um tanto exótica - magro, absurdamente pálido e com cabelos compridos tingidos de verde com mechas vermelhas - mas isso geralmente intimidava as pessoas em vez de atraí-las.

    “Você também está interessado nele, não está?” Agora, Toudou mostrava um pouco de preocupação no tom de sua voz.

    Isso ele não sabia dizer. Makishima tinha uma coisa por caras grandes, e Tadokoro além de ser um cara grande também era muito gentil. Era raro alguém não se importar com o jeito estranho como Makishima agia e falava. E, para completar, Makishima não sabia lidar com seus sentimentos, muito menos interpretá-los. Ele não fazia ideia do que estava se sentindo sobre essa situação.

    “Talvez, sei lá.” Makishima coçou a cabeça, evitando olhar para o outro.

    “Bom, se você não quiser esse, deixa pra mim que eu quero.” Toudou soltou uma risada escandalosa e pôs a mão no ombro dele. “Vem, vamos voltar.”

    “Mas e a história de que eu tinha que aprender o caminho para chegar na cidade?”

    “Isso fica pra depois, vem.”

    Makishima simplesmente deu de ombros e o seguiu.

ʕ •ᴥ•ʔ

    Makishima voltou para casa naquele mesmo dia, apesar dos pedidos de Toudou para que ele ficasse mais tempo. Não dava para deixar seu irmão cuidando da loja sozinho.

    Os dois cuidavam de uma loja de vestidos de festa muito famosa entre o pessoal da classe alta da região. Ambos tinham diplomas da melhor escola de moda de Londres, o que ajudava bastante na fama que a loja tinha.

Geralmente, Makishima ficava responsável pelo desenho e pelos ajustes das roupas, enquanto seu irmão, Ren, cuidava da costura e do contato com os clientes. Ele gostava do que fazia. Ver as pessoas tão elegantes com roupas criadas por ele o dava uma satisfação sem tamanho.

Assim que chegou na cidade, Makishima foi imediatamente para a loja.

“Ah, Yuusuke!” Ren estava ajudando uma funcionária a vestir um manequim quando ele chegou. “Como foi seu passeio?”

“Foi bom…” Ele deu a típica resposta indiferente. “Alguma coisa aconteceu enquanto eu estive fora?”

“Não, só alguns aluguéis de vestido, nada demais.” Ele enfiou cuidadosamente um braço de plástico pela manga de renda vermelha do vestido e o encaixou no corpo, enquanto a funcionária fechava o zíper das costas. “Prontinho.”

    “Então eu vou para casa.” Makishima tirou o celular do bolso e digitou uma mensagem avisando Toudou que havia chegado são e salvo. “Bom trabalho e até mais.”

    “Até mais tarde.”

    Na verdade, ele queria ficar mais um pouco na loja, mas já estava quase na hora de fechar e ele estava cansado. Não teria nada para fazer lá, de qualquer forma.

    No caminho até sua casa, o celular vibrou em seu bolso duas vezes, e ele nem se importou de olhar. Provavelmente era Toudou dizendo “Que bom que você chegou bem!” ou coisa assim. Ele chegou em casa e foi direto para o banho, e só olhou as mensagens depois que saiu.

    As mensagens eram sim de Toudou, mas uma delas continha uma série de números, enquanto a outra dizia “Olha só o que eu consegui ;)”. Makishima precisou de uns instantes para entender que aquilo era um número de telefone e que, provavelmente, era de Tadokoro.

Sem saber o que fazer, Makishima simplesmente fechou o celular e se jogou na cama, cobrindo a cabeça com o travesseiro. Era melhor dormir e deixar para lidar com a situação amanhã, isso se ele conseguisse dormir com o tanto de pensamentos que fervilhavam em sua cabeça.

 

ʕ •ᴥ•ʔ

 

    Na semana seguinte, Toudou convidou Makishima para visitá-lo mais uma vez na pousada. Além disso, ele também fez questão que Makishima atravessasse a floresta a pé para chegar lá e, com isso, suas intenções por trás daquele convite ficaram bem claras.

    Surpreendentemente, Makishima não estava tão incomodado assim, na verdade, ele até queria que Toudou o ajudasse a se aproximar de Tadokoro. Seria bem mais fácil e confortável para ele desse jeito. Dessa vez, Makishima teve o cuidado de deixar o celular carregado e de ir bem cedo, para não passar pelos mesmos apuros que da última vez.

    Depois de vagar pela floresta por mais ou menos meia hora, Makishima ouviu uma risada familiar vinda de longe. Era Toudou, com toda certeza. Ele passou a mão pelo rosto e tentou seguir a direção de onde a risada veio, já imaginando a situação que encontraria.

    Ele avistou a cabana depois de andar mais alguns metros e, como esperado, Toudou estava lá, no quintal da frente, junto com Tadokoro.

    “Ah, Maki-chan!” Toudou acenou quando o viu, assim como Tadokoro, que abriu um sorriso tão grande que quase o fez tropeçar nos próprios pés.

    “O que você está fazendo aqui, Toudou?” Makishima sentiu uma pontada de desespero ao imaginar que tipo de coisa ele havia contado para Tadokoro.

    “Eu resolvi dar uma volta enquanto você não chegava e encontrei o Tadokoro-san.” Toudou piscou discretamente para ele, e Makishima respondeu com um revirar de olhos.

    “Querem ficar para o almoço?” Tadokoro se aproximou, interrompendo a breve conversa não verbal que os dois tiveram. “Está quase pronto.”

    Makishima esperava que Toudou fosse responder o convite, mas em vez disso, ele ficou quieto.

    “Eu já almocei.” Ele disse assim que percebeu que Makishima o encarava, pedindo uma resposta. “Quer almoçar com ele, Maki-chan?”

    Makishima coçou a cabeça, olhando para o chão. Ele estava com um pouco de fome, mas não estava com vontade de comer.

    “Ah, não precisa se incomodar, eu…” Makishima parou assim que sentiu uma mão grande e quente em seu ombro.

    “Não é incômodo nenhum, venham!” Ele o puxou para a porta da casa, quase que em um abraço.

    Makishima olhou por cima do ombro e viu que Toudou permaneceu parado onde estava, em vez de acompanhá-los.

    “Minha irmã está cuidando da pousada sozinha hoje.” Ele se explicou ao perceber que Makishima parecia confuso. “Eu não vou poder ficar, foi mal, Maki-chan.”

Makishima sentia que era uma boa ideia ficar a sós com Tadokoro. Conversar estava bem longe de ser o seu forte e, por algum motivo, ele estava muito preocupado com o Tadokoro pensaria sobre a sua pessoa. Mas, antes que ele se desse conta, Tadokoro já havia o levado para dentro de sua casa, enquanto Toudou se despedia dos dois.

    Para a sua surpresa, aquele almoço não foi tão desconfortável quanto imaginava. O ensopado de carne estava bom, e Makishima conseguiu comer bastante, comparado com as porções minúsculas que ele comia normalmente. Além disso, a conversa fluiu de forma muito natural, sem que ficasse nenhum silêncio estranho entre os dois. Mesmo depois de acabarem de comer, eles continuaram sentados junto à mesa, conversando sobre todo tipo de assunto. Não era normal Makishima se sentir tão confortável assim com alguém que ele acabou de conhecer. Ele até havia se esquecido de Toudou, lembrando-se apenas depois de receber algumas mensagens dele.

“Estou bem ocupado aqui na pousada, não vai dar para você vir aqui, desculpa Maki-chan :(“

“Depois me conta como foi ;)”

    Para falar a verdade, ele nem se lembrava que havia saído de casa apenas para visitar Toudou. Já era de se esperar que algo assim fosse acontecer, conhecendo a tal mania de cupido dele.

    De qualquer forma, Makishima não se importaria de passar o resto da tarde ali com Tadokoro.

ʕ •ᴥ•ʔ

    As visitas à casa de Tadokoro foram ficando cada vez mais frequentes, e a presença de Toudou foi ficando cada vez menos necessária. Makishima conseguia conversar com ele tão naturalmente que nem precisava mais que Toudou servisse como uma ponte para ligá-los.

    Eles também se falavam no telefone às vezes, mas quase nunca através de mensagens. Tadokoro não sabia mexer muito bem e aparelhos eletrônicos, principalmente em celulares. As mensagens que ele escrevia geralmente eram curtas e cheias de erros de digitação, isso quando ele não enviava uma série de caracteres aleatórios por engano.

    Makishima, que normalmente detestava falar ao telefone, não se importava com as ligações, e até se divertia tentando decifrar as raras mensagens que recebia dele. Era estranho como ele havia conseguido se dar tão bem com alguém em tão pouco tempo.

    De todas as pessoas com quem ele já se relacionou, Toudou havia sido o único com quem Makishima manteve amizade depois do término - foi uma relação até que bem curta, e terminou por vontade mútua. Os outros nem sequer tentaram manter contato com Makishima, e ele, sinceramente, não se importava nem um pouco. Nesse aspecto, toda essa coisa com Tadokoro estava sendo bem diferente. Makishima não se importaria de ter uma relação apenas de amizade com ele, na verdade, ele até preferia que os dois fossem amigos acima de tudo.

    E a possibilidade de estragar tudo isso era o que mais o assustava. Makishima não queria que Tadokoro acabasse como mais um de seus exs que sequer o cumprimentavam quando o viam na rua.

Ele não queria estragar tudo em troca de alguns beijos e coisas do tipo.

ʕ •ᴥ•ʔ

Em uma dessas visitas, Tadokoro descobriu que Makishima não sabia cozinhar.

“Não sabe nem fazer arroz?!” Tadokoro estava tão indignado que até derrubou a cenoura que estava segurando.

“Bem… Sei fazer na panela elétrica…” Ele coçou a pinta logo abaixo do olho, sentindo-se um tanto envergonhado.

“Mas isso não é cozinhar, você tem que fazer com suas mãos, e não deixar uma máquina fazer tudo!” Tadokoro deixou as cenouras em cima da pia e se abaixou para pegar algo em uma das gavetas. “Põe isso aqui que eu vou te ensinar umas coisinhas.”

Ele colocou um avental nas mãos de Makishima, que olhou muito confuso para a peça. Tadokoro queria ensiná-lo a cozinhar?

“Vem cá, vou te ensinar a cortar legumes.” Tadokoro pegou um tábua de corte e uma faca e as colocou sobre a pia. “Vai, corta um pedaço.”

Makishima pegou a faca e, segurando a cenoura desajeitadamente, cortou uma fatia de mais ou menos dois dedos de largura da ponta.

“Você não precisa serrar desse jeito, é só segurar bem firme no cabo e fazer assim.” Ele pegou a mão com que Makishima segurava a faca e mostrou o movimento. “E aí você segura a cenoura com os dedos assim pra dentro pra não ter perigo de se machucar.”

E aí, Tadokoro percebeu que havia literalmente abraçado Makishima por trás sem querer enquanto o mostrava como cortar uma cenoura.

“Ah! Desculpa, desculpa. E-Eu…” Ele se afastou em um pulo, gaguejando e com o rosto muito vermelho.

“Tudo bem. Não tem problema…” Makishima forçou um sorriso, mesmo que Tadokoro não estivesse vendo seu rosto.

Os dois ficaram em um silêncio meio estranho enquanto Makishima cortava algumas fatias tortas da cenoura, até Tadokoro sair da cozinha para fazer sabe-se lá o quê.

Makishima não contaria aquilo para ninguém, mas ele gostou de ser abraçado daquela forma por Tadokoro.

ʕ •ᴥ•ʔ

    “Por que você mora aqui sozinho?”

    Por um instante, Tadokoro ficou muito tenso, ou pelo menos essa foi a impressão que Makishima teve. Era quase três da tarde e os dois estavam sentados no degrau da porta da casa, conversando enquanto ouviam o canto dos pássaros.

    “Como assim?”

“Bem… Seus pais têm a padaria na cidade, e você vai lá sempre que pode.” Makishima abraçou os joelhos junto ao peito e enrolou uma mecha do cabelo nos dedos. “Não seria mais fácil morar lá junto com eles?”

Tadokoro não respondeu de imediato, e ele achou que era melhor não ter feito aquela pergunta.

“Meus pais não querem que essa casa fique vazia.” Ele disse depois de alguns minutos, sem sinal algum de tensão ou coisa do tipo. “E também, eu gosto de morar aqui, é bem mais tranquilo do que na cidade.”

“Entendi.”

Era uma resposta convincente, mas fez Makishima se perguntar se aquele clima estranho de antes havia sido só coisa de sua cabeça.

“E os ursos que moram nessa floresta?” Eles ficaram em silêncio por um instante, até Makishima falar novamente. “Você não tem medo deles?”

“Nem um pouco.” Tadokoro riu. “Eles são meus amigos.”

Podia ter sido só uma brincadeira, mas havia algo estranho nessa fala de Tadokoro, e Makishima não sabia dizer o quê.

ʕ •ᴥ•ʔ

Makishima passou a ir cada vez menos na casa de Toudou, que compensava essa falta de visitas o enchendo de mensagens de texto e ligações.

“Sabe, Maki-chan, eu estou feliz se você estar bem próximo dele e tudo mais, mas eu sinto sua falta!” A voz de Toudou foi subindo gradualmente conforme ele falava, e Makishima teve que afastar o telefone da orelha no final. “Você me trocou por aquele lenhador que mora no meio do mato!”

“Ora, você queria me juntar com ele, não queria?” Makishima bufou. Ele até pensou em colocar a chamada no viva voz, mas não seria legal que toda a loja ouvisse sua conversa com Toudou.

“Eu ainda quero, Maki-chan! Mas isso não é desculpa para me abandonar!” Makishima apoiou o celular entre o ombro e a cabeça enquanto enfiava uma pilha de papéis dentro de uma pasta. “Mas então, me conta, você já provou o pão dele?”

Makishima fechou o celular subitamente e o jogou dentro de uma gaveta de sua escrivaninha. Ele não estava com paciência para aquilo no momento. O celular começou a tocar alguns segundo depois, mas Makishima simplesmente fechou a gaveta para abafar o som.

ʕ •ᴥ•ʔ

    “Que machucado é esse?”

    Os dois estavam na cozinha, preparando o almoço, quando Makishima reparou no corte que havia na bochecha de Tadokoro.

    “Ah, isso aqui?” Ele passou a mão pelo rosto, e Makishima reparou que havia outros dois cortes, um perto do lábio inferior e outro na têmpora. “Eu… Bem…”

    Tadokoro pareceu estar muito desconfortável de repente, e Makishima franziu o cenho. Ele estava tentando esconder algo?

    “É que… É meio idiota, sabe.” Tadokoro deu uma risada forçada e coçou a nuca. “Eu estava andando distraído e bati nos galhos de uma árvore.”

    “É sério?” Ele riu também. “Você precisa tomar mais cuidado, Tadokorocchi!”

    “T-Tadokorocchi?!” Tadokoro ficou vermelho, e Makishima riu mais ainda. “De onde veio isso?”

    “Não importa, corta logo esse frango!”

    Makishima não tocou mais no assunto, mas ele não estava convencido de que Tadokoro havia dito a verdade sobre aqueles machucados.

ʕ •ᴥ•ʔ

    Tadokoro estava mexendo na hortinha quando Makishima chegou. O sol estava bem forte naquele dia, e ele havia prendido seus cabelos verdes em uma trança com a ajuda de sua irmã. Estava calor demais, e Makishima abriu mão do conforto do ar condicionado de sua casa para visitá-lo.

    “Ah, Makishima!” Tadokoro se levantou e limpou as mãos sujas de terra nas calças.

    “Tadokorocchi!” Makishima sorriu sem perceber.

    “Então esse é meu apelido agora, é?” Tadokoro riu, enxugando o suor da testa com as costas da mão. “Ei, olha só isso aqui.”

    Ele puxou Makishima pela mão até a lateral da casa. Junto aos arbustos da cerca, havia uma fileira de uns oito girassóis, todos enormes e de um amarelo muito vivo.

    “Uau…”

    “Floresceram ontem. Eu quase esqueci que tinha plantado isso aqui, estão bonitos né?”

    Makishima então percebeu que a mão quente - até quente demais - de Tadokoro ainda segurava a sua. Entretanto, isso não o incomodava nem um pouco, mesmo com o calor que estava fazendo.

    “Estão mesmo.” Ele sorriu e entrelaçou seus dedos finos com o de Tadokoro.

ʕ •ᴥ•ʔ

    O primeiro beijo deles foi na frente daqueles mesmos girassóis, na mesma semana em que floresceram.

Os dois os observavam em silêncio, não se importando com o sol que queimava o topo de suas cabeças. As mãos se seguravam com os dedos entrelaçados, e Makishima adorava sentir como sua mão era pequena comparada com a dele.

Tadokoro aproximou-se devagar, colocando uma mecha da franja de Makishima atrás da orelha. Seus cabelos estavam trançados, caindo por cima do ombro, e Tadokoro brincou com a ponta da trança entre os dedos, enquanto seus rostos ficavam cada vez mais próximos. Makishima não recuou, e se forçou a manter contato visual por quanto tempo fosse necessário.

Nenhum dos dois disse nada. Os lábios se tocaram e os olhos se fecharam, e foi tão natural que nem pareceu ser o primeiro beijo entre eles. Makishima não pensou em nada além de como a sensação áspera da barba de Tadokoro era boa.

Assim que se separaram, Tadokoro o puxou para um abraço e, mesmo com o calor, os dois ficaram assim por um tempo, Makishima com o rosto encostado no peito dele, ouvindo seu coração bater acelerado.

ʕ •ᴥ•ʔ

    “Aniki, você engordou.”

    Makishima encarou sua irmã com o cenho franzido. Natsumi não costumava fazer comentários sobre a aparência dele, por que ela falou aquilo?

    “Isso não é ruim não, tá?” Ela fechou a revista que lia e se levantou do sofá. “Quer dizer que você está comendo melhor.”

    Depois de conhecer Tadokoro, Makishima passou a comer muito mais do que comia normalmente, mas ele não tinha percebido isso até então.

    “Você acha?” Ele se levantou também e foi atrás dela, ainda intrigado com o comentário.

    “Acho.” Natsumi foi até a cozinha e encheu um copo de água. “O Ren também reparou.”

    Isso o deixou mais surpreso ainda. Ele não costumava perceber mudanças na aparência de seus irmãos, a não ser por coisas óbvias como um corte de cabelo diferente.

    “É por causa de todas essas visitas que você está fazendo ao Toudou-san?”

    Yuusuke não costumava falar sobre sua vida amorosa com seus irmãos, então eles não sabiam muita coisa sobre Tadokoro. Sempre que ia visitá-lo, ele dizia a eles que estava indo à pousada de Toudou. É claro que eles haviam percebido que havia algo diferente, mas nenhum dos dois disse nada até aquele momento.

“Mais ou menos…” Yuusuke murmurou. Natsumi ergueu as sobrancelhas para ele e saiu da cozinha sem dizer nada.

Ele ergueu a camisa e olhou para a própria barriga. De fato, aquela calça estava um pouco mais apertada do que ele se lembrava.

ʕ •ᴥ•ʔ

    Sentado no sofá de Tadokoro, Makishima mal conseguia manter seus olhos abertos. Ele passou a noite em claro terminando um projeto para uma cliente da loja, e só conseguiu dormir durante mais ou menos meia hora no trajeto de ônibus. Juntando isso ao fato de que ele havia acabado de ter um almoço bem farto, ficava praticamente impossível não sentir sono.

    “Cansado?” Makishima balançou a cabeça positivamente, sentindo o sofá afundar com o peso de Tadokoro. “Quer dormir um pouco?”

    “Não.” Ele esfregou o rosto com as mãos. “Eu estou bem.”

    “Tem certeza? Você parece estar com muito sono.” Tadokoro passou os dedos pelos cabelos dele e Makishima sentiu que ia apagar ali mesmo, sentado naquele sofá. “Pode dormir na minha cama, não tem problema.”

    “Não precisa, sério…” Makishima fechou os olhos, sentindo a mão de Tadokoro descer pelos seus cabelos mais uma vez. “Eu só vou descansar aqui um pouquinho…”

    A última coisa que ele ouviu antes de cair no sono foi a risada baixa de Tadokoro.

ʕ •ᴥ•ʔ

    Makishima acordou sentindo-se descansado como nunca, mas sem nem fazer ideia de onde estava. Ele olhou ao redor e lembrou-se que estava na casa de Tadokoro antes de dormir. As luzes estavam todas apagadas, e ele estava deitado no sofá da sala com um cobertor sobre os ombros.

Depois de se sentar e achar o celular no bolso da calça, ele viu que já passava das nove e meia da noite. O que era pra ser um cochilo rápido virou um sono de mais de oito horas, e ele se sentiu extremamente envergonhado de ter dormido no sofá Tadokoro a tarde toda.

    Ele se levantou e procurou o interruptor mais próximo, apertando os olhos por causa da luz forte. A casa estava vazia, aparentemente.

    “Tadokorocchi?” Makishima o chamou algumas vezes, sem resposta. Será que Tadokoro tinha algum outro compromisso e o deixou sozinho ali?

    Makishima tentou ligar para o celular dele, mas encontrou o aparelho tocando em cima da mesa. Isso o deixou muito preocupado. Onde Tadokoro estava?

    Ele foi até o quintal, sem conseguir ver absolutamente nada na escuridão da noite, e chamou por Tadokoro mais algumas vezes, sem resposta. Sem muita opção, Makishima voltou para dentro da casa e sentou-se no sofá, pensando no que poderia ter acontecido para Tadokoro desaparecer daquele jeito. Ele pensou em mandar algumas mensagens para Toudou, mas era melhor não preocupá-lo a toa. Tadokoro podia muito bem ter ido para a casa de seus pais por algum motivo e esquecido o celular ali.

    Makishima estava quase caindo no sono de novo quando ouviu grunhidos vindos do lado de fora da casa. Aquilo era… um urso? Ele se aproximou da janela da sala com cuidado, seu coração batendo cada vez mais acelerado. E se fosse mesmo um urso, o que ele faria?

    O quintal era iluminado apenas por duas lâmpadas que ficavam do lado de fora, mas Makishima conseguiu ver claramente um urso enorme e preto, com uma mancha branca em forma de meia lua no peito, parado a poucos metros da janela. Ele sentiu o sangue gelar nas veias. O urso não o machucaria se ele continuasse dentro de casa, não é?

    O animal o encarava fixamente, e Makishima não conseguia se mexer, mesmo sentindo uma vontade imensa de correr dali. Suas mãos começaram a tremer, e ele não conseguia desviar o olhar do urso nem por um segundo. Era quase como se ele estivesse em transe.

Tinha algo muito estranho acontecendo, e Makishima só se deu conta disso quando reparou que o urso estava diminuindo lentamente. Os pelos sumiram pouco a pouco, até o animal tomar uma forma humana.

    A forma de Tadokoro.

    Makishima piscou uma, duas vezes, só para ter certeza de que estava enxergando direito.

    “O quê…?”

    Era isso mesmo. Tadokoro estava ali, nu, do lado de fora da casa.

   

    “Tadokorocchi?” Ele abriu a janela e estremeceu com o vento gelado que entrou. “Mas o quê…?”

    Tadokoro continuou parado onde estava, sem dizer uma palavra sequer, e o silêncio se estendeu por um bom tempo, até que ele finalmente abrir a porta e entrar na casa.

    “É uma longa história.” Ele murmurou, e foi até o quarto.

    Makishima continuou parado onde estava, desejando do fundo de seu coração que aquilo fosse só um sonho muito estranho. Ele não se mexeu até Tadokoro voltar, já vestido, e se sentar no sofá, de frente para ele.

    “Bem… Eu ia ter que te contar mais cedo ou mais tarde, mas não sei se essa foi a melhor maneira, né?” Tadokoro soltou uma risada sem graça, e Makishima continuou calado.

    “Você… Você virou, não…” Makishima fechou a janela, e passou a mão pelo rosto. “O urso virou você?”

    “É, foi isso mesmo que você viu.” Tadokoro coçou a nuca. “Eu me transformo em um urso, às vezes.”

    Makishima tinha tantas coisas para perguntar que nem sabia por onde começar.

    “É uma coisa da minha família,” Tadokoro começou a explicar, percebendo a confusão do outro. “tem alguma coisa a ver com magia e genética, eu sei lá, mas alguns nascem com essa habilidade.”

    “Mas… Isso é possível?! Cientificamente e tal.”

    “Bem, você viu, não viu?” É, isso não dava para negar. “Eu não sei a parte científica da coisa, nem se alguém mais sabe sobre isso, já que é meio que um segredo de família.”

    Makishima precisou de mais uns minutos para processar a informação. Tadokoro se transformava em um urso assim às vezes e isso era comum na família dele, mas era um segredo, então…

    “Espera aí, segredo?”

    “É, segredo. A gente não costuma contar pra quem é de fora da família.”

    “E você contou pra mim?”

    “Eu… Bem, eu confio em você, e achei que seria legal você saber disso, já que a gente… Meio que está junto e tal.” As bochechas de Tadokoro estavam começando a ficar vermelhas, e Makishima achou isso adorável.

    Ele foi até o sofá e se sentou ao lado de Tadokoro, sentindo então um fedor muito forte de cachorro molhado.

    “Ah, desculpa, esqueci de avisar do cheiro.” Ele ficou mais vermelho ainda.

    “Não tem problema.” Makishima riu, apesar de estar sentindo pelo menos vinte coisas diferentes ao mesmo tempo.

    E aí os dois ficaram em um silêncio não tão desconfortável por algum tempo, até Makishima conseguir escolher uma das milhares de perguntas que queria fazer a ele naquele momento.

    “Você esperava mesmo me contar isso hoje?”

    “Pra falar a verdade, não.” Makishima franziu o cenho. Então foi tudo um acidente? “Eu pretendia voltar para casa antes de você acordar, mas aí ouvi você me chamar e não quis te deixar preocupado.”

    “Mas você consegue controlar assim a transformação?”

    “Consigo, até certo ponto. À noite fica mais difícil.” Ele se levantou de repente. “Aliás, desculpa, mas eu estou morrendo de fome, preciso comer.”

    “Tudo bem.” Makishima se levantou também e o seguiu até a cozinha.

    Os dois ficaram em silêncio enquanto Tadokoro preparava algo que poderia ser uma pilha de sanduíches ou um único sanduíche gigante.

    “Assim, se você quiser… parar com o que a gente tem, eu entendo.” Ele disse de repente, em tom sério.

    Makishima não conseguia ver seu rosto de onde estava, mas imaginou que ele deveria estar com uma expressão tão séria quanto.

    “Não, de jeito nenhum.” Ele foi até Tadokoro e pôs a mão em seu ombro, ficando nas pontas dos pés para beijá-lo na bochecha. “Eu quero continuar, principalmente depois de você me contar algo tão importante assim.”

    “É que não é todo mundo que quer namorar com um urso, né.” Tadokoro o segurou pela cintura e o deu um selinho.

    “Então estamos namorando?” Makishima perguntou de forma provocativa, e apoiou o queixo em seu ombro.

    “... Se você quiser.” Tadokoro terminou o que aparentemente eram dois sanduíches gigantes com todo tipo de recheio, e deu uma mordida em um deles.

    Makishima ficou em silêncio por alguns instantes, pensando em sua relação com Tadokoro. É claro que aquilo já tinha passado da linha a amizade há algum tempo, mas ele nunca tinha parado para pensar se aquilo que havia entre eles podia ser chamado de namoro.

    “Eu não me importo de namorar com um urso.” Ele disse finalmente, logo que Tadokoro terminou o primeiro sanduíche. “Você já era um urso desde o começo.”

    “Ei!”

ʕ •ᴥ•ʔ

    Makishima acordou sozinho na cama, envolto em vários cobertores. Ele rolou de um lado para o outro da cama até ver os raios de sol entrando pela janela do quarto. Era hora de levantar.

    Depois de escovar os dentes, Makishima preparou uma xícara de chá, e a bebeu perto da janela, enquanto olhava para as inúmeras árvores lá fora. Pouco tempo depois, um urso preto saiu do meio delas e veio até o quintal. Makishima deixou seu chá de lado, vestiu um casaco e saiu.

    “Bom dia.” Ele murmurou. O urso foi até ele, colocou as patas dianteira em seus ombros e lambeu seu rosto. “Eca! Tadokorocchi!”

    Makishima riu e acariciou o pelo grosso e escuro do pescoço do animal até que ele voltasse a sua forma humana.

    “Bom dia.” Tadokoro tentou beijar os lábios de seu namorado, que virou o rosto no último instante.

    “Calma aí, você ainda está com bafo de urso.” Makishima passou os dedos pelos cabelos pretos dele, tirando uma folha que estava presa ali. “Vem, vamos entrar.”

    Enquanto Makishima terminava seu chá, Tadokoro foi para o quarto se vestir. Uma muda de roupas perfeitamente dobradas estava sobre uma cadeira ao lado do guarda roupa, e a primeira peça que Tadokoro colocou foi uma aliança dourada em seu dedo anelar da mão esquerda.


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Notas finais do capítulo

Considerações finais:
Cara eu gosto muito do Toudou, queria ter dado um destaque maior pra ele nessa história. (Por que será que eu maltrato ele tanto?)
Considerando que eu estou absolutamente travada na escrita e só tenho conseguido escrever drabble e oneshot de 1K, eu tô orgulhosa pra caralho de ter escrito essa porra toda de 7,5k EDIT NÃO VI QUE TAVA COM QUASE 8K aaaaaaaa
Also, desculpa pela quase inexistência de beijo nesse negócio. E essa cena final era pra dar a entender que eles se casaram, não sei se ficou claro. E eu botei a irmã chamando ele de "Aniki" porque é assim que o Maki chama o irmão dele no anime e etc. Aliás, o nome Natsumi foi invenção minha, a irmã do Maki não tem um nome oficial por enquanto (na verdade ela em si não é oficial)
E o Tadokoro vira um urso negro asiático, que tem essa marca de meia lua no peito.
~Agora que percebi que a fic do outro DeLiPa eu postei logo que a terceira temporada de pedal começou, e essa aqui eu postei logo antes de ela acabar, que simbólico~
Enfim, como foi escrito meio que na pressa, deve ter ficado meio ruim em alguns aspectos, então pode descer a lenha nos comentários, bjs.



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