Minha vida em pequenas Escalas escrita por Iset


Capítulo 17
Psicólogos e seus problemas


Notas iniciais do capítulo

Oiii gente, esse cap é dedicado a Bell Dias que sofreu bullying do Noah hoje, por sugerir cortar o cabelo dele. Bell desculpa Noah é meio descontrolado as vezes rsrs, mas ele te adora! Boa leitura



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Psicólogos e seus Problemas

Durante alguns minutos, minha mente pareceu pairar longe. Desde que descobri que Susan e Paul não eram meus pais biológicos, secretamente sonhava em encontrá-los. E fiz o que estava ao meu alcance para isso. No entanto minha progenitora, apesar das diversas ligações que troquei com ela, nunca manifestou interesse em me conhecer. Na verdade durante os telefonemas, fazia questão em deixar claro, que eu nunca pertenci a ela. Tudo que ela me contou sobre meu pai, foi que era um carinha que conheceu num verão, ela nem quis me dizer seu nome, na verdade pensei que nem ela tivesse ideia de quem fosse, jamais imaginei que poderia encontrá - lo.

No entanto ele estava ali, cabelos castanhos na altura do queixo, olhos estreitos de um azul claro intenso, que agora, estavam um tanto marejados pela emoção. Joseph olha para nós dois e se aproxima de mim, me enredando num abraço, apertado, caloroso. Sinto um sentimento esquisito, mas bom ao mesmo tempo e retribuo o abraço.

— Meu filho. - Ele sussurra antes de se afastar e em seguida abraça Derek, que permanece estático, com cara de pouco gosto, Joseph percebe e logo finda o abraço um tanto encabulado.

— Bom, então acho que é isso. Eu preciso ir para empresa, revisar uns contratos. - Fala Derek, tentando mascarar a emoção.

— Eu pensei que pudéssemos sair, conversar, tomar um café ou uma cerveja. Conversar um pouco, temos muitos anos de conversas atrasadas. - Fala Joseph com um sorriso cativante.

— Eu voto na cerveja. - Digo com certa empolgação.

— Bom vão nessa vocês, eu realmente preciso ir trabalhar. - Ele fala.

— Derek? Qual é? Tenho certeza que esses contratos podem esperar até amanhã. - Falo o encarando.

— Não, não podem Noah. Você sabe que estou desfazendo a sociedade, tenho muita coisa para resolver. - Ele diz secamente.

— Okay então.  - Concordo, vendo que não mudaria de ideia.

Me despeço de Derek e vou até o estacionamento com Joseph. Ele acende um cigarro e eu peço um, ele me alcança a carteira olhando intrigado.

— Você fuma?

— Só quando ninguém tá olhando. Eu tô tentando parar. - Digo acendendo o cigarro.

— Eu também, há uns dez anos. - Ele ri. _ Aquele é o meu carro. Na verdade não é meu é alugado, mas eu tenho um do mesmo ano em casa.- Ele fala com certo orgulho.

— Dodge Charger 1970? Um clássico. - Digo passando os dedos pelo capô.

— Lindo não é mesmo?

— Maravilhoso, eu tinha um Corvette 67, era meu bebê.

Seguimos para um barzinho no centro. Durante o percurso, falamos sobre carros, motos, bandas de rock clássicas e depois de duas cervejas já estávamos rindo, contando histórias engraçadas, um pro outro.

— Pois é, ai eu estava num casamento no Hawaii, com uma puta dor de barriga. Então, fui ao banheiro e quando já tinha descarregado todo o “barro”, notei que estava faltando papel higiênico. Então pensei: O que eu faço? Não posso chamar ninguém… Já sei vou lavar a poupança na pia e depois eu me enxugo. Ok, mas eu não contava que a pia ia quebrar com meu peso, a bendita caiu no chão, bati a cabeça e desmaiei. Resultado, desmaiado, bunda suja, e não saia do banheiro. O pessoal arrombou a porta e metade da festa me viu naquela situação. Nunca mais piso no Hawaii. - Ele conta e eu caio na gargalhada.

— Nossa, é essa foi a pior vergonha, você venceu. Eu enterraria minha cabeça na terra se tivesse passado por isso. - Falo ainda sem conseguir parar de rir.

— Ah eu passei anos sem ir em festas de casamento depois daquilo. - Ele fala rindo.

— Nossa! Olha que horas já são, nem vi o tempo passar. Tenho que ir buscar a Emma. - Digo.

— Emma a sua bebê certo?

— Sim ela, ah deixa te mostrar aqui uma foto. - Digo estendendo o celular.

— Ah meu Deus ela é uma gracinha. - Ele Diz olhando a foto na tela, com a mesma expressão de bobo do Derek, quando conheceu a Emma. _ Você é muito corajoso Noah, são poucos que tem essa coragem de assumir um filho sozinho. - Ele diz visivelmente envergonhado.

— Não sou não, para ser sincero, no começo foi só pela Carolina, eu não queria ser pai, até pensava em ter filhos com ela, no futuro, porque era o sonho dela e eu a amava. Mas eu nunca tinha me visto como pai. Eu cheguei a quase sugerir para ela interromper, porque não era a melhor hora. Aí na gravidez a Carolina… Ela me fez gostar da ideia e eu tava quase pronto, mas ela se foi e… Tudo pareceu desmoronar, e por um tempo eu desejei que a Emma não existisse, eu estava apavorado, e o único motivo de eu não ter entregue ela, foi que eu sabia que estaria decepcionando a Carolina. Eu só quero dizer que eu entendo você. Porque me colocando na situação que você estava, eu acho que teria feito a mesma coisa. - Digo com toda a sinceridade.

— De qualquer forma, você tinha razão, eu ao menos podia ter me certificado de que o bebê estaria em boas mãos. Até hoje eu não entendo porque não fiz isso, eu sempre cuidei da minha família, meu pai e eu ainda somos muito ligados. E eu te garanto que eu perdi muito sono por isso, principalmente depois que eu descobri como era ter um filho. Eu Espero que um dia você e seu irmão possam me perdoar.

— Por mim tá tudo bem, acredite eu sei o que é fazer burradas e ter o resto da vida marcada por elas. Como disse, eu te entendo, mas o Derek, ele é responsável demais para se permitir burradas, então, acaba sendo mais difícil aceitar a dos outros. Dê um tempo para ele digerir isso tudo.

— Obrigado. Bom de qualquer jeito, Corine e eu decidimos ficar mais um tempo na cidade. Vamos alugar um apartamento melhor, uma escola de verdade pro Nate. Eu pensei que, bom vocês podiam jantar com a gente, as crianças vão gostar de conhecer vocês.

— Ah claro, mas que tal lá em casa, na sexta? Emma fica mais à vontade em casa.

— Ótimo, se tiver tudo bem para você e pro Derek, por mim tudo bem.

— Então está marcado, será que pode me dar uma carona até o Paroli, para conhecer sua neta? - Digo e vejo os olhos azuis dele se iluminarem.

Entramos no Charger e ele dirige até a creche da Emma, vou buscá - la e quando volto, Joseph abre um sorriso largo e a pega nos colo, dando um beijo na sua bochecha.

— Eu sou vovô. - Ele diz dando uma gargalhada. Emma como sempre para honrar sua fama, se gruda nos cabelos dele e com força puxa o rosto dele contra o dela tentando morder - lhe o nariz. Eu ajudo a desenredar os dedinhos dela dos fios castanhos e a pego de volta.

— Desculpa, ela só faz isso quando ela gosta da pessoa. - Digo rindo.

— Eu não quero saber o que ela faz quando não gosta. - Ele diz provocando ela com um apertão na bochecha. _ Aproveita Noah que essa é a melhor fase, e passa rápido. - Ele diz com um olhar terno.

— Ah não, faz isso não. Eu estava torcendo para as coisas melhorarem e você me diz que a melhor fase é limpar cocô tres vezes no dia, não dormir mais que uma hora seguida e gastar metade da minha grana em fraldas e a outra metade em creche? Sério? Tô é fodido.  - Digo com ares de riso. _ Porra, tenho de lembrar de não falar palavrão na frente dela.

— Tem mesmo. - Ele concorda dando risada e eu me dou conta que acabei de falar porra.

Joseph me oferece carona até em casa, mas decidi ir andando. Passo no Branch para contar das novidades para Samuel e perguntar como ele estava se saindo com o Miguel. No entanto descarto a pergunta quando vejo a barba por fazer e as olheiras negras que circundam os seus olhos. Mesmo assim ele parece empolgado, diz que começou a assistente social indicou uma terapeuta para o Miguel e também um grupo de aconselhamento paterno para ele, o qual ele praticamente me convoca a participar. E por mais que eu tentasse resistir dizendo que eu não tinha nenhum problema com  a aceitação da minha paternidade, ele acaba por me convencer com aquela velha história de amigos estarem unidos nos bons e maus momentos.

Na terça, passo na casa dele e vamos juntos ao centro. As reuniões são feitas no prédio do conselho educacional, há uma antessala onde as crianças podem brincar sobre olhar de uma cuidadora, para que os pais tenham mais tranquilidade durante a sessão.

Quando adentro o recinto tenho um déjà vu das reuniões que frequentei por causa das drogas no fim da adolescência. Cerca de dez homens, sentados em círculo sendo arrebanhados por um cara de cerca de 40 anos, com uma prancheta, óculos e um ar de soberba.

Me sento ao lado do Samuel e a sessão de horror se inicia.

— Boa noite a todos, hoje temos dois membros novos. Samuel e Noah, sejam bem vindos. Será que querem se apresentar ao grupo?

— Bom o meu nome é Samuel e meu filho é o diabo, eu não to brincando não. Ontem ele não queria que eu fosse trabalhar, então ele pegou todas as minhas roupas, enquanto eu tomava banho, todas mesmo, ele limpou tudo e jogou pela janela! Eu tive que me enrolar na toalha da mesa da cozinha, descer oito andares para pegar as minhas coisas. Isso no horário em que todas as crianças e adolescentes estão saindo do prédio para ir a escola. Eu fiquei meia hora tentando convencer o porteiro e o pai de uma das crianças que eu não era um tarado. - Ele desabafa em tom de pânico.

— Isso não é nada, o meu enteado é um monstrinho, fez cocô dentro da minha pasta de trabalho, tudo porque eu não quis levar ele a jogo de futebol - Fala outo.

— Vocês tem sorte, eu tenho gêmeas e elas parecem ter saído de um livro do Stephen king. Acordei há dois dias no meio da noite e elas estavam nos pés da minha cama... Me olhando dormir com um ursinho e uma tesoura na mão.

— Calma, pessoal lembrem nosso lema. - Diz o psicólogo.

— A culpa nunca é da criança. - Eles repetem em coro como um mantra. E Sam e eu nos entreolhamos meio assustados.

— Noah, sua vez. - Ele me encara.

— Ah não eu só estou acompanhando o pai do anticristo aqui, a minha filha ainda não apresentou manifestações demoníacas como os de vocês. - Digo e sou fulminado pelos olhares. _ Quer dizer, eu não quis dizer que os seus filhos são demônios, só que estão possuídos por demônios… Sabe… Nada pessoal, quer dizer eu… Eu acho que eu vou tomar uma água. - Digo.

— Não, sente - se. A negação é o primeiro sintoma de que algo não vai bem no seu exercício pleno da maternidade. Conte - nos Noah, como é a sua relação com a sua filha.

— Bom ela tem só sete meses, não faz nada sozinha, então basicamente eu sou o escravo dela.  - Digo em tom de brincadeira mas ninguém além de Sam ri, e este engole o riso assim que vê todos sérios.

— É assim que se sente em relação ao seu bebê Noah? Como um escravo mazelado por um senhor cruel e frígido?

— Não, eu só estava brincando eu adoro cuidar da minha Viking.

— Viking? Chama seu bebê de Viking?

— É um apelido, carinhoso… - Digo sendo fulminado pelos olhares e decido dar um fim naquilo. _ Ah por favor, acabaram de chamar seus filhos de diabo, monstrinho e psicopatas de livro de terror e me olham com essa cara porque o apelido da minha filha é Viking? Tão de zoeira comigo só pode. Fala sério Sam isso é uma daquelas pegadinhas de camera escondida?

— Acalme - se papai, estamos aqui para nos ajudar, todos aqui buscam a mesma coisa. Você parece jovem, entendo que talvez essa sua dificuldade em ver as suas atividades como pai não como cuidado mas sim como uma obrigação imposta por uma pequena tirana, estejam respaldadas na perda de liberdade que sua filha representa na sua vida. - Ele fala com a voz macia.

— O QUE???

Uma coisa que você deve saber sobre psiquiatras e psicólogos, mesmo que você não ache que tenha um problema, ah meu amigo… Eles vão te arranjar um.

Saímos da sessão com a certeza que éramos pais péssimos e preguiçosos, até mesmo o fato de eu dar meu queixo para Emma morder, que eu considerava uma coisa fofinha entre pai e filha, ele conseguiu transformar num sintoma de autoflagelação desencadeado pela incapacidade de lidar com o fato de inconscientemente culpar a Emma pela morte de Carolina, e o pior disso tudo e que ele foi tão persuasivo que quase me fez realmente acreditar nisso.

— Ah Noah não foi tão ruim. - Diz Samuel enquanto prende Miguel, que está dormindo a cadeirinha e eu a Emma ao bebê conforto.

— Não foi tão ruim? Você entrou lá com um filho pestinha e eu com a princesa da minha vida e agora estamos saindo como dois caras que inconscientemente odeiam a paternidade e os próprios filhos com fortes tendências ao alcoolismo. Como isso poderia ser pior?

— Bom ele poderia ter descoberto que eu odeio conscientemente a paternidade. - Diz Sam tomando a direção.

— Ah mas mesmo assim você ama o terrorista não ama?

— Ah… eu amo é claro, principalmente quando ele está dormindo. Olha só parece um anjo. - Diz voltando o olhar pro filho.

— Então vai fazer carteirinha no clube dos péssimos pais?

— Claro que não, se eu voltar nesse lugar de novo vou acabar me suicidando.

—  Então como pode não ter achado tão ruim?

— Qual é você não viu o que aqueles caras falaram sobre os filhos? O Miguel não tá mais parecendo tão ruim. É reconfortante saber que tem gente sofrendo na mão de mini ditadores tanto quanto eu.

— É vendo por esse lado. Saber que filho pode não ser o único candidato a eclodir alguma guerra mundial, realmente é reconfortante. - Digo e ele ri e balança a cabeça.

— Nossa reconfortante é saber que meu melhor amigo odeia o meu filho.

— Eu não o odeio não, acredite ele me fez cortar um pouco do meu cabelo e ainda tá vivo. Acho que até gosto dele.

— Hum que tal ficar com ele no sábado a noite?

— Nem fodendo! - Respondo sem pestanejar.

— A qual é Noah, eu queria acertar as coisas com o Lucca e nenhuma agência de babá atende minhas ligações. E o Miguel adora você, por favor.

— Eu não vou cuidar do seu filho para você ir tranzar.

— Pensa pelo lado bom, se Lucca e eu voltarmos a chance de eu acabar engravidando alguém e fazendo outro Miguel ao qual certamente te convidarei para ser padrinho, caem drasticamente.

— Você não ousaria.

— Ah eu ousaria sim e não se pode recusar afilhados. E não vai ser tão ruim ele dorme feito pedra a noite. Por favor?

— Você é um monstro Samuel.

— Sim?

— Okay, tá bom. Mas se um dia eu precisar de um cúmplice para me livrar de algum carinha que venha ciscar no terreno da Emma, já sabe.

— Okay acho justo. - Ele concorda.

Voto pra casa e o resto da semana passa lentamente, Derek continuava fingindo nenhuma empolgação pelo jantar e Vick reclamando de dor, de calor, de inchaço. Como a ideia era minha eu compro comida num buffet ali perto, visto uma roupa bacana e coloco uma roupa combinando e um lindo laço na cabeça da Emma, que é arrancado e jogado no chão cinco segundos depois.

Quando finalmente a campainha toca, Derek atende e eu disfarço olhar para tv quando ouços os passos, afinal eu não queria parecer ansioso. Quando levanto o sofá e miro a família, Joseph com uma roupa mais social, acompanhado de sua esposa Corine, uma afro americana na casa dos 40, com um corpo de dar inveja a qualquer garota de 20, um garoto mulato de olhos claros, um pouco mais baixo, mas com um corpo muito mais entroncado que o meu e eu fico pasmo por alguns segundos ai ver a garota que os acompanhava.

— Lacey?! - Exclamo surpreso.


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Notas finais do capítulo

E ai pessoas? Que acharam???