Minha vida em pequenas Escalas escrita por Iset


Capítulo 39
Girls, Girls, GIRLS!


Notas iniciais do capítulo

Queria agradecer a Cajuela e aos novos leitores que estão acompanhando e incentivando essa história



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Uma das situações que definem se seu relacionamento vai ou não para frente é conhecer os pais da pessoa amada. Algo que na vida adulta, fica geralmente entre depois de já ter transado com sua companheira e um pouco antes dela ter peidado na sua frente sem se sentir envergonhada por isso. De fato, eu ainda não conseguia entender a quantas andava meu relacionamento com Lacey, dito que ela me pediu um tempo, mas depois disso o banheiro feminino do Branch foi testemunha de alguns movimentos nada puritanos da nossa parte. A semana passou naquela vibe, quando não estava procurando emprego, estava no Branch ou no hospital com Derek, a fim de manter o fato de eu ser um desempregado, longe da ciência de minha mãe.

O assédio popular continuava grande na internet e nas manchetes do Canadá, por conta do prestígio de minha família por lá, mas nas ruas de Roma eu continuava a perambular quase que anonimamente. “ Quase” porque algum engraçadinho upou o vídeo da minha pequena apresentação da semana passada no YouTube, e este já contava com alguns milhares de visualizações. O que me trouxe mais alguns convites de bares e até de um pequeno teatro de comédia, para uma apresentação. No entanto, eu acabei recusando, afinal, aquilo foi apenas uma brincadeira divertida e eu precisava de um emprego de verdade. Mas, voltando ao assunto eu também não tinha contado para minha mãe que minha relação com Lacey era um tanto instável e para ela, tudo estava relativamente bem entre a gente, mesmo com o novo bebê a caminho.

E por falar nele, mesmo com todo aquele drama e incertezas por conta do desenvolvimento dele, eu estava realmente curtindo a ideia de ter um outro filho e de alguma forma, algo me fazia crer que essa criança, assim como a Emma, traria uma nova aspiração para minha vida e quem sabe, também para vida da minha mãe.

— Tem algum café com vodka? — Pergunto enquanto me aproximo do balcão onde Lacey arruma uns cardápios.

— Na verdade temos, mas porque precisa de vodka?

— Eu acabei de receber um “te ligamos se for selecionado” e minha mãe quer conhecer a garota que me ama e anda me usando sexualmente, mas não quer me assumir publicamente.

— Hum. Que complicado, mas você já parou para pensar que talvez essa garota não queira comprar o porco todo por meio quilo de salsicha — Ela fala me servindo um café.

— Sasicha tem de graça por aí, mas se ela quer especiLmente essa, vai precisar levar o leitão pra casa porque ele é "de família" e eu também te amo Lacey — digo e ela balança a cabeça e depois me dá um selinho.

— Então? Por favor se você não quer ser minha namorada, dá só para fingir que estamos namorando para minha mãe me achar um cara bacana,;emocionlmente estável?

— Pelo que me contou da sua mãe, não sou o tipo de garota que ela ia gostar para você.

— Acredite, a minha primeira namorada tinha vinte dois piercings, visual Morticia Adams, e uma cruz ao contrário tatuada no meio dos peitos. Qualquer uma que não tenha travas ou pó branco no nariz ela já considera da família.  — digo e ela sorri.

— Então eu sou qualquer uma?

— Não tente virar o jogo, mocinha. Por favor, se não for por mim, vai pela Emma ela tá com saudade. Sim? — faço aquele olhar de cachorro esfomeado.

— Tudo bem, mas eu não vou sozinha. Ela botou o próprio filho na cadeia, não chego perto dela sem um escudeiro e uma arma de eletrochoque. Talvez deva incluir um soro antiofídico também.

— Que exagero, ela vai gostar de você. Ela gosta de mulheres mandonas. Então, te pego às sete?

Preparo tudo e as sete volto ao Branch buscar a Lacey e ela, havia convidado Sam e Miguel para nos acompanhar. O que pro lado dela era bom, afinal, dificilmente Miguel não se tornaria o centro das atenções, mas com certeza eu teria de ouvir uma palestra sobre expor minha filha a influências negativas ainda na primeira infância. Samuel fecha a cafeteria e vamos todos pro meu apartamento. Apresentei Sam, Miguel e finalmente Lacey que foi analisada de cima a baixo como numa máquina de scanner.

— É um prazer conhecê-la, querida. Noah falou muito de você.

— Também é um prazer conhecê-la sra Johnson — diz Lacey com um sorriso.

— Pra que formalidades, me chame de Susan. — Ela diz e no mesmo instante, Emma que estava brincando no tapete avistou Lacey, encarou-a, abriu um sorriso e ficou em pé, sozinha sem apoio algum, esticando os bracinhos enquanto abria e fechava os pequenos dedos e falava “mamãe”.

— Oh meu Deus, ouviu isso querido uns dias com ela e já está me chamando de mamãe! — fala a minha mãe se adiantando na direção de Emma e eu mordi lábio inferior e franzi o rosto já imaginando a decepção quando percebesse que a “festa” não era para ela. Mamãe tomou Emma nos braços toda sorridente e imediatamente levou dois tapas descoordenados no meio do rosto, Emma voltou os bracinhos na direção de Lacey e chamou “mamãe”, esticando o corpo na direção dela. Que abriu um sorriso espantado, antes de atender o apelo na bebê e finalmente pegá-la nos braços. Emma enredou os bracinhos no seu pescoço e passou a boca por sua bochecha, deixando um pouco de saliva, com um de seus beijos babados. Lacey a abraçou forte e cheirou a curva do seu pescocinho a fazendo sorrir e bater palminhas logo em seguida. Voltei o olhar para minha mãe que tinha decepção e fúria estampados na cara.

A guerra estava declarada.

Toda a mãe tem aquele instinto primordial de proteger o seu filhote, e uma certa necessidade de ser o centro das atenções de suas crias, no caso de Susan Johnson, mesmo que seu instinto maternal não fosse lá os mais desenvolvidos, o de defender seu território e aquilo que considerava seu, era maior do que o de um pinscher raivoso.

—Ensinou sua filha a chamar uma “namoradinha” de mãe? — questionou ela — Não que eu tenha algo contra, mas pode ser prejudicial para Emma quando o romance acabar. — fala voltando o olhar para Lacey que a encara com um olhar sarcástico.

— Bom, nós não planejamos terminar, né amor? — questiono ficando ao lado dela — E eu não ensinei nada a ela, mas minha bonequinha é muito esperta não é?  Quem é o bebê esperto do papai — falo e Emma faz uns barulhinhos gostosos de bebê enquanto sorri feliz no colo de Lacey — Vamos sentar gente?

Sentamos no sofá da sala e levou exatos três minutos para começar o interrogatório, seguido da troca de alfinetadas.

— Então, Noah disse que nasceu na Philadélfia, lugar um pouco perigoso, não acha? — fala minha mãe.

— Pois é menina eles roubam quase tanto quanto os corretores de imóveis. Extremamente perigoso.

— Vender um imóvel obtendo a maior taxa de lucro possível sobre ele, não é propriamente um roubo. Agora o que acontece nos subúrbios da philadélfia é realmente trágico, mas  a violência parece até ser da natureza dos subúbios afro-americanos.

— Diga isso para pessoa que comprou um apartamento aparentemente novinho que vai precisar refazer todo o encanamento sendo que o corretor garantiu que estava em perfeita ordem. Sim tem muit aviolencia entre os "afro-americanos", mas ainda assim conseguimos não ter uma cara de bunda o tempo todo — retruca Lacey e Sam, Emma, Miguel e eu voltamos o olhar para minha mãe esperando o próximo golpe.

— Se uma pessoa é ingênua o suficiente para comprar um apartamento sem um empreiteiro inspecionar talvez mereça ser roubada. Agora quanto a continuar sorrindo mesmo vivemdo em condições precárias é só uma forma do suburbano normalizar a sua incapacidade  de conseguir algo melhor e é claro o conformismo com tal situação.

— Alguém quer um petisco? —falo estendendo a bandeja com alguns sanduichinhos na frente da cara da Lacey antes que ela abra a boca.

— Noah me disse que tem uma cafeteria? — Volta a atenção para Sam.

— Ah sim, mas eu sonho ter um restaurante um dia.

— Ah claro a gente sempre tem que pensar em prosperar, Carolina a mãe da Emma — ela fala enfatizando o mãe — Era uma excelente cozinheira, fazia maravilhas gastronômicas, ela e o Noah eram tão apaixonados, foi uma lástima ela ter partido tão cedo. Tão bonita, inteligente, prendada e principalmente ela sempre fez questão de manter o Noah pertinho dos pais dele. — Ela fala e eu vejo Lacey lançar um olhar de Hannibal para ela.

— Ela fazia questão? Que coisa geralmente são os filhos que querem ficar perto dos pais — fala Lacey enquanto entrega um chocalho na mão de Emma.

— Bom, nós mulheres instruídas e ativas no mercado de trabalho, geralmente criamos filhos autossuficientes, e o preço disso é um certo afastamento depois de crescidos. Diferente das pessoas que crescem nos subúrbios, nós, cortamos o cordão umbilical no nascimento. — Diz minha mãe dando um gole no vinho. — E isso é bom, Noah mora sozinho desde os dezoito anos, já tem faculdade, um apartamento, um bom emprego, e terá uma bela conta bancária quando Deus resolver me levar.  Você faz o quê mesmo?É garçonete, não é? Espero que esteja tomando seus anticoncepcionais.

— Mãe! — Protesto.

— Estou brincando, para quebrar o gelo, não levou a mal não é mesmo querida?

— Não claro que não e eu sou garçonete e  pretendia começar a faculdade no próximo ano, mas eu tenho um namorado  formado, que tem um apartamento, carro, “um bom emprego” que ainda por cima uma mãe rica e idosa que pode acabar tendo um infarto, um avc ou mordendo a própria língua e morrendo envenenada. Para que vou me preocupar não é? Afinal eu estou no pico da idade fértil e seu filho precisa ser lembrado de usar preservativo toda vez que sai para brincar —  ela diz dando um gole no vinho.

— Lacey! — falei arregalando os olhos.

— Brincadeirinha gente, Nào se sentiu ofendida não é, querida?—  concluiu sorrindo e Emma começa a bater palminhas enquanto todos riem forçadamente.

— Ela tem o seu senso de humor, querido. — Diz minha mãe com o sorriso mais cínico do planeta.

— Eu vou pegar, mais uns... petiscos — falo e Sam diz que vai me ajudar e me segue em direção a bancada da cozinha.

— Ainda bem que sua casa tem esse “conceito aberto” porque eu não confiaria deixar essas duas sozinhas — ele cochicha enquanto me ajuda a arrumar a bandeja.

A noite segue com um interrogatório perverso de minha mãe, e as patadas de Lacey, e as duas se olhavam como se fossem avançar uma na outra a qualquer instante. O clima estava tão sombrio que até mesmo o pequeno lúcifer, Miguel, não ousou fazer sequer uma malcriação para tirar o foco das duas. Vou pro quartinho da Emma para trocá-la e pego a foto da Carolina.

— Me diz Carol, o que eu faço para essa noite não acabar num homicídio? Elas vão se matar!! Falo e a Emma rola do trocador e eu consigo segurar ela pela camisetinha.

— Uffa! Emma, dá para você parar de tentar se matar pelo menos hoje? — Digo.

— Eureca! Isso! Obrigada Carol, eu te amo! — Beijo a foto e a testa da Emma.

Volto para sala confiante e chamo a Lacey até a cozinha.

— Sua mãe é uma vaca! — Ela sussurra baixinho.

— Eu sei, mas não é culpa dela. Ela sempre teve um gênio difícil, mas depois que a Carol e o papai morreu sabe, bom eu não ia te contar, mas parte de eu aceitar ela morar aqui é por conta da depressão…

— Depressão? Ela não parece ter depressão.

— Ela tentou se matar — minto com a voz sussurrada — sabe cada pessoa reage a depressão de um jeito, ela ficou assim super agressiva e tentando controlar tudo. Ela tinha a Carol como uma filha — minto de novo (ela mal me tinha como filho, quem dirá a Carolina)  — E depois perder o meu pai, foi demais para ela.

—Tem razão, faz todo o sentido, deve ser por isso que ela tá fazendo tudo isso para você voltar pro Canadá, no fundo, ela só deve estar com medo de perder você também. — Ela diz.

— É?! Você acha mesmo? — pergunto intrigado.

— Claro Noah, afinal uma mãe tem que estar muito desesperada para mandar prender o próprio filho. Coitada, deve estar sofrendo tanto, se sentindo sozinha, triste. E você podia ter ficado mais tempo com ela quando seu pai morreu não? Levado a Emma, nossa ela precisava da família e você tratou -a feito lixo.

— Ei, ei, ei vamos parando por ai, eu também perdi a Carol e o papai e nao sou o vilão aqui... — me defendo.

— Mas você tinha a Emma, o Derek e depois a gente. Sabe as vezes pesssoa que não demonstram sentimentos, fazem isso porque sabem que sentem tudo com tanta intensidade que preferem fingir não sentir, até acreditar que realmente não sentem. Que são fortes, mas por dentro estão tão quebradas que sentem necessidade de ver os outros quebrados também. Sua mãe precisa da nossa ajuda...— Ela diz e eu me sinto mal por constatar que minha mentira, talvez não fosse propriamente uma mentira. Afinal, apesar de minha mãe sempre ter me tratado com certa frieza e distância, diferente do meu pai, nunca duvidei do amor dela por mim e de tudo que ela fez para me manter seguro e feliz, mesmo depois dele me virar as costas. No entanto, desde que ele se foi, tudo que ela fazia parecia ser para me prejudicar, me tornar frágil, para que ela voltasse a ser necessária na minha vida. Talvez, todo o esforço que ela estava fazendo pela guarda da neta, não fosse realmente pela bebezinha que ela queria ter entregue a adoção. E sim pelo filho que ela sentia perder um pouco mais, cada vez que eu me tornava mais capaz de cuidar de mim mesmo, sem a ajuda dela ou da Carolina.

— Noah? Noah? — Me chama Lacey me resgatando a realidade. — Você está bem?

— Estou, eu só preciso de um minuto, pode levar isso para a Emma? — digo entregando uma mamadeira com suco de gelatina.

— Claro.

Fico um tempo refletindo sobre o que Lacey disse e todas as coisas que eu disse para minha mãe ao longo dos anos, começam  ressoar na minha mente. Não poderia contar todas as vezes que disse que ela era péssima, ou que a culpei por as escolhas erradas que fiz na adolescência. Ela não foi a melhor das mães, mas foi a mãe que eu conheci, a que me embalou e apesar dos meus defeitos, me aceitou. A mãe do Derek teria continuado ao lado dele depois de o encontrar com a cara enfiada no próprio vômito, em uma overdose? Ou depois de empurrá-la e gritar com ela durante uma crise de abstinência? Duvido muito, afinal ele passar e cursar arquitetura numa universidade federal do Brasil já foi o suficiente para deixarem de falar com ele por quase um ano. Volto o olhar por cima da bancada e vejo Lacey pegar Emma do chão e a levar até minha mãe na sacada com um sorriso galante. Sam se aproxima desconfiado.

— Essas duas na sacada, estamos em que andar mesmo? Quinto? Não acha perigoso? — Ele fala inquieto.

— Elas vão ficar bem. Elas me amam. Anda me ajuda a lavar essa louça. — Digo jogando o pano de prato no Sam, quando ouço meu telefone tocar. Vejo o nome da Amber, penso em não atender, mas já não falava com ela há dois dias então era melhor não ignorar. Pego o telefone e vou pro quartinho da Emma, que agora também era meu quarto.

— Amber?

— Noah — ela fala com a voz chorosa.

— Oi, aconteceu alguma coisa? Você está bem? E o bebê?

— O bebê ta bem, Noah eu fiz uma loucura…— Ela fala entre soluços.

— Fala, que houve?

— Um ex namorado insistente veio atrás de mim, eu já tava de saco cheio, acabei falando sobre o bebê e ele surtou, ele foi agressivo disse que ia me matar, eu… eu fiquei com tanto medo. Eu peguei o dinheiro que mandou pros exames e eu sei que eu não devia, mas meu passaporte ainda estava valendo então eu… Eu peguei um avião e eu estou aqui no aeroporto de Roma, sozinha, sem saber o que fazer ou para onde ir, me desculpa...— Ela fala e todos os pelos do meu corpo se arrepiam…


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Notas finais do capítulo

***
Ai, ai, ai e agora? Se já tava complicado admistrar Lacey e Susan como será a com a chegada de Amber?
Não esqueçam de deixar sua estrelinha, e ficarei muito feliz se decidirem comentar o que estão achando da nossa novelinha da paternidade, que está chegando em sua reta final, Emma está com dez meses e este é o primeiro ano de um pai, mas tem muita coisa pra acontecer nesses dois meses que  nos restam! E só pra saber, quem leria um novo livro, com nossa amada Emma um pouco mais crecidinha?