Confusões em família - parte 1

Continuo estático encarando Lacey, que também tem uma expressão de “estamos fodidos”, estampada no rosto, enquanto Joseph nos olha intrigado.

— Vocês já se conhecem ou é impressão minha? - Questiona ele a nós dois.

— Nós nos vemos uma vez… Num café… Trocamos…. Duas ou três palavras, mas eu não tinha a menor ideia de que Derek Morgan tinha um irmão gêmeo com um sobrenome diferente. - Ela mente meio gaguejante e eu engulo a seco.

— Ah sim o café… Café muito ruim, péssimo... - Concordo ainda pasmo.

— Cidade pequena, não? Deixa eu apresentar formalmente … Essa é a Corine, minha esposa.

— É um prazer conhecer vocês dois, eles até parecem um pouco com você. - Diz ela simpática me abraçando, beijando Emma e depois seguindo para Derek e Vick.

— Esses são Nate e Lacey, nossos filhos. - Ele diz e eu quase me afogo com minha própria saliva.

— Você tá bem? - Ele questiona, enquanto eu cumprimento Nate e Lacey dá um aceno de longe.

— Garganta seca, eu preciso de uma bebida, uma bebida bem forte. Segura para mim por favor. - Digo entregando Emma nos braços da Vick e saio correndo em direção a cozinha.

— Ai meu Deus! - Digo passando os dedos entre meus cabelo, pego uma garrafa de vodka e coloco uma dose, tomo num gole só e em seguida vejo Derek adentrar a cozinha.

— Está tudo bem? - Ele questiona sem entender a minha reacão.

— Eu lembrei de onde tinha visto o Joseph. - Digo.

— E?

— De fotos de viagens.

— Bom pelo que me disse o trabalho dele é ser mochileiro então...

— De fotos de viagens no apartamento da garota que conheci no Sam’s e que por acaso é a Lacey. - Desabafo.

Derek fica pasmo, pega a garrafa de vodka e toma um gole.

— Peraí você e a Lacey… Ah meu Deus! - Diz ele dando outro gole.

— Não faz isso parecer ainda pior okay? Foi por isso que ela sumiu no jantar de gala… Droga!

— Ela estava no jantar de gala?

— Sim estava e eles também, tinham muitas pessoas eu nem reparei. Nós fomos dar uma volta pelo museu e… Ai… Eu vou pro inferno!  - Constato.

— Calma okay, vocês nao sabiam logo não fizeram nada de errado. Certo. Vocês não transaram, não é?

— Não! A gente só deu uns amassos dentro de um armário de serviço. Você tem razão não fizemos nada de errado, eu vou voltar pra lá e agir como ela... Fingir que isso nunca aconteceu e só conversamos sobre cappuccinos. Isso. E você vai esquecer o que eu disse e agir normalmente com a nossa meia.. ir.. ir….irmm… - Não consigo completar a palavra.

— Irmã?! Cara vai ser difícil agir normalmente depois de saber que meu irmão e a minha meia irma se pegaram dentro de um armário, durante um evento beneficente. - Ele fala me encarando.

— E acha que pra mim vai ser facil, droga nunca mais vou conseguir beijar alguém sem um teste de DNA, antes. Mas que você prefere? Que nossa primeira reunião de família tenha como assunto o fato do seu irmão quase ter transado com a sua meia irmã, por duas vezes? - Questiono.

— Não mesmo, nossa reunião já vai ter assunto demais. Okay agir normalmente. - Ele diz dando outro gole.

— Está tudo bem rapazes precisam de ajuda? -  Diz Joseph adentrando curioso.

— Não está tudo sob controle eu só estava verificando o assado com o Noah. Pode levar esse vinho para sala por favor? - Diz Derek entregando - lhe uma garrafa e algumas taças.

— Certo. - Ele concorda com ares de desconfiança.

— Obrigado.

— Fale com ela e resolva isso e vê se tenta se manter de calças perto dela. - Fala Derek em tom de repreensão.

— Que nojo Derek acha que eu sou um pervertido . Eu não sabia! - Protesto.

Derek se afasta e eu fico mais um tempo na cozinha me recompondo, respiro forte e volto para a sala com um sorriso forçado, uma tábua de frios, um pedaço de queijo e uma faca.  Coloco tudo na mesinha de centro, Corine e Vick conversam sobre a gravidez e Nate fala alguma coisa com Joseph enquanto brinca com Emma.

— Então Noah, o pai disse que você jogou basebol num time mirim, eu pretendo jogar basquete na faculdade. - Fala Nate puxando assunto.

— Ah sim eu era o melhor rebatedor da liga, chegamos as finais do estadual.

— Legal e porquê deixou o beisebol? - Ele pergunta.

— Eu poderia dizer que mudei meus gostos, mas a verdade é que eu preferia ficar com meus amigos bebendo cerveja, fumando maconha e vendo revistas de mulher pelada. - Digo servindo o vinho e eles dão um sorriso amarelo.

— AH! Legal. - Fala o garoto meio sem graça.

— Não faça isso. Eu era um garoto muito burro. - Falo.

Faço um sinal para Lacey com a cabeça e ela entende.

— Será que eu posso usar o banheiro? - Ela diz e eu me prontifico.

— Claro, eu te mostro onde fica. Por aqui. - Digo gentilmente. Saimos pelo corredor e na porta do banheiro, longe dos  curiosos  eu a encaro e ela se retrai.

— Eu não tinha idéia. Eu juro. - Ela diz em tom baixo.

— Agora eu sei porque você saiu correndo do jantar de gala. Porque não me disse?

— E o que eu ia dizer? Eu tava em choque. Não tive nem coragem de contar pro meu pai que o espermatozoide dele resolveu se dividir em dois ia dizer o que? Desculpa Noah não podemos tranzar porque você é filho do meu pai?!

— Mesmo assim você podia ter me dito, pelo menos teria evitado o monte de pensamentos pecaminosos que tive aquela noite a seu respeito. O que a gente vai fazer?

— Nada, não vamos contar nada, a gente se viu num café trocou umas palavras e só. Esquece aquilo certo?

— Esquecer? Olha só eu não sei quanto a você, mas no mundo em que eu vivo, tirar as imagens de você pegando a sua meia irmã da mente, não é algo fácil de fazer. A gente vai pro inferno porra!

— Noah relaxa. Dá para tentar se acalmar?

— Me acalmar? Lacey a gente quase... Droga, como eu vou olhar pra cara do Joseph, da sua mãe? Eu tô me sentindo o Jaime Lannister!

— Não tínhamos ideia, então esquece isso. Agora respira e volta pro foco, sobre aquela noite? Esquece, deleta. Acha que pode fazer isso?

— Posso… - Digo e corro o olhar por ela. _ Não… Droga, você é muito gata para ser minha irmã. Que merda, porque você não tem espinhas ou uns 120kgs?! Eu vou pro inferno, e a culpa é sua!

— Noah… okay você venceu. Meu pai foi preso, Joseph se casou com minha mãe quando eu tinha três anos e ele me deu o sobrenome dele, mas não é meu pai biologicamente falando. - Ela diz e eu levo a mão na testa aliviado.

— Não está falando isso só pra mim me sentir bem não é? 

— A claro, com certeza admitir que meu pai é um criminoso que foi pra cadeia por matar outro cara e espancar a minha mãe é muito mais fácil do que fazer um cara entender que ficar com uma completa estranha não torna ele um pecador incestuoso. 

— Ah graças a Deus! Obrigado senhor eu nunca mais questiono a sua existência. - Digo fazendo o sinal da cruz, quando noto o semblante triste dela. _ Não quis dizer graças a Deus de o seu pai ter sido preso...

— Ele era um idiota, mas pouca gente sabe disso, então se puder ficar de boca fechada. - Ela diz.

— Claro, nossa não imagina o peso que tirou das minhas costas. Que moral eu teria pra descer o cacete nos futuros filhos do Derek, quando quisessem dar em cima da prima mais velha? E a minha progenitora também tá presa então… Acho que temos mais em comum do que imaginamos…. Ou queríamos. E o que vamos fazer?

— Nada. Eu não sou filha dele, mas ele me criou como uma, se ele souber o que aconteceu,  vai surtar, então… Esquece que me viu pelada.

— Eu vou tentar, mas não prometo.

— Amigos? - Ela questiona me estendendo a mão.

— Amigos. - Respondo com um aperto de mãos.

— Eu vou no banheiro. Com licença. - Ela diz adentrando a porta e eu dou uma olhada na bela silhueta da morena.

— Ah Droga, eu vou pro inferno. - Digo balançando a cabeça e tentando dissipar as lembranças instigantes dos encontros com Lacey.  E quando volto o olhar pro corredor, Nate está congelado me olhando. Me aproximo dele com a esperança de que não tenha ouvido nada, mas ele me encara e depois gira uns 180¤ graus de volta a sala sem dizer uma só palavra, acho que ele estava tentando processar o que ouviu.

— Nate espera. Não é o que você tá pensando.

— Você e a Lacey ficaram, isso?

— Não a gente conversou e sim nos beijamos mas foi só isso. Nenhum de nós tinha ideia, e acabou antes de começar, então se você puder deixar isso quieto, seria melhor para todo mundo.

— Tudo bem, seria muito esquisito. Eu vou, voltar para sala.

— Obrigado, irmãozinho? - Digo forçando uma simpatia e ele me olha como se eu fosse um retardado.

Volto para sala fingindo ter ido pegar uns brinquedos para Emma para justificar a minha demora. Conversamos durante mais um tempo e percebo que Nate, ficava o tempo todo me encarando e toda a vez que Joseph eu eu embalamos uma conversa, ele interrompia com algum assunto aleatório me fazendo tremer na base de tanto medo.

Quando tudo está pronto convoco o pessoal para mesa, comoco Emma no cadeirão e enquanto todos se servem com aquele ar despreocupado eu me sinto estranhamente feliz. Apesar dos O’Connor ainda serem praticamente estranhos, eu gostava daquele sentimento de unidade que eles pareciam ter, era uma família e eu fazia parte dela.

Vou até a cozinha e trago os assados, Nate faz uma cara de repulsa quando eu sirvo o leitão assado.

— Não gosta de porco Nate, tem rosbife se preferir.- Questiono.

— O Nate tá numa fase vegetariana. Depois de 16 anos devorando meia vaca por mês. - Disse Lacey em tom de provocação.

— Lacey respeite a escolha do seu irmão. - Fala Corine.

— Bom, tem arroz, batata. Se quiser posso passar um tofu na frigideira rapidinho para você. - Digo tentando agradar e manter a boca dele fechada.

— Nossa Noah não conhecia esse seu lado prestativo. Na verdade também tentamos uma dieta vegetal durante um tempo e não havia refeição que o Noah não reclamasse, ou comprasse um balde de frango frito para comer na nossa frente.  - Diz Derek.

— Tentamos nada, ele me obrigou a entrar na dieta maluca da Vick e tudo porque vacas são gostosas, mas mulher ainda vence, porque era ele quem dava a grana pro frango frito em troca de algumas coxinhas escondidas.

— Noah! - Protesta Derek.

— Derek! - Exclama Vick indignada.

— Ei não briga com ele não que eu ainda lembro daquele x burguer duplo com muito bacon, enquanto o fulano dormia. - A repreendo e ela me olha com cara de quem queria me matar.

— Me desculpem, mas eu não vou ficar nessa mesa. Animais não são comida! - Ele diz se levantando.

— Qual é Nate? Se Deus não quisesse que a gente os comesse, eles não seriam tão gostosos! - Fala Lacey, arrancando algumas risadas.

— Boa! - Digo a reverenciado com a taça de vinho.

— Acha mesmo moral devorar pobres animais? - Fala Nate em tom de indignação a irmã.

— Imoral é nossos antepassados terem trabalhado tanto para chegar no topo da cadeia alimentar, para  gente comer hambúrguer de soja. E outra nós também somos animais, assim como eles estamos nesse ciclo de busca por proteína. - Lacey fala dando os ombros.

— Sim somos animais, mas se somos inteligentes o suficiente para não sair por aí copulando com nossas mães e irmãs, podemos aprender a nos alimentar com menos crueldade. - Ele fala e dessa vez é lacey que quase se afoga com um pedaço de carne.

— Tem razão, quem quer Tofu? Eu vou preparar. - Digo dando o fora dali rapidamente.

Chego na cozinha e minutos depois Lacey aparece com a Emma nos braços.

— Ele sabe, não é? - Ela fala com ar preocupado.

— Nos ouviu no corredor.

— Ótimo, minha vida acabou!

—Porque a gente não conta logo e acaba com isso? Qual é não fizemos nada de errado e tecnicamente você ter sido criada pelo cara que me fez, não nos dá nenhum laço fraterno. - Digo.

— Não, hoje não. Eu dou um jeito nisso, ele mandou nudes para uma amiga minha ano passado, sabia que um dia ia poder usar isso para alguma coisa. - Ela diz e a Emma faz um carinho no rosto dela.

— Nossa. - Digo impressionado, as demonstrações de carinho da minha viking geralmente eram mordidas, tapas ou puxões de cabelo.

— O que? Ela diz dando um beijo na bochecha fofa da Emma, sem ser repelida.

— Não deu vodka para minha filha deu? - Pergunto sem entender a calmaria da Emma.

— Não ela é muito pequena, temos que esperar até pelo menos uns doze anos para dar um porre nessa coisinha aqui.  Se bem que o meu tio, dava goles de cerveja nas festas de natal desde os quatro, só para me ver tropeçando nas coisas e fazer discursos sobre o papai noel . - Ela reflete com um sorriso no olhar que a deixava ainda mais linda.

— Queria ter tido um tio assim, eu tinha que tomar goles escondido. Me sentia num filme do Tom cruise.

— A não queria não. - Ela respondeu acariciando a cabecinha da Emma.

— Posso te fazer uma pergunta? - Questiona e ela acena positivamente com a cabeça. _ Como é ser filha do meu pai? - Questiono com ar de riso, aquilo nunca deixaria de ser estranho.

— Ele é um cara incrível, mas é cabeça dura às vezes, na verdade quase sempre. Gosta de de bancar o durão, mas é uma manteiga derretida.

— E tem um cabelo maneiro. - Completo.

— É ele tem um cabelo maneiro. E Não precisa fazer tofu pro Nate.

— Ah tudo bem, acho que eu devo a ele, o bom de não ter uma irmã e que ninguém pode ficar com ela. - Falo colocando aquele pedaço de esponja, vulgo tofu na frigideira.

O jantar continuou sem exaltações e depois que todos estavam de barriga cheia nos sentamos a sala amontoados no sofá enquanto Corine mostrava o álbum de família com fotos da infância da Lacey e do nosso irmão Nate e também das muitas aventuras que viveram pelo mundo e confesso que senti uma pontinha de inveja. Eu poderia contar nos dedos as vezes que sai do canadá enquanto vivia com meus pais e geralmente eu acabava trancado e entediado numa suíte enquanto eles iam tratar dos seus assuntos.

Ouço a campainha tocar e Vick se prontifica a atender, segundos depois ela sai para o jardim e vejo derek levantar rapidamente e ir em direção a janela. Vou ao encontro dele e avisto Thomas outra vez  ali, discutindo com Vick, vejo Derek cerrar os punhos e ir em direção a porta, me empurrando com força pro lado quando tento impedi -lo, me fazendo chocar contra a prateleira.