Minha vida em pequenas Escalas escrita por Iset


Capítulo 16
Pai?


Notas iniciais do capítulo

Bom gente, mais um capítulo! E este se trata de um cross cap, ou seja vai estar integralmente em A escolha perdeita também, pois possui um Pov Derek. Espero que gostem e boa leitura!



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Cross cap - Pai?

 

POV Derek Morgan

Minha cabeça ainda estava confusa, tentando ordenar o que aquele estranho acabou de revelar. Com ele ali postado a minha frente, eu buscava alguma semelhança que pudesse confirmar ou não o que ele acabou de dizer, mas haviam tantas coisas passando pela minha cabeça que eu não conseguia me concentrar em uma só informação.

— Eu sei que toda essa situação é muito difícil, eu pensei muitas vezes em ligar, mas tive medo que não quisesse me receber. - Ele fala me encarando firme. E eu continuo em estado de choque, mexendo compulsivamente numa caneta, enquanto olhava pro relógio preso à parede, tentando calcular quantos minutos, Noah demoraria para chegar até ali.

— E porque agora? Porque decidiu tirar essa história a limpo depois de tantos anos? - Questiono.

— Como eu te disse antes, eu fui até o Brasil, você tinha uns 12 anos, estava usando uma camiseta da seleção, num treino de futebol, bem cuidado, eu não tinha o porquê de estragar aquilo. Filho.

— Não me chame de filho, você nem tem certeza disso. E independente do que  está dizendo ser verdade, tenho um pai e ele não é você.  - Retruco e vevo ele cerrar os olhos numa expressão de quem nào havia gostado nenhum pouco do que eu disse.

Permanecemos em silêncio e cerca de quinze minutos depois, minha secretaria abre a porta e Noah adentra o escritório. Com o cabelo meio bagunçado e uma cara de pavor ele encara Joseph de cima abaixo, sem dizer uma palavra, mas com uma raiva transparente em seus olhos.

— Meu Deus, vocês são iguais. - Diz ele admirando Noah e depois voltando a olhar para mim.

—É a gente até parece gêmeo não é? - Diz Noah com certo sarcasmo. _ Que história é essa Derek? - Noah questiona caminhando até o meu lado.

— Esse é, Joseph O’Connor, ele veio até aqui porque acredita que,  pode ser o nosso pai biológico. - Explico.

— Acredita? - Questiona Noah olhando para ele.

— Eu não tenho 100% de certeza, por isso eu sugeri ao seu irmão um DNA. Para sanar dúvidas de uma vez por todas. - Ele fala enquanto continua a nos olhar com admiração.

— Devia falar para ele o que me disse. - Digo votando a me sentar atrás da minha mesa.

— Bom, Noah, primeiro foi uma surpresa saber que vocês eram gêmeos. Bom eu conheci a sua mãe… A mãe de vocês no Canadá, eu nasci no canadá, mas me formei em jornalismo, era correspondente na Austrália naquela época. Quando meu pai teve câncer, eu voltei para casa, fiquei um ano e nesse tempo eu conheci a Chloe, ela namorava mas, eles tinham um relacionamento difícil. Nós ficamos juntos algumas vezes, quando meu pai melhorou eu quis voltar para Austrália e uns dias antes, ela me procurou. Disse que estava grávida. Ela tinha muitos problemas… - Ele faz uma pausa.

— Nós sabemos que ela era viciada em drogas. - Diz Noah com os olhos lacrimejantes.

— Nós conversamos e decidimos interromper a gravidez. - Fala Joseph, baixando os olhos azuis, sem poder nos encarar.

— Um aborto? Resolveram nos matar? - Falo irritado.

— Estava no começo e dito a situação era a coisa mais ajustada a se fazer. Sua mãe não tinha a menor condição de criá - los e nem eu na época. - Ele se defende.

— Continua. - Diz Noah.

— Bom eu dei dinheiro a ela e voltei para Austrália, ela me mandou uma mensagem dias depois,  dizendo que tinha feito e estava bem. Então eu toquei minha vida, só que uns meses depois, meu pai me ligou dizendo que a viu, com uma barriga enorme. Eu voltei, fui atrás dela, ela tava péssima, suja, drogada, disse que o namorado tinha arranjado pais adotivos pro bebê, bons pais.

— Ah então me venderam antes mesmo de eu nascer? - Fala Noah com uma lágrima solitária correndo no canto do rosto.

— Vender? Eu não sei disso, eu juro, eu nem sabia que eram dois. Fui irresponsável na época eu estava focado no meu trabalho, voltei para casa e segui em frente.

— Seguiu em frente? Você nem ao menos se deu ao trabalho de conferir para quem iam entregar o seu filho? Eles me venderam, me venderam como um brinquedo! E fizeram o mesmo com o Derek, depois de terem cheirado toda a grana que conseguiram comigo - Grita Noah.

— Ela me disse que o bebê seria adotado, eu achei que seria tudo legal, não imaginava. Eu jamais teria concordado se soubesse. - Ele fala.

— E o que você quer? Está meio tarde não acha? - Falo sentindo um nó na garganta.

— Eu me casei, ganhei outros filhos, quando meu caçula nasceu, eu não conseguia parar de pensar naquele bebê. E eu fui atrás, eu nunca soube sobre você Noah. O que descobri foi, que a sua mãe e o namorado e um bebê tinham ido pro Brasil e quando foram extraditados, o bebê não voltou. Eu tentei falar com ela na prisão, nunca aceitou me ver. Fui pro Brasil, fiz minha própria investigação e cheguei até os Morgan. Eu o vi, parecia bem e feliz, não quis estragar aquilo. Aí há uns meses atrás, estive aqui em Roma e vi numa revista que Derek Morgan, filho dos empresários Marisa e Robert, do Brasil, iria abrir uma firma aqui, um novo conceito de arquitetura. Eu fui embora, mas eu tive que voltar, procurei por você na internet, não achei nada, nenhuma foto, nada, só as coisas da firma. Então eu vim até aqui, e agora eu descobri que são dois, eu estou tão feliz, em ver que estão bem e são homens bons. - Ele diz e embora a sua aparente sinceridade eu custo acreditar no interesse dele depois de tantos anos.

— Você não sabe nada sobre nós. - Retruca Noah.

— E o que você quer de nós? - Pergunto seriamente.

— Eu quero saber se sou o pai de vocês, eu sei que se isso for verdade, vai ser muito difícil recuperar o tempo perdido, mas eu gostaria muito de fazer parte da vida de vocês. Os seus irmãos também. Vocês aceitam fazer o exame?

— Acho que Noah e eu precisamos conversar sobre isso. - Digo.

— É só um exame Derek, não acha melhor saber de uma vez? - Diz Noah voltando a atenção para mim.

— É melhor conversarmos sobre isso, confia em mim Noah. - Digo e ele respira fundo e concorda. _ Okay, o senhor pode deixar seu nome completo e telefone com a minha secretária, assim que decidirmos. Entraremos em contato.

— Certo, será que eu posso dar um abraço em vocês? - Ele questiona com certa hesitação.

— Não vejo necessidade. - Respondo.

— Certo, eu acho que vocês dois precisam conversar. Com licença então - Ele fala se dirigindo a porta ainda nos olhando e assim que ele sai Noah me olha intrigado.

— Qual o problema com o exame?

— Ele disse que esteve no Brasil e me viu num treino de futebol, que eu estava feliz. Eu odiava futebol, meu pai me obrigava a ir, eu era péssimo ou eu ficava no banco com cara de entediado ou na beirada do campo de gandula. Se ele me viu lá, eu não tava feliz. Eu tinha 11 anos, ele não fez nada, porque agora? Porque nos tornamos interessantes?

— Ele disse que não sabia sobre mim. - Constata Noah.

— É foi o que ele disse, mas se ele foi até o Brasil descobriu a minha família, como não pode descobrir que éramos gêmeos? Não sabemos nada sobre esse cara, melhor sermos prudentes. Nossos pais tem uma boa situação financeira Noah, somos filhos únicos, ele pode de alguma forma querer se aproveitar disso. - Falo, afinal sabíamos que nossa adoções foram ilegais, um exame de dna comprovaria isso e seria uma arma na mão de alguém mal intencionado

— É, como sempre você tem razão, acho que temos que pensar bem. Eu não sei de onde, mas tenho a impressao que ja vi esse cara antes.  - Ele concorda intrigado.

— Sim nós temos. Tente lembrar onde o viu. - Respondo e me aproximo de Noah dando- lhe um abraço. _ Vamos ficar bem, independente de qualquer coisa, nós dois sempre teremos um ao outro irmão. - Digo.

— É sim. - Ele concorda.

Pegamos Emma na escola e vamos para casa,  Vick percebe algo errado assim que entramos na porta. Noah vai pro quarto dele e eu explico tudo que aconteceu a ela. Apesar de nunca ter tido tantos problemas familiares quanto o Noah, nunca fui próximo dos meus pais, nunca me senti verdadeiramente parte da família.  Diferente do Noah, eu sempre soube que era adotado, meus pais sempre me trataram como se tivessem feito um favor para mim, afinal, como meu pai costumava dizer:

“Não é toda a criança vinda da escória que tem a chance de desfrutar de uma vida, confortável, uma boa educação.”

Eles sempre fizeram - me sentir como se eu tivesse uma dívida a ser paga, e de alguma forma eu sempre tentei pagar. Nunca andei fora das regras deles, era um bom aluno, frequentava atividades que eu odiava, apenas para agradá -los. Meu primeiro ato de rebeldia, foi cursar arquitetura ao invés de administração como meus pais queriam e o primeiro ano na faculdade foi bem complicado, pois não tinha nenhum apoio deles. Por sorte eu tinha Vick, e o tempo que passamos juntos aliviava todo o stress de casa, nunca comentei com ela sobre os problemas com meus pais, ela já tinha problemas demais. Sei que desconfiava que a minha relação com eles não era tão boa quanto eu fazia parecer, e aliás sei que meus pais jamais aprovariam nosso relacionamento. Não que eles não iam gostar de uma advogada família, mas com certeza, um filho, sem meu sangue correndo nas veias, não seria bem aceito por eles.

Decido explicar tudo para Victória e depois de contar tudo sobre o meu “suposto pai” e como me sentia em relação aos meus pais adotivos, acabo não conseguindo segurar as lágrimas. Por mais forte e centrado que eu tentasse parecer, para tentar me distanciar do furacão de emoções que era o Noah, eu não pude me controlar e abraçado a ela eu chorei como o menino que nunca entendeu o porquê de não ter sido querido por seus pais biológicos.

Victória afaga meus cabelos e me diz algumas palavras de conforto e depois de uma longa conversa, ela acaba me convencendo que talvez a única forma de superar todas as dores que eu carregava era tendo certeza do meu passado. Encostamos nossas testas e eu levo a minha mão a sua nuca, nos encaramos durante um tempo até finalmente nos entregarmos a um beijo.

POV Noah Johnson

No meu quarto eu olhava Emma brincar com minhas chaves, tentando processar tudo que acabei de ouvir. Ela me olha intrigada parecendo entender que algo não estava bem e estende os bracinhos para mim, eu pego nos braços e ela pousa a cabecinha no meu ombro e eu desabo. A abraço forte e choro, ao constatar que o único propósito de minha mãe ter me permitido nascer, foi para lucrar comigo. Um investimento, era isso que eu era. E toda aquela ilusão que eu tentava crer de que uma parte de minha mãe biológica, buscou a melhor opção que encontrou para nós caiu por terra.

Aconchego minha filha deixando que aquele cheirinho de bebê adentre minhas narinas e acalme meu peito.

— Vamos ficar bem baixinha. - Sussuro no ouvido dela.

Os dias passam bem difíceis, resolvemos fazer o  exame de DNA, sob um contrato de que Joseph, não poderia requerer legalmente o reconhecimento da paternidade. Apesar de aparentemente decepcionado, ele aceitou e assinou os papéis. Eu não entendi bem o porque daquilo, mas Vick e Derek acreditavam que era uma maneira de proteger  a nós e a nossos pais adotivos, caso Joseph não tivesse boas intenções em mente. Três dias depois de colher nosso material genético, eu estava muito, mas muito ansioso e não conseguia ficar parado um só segundo. Tentava ocupar a mente fazendo dez coisas ao mesmo tempo quando:

— Papa.- Ela fala e eu fico pasmo.

— O que você disse?

— Papa. - Ela repete e sinto meus olhos encherem de lágrimas, okay a paternidade me transformou em uma manteiga e não tenho vergonha disso.

— Papai? Você disse Papai? Gente! A Emma disse papai! Corre aqui ela tá falando papai! - Grito emocionando e segundos depois os dois aparecem na cozinha.

— O que ela disse?

— Papa, ela ta tentando dizer papai tá quase… Repete meu amor, repete para esses bobos verem. Diz papai, diz…

— Papa. - Ela repete.

— Eu acho que é papa de comida, talvez esteja com fome. - Fala Derek cortando meu barato.

— Não comida é humhum. - Retruco. Insisto para ela repetir, mas ela fica apenas olhando para nós e rindo.

— Ela não vai mais falar eu preciso sentar, estou cansada, minhas costas doem e minha bunda está enorme. - Fala vick indo pro sofá.

— Bunda! - Fala Emma perfeitamente.  E nós nos entreolhamos.

— Vick eu vou te matar! - Grito Emma solta uma gargalhada  e repete.

— Bunda! Bunda! Buda! - Ela fala e ri.

Aos sete meses e meio, sua primeira palavra foi bunda, graças a uma certa advogada.

Depois de ouvir Emma repetir “BUNDA” por dois dias seguidos sem parar, decido tomar uma atitude:

— Gente, peço a atenção de todos por favor. - Digo batendo um garfo no pote de vidro no qual colei um papel escrito “pote da vergonha”.

Vick, Derek e Emma me olham e eu continuo.

— Obrigado pela atenção, senhora, senhor, senhorita, feto. Como vocês sabem, temos uma menor na casa e em breve teremos outro, então achei justo que mudamos nosso comportamento com relação aos palavrões aqui mencionados. A partir de hoje, toda vez que um membro dessa casa falar um palavrão, deve depositar 1€, nesse pote com pagamento pela infração. Estão de acordo?

— Tecnicamente bunda não é um palavrão. - Se defende Vick, tendo ciência que a minha atitude se deu por conta dela.

— Palavrões, palavras de baixo calão ou palavras inapropriadas okay? Como sei que algumas palavras precisam ser ditas, substituiremos por versões fofinhas delas, que estão disponíveis nessa lista a qual eu fiz cópias para vocês. - Digo entregando as folhas.

— Bunda - Popô , Pênis - Piupiu, vagina - pepequinha? Achei que fosse eu que tivesse crescido no Brasil. - Fala Derek.

— Era como a Carolina falava. - Digo.

— Por mim tudo bem, só vai ter grana sua aí dentro mesmo. - Diz Derek voltando a atenção a TV.

— Aí que você se engana, meu querido irmão. A partir de hoje me comportarei como um verdadeiro lorde inglês.  -  Falo.

— Okay, acho justo. - Concorda Victória.

— Ótimo. - Digo colocando o pote sobre a bancada da cozinha, e me coloco a preparar a comida de Emma, que hoje seria macarrão amassado com molho de frango.

Sim eu definitivamente desisti da dieta sem glúten e a base de legumes da Vick e minha pequena parecia ter adorado a nova dieta.

Termino de cozinhar, faço um suquinho e tento abrir uma mamadeira para colocar o suco, no entanto a rosca está presa e tenho de fazer muita força e acabo por fissurar o plástico.

— Porra que merda! - Exclamo  e ouço um sonoro “biiiiiiiip” vindo da sala, e em seguida a cara de Derek na entrada da cozinha mandando eu depositar a grana no pote.

Olho para ele e faço uma careta e deposito o dinheiro, dois dias depois percebo que foi uma ideia muito idiota, afinal, minha carteira estava vazia.

— Ora o que será do mundo sem palavrões não é mesmo Emma? - Digo pegando minha grana de volta.

As três da tarde recebemos a ligação da clínica, e as cinco nos encontramos com Joseph na frente do médico, que nos explica sobre como o exame foi feito e a precisão do seu resultado. Ele entrega uma cópia para cada um de nós, eu abro a minha e corro o olhar até o final da página que dava um percentual de 99,8% de compatibilidade paterna.

Joseph O'connor, era meu pai.


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Notas finais do capítulo

Bom pessoas espero que tenham gostado! Que acharam do Joseph? Quais serão suas intenções? Sugestoes de outras tecnicas pro Noah deixar de falar palavrão?
Deixem seus comentários!