Minha vida em pequenas Escalas escrita por Iset


Capítulo 40
O que eu faço melhor




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Depois de desligar o telefone respiro cinquenta vezes, já estava sendo difícil manter Lacey e a mamãe sem que se matassem aquela noite, colocar mais a Amber na jogada, era suicídio.

一 Pensa… Pensa… pensa! 一 digo dando uns tapinhas na minha testa.

Invento uma desculpa e chamo Sam até o quarto da Emma, conto sobre a ligação e peço que ele vá buscar Amber no aeroporto e a leve para casa dele essa noite, até que eu pense em algo que não acabe com a minha crucificação.

一 Noah, mas você não acha esquisito essa garota aparecer aqui sem avisar, nem nada?

一 É claro que eu acho esquisito, mas ela está grávida e assustada.

一 Tá, mas ela não tem família, amigos? Tinha que pegar um avião e viajar umas seis horas para curar o susto!?

一 Eu não sei o que ela pensou, mas ela está aqui e eu não posso deixar a mãe do meu filho dormir na rua, posso?

一 Não, mas ela também não tem direito de se enfiar na sua vida. E falando sério, você tem certeza que esse bebê é seu? Quer dizer porque esse namorado aparecer agora todo irritadinho?

一 Ela disse que tinha certeza que era meu, e a Amber, é uma garota legal ela me diria se tivesse alguma dúvida…

一 Se eu fosse uma garota e tivesse grávida depois de ter transado com meu namorado agressivo ou um herdeiro milionário, também não teria dúvidas da paternidade. Seria do ricaço até que provem o contrário.

一 Isso você, não a Amber.

一 Você mesmo não desconfiou que ela estava de plano para te manter no Canadá?

一 Sim, mas eu estava errado. E ela tá grávida, sofrendo muito com essa situação toda.

一 Tá bem, você que sabe… Mas não diga que eu não avisei se o menino nascer parecendo o Michael Jordan ou o Jackie Chan.

一 Só faz o que eu te pedi tá bom?

一 O que não faço por um amigo, e no seu próximo show podia usar uma camiseta do Branch, só como uma prova de amizade.

一Não vai ter show foi só uma brincadeira, agora anda e nenhuma palavra sobre isso.

Voltamos a sala e Samuel diz que Miguel está cansado, e precisam ir para casa. Lacey olha desconfiada, afinal, Miguel e Emma pulavam e gritavam dentro do cercadinho. Mas ele agarrou o filho, que chorou porque não queria ir embora, fazendo a bebê chorar também e esticar a mãozinha, de dentro do cercado como se o chamasse de volta.

一 Aí meu Deus, isso parece uma cena de Romeu e Julieta!  一 Fala Lacey e minha mãe faz um “onw” comovida.

一Não, não parece. 一 Digo fazendo o sinal da cruz.

一 Ah Noah, eles seriam um casal bonitinho 一 fala Sam provocativo.

一 Eu li que as chances de você se casar com alguém que conheceu na infância são cem vezes maiores do que com alguém que conheceu na vida adulta. 一 fala minha mãe 一 A propósito lembra daquela namoradinha que teve no segundo ano? Filha dos Carsons? Soube que ela está solteira e é linda. 一 Diz a minha mãe a provocar a Lacey.

一 Na verdade o motivo dela ter sido minha “namoradinha” na pré escola, era ela me dar o lanche dela, que é o lanche dela era muito melhor do que a droga saudável que você me dava. 一 Falo enredando meus braço nos ombros da Lacey.  

一 Sam pode me dar uma carona? 一 Lacey pergunta já exausta para  responder minha mãe como merecia.

一 Não! 一 Falamos quase que juntos e as duas nos olham intrigadas.

一 Quer dizer, está cedo e o Noah, quer falar com seu pai, então melhor ele te levar, né Noah? 一 Diz ele improvisando um pouco nervoso.

Lacey desconfiada, me faz algumas perguntas sobre o modo esquisito que Sam saiu, e eu invento algo sobre algum “lance” dele estar o esperando.

Convido as duas para assistir um filme e depois de mais um festival de alfinetadas, levo Lacey para casa. No caminho, ela segue reclamando sobre minha mãe, o que me incomoda um pouco, afinal, mãe é tipo a sua terra Natal. Pode ser ruim, você pode reclamar, dizer que vai embora, mas se ouve algum estrangeiro falando algo de mal, além de doer, desperta o nacionalista dentro de você.

一 A não foi tão ruim, eu acho que ela até gostou de você. Elogiou seus sapatos.

一 Noah, dizer que sapatos “bonitinhos” como os seus ficariam melhor em pés mais pequenos e delicados, não é um elogio. 一 fala Lacey com certa irritação.  

一 Se tratando da mulher que disse pro filho de seis anos que ele precisava melhorar as habilidades artísticas antes de fazer cartões de dia das mães, é sim.

一 Nossa, no seu lugar eu também usaria drogas.  一 Ela fala perplexa e é eu estaciono na frente da casa.

一 Está entregue. E vocês vão acabar se dando bem 一 Digo.

一 Não vai entrar?

一 Para que?

一 Não queria falar com o pai?

一 Ah, claro. Mas eu falo amanhã,  estou desempregado o que não o me falta é tempo livre.

一 O que está me escondendo?

一 Nada, é só estou cansado. Boa noite. 一 Digo dando um beijo de despedida. 一 Te amo.

Volto para casa e tenho uma breve discussão com minha mãe, pelo modo que tratou a Lacey. E ela por sua vez, diz que adorou a minha namorada, e que a estava testando para saber se ela seria capaz de conviver com a família Johnson. Reviro os olhos e pego a Emma para dar um banho e fazê-la dormir.

一Okay, já são quase uma da madrugada e amanhã o papai tem uma “treta cabulosa” para resolver, então, que tal se você ser uma boa mocinha e colaborar com o papai? 一 Peço encarecidamente enquanto tiro o vestido que parecia ser uma versão em miniatura dos que minha mãe usava.

一  Eu sei, eu sei. Essas roupas que ela comprou são horríveis, mas você também precisa fazer concessões ou vai acabar vivendo o resto da vida com ela. Temos que ser pacientes e além do mais, ela gostou da Lacey, talvez o jeito dela demonstrar seja fazendo a pessoa querer arrancar o pescoço dela, mas quem somos nós para julgar, não é mesmo?

Consigo dar um banho na Emma, sem a ajuda da Peppa pig e sem ela gritar feito louca. Seco suas dobrinhas  e não resisto a dar umas mordidinhas naquelas pernas rechonchudas, sopro sua barriga e ela ri alto se agarrando em meus cabelos.

一 Não devia agitá-la assim na hora de dormir 一 Diz minha mãe cortando a nossa diversão.

一 Tem razão mãe, desculpa. 一 Respondo e volto a terminar de vestí-la com uma cara de tédio.

Volto pro quarto e coloco Emma no berço,  não queria levar outra bronca da minha mãe, que desde que chegou, vinha bancando a supernanny, apontando tudo que eu fazia errado na criação da minha filha. Okay eu até concordo com muita coisa que ela disse, mas o que será da vida sem um pouquinho de diversão.  Óbvio que eu não quero que Emma faça tudo que eu fiz na minha adolescência, mas eu ficarei frustrado se ela crescer e acabar sendo uma dessas pessoas que vivem pras regras, aparências e etiquetas. Vejo a carinha dela de triste entre as grades do berço e a pego de volta.

一 Dane-se, é melhor eu aproveitar enquanto sou o único cara que você quer dormir. 一 Digo a alinhando no meu braço.

Desperto de madrugada, e sinto a falta da Emma olho pelo quarto e não não a vejo, já saio em alerta pelo corredor, a porta do meu quarto, agora quarto da minha mãe, está entreaberta e eu ouso espiar e vejo a Emma tentando subir nos pés da cama.

一 Emma 一 A chamo com um sussurro e ela me olha e sorri. 一 Vem com o papai, a vovó odeia crianças na cama vem… 一 Falo em tom baixo e ela volta a tentar a subir na cama. Fico de quatro e vou rastejando devagar para dentro do quarto, mas nisso ela sobe na cama e vejo minha mãe despertar,  me deito rente ao chão e espero o grito, que não vem.

一 Como escapou do berço? Ou seu pai não te pôs no berço? 一 ouço a voz da minha mãe seguido de um “bubu” e uma risada na de Emma. 一 É perigoso te deixar engatinhando livre pela casa, sabia? 一 Ela fala em tom sério e ouço outra risada seguida de um “vovo”

一 Você é uma gracinha, veio dormir com a vovó foi? 一 Ela questiona e Emma bate palminhas.

一 Só hoje, e nenhuma palavra pro seu pai, okay? 一 Ela diz e é eu me seguro para não rir. Fico deitado no chão até adoeceram.  Me levanto e vejo a imponente senhora “crianças devem dormir sozinhas” com a cabeça da Emma em cima do seus peitos. Sorrio e fico um tempo admirando as duas, quando estou prestes a sair, decidi voltar e me enfio na cama também. Minha mãe abre os olhos e me olha com cara feia.

一 Só hoje. 一 Digo e ela sorri fazendo um leve carinho nos meus cabelos.

Quando desperto pela manhã, minha mãe e Emma já estão na cozinha. Susan, achou um programa infantil educativo chamado “Baby  Einstein”.

一 Baby Einstein?  Ela não pode ver uma porquinha que chama o pai de barrigudo e briga com o irmão, mas pode ver o programa com o nome de um cara que fez a bomba atômica? 一 Reclamo servindo o café e pegando o jornal.

一 Noah você já não está praticamente atrasado e ainda vai ler jornal?

一 Ah é, o eu trabalho, porque eu tenho emprego e tenho que chegar no horário 一 Falo meio gaguejante. Eu era bom em mentir, mas péssimo em manter a mentira, por isso preferia sempre contar a verdade logo de cara, mesmo se doesse, mas nesse caso, não quis correr o risco de estragar a oportunidade de ter a Emma de volta. Mas se eu não encontrasse um emprego logo, as coisas iriam ficar feias.

一 Mãe, o que você acha se de repente a Amber, sei lá resolvesse ficar aqui por um tempo? 一 Falo hesitante.

一 Já não tinha resolvido isso no Canadá?

一 Sim, mas bom o neném talvez tenha um problema.

一 Que problema?

一 Deu umas alterações nos exames, pode ser nada, mas pode ser que seja e a Amber tá sozinha lá e eu não queria voltar, não agora que a gente tá se entendendo e o Derek acabou de ter um bebê. E tem Lacey.

一 Ela já está aqui, não é?

一 Como sabe?

一 Você está tremendo. Sabe o que eu penso sobre aquela garota. Se trazer ela para cá ou para sua vida, ela vai te enrolar e você vai acabar casando com ela e daqui a uns anos vai estar arrependido e entediado, vão se divorciar, seus filhos vão sofrer e ela vai levar metade do que você tem e mais uma prensão alimentícia.

一Primeiramente em que bola de cristal viu tudo isso? E eu amo Lacey, se eu me casar com alguém, vai ser com ela. 一 me defendo.

一 Ela não tá grávida de um filho seu, pelo menos espero que não esteja. Porque é sério Noah, se me arranjar mais um neto não planejado, eu juro que mando te castrar. E quanto a Amber, despacha ela de volta pro Canadá. 一 fala voltando atenção para a cozinha.

Para minha mãe tudo era muito fácil e prático, mas eu não era da mesma opinião. Dizer a Amber, que ela precisava ir embora para não complicar ainda mais a minha vida parecia algo muito cruel de fazer, dito que tecnicamente fui eu quem meti ela nessa encrenca, quero dizer nessa gravidez não planejada.

Dirijo até a casa do Sam, tentando encontrar as palavras certas para dizer que não era um bom momento para ela estar em Roma. Quando ele abre a porta está com um sorriso enorme.

一 Porque não me disse que ela era um anjo? 一 Ele diz em tom baixo no corredor e eu o encaro intrigado 一 Pegamos ela no aeroporto, a trouxe para cá e ela deu banho no Miguel e pôs ele na cama sem nenhum protesto, grito ou horas de “cala boca e vai dormir”. E agora de manhã eu acordei, o café estava pronto, Miguel já de uniforme, comendo frutas! Sim frutas e sem açúcar por cima, cara precisa deixar ela aqui.

一 Na verdade eu já estou pronto para comprar a passagem dela de volta pro Canadá. Cara, como eu vou manter Lacey, Amber e Susan na mesma cidade?

一 Ah então deporta a sua mãe, eu não quis dizer nada, mas ela é muito chata.

一 Eu adoraria, mas esqueceu que ela tem a guarda da Emma? E a Lacey ela vai querer arrancar a minha pele se souber que Amber tá aqui. Eu só queria que o primeiro Natal da Emma fosse especial droga, não com uma chacina familiar.

一  A Lacey não precisa saber que a Amber tá aqui, não pode mandar ela embora, ela tá grávida!

一 Ontem você me disse que ela não tinha o direito de bagunçar  a minha vida.

一 Pois eu retiro o que disse, olha só o Natal está aí,  a Amber brigou com toda a família dela, vai mesmo mandar ela embora?

一 Você é um tremendo sacana, Sam 一 Digo abrindo passagem com um empurrão de leve no ombro dele e me dirijo a cozinha, onde Amber está limpando enquanto Miguel a ajuda secando alguns talheres.

一 Eu não disse, ela é a Mary Popins, num corpinho sexy. 一 Samuel sussurra e eu olho para ele com cara feia.

一 Amber. 一 Chamo sua atenção e quando ela se voltar a primeira coisa que noto é a livre proeminência do seu ventre sob uma regatinha branca.

Ela estava linda.

一 Oi, Noah.

Samuel, pega o filho e o leva para escola e Amber e eu nos sentamos para conversar.  Ela me conta sobre o ex namorado, sobre o histórico de idas e vindas deles e que nesta última vez, ele ficou louco ao saber da gravidez. Me mostrou um hematoma no braço e falou sobre entrar em pânico, nesse instante ela começou a chorar e todo o meu discurso pré-ensaiado sobre como seria melhor ela voltar ao Canadá, desceu pelo ralo. A confortei com um abraço enquanto a ouvi soluçar por longos minutos.

Decidimos que ela ficaria com Samuel, até encontrarmos uma solução  melhor, já que a minha mãe estava na minha casa. E eu achei que devia contar logo para Lacey, já tinha mentido para ela noite passada e seria muita sacanagem da minha parte, continuar fazendo isso. Bom, eu fui até o Branch, mas Lacey estava com aquela cara de terceiro dia de dieta e não tive coragem de abrir a boca. Então, decidi apenas seguir minha rotina de procurar um emprego.

O final de semana passou, visitei Derek e Vick, que já estavam em casa com a pequena Katherine. Emma ficou enlouquecida com a bebê e enquanto não a seguramos no seu colo por alguns instantes não parou de chorar. Apesar de Vick, já estar bem, percebi um clima esquisito entre meu irmão e ela, mas achei melhor não comentar nada com o Derek. A chegada de um bebê é algo muito transformador e talvez aquele clima, fosse apenas resultado do hospital e do cansaço.

Durante a semana, decorei a casa pro natal, montamos uma árvore e comprei presentes pra colocar embaixo dela. Na minha infância, as árvores de natal eram montadas por decoradores e eu era proibido de chegar perto delas. Por isso deixei Emma brincar com as bolinhas até enjoar e quebrar algumas.

Marquei uma consulta para Amber, com um bom obstetra, e na quarta, peguei a Emma em casa e a acompanhei na consulta. Entramos na sala de ultrassom é enquanto ela era preparada, Emma olhava curiosa para os desenhos de uma mulher grávida em todas as fases da gestação preso a parede. Talvez hoje pudéssemos saber o sexo do bebê e no caminho eu havia voltado aquela loja e comprado aquele macacão verde escrito papai em pequena escala, pra por em baixo da nossa árvore.

一 Boa tarde 一 Diz o médico ao adentrar a sala. Ele tomou posição em frente a máquina e fez algumas perguntas até deslizar o aparelho pela barriga de Amber e em segundos eu conseguir visualizar o bebê na tela. Ele ainda era bem cabeçudo, mas tinha braços, pernas, um nariz e um coraçãozinho pulsando na tela.

一 É aí papai torcendo para um garotão? 一 Ele questiona voltando o olhar para mim e eu olho para Emma nos meus braços, com seu vestido cor de rosa e um boné de basebol vermelho na cabeça. Ela me encara com aquela meiguice que só ela no mundo parecia ter.

一 Eu acho que prefiro uma menina, acho que tenho cara de pai de menina, mas desde que esteja bem, não importa. 一 Respondo.

一 Querem saber o sexo?

一 Pode ser 一 fala Amber sem muito entusiasmo

一 Bom, parece que você vai continuar com cara de pai de menina, pois tem outra a caminho 一 fala o médico ao me encarar e eu sinto meu peito aquecer.

一  Você vai ter uma maninha, Emma一 Falo beijando a testa da minha filha.一 É como ela está doutor? No Canadá os médicos falaram sobre uma possível má formação.

一 Bom, isso às vezes acontece no início da gravidez. Nem todos os fetos se desenvolvem da mesma forma, a princípio não vi nada alarmante, ela agora parece estar de acordo com a idade gestacional, mas vamos acompanhar. De qualquer forma, fiquem tranquilos, se ela vir a ter algo, não será nada tão grave que não possa ser tratado. 一 Ele fala e eu solto um suspiro aliviado.

Depois da consulta levo -as para tomar sorvete. E por instantes me senti culpado por furar a dieta sem açúcar que a minha mãe estava fazendo com a Emma, o que não posso negar que a tem feito dormir melhor a noite. Mas merecíamos aquela comemoração.

一 Então você já pensou num nome? 一 Pergunto para Amber que mexe na taça de sorvete entediada 一 Tá tudo bem?

一 Ah na verdade eu não pensei em nenhum nome, depois do que me falaram no Canadá eu meio que fiquei com medo de me afeiçoar o bebê e ele… Dar um nome faria ele existir para sempre. 一 Ela diz ainda com certo ar de tristeza.   

一 Bom, mas agora o médico disse que ela vai ficar bem. Que nome você gosta?

一 Não sei. 一 Ela fala não muito empolgada.

一 Gosto de Zoey, Lauren, Grace, o que acha?

一 É bonito. 一 Ela diz.

一 Qual deles?

一 Tanto faz.

一 Tanto faz? Tá tudo bem, Amber? Sei lá, a gente teve uma notícia tão boa e você devia estar radiante.

一 Me desculpa 一 Ela fala e começa a chorar e Emma a olha curiosa 一 Eu não quero esse bebê Noah, eu nunca quis.

一 Você mudou de idéia, você disse que não podia fazer aquilo.

一 Eu disse, mas eu achei que você ficaria do meu lado. Mas não vai ser assim, você tem a sua vida, a sua família, sua namorada. Era o que eu queria, mas desisti no calor do momento, porque fiquei tocada com as coisas que você disse, mas depois eu mudei de ideia e eu fiquei aliviada quando o médico disse que ele tinha problemas e que talvez nem nascesse. E agora, eu vou ter um bebê que eu nunca quis.

一 Sabe que é tarde para voltar atrás, não é? Você já está no segundo trimestre e Amber, por favor… Olha quando a Carol engravidou eu surtei, eu achei que não seria capaz, que não era o que eu queria para minha vida e a Emma ela é toda a minha vida agora, ser pai é o que eu faço de melhor.

一 Não é tarde, no Canadá eu posso fazer em qualquer estágio da gravidez sabe disso. Me desculpe ter bagunçado a sua vida, eu vou voltar pro Canadá e vou resolver isso.

一 Amber… por favor, não faz isso. Eu crio ela, se você não quer, não se acha pronta para ser mãe, tudo bem, eu cuido dela. Você não precisa nem olhar para ela se quiser,  mas não faz isso, você viu ela na tela, ela já se mexe, sente, o médico disse que até já ouve ouve a sua voz.

一 Noah, você mal consegue cuidar da Emma!  Você dru valium pra ela porque estava sonolento pra ler um rótulo, perdeu a guarda dela, como que eu vou viver sabendo que tenho uma filha por aí?

一 É como vai viver sabendo que jogou sua filha num triturador de lixo?! 一 grito e Emma começa a chorar no cadeirão. Encaro Amber e ela engole a seco minhas palavras 一 Desculpa, eu não só nenhum desses “pro-vida” que seguram cartazes em clínicas, mas você viu ela, ela é perfeita. Eu não posso concordar, no começo eu até podia aceitar, mas agora?

一 Eu já decidi. Eu vou comprar uma passagem e voltar para casa一 ela fala se levantando da mesa 一 Eu vou pegar um táxi. Ela beija a testa da Emma que continua chorando assustada e sai caminhando pela calçada.

Volto para casa me sentindo destruído, minha mãe estava no sofá folheando alguns papéis enquanto conversava conta um dos diretores da empresa numa videochamada. Ela me encarou de cima a baixo e fechou o computador, colocou os papéis sobre a mesa e me chamou me enredando num abraço apertado. Ela podia ser muitas vezes a miss Saara, no quesito emoção, mas era a minha mãe e ainda conseguia perceber o quão destruído eu estava,  mesmo sem ter dito uma palavra. Coloco minha cabeça sob seu colo, enquanto Emma brinca pelo chão, Susan afaga meus cabelos e beija o topo da minha cabeça.

一 Eu, estou desempregado há semanas 一 Confesso.

一 Acha que eu não sabia? 一 Ela fala sem deixar de acarinhar meus cabelos.

一 A Amber vai voltar pro Canadá, ela vai fazer um aborto. 一 Relato e ouço o suspiro da minha mãe. 一 É uma menina, ela ainda está com os batimentos meio estranhos, mas ela é perfeita, é linda mãe e eu não posso fazer nada.  E eu acho que Amber vai se arrepender e só está fazendo isso porque ela não quer ter um bebê sem uma família. 一 Falo sem conseguir conter o choro ou aquele nó na minha garganta e sinto outro beijo na minha têmpora.

一 Sabe que a decisão é dela.  Quer mesmo esse bebê, não é?

一 Eu quero, eu disse para ela que podia criar se ela não quiser, mas ela não me ouve mãe, ela vai embora e vai…  Acha que se eu disser para ela que podemos tentar, ficar juntos, eu até gosto dela, pode ser que dê certo. Talvez ela se sinta segura e..

一 Meu amor 一 Ela me puxa e coloca suas mãos na lateral do meu rosto 一 Eu sei que você acha que sou uma mulher horrível,  que desconfia de todo o mundo, mas eu tenho mais que o dobro da sua idade, a Amber, não é a Carolina, nunca foi, mesmo que tenha um rosto parecido, um jeito. Ela também não é uma garotinha, se esse filho é seu, ela vai ter toda a assistência financeira e também vai ter um pai que apesar dos pesares é um bom pai. Se ela tomou essa decisão ou esse bebê não é seu, ou realmente o que ela mais quer, então nada do que você faça vai mudar isso. Agora vai tomar um banho e tenta tirar isso da sua cabeça, eu sei que dói, mas passa,se pensar que é o melhor para todos.

一 Não é o melhor para aquela bebezinha 一 Digo enxugando as lágrimas.

一 É se ela não for sua? Pensaria da mesma forma.

一 Ela é minha mãe, mesmo que não fosse ainda seria. 一 Digo voltando a afundar afinal cabeça no seu colo e sinto a falta mãozinha da Emma a se apoiará na minha perna para levantar do chão. Volto o olhar pra minha pequena e ela me e ela da um sorriso no triste, como se entendesse meu lamento.

 


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Notas finais do capítulo

Desculpem a demora o para liberar o capítulo, ficou um pouco grande, mas não quis dividir os acontecimentos, deixem suas opniões, o que fariam na situação do Noah?  Da Amber?  De Susan?