Minha vida em pequenas Escalas escrita por Iset


Capítulo 31
O tempo passa, as coisas mudam


Notas iniciais do capítulo

Oi gente! MAIS UM CAPÍTULO!



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O tempo passa, as coisas mudam

 

Amber fica parada por instantes me encarando e depois dá um gole no café.

— Bom, para você é fácil. Sou eu que vou ter que carregar esse bebê para cima e para baixo antes e depois dele nascer. Você mora em Roma, sua vida não vai mudar, vai pagar a pensão, ver algumas vezes no ano, mas e eu?

— A decisão é sua e eu não quero te desrespeitar ou fazer você se sentir mal com ela. Só quero que saiba que pode ter outro jeito. E sei que não nos conhecemos tão bem, mas eu jamais continuaria morando em Roma com um filho aqui.

— Eu já me decidi Noah, eu sempre quis ter filhos. Mas não desse jeito, não como resultado de uma noite com um cara que... Que nunca teve nenhum sentimento por mim... Que ele só existe por conta de uma bebedeira...

— Bom metade das pessoas do mundo devem agradecer a vodka e o uísque por suas vidas, principalmente em lugares frios... — digo e ela dá um leve sorriso — E você é uma garota muito especial para mim, cuidou tão bem da Emma numa fase tão difícil... Cuidou de mim também, eu me senti muito mal depois de ter te dito aquelas coisas...

— Eu já marquei o procedimento, vai ser amanhã. — ela diz e eu sinto como uma pancada no estômago — Eu só não queria ir sozinha...

— Claro... Eu vou com você. — concordo um pouco consternado — Tá com fome? Vamos perdir alguma coisa?

Não falamos mais sobre o bebê ou do aborto. Contei sobre a Emma, o trabalho, a vida na Europa...Mas principalmente sobre Miguel, Amber trabalhava como babá desde os doze anos então ela tinha muita experiência com "encapetados", e deu algumas dicas para mim repassar ao Sam. Depois que nos despedimos, passei numa loja de conveniências comprei duas barras de chocolate e fui até o cemitério. Na lápide haviam flores frescas e um livro de Forest Gump dentro de uma capa plástica. O pego curioso e folheio algumas páginas, na contra capa há umas palavras com uma letra bem desenhada.

" Um infinito em dias numerados.

Alec Mcalister"

— Forest Gump? Acho que ele não sabia do seu gosto literário — digo ainda sentindo uma pontinha de ciúme — Trouxe chocolate, seus favoritos e com certeza o cuidador do cemitério vai gostar muito mais do que flores e um livro. Chupa essa Sor Alec — Sussurro.

— Nossa, você viu a enrascada que me meti? Eu não sei muito o que fazer... Eu sei o que você diria e me desculpa por não ter concordado com você durante todos os anos que ficamos juntos... Que droga Carol... Porque você foi me mudar tanto? O bom de ser babaca é não se sentir culpado em ser babaca e agora, sinto vontade de me dar um soco toda vez que eu faço uma idiotice.

Cheguei perto da hora do almoço e minha mãe estava em casa, tentando dar uma papinha para Emma que se recusava e tentava fazer bagunça com o pratinho.

— Nossa onde se meteu? — Diz enfiando o prato com comida na minha mão — Ela não se parece apenas na aparência com você, que menininha geniosa!

— Bom ela tem a quem puxar, né vovó... — Falo dando um beijo na cabeça da Emma que solta um gritinho.

— Está tudo bem? — Ela questiona percebendo algo errado comigo.

— Está.

— Eu te conheço Noah, sou sua mãe...Fala logo... Foi no apartamento?

— Não, na verdade eu vim para cá porque... Lembra da Amber?

Minha mãe teve uma reação parecida com a da Lacey, acrescida de alguns "Eu te avisei" e "golpe da barriga" que só cessou quando eu falei que Amber iria interromper a gravidez. Minha mãe odiava admitir que estava errada sobre as pessoas, mas não teve opção depois do que falei. 

A tarde decidi passear com Emma pela cidade, a neve deixava tudo branco e os enfeites natalinos pendurados, traziam aquela aura mágica de filmes de Hollywood. Minha garotinha usava um macacão térmico e felpudo branco e rosa o que a deixava quentinha e extremamente fofa, me abaixo com ela até o chão e mostro a neve, que a deixa encantada e a faz rir quando alguns flocos começam a cair do céu. O brilho no olhar dela, me fez lembrar os da Carol na primeira vez que brincou com a neve. Mais tarde vamos a uma lancheria e enquanto dou pedacinhos de bolinho de queijo para bebê, decido ligar pro Thomas, o pai da Carol. Desde o enterro, nos falamos umas duas vezes apenas, Tom sempre foi um cara reservado e se eu quisesse que Emma tivesse relação com ele, teria de ser eu a procurar. Como já era idoso e com problemas de saúde, era melhor aproveitar o tempo com ele agora....(Tudo bem, sim, confesso... Talvez eu só esteja arranjando uma desculpa para descobrir o que Sor Alec anda fazendo.)

Ligo para Thomas e ele atende com aquela voz rouca e fica surpreso quando ouve a minha voz. Conversamos um pouco sobre a Emma e também sobre a Carol, ele me convida para passar o Natal com eles na Flórida, mas eu digo que este ano não será possível por conta do trabalho, mas prometo uma visita assim que tiver férias.

— E como estão todos? Trevor? Alec...?

— Trevor finalmente está durando mais que um ano no emprego e o Alec, bom faz dias que não vejo... Aliás ele está no Canadá, acho que em Montreal. Ele foi fotografar umas geleiras ou sei lá o que...

— Ah... Isso explica o livro..

— Que livro?

— Nada, deixa para lá, também estou no Canadá, vim resolver umas questões... Tem o número do Mcallister?

Conversamos durante mais de meia hora e até a Emma balbuciou algumas palavras incluindo um "bunda" no telefone. Por sorte Tom já era meio surdo e não entendeu nada do que ela disse. Quando desligo decido ligar para o Mcallister, que toma um susto quando digo quem está falando. Apesar de tudo, mantemos uma relação "amigável", todas as vezes que Carolina e eu fomos a casa do pai e inevitavelmente topava com Alec, pois eles ainda eram vizinhos e muito amigos.

 Amigável eu quis dizer, que nunca mais saímos no soco e eu evitei piadinhas sobre arquitetos, até porque por ironia da vida Derek também é. Alec se afastou da Carol e mesmo eu percebendo que muitas vezes ela parecia querer conversar e estar na companhia dele, ele sempre evitava. O que por um lado me deixava feliz (okay por todos os lados), afinal, eu tinha muito medo da Carol se arrepender de ter ficado comigo. Mas também me fazia pensar, o quanto ele ainda gostava dela, já que não conseguia tratá-la como simplesmente a filha de um amigo a evitando sempre que podia. Conversamos um pouco e ele disse que estava em Toronto, então decido convidá-lo para jantar na casa da minha mãe. Ele hesita um pouco, mas acaba aceitando, quando falo que quero que Emma conheça e conviva com as pessoas que conheceram a mãe dela.

Minha mãe ainda está brava com a história da Amber, mas ela estava se esforçando para me agradar. Então concordou com o jantar, Alec chegou pontualmente pelas sete, cabelos penteados para trás com alguns fios brancos, um blazer preto e camisa branca. Apresento ele a minha mãe e ele fica visivelmente emocionado ao pegar a Emma nos braços, minha filha parece ter a mesma empatia que a mãe dela tinha por ele e nem reclama do abraço apertado e do beijo demorado em sua bochecha.

Na sala, conversamos sobre o que estávamos fazendo. Alec conta que continua trabalhando como arquiteto, mas que agora, pode se dar ao luxo de sair alguns dias para fotografar e trabalhar no projeto de seu livro, já que Max está grandinho e ele tem uma certa liberdade trabalhando através de contratos para várias empresas da Costa leste. Em contraponto, falo do turbilhão que se tornou a minha vida depois que Emma nasceu e de como a cada dia parece ficar mais difícil. Ele sorri e dá um gole no vinho.

— Eu sinto falta de quando Max era bebê. Vai sentir também quando Emma for uma adolescente resmungona.

— Ah vai mesmo! — Concorda a minha mãe — Principalmente se ela puxar a você.

— Mãe! — Protesto.

— Ah meu filho eu te amo, mas por mim você teria pulado dos doze pros vinte, que não sentiria  falta alguma dos anos perdidos.

— Mãe!

— Querido você era insuportável, sempre bravo, reclamando de tudo, arranjando encrenca... Bom reze para Emma puxar a mãe.

— A Carol era uma garota incrível, mas também era bem resmungona. — Diz Alec com um ar nostálgico.

— Bem então querido você está em maus lençóis — constata minha mãe olhando para Emma brincando com uns blocos no tapete.

Jantamos e falamos muito sobre a Carol, Emma acabou pegando no sono sobre o sofá e minha mãe se também se retirou para dormir. Sem antes convidar Alec para voltar quando quisesse e rasgar uma certa seda para educação e postura dele.

— Ela é uma garotinha incrível — Diz admirando Emma dormir.

— A ela é... É o único bebê que eu sei que consegue ficar 20 horas acordado, dormir duas e maratonear mais vinte — Digo e ele sorri, enquanto ofereço mais uma taça de vinho.

— Perdi muito sono com o Max também, ele dormia, mas vivia doente aí eu não conseguia pregar o olho. Mas passa. Vai ver.

— É eu sei. O que não passa é saudade que eu sinto da Carol — digo e ele me fita. — Você também sente não é?

— Carol e e eu não trocávamos mais que mensagens de Feliz aniversário há muito tempo.

— É, eu sei. Mas você sabia que ela tava aqui, viva e bem. Sei que manda flores para ela todos os meses. E achei sei eu livro, bom ela gostava mais de romances — digo colocando o livro sobre a mesinha.

— O livro não era para ela, era para você. Eu confesso que quando eu fui até o hospital e vi aquele bebê frágil pelo vidro, tive muita pena dela. Achei que você seria péssimo pai, até disse pro Thomas que ele devia conversar com você, pedir a guarda da Emma, que eu podia ajudar a cuidar dela.

—Você não foi o único a pensar assim, na verdade até eu pensei. Ainda tô longe de ser um bom pai, mas ela já tem nove meses e nunca fumou, bebeu ou foi para uma ravie — Digo forçando um sorriso.

— Sabe, quando a Carol escolheu você eu fiz o que um cara sensato devia fazer, mas tudo que eu queria era que você a decepcionasse ou sofresse um acidente de carro ou que eu achasse uma fonte da juventude que me levasse uns vinte anos pra poder competir sem parecer um quarentão depravado — ele diz com um sorriso — Eu não via nada bom em você, te achava um garoto babaca, egoísta, exibido, metido, agressivo, impulsivo...

— Tá, já deu para entender, você não ia mesmo com a minha cara. Pode parar com os adjetivos.

— Bom resumindo, eu não conseguia entender o que uma garota tão especial, meiga e cheia de vida como a Carolina queria com você. Mas ela não estava vendo o que todos achavam ou o que você mesmo pensava sobre você. Ela viu esse cara, o cara que você não se permitia ser. — Ele diz olhando para minha mão afagando o cabelo de Emma. — Ela foi muito feliz com você, muito mais do que teria sido comigo ou com qualquer outro cara. E eu te agradeço por ter dado o infinito dela, assim como ela me deu o meu. — Ele fala com os olhos marejados.

Sinto os meus arderem e uma lágrima correr solitária pelo meu rosto, respiro fundo e faço um esforço para me controlar.

— Obrigado — digo esfregando os olhos.

— Bom eu preciso ir, meu avião sai amanhã cedo. Eu posso dar um beijo nela?

— Pode. Ah Alec, eu ainda não a batizei. Eu nunca fui ligado em religião mas a Carol era, Ele ia gostar que você fosse o padrinho da Emma. Se você quiser é claro — digo e ele abre e um sorriso.

— Me sentirei honrado — ele fala se abaixando e beijando a testa de minha filha.

— Eu vou para Flórida nas férias, eu te aviso para acertarmos tudo.

— Claro, o Tom vai gostar muito de saber. — Fala me dando um tapa no ombro.

O conduzo até porta e nos despedimos.

— Alec! Porque Forest Gump?

— Porque ele ele era um cara engraçado, que não tinha medo se ser honesto e inspirador. Porque ele sempre dizia o que pensava e fazia o que acreditava ser o certo, mesmo quando parecesse loucura para todos.

— Ele não era meio retardado?

— É... um pouco. Ele diz dando um sorriso e e entrando no carro.

Vou para dentro de casa balançando a cabeça com um sorriso, pego Emma nos braços e a levo para cima. Fico durante um tempo pensando na conversa com Alec, depois em Lacey, Amber... No filho que jamais nasceria até ser vencido pelo sono.

Na manhã seguinte acordo bem cedo, minha mãe havia saído para reunião de negócios e eu deixo a Emma sob os cuidados da governanta. Ligo para Lacey que agora está mais calma e conto sobre o que estava acontecendo e como eu estava me sentindo mal e impotente diante da situação. Ela me acalma dizendo que tudo ficaria bem e que eu devia respeitar e entender a decisão de Amber. Que o contrário só traria mais sofrimento para todos. Respiro fundo e dirijo até a clínica, dessa vez chego antes que ela e fico sentado na sala de espera, muito deslocado, aguardando ela chegar. Cerca de quinze minutos mais tarde, ela chega usando um moletom cinza, cabelos num coque meio bagunçado, jeans e olhos vermelhos. Parecia a Carol em dia de ressaca. Me comprimenta e vamos até a recepcionista, onde ela assina os papéis e e eu pago a conta.

— Eu acho que vou precisar de vodka depois disso. — Ela diz.

— E um pote de sorvete?

— É vodka com sorvete e acho que vou levar todas as camisinhas daquele pote, devia pegar umas também.— Concorda ela.

— Pelo preço, eu deveria ter direito a um vale vasectomia. — digo arrancando-lhe um sorriso amarelo — Amber, você está bem?

— Eu vou ficar. Quando isso terminar.

— Tá certo. — Fico sentado ao lado dela enquanto ela termina de preencher os papéis e depois somos chamados a uma sala onde a pesam e explicam o procedimento, sobre os cuidados e o retorno em uma semana. Depois disso me mandam sair e eu volto para sala de espera, me sento na cadeira batendo o pé no chão tentando me distrair com panfletos que falavam sobre DSTs e fotos de verrugas genitais. É não deu muito certo.

Quinze minutos depois Amber retorna com os olhos vermelhos e me abraça.

— Desculpas eu não posso fazer isso, eu quero, eu sei que é o melhor para mim, para você, mas eu não consigo. 

— Então, vamos ter um bebê?

— É, vamos ter um bebê.

— Uauu... Emma vai vai ter um irmãozinho. Eu vou ser pai — digo constatando o óbvio — Ah meu Deus eu vou ser pai... Falo sentindo perder as forças.

Acordo no ambulatório da clínica com uma puta dor de cabeça. Minha mãe está do meu lado numa cadeira e eu levanto um pouco confuso.

— O que aconteceu?

— Ah você passou mal, desmaiou. Como Amber não fez o aborto e eles não extornam o pagamento, disse que podiam fazer uma vasectomia em você. — Diz minha mãe séria.

— Tá me zoando? — Digo levantando o lençol apressado.

— Relaxa Noah, se pudesse fazer isso sem sua autorização teria mandado fazer quando as empregadas começaram a cobrar o dobro para limpar o seu banheiro aos doze anos. Quem sabe não seria avô de duas crianças antes dos 50!

— Você já passou dos cinquenta faz tempo — digo — E cadê a Amber?

— Foi para casa.

— Não disse nada para ela, disse?

— Nada que eu já não tenha te dito.

— Ah mãe! Que droga! — Falo levantando num salto.

Depois de ligar e me desculpar com Amber pelas coisas que a minha mãe falou, voltamos para casa em silêncio. Fiquei pensando por horas, decidi que ficaria em Roma pelos próximos meses até poder quitar parte das minhas dívidas, mas voltaria a morar em Toronto assim que o bebê nascesse. No dia seguinte encontro com Amber na cafetaria e desta vez, levo Emma comigo. Explico o que tinha decidido, mas ela não parece muito feliz.

— Eu preciso resolver as coisas lá.

— Eu entendo, desculpa. É que achei que ia participar da gravidez. Mas tudo bem eu me viro sozinha.

— Eu te convidaria para passar um tempo em Roma, mas tem a sua faculdade e seu emprego...

— Na verdade eu estava trabalhando numa agência como freelancer, com certeza não vão mais me chamar quando a barriga aparecer. E eu posso trancar a faculdade por um tempo, não tenho cabeça para estudar mesmo.

— Oh...— digo me arrependendo de ter convidado, afinal só fiz isso por gentileza pois tinha certeza que recusaria.

— Se quiser que eu vá... Posso te ajudar com a Emma. — Ela diz com um sorriso.

— Nós... nós... vamos adorar, não é Emma? — Falo com vontade de socar minha própria cara. Lacey ia me matar! 


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