Minha vida em pequenas Escalas escrita por Iset


Capítulo 32
As coisas mudam, mas nem tanto....


Notas iniciais do capítulo

Meus leitores onde se esconderam?
Snif... Snif...



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As coisas mudam, mas nem tanto


A noite, eu andava de um lado pro outro com o celular na mão e Emma seguia minha movimentação com a cabecinha.

— Oi Lacey. Bom tudo bem? Eh... sabe a Amber? Ela decidiu ter o bebê… Não é legal? — Ensaio — Ah Emma, bom a Lacey gosta de você... Talvez ela nem se encomende tanto, não é? Ah!! Que merda!

— Meda, meda...— Ela diz rindo.

— Agora me diz, como eu falo para Amber que não quero que ela more com a gente em Roma? — Pergunto e ela segura meu rosto entre suas mãozinhas e me dá um beijo babado no nariz.

— Eu acho que não é uma boa forma. Aliás nunca tente dispensar um cara colocando sua boca nele, porque não vai dar certo. — Falo a afastando e limpando a saliva que ficou no meu rosto. — Coragem…

Pego o celular e ligo para Lacey, conto que Amber decidiu ter o bebê, mas não comento nada sobre ela ir para Roma. Lacey ficou muda durante um tempo e depois disse que seria difícil, mas que podíamos lidar com aquilo.

Desço até o escritório e fico observando minha mãe um tempo concentrada nos seus papéis.  Hesito um instante, pois sempre levava a maior bronca quando a interrompia quando era garoto, mas Emma não pensa duas vezes em soltar um gritinho seguido de um sonoro vovó — que faz a minha mãe dar um salto da cadeira na minha direção, tomando a Emma dos meus braços com um sorriso radiante.

— Ela falou vovó, você viu. Aí meu Deus, eu preciso gravar isso é por no meu Instagram para aquelas imbecis do clube morrerem de inveja.  

— Mãe será que a gente pode conversar? — Falo coçando a nuca.

— Quando você coça a cabeça, já sei que não vai ser agradável. Porque não assina os papéis para passar o carro pro seu nome antes. Estão ali em cima da mesa…

— Nossa tudo isso? — falo e vou assinando rapidamente.

Passamos as próximas duas horas no escritório, eu conto sobre Lacey e de como ela vinha me fazendo feliz,  também sobre os últimos acontecimentos com Amber. Bem, minha mãe não estava nada feliz com essa história e ficou ainda pior depois que eu pedi para ela dar um emprego para Amber, assim ela teria um motivo para querer ficar em Toronto.

— Eu não vou resolver os seus problemas  Noah. — Ela diz imperativa.

— Não tô pedindo para resolver apenas para me ajudar.

— Você foi idiota convidando ela para sua casa, agora vá lá e fale que você não a quer lá. O que tem de difícil nisso?

— Ela tá grávida mãe! Tá sendo difícil para ela, se ela pensar que não a quero por perto, talvez ela até desista de ter o bebê…

— Ah meu filho  como posso ter te criado tão ingênuo?! Essa garota não vai tirar esse bebê, nunca foi a intenção dela, aliás que garota em sã consciência faria um aborto do bebê do herdeiro de um quarto da cidade mais rica do Canadá?

— Sei lá, mãe… Uma garota que não  pense só em dinheiro? Que tal? Sabia que existem pessoas assim?

— Existem, eu sei que existem, mas com certeza elas não estão levando garotos bêbados e ricos para cama! E eu espero mesmo que você peça um DNA!

— A Amber é uma garota bacana. Eu sei o que fiz e acredito nela, tá bom? Não vou humilhar ela desse jeito. E bom mãe, para seu governo uma garota pode gostar de mim, pode querer transar comigo pelo que eu sou, e não só pelo meu sobrenome! Porque eu sei que eu não sou tão horrível quanto você faz que eu me sinta!  — Grito lançando as chaves do carro sobre a mesa dela. — Que droga mãe! Eu achei que eu pudesse contar com você… Achei que as coisas podiam mudar… — Falo pegando a Emma dos braços dela que agora tem uma expressão assustada.

— Não vão mudar enquanto você ficar procurando as pessoas só quando precisa delas, Noah.

— Eh isso que as famílias fazem mãe, cuidam um dos outros,  mas já percebi que você nunca vai entender...— digo me afastando.

— Onde você vai? Noah, volte aqui! — Ela fala me seguindo enquanto eu rumo pro quarto que ocupamos.

Coloco Emma sobre a cama e começo a arrumar nossa mochila. Minha mãe surge na porta batendo o pé irritada.  

— O que pensa que tá fazendo? Acha que eu vou deixar você sair com a minha neta no meio dessa nevasca?

— Você não pode me impedir, ela é minha filha! Eu tenho cuidado dela sozinho e aliás por você ela estaria com uma família estranha ou num abrigo agora, esqueceu?

— Eu só queria o melhor para ela!

— Não, queria o mais cômodo para você! Adeus mãe. E sabe de uma coisa, eu não quero nada disso… Pega aquele carro e toda essa grana que você e o papai trabalharam tanto para ter e deixa para caridade quando morrer, porque esse dinheiro não vale nada para mim. — digo tentando controlar o choro, visto um casaco na Emma, coloco a mochila no ombro e jogo um cobertorzinho  por cima dela, enquanto minha mãe continua petrificada na porta. Desço as escadas sentido a mãozinha quente e macia dela acariciar meu pescoço. Pegamos um táxi há alguns metros da casa da minha mãe, estou congelando de frio, pois na pressa nem vesti um casaco quente. Mas Emma está quentinha  e protegida e isso que importa. Vamos para o nosso apartamento no subúrbio, não é nem sombra do lar acolhedor que foi um dia. Estava coberto de poeira, com lençóis sujos cobrindo os móveis. A cozinha que a Carol sempre mantinha brilhando, tinha ganhado um tom acobreado nojento.  Vou até nosso quarto, arrumo um cantinho menos sujo para Emma e passo a noite toda limpando compulsivamente cada cantinho daquele lugar. Pela manhã, compro umas besteiras no supermercado e roubo (quer dizer, pego emprestado) um carrinho de compras e me ponho a caminho do depósito que alugava. Lá, pego todos os itens pessoais que ainda não tinha tido oportunidade de levar para Roma e levo de volta ao apartamento, deixo tudo no seu devido lugar e me sento no sofá exausto enquanto Emma assiste a Peppa Pig. Pego o celular, vejo as ligações de Lacey, mas decido não retornar. Não era o tipo de coisa que se fala por telefone e acabo adormecendo no sofá. Devo ter cochilado do por alguns minutos, quando abro os olhos ainda sonolento, vejo Emma brincando com o fio da TV, mais uma piscadela pesada e ela já está mordendo o fio, me fazendo levantar num salto.

— Emma! Que droga, deixa para tentar se matar depois que seu irmãozinho caçula  nascer. Pelo menos vai ter um motivo. — Digo a tirando de perto da tomada e ela começa a chorar.

Mais tarde nos encontramos com Amber no apartamento que dividia com uma amiga. Eu odiei ter que dizer que não deveria tê-la convidado sem consultar a minha namorada antes, mas Amber como sempre, apesar de triste foi bem compreensiva com a situação. Ela disse que precisava ir ao médico e eu a acompanhei. Na clínica, ficamos esperando um tempo até sermos chamados, Emma como toda criança, odiava ficar parada então estava muito ranzinza. O médico fez um monte de perguntas e depois fomos fazer o ultrasom. Senti uma ponta de remorso, por não ter acompanhado nenhum durante a gestação da Carol, beijei a testa da Emma e vi a imagem surgir na tela. Para mim, eram um monte de bordões abstratos mas o médico indicava com o mousse o que era cada parte.

— Já dá para ver o sexo doutor? — Pergunta Amber.

— Não com este aparelho, ainda é muito pequeno. Mas se não pode esperar pode marcar uma sexagem fetal ou um ultrassom 3D.

— Eu posso esperar.

— Olha só, deixa eu paralisar aqui. Aí está o seu bebê. — Fala o médico indicando dois borrões, um deles até lembrava uma cabeça.

— Até que é bonito… — Digo tentando ser simpático.

— Ainda nem parece um bebê...

— Eu disse que era bonito, não que parecia um bebê… é uma linda lagarta cabeçuda, ou lagarto.— Digo e ela ri.

— Vão poder ver melhor daqui há umas semanas,  meu aparelho não ajuda muito.  Vamos ouvir o coração? — fala o médico já ligando o aparelho e fazendo ressoar um “tum tum” rápido pela pequena sala.

— Nossa, é forte.

—  É sim…Podem me dar um minuto sim? — Fala o doutor se afastando e minutos depois voltando com outro médico que passa uns minutos olhando e medindo o monitor.

— Algum problema? — Pergunto ansioso.

— Porque você não se veste Amber e conversamos no meu consultório?

Alguns minutos depois estávamos sentados diante do médico e enquanto eu tentava controlar as mãozinha ligeiras de Emma, ele tentava nos explicar sobre a preocupação dele com algumas coisas sobre o feto. Aparentemente, nosso bebê não estava no desenvolvimento esperado, então ele nos recomendou fazer mais alguns exames, dessa vez numa clínica com um equipamento mais adequado. No caminho para casa, tento ser reconfortante, culpando os aparelhos meio precários da clínica pelas alterações constatadas no bebê e digo que tudo vai ficar bem. Mesmo não acreditando muito naquilo. Nosso avião partiria no dia seguinte, e eu não estaria ali para ouvir do médico o que realmente estava acontecendo. Bom, sei devia me sentir mal por isso e mesmo não tendo absolutamente nenhum sentimento romântico pela Amber, estava preocupado com ela. Mas aliviado de ter que lidar com aquilo a distância, caso as notícias não fossem boas.  E assim aconteceu. Peguei o avião com Emma e passamos mais sete horas de tormento, choro, chocolate e gritos eufóricos. Quando desembarcamos em Roma, eu estava moído e Emma com suas baterias em pleno o vapor.

Lacey nos esperava com uma placa das mãos escrito “Bem vindo de volta reprodutor do ano”

— Boa noite para você também Lacey.

— Vem cá minha gracinha? Me conte quantos irmãos seu pai deixou no Canadá dessa vez? — Ela fala com ironia pegando a Emma do meu colo.

— Hahah, que engraçadinha. Achei que ia querer me matar.

— Ainda é crime, e não quero ser a responsável por mais órfãos no mundo. Mas dá próxima vez que quiser colaborar para próxima geração, procura uma clínica para doar esperma, você ganha uns vinte dólares por pontinho e não vinte anos pagando pensão.

— Nossa quer dizer que eu já desperdicei uma pequena fortuna no ralo do banheiro? — falo para acabar com as gracinhas dela.

— Antes tivesse só desperdiçado com o ralo do banheiro, ele não engravida né…— Ela fala revirando os olhos.

— Ah Eu amo essa garota! — Falo alto a enredando num abraço que termina num beijo demorado que é estapiado por Emma. Me afasto um pouco mantendo o rosto dela entre as minhas mãos. — Eu te amo Lacey e eu sinto muito por te por nessa situação, sei que não é fácil para você aceitar isso e lidar com o seu pai.

— Noah, eu não quero lidar com isso… Mas... Eu vou me odiar por isso, mas quero menos ainda lidar com não ter ...  A Emma. Não é baixinha?

— Não era isso que ia dizer… — Falo constatando o óbvio com um sorriso no rosto. Mesmo ela querendo bancar a durona, estava gostando de mim, tanto, quanto eu dela.

— Ela é linda, fala para caralho, e  super inteligente para um bebê de nove meses, vai acabar ganhando um Nobel. Quero meu nome na lista de agradecimentos quando fizer o discurso.

— Calalo — Fala Emma.

— Com esse vocabulário eu acho difícil um Nobel. — Falo vendo alguns policiais acompanhados de duas mulheres em terninhos cinza.

— Senhor Noah Johnson. — Diz um deles ao se aproximar.

— Sim, sou eu.

— O senhor está preso pelo sequestro da menor Emma Carolina Johnson. — Ele fala já segurando meu braço.

— O que? Eu sou o pai dela, tenho os documentos aqui. Que maluquice é essa?

— Senhor Johnson, tem o direito de permanecer calado — ele fala e vejo uma das mulheres tentar tirar a Emma dos braços de Lacey, que aperta minha filha contra seu corpo e empurra a mulher. E eu faço o mesmo com o policial.

— Senhor Johnson se resistir terei que algemá-lo — fala o policial colocando a mão sobre a arma. Quando percebo a movimentação dele, o empurro fazendo-o bater contra a coluna.

— Corre Lacey! — Grito e ela sai em disparada com a Emma chorosa, o outro policial me agarra por trás e e eu revido com uma cotovelada no abdômen. Empurro uma mulher que tentou me barrar e saio correndo atrás da Lacey.

Quando a alcanço pego a Emma nos braços e puxo a Lacey pela mão, não conseguia pensar racionalmente, tudo que eu queria era tirar a minha filha dali. No estacionamento, tento parar um táxi, mas logo os policiais e outros guardas nos cercam, eu olho para Lacey apavorada, minha filha chorando agarrada ao meu pescoço, aqueles homens armados e decido não piorar a situação.  

Me rendo.

Uma das mulheres arranca Emma dos meus braços e eu vejo ela se afastar com meu bebê em pranto chamando por mim, enquanto Lacey e eu somos algemados.

— Tem o direito de permanecer em silêncio…

— Para onde vão levar a minha filha? Para onde vão levar ela?

— Ela ficará sob a custódia do estado até ser devolvida a guardiã legal.

— Eu sou o guardião legal! Eu sou o pai dela!

— Segundo os registros a Sra. Susan Stevens Johnson é a tutora legal da criança, ela deu queixa do sequestro ontem a noite pra a comissão internacional de proteção ao menor. Terá mais informações na delegacia.


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Notas finais do capítulo

E agora gente? Nosso pai do ano tá em apuros! Alguém tem idéia de como Susan conseguiu isso?