Entre Dois Mundos escrita por VeraCurva


Capítulo 9
Capítulo 9 - Adele e Máximus... Sem meios para atingir fins!




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/735806/chapter/9

Era terça feira, naquela última semana de Fevereiro… Ainda de manhã bem cedo, os alunos tentavam despertar refugiando-se num pequeno almoço bastante energético, procurando dialogar e conferenciar entre si sobre um dos principais da semana: os testes que se realizariam na sexta-feira.

As sextas-feiras eram sempre um dia de pânico para os alunos do MLI. Nestes dias, algumas disciplinas exigiam trabalhos de grupo ou individuais para avaliação e outras, fariam um teste de avaliação semanal de modo teórico ou prático, conforme fosse a disciplina e matéria estudada na altura. Desta forma, segundo os professores, os alunos nunca se esqueceriam da matéria dada anteriormente.

Adele, apesar da sua aparência pouco digna da reputação da escola, dado os decotes por vezes bastantes pronunciados e as suas roupas justas de tamanhos reduzidos, não admitia que qualquer um outro a superasse, fosse em que aspecto fosse.

Os Lua Nova eram conhecidos por serem implacáveis e não terem problemas em fazer tudo para atingir o seu objectivo. Adoravam tudo o que fosse novidade, portanto tinham o cuidado em garantir que eram os primeiros a adquirir os melhores livros, os melhores lugares na sala, os melhores ingredientes, e até mesmo no que dizia respeito a  moda,  asseguravam-se de possuir o que estivesse mais em voga e nas melhores e mais conceituadas marcas existentes. Adoravam vangloriar-se e Adele era o exemplo perfeito da sua equipa: espampanante, deslumbrante, orgulhosa, arrogante, vaidosa, determinada e acima de tudo mimada, tal e qual a típica filha única de pais ricos e presunçosos, que por sinal ela o era no seu seio familiar.

No entanto, não conseguia conformar-se de que toda a popularidade e carinho tivesse sido subitamente arrebatado por três outras alunas: Charlotte, por ter feito do MLI o  seu lar desde muito nova, sendo a protegida de Klaus, seu padrinho, o qual tomava como um pai, dado que havia ficado órfã desde os 5 anos de idade; a chegada de Bella, que apesar de ser uma aluna transferida de outro estabelecimento de ensino e sendo isto algo negativo aos olhos de muitos alunos do MLI, tinha uma personalidade enigmática mas deveras cativante conquistando a simpatia da maioria; e ainda Amélia com a sua personalidade louca,invulgar  e cómica o que chamava bastante a atenção e olhar dos que a rodeavam .

Além de tudo isto, este trio tinha a apreciação da maioria dos professores.

Adele notava que apesar do seu estilo provocante e sensual, o número de “leais” seguidores tinha reduzido e não podia admitir perder nem mais um,  teria de ser o centro das atenções do Montis Luna. Teria de agir, e sabia perfeitamente de que forma o fazer e a quem recorrer para a ajudar.

— ...e é por isso, estimado professor, que não pode permitir que aquelas três pindéricas continuem a vaguear pelos corredores deste respeitoso Instituto daquela forma! Há que haver regras! Rogo para que o senhor faça alguma coisa. Confio que o fará, pois aquilo, não sei se reparou, é ridículo! Abominável!

Adele realizava o seu “teatro” gesticulando e esboçado expressões de horror e indignação simulados. O indivíduo para quem discursava ouvia-a atentamente.

— Por favor, pense na reputação deste Instituto. Peço-lhe que comunique com os restantes professores e os chame à razão, não consigo perceber como é possível que eles não tenham agido ainda contra uma pouca vergonha daquelas! Veja bem, caro professor: uma, parece que está a querer induzir os alunos a serem uns rufias, ou a terem interesses obscuros, vem sempre com casacos ou coletes de cabedal, calças de ganga… Pelos papiros de Merlin! Parece uma maria rapaz, não que ela seja alguma beldade, enfim… Mas as atitudes... Oh, as atitudes professor! Tão irreverente, temo que qualquer dia haja motins e alunos embirrantes e sem educação nenhuma por consequência da rebeldia dela...é de uma tão reles classe para uma rapariga andar naqueles preparos...Quererá  fazer-se mais que os outros quando na verdade todos somos iguais, ninguém é mais que ninguém... É demasiado injusto para nós, os Lua Nova, que primamos pelo bom nome deste Instituto e temos muito orgulho na perfeição máxima que dispomos.

A jovem não parava um único segundo que fosse para repousar. Caminhava de um lado para o outro sobre a imaculada tapeçaria enquanto os olhos do professor acompanhavam cada um dos seus movimentos.

— Lá porque a Bella Caputo vem de outra escola, o que digo já, é lamentável terem-na aceite aqui, acha que pode pôr e dispôr e ser apaparicada!... A outra, que se acha a querida daqui só porque viveu cá, pensa que pode andar como quer. Aquela ave rara parece que assaltou o guarda roupa das nossas avós e ainda o de um manicómio! A sério! De que época vem aquela...coisa nojenta? Há alturas que parece que surgiu duma daquelas tribos indígenas do fim do mundo, onde o povo cheira mal e nem tomam banho, ora vem que mais parece uma caixa de ferramentas cheia de engrenagens e parafusos e coisas douradas que nem faço a mais pálida ideia do que aquilo será, ah e óculos na cabeça?? De aviador? Outras vezes, parece as bruxas dos contos infantis, de meias até ao joelho de riscas e vestido curto de renda e o chapéu...Quem é que no seu perfeito juízo hoje em dia utiliza o chapéu? Já a capa eu entendo, mas o chapéu pontiagudo??? Ah e não esquecendo a loira burra, obesa que mete dó, os tamanhos da roupa que usa são completamente abaixo do seu tamanho corporal, e como se isso já não fosse um crime à nossa visão, ainda com o bónus de bonecos estampados?! Há dias apareceu que parecia a Alice no país das maravilhas e ela é tão, tão histérica, que a voz e riso irritantes se ouve em toda a extensão do corredor... A rapariga é louca, professor!

Adele aproximava-se da secretária puxando de uma cadeira, sentando-se finalmente após uns longos 40 minutos de reclamações.

— Nem sei que dizer, estou tão indignada professor….Será que esta gente não leva a sério este Instituto?... Professor, meu caro professor, peço-lhe que zele pela classe e pela honra do Montis Luna, o senhor é o único que pode fazer a mudança. Sabe perfeitamente que antes delas, estava tudo no seu esplendor, e agora isto está prestes a transformar-se num circo deplorável de baixa qualidade!

Maximus tinha permanecido em silêncio até àquele momento, limitando-se com uma a apontar tudo num pergaminho muito detalhadamente enquanto passava um pano pela testa. A sua face estava vermelha da indignação sobre o ultraje que ouvia da sua aluna.

— Realmente, menina Blackswan, é inconcebível. São realmente muito graves as observações que está a apresentar e estou-lhe muito grato por isso. Essa situação que me está a relatar pode mesmo colocar em risco o bom nome deste Instituto. É igualmente vergonhoso o facto de os alunos terem tamanha liberdade de usarem o que bem lhes convém! Irei comunicar de imediato ao restante corpo docente sobre este facto e exigirei que a partir deste momento, sejam usados neste Instituto uniformes completos que deverão estar em perfeito estado!

— Pois eu acho muito bem que faça algo, professor, a situação é cada vez mais séria! Conto que o faça o mais urgentemente possível antes que isto seja irreversível.

Maximus fazia sinal à aluna para que abandonasse sala enquanto terminava as suas anotações no pergaminho.

Adele saía com um sorriso de vitória no rosto, desfilando pelo corredor, sendo sucedida pelas suas seguidoras que a havia aguardado impacientes todo aquele tempo.

— Hey, vocês, suas songas mongas! - Chamou Adele parando no seu jeito snobe diante de Bella, Charlotte e Amélia. As suas aliadas adoptavam uma pose semelhante envolta numa expressão de repulsa. - Fiquem sabendo que os vossos dias estão contados! Vão-se preparando meus amores, o vosso reinado chegou ao fim e podem começar a piar fininho!  



Adele fazia sinal às alunas que a acompanhavam.

— Vamos, meninas.



Amélia ainda estava a tentar perceber ao certo o que tinha acontecido, não entendia aquelas ameaças proferidas pela chefe dos Lua Nova, enquanto Charlotte e Bella soltavam fortes gargalhadas pois não conseguiam deixar de achar piada à forma empertigada e pavoneante de Adele.



Maximus, por seu lado, convocara uma reunião de directores de última hora, alegando que a mesma era de extrema urgência. Nenhum dos outros 3 elementos da direcção fazia ideia do que tão grave poderia ter acontecido para uma reunião de última instância.

Na sala do conselho directivo, enquanto Aurora, Klaus e Sukru se encontravam sentados diante da larga e envernizada mesa de carvalho escutando com atenção as queixas do director dos Lua Nova, o mesmo permanecia de pé caminhando lentamente para um lado e para o outro, de braços cruzados atrás das costas, numa postura firme e hirta, ajeitando por vezes os seus óculos que descaíam ligeiramente do seu rosto, fazendo por vezes breves pausas para encarar os colegas com um olhar mais intenso.

— … e como podem constatar, isto é algo inadmissível e que necessita de uma intervenção de extrema urgência para pôr um ponto final a estes termos que visam manchar o nome deste Instituto, que durante tantos anos nos esforçámos para conquistar e manter. - Reclamava Máximus indignado.

— Já acabaste? - Questionava-o Klaus seriamente, recostado na cadeira de braços cruzados sobre o peito.

Sukru fazia um enorme esforço  para não rir perante todos os absurdos relatados pelo colega.

— Estranho que todas estas reclamações tenham sido somente direccionadas às nossas casas, não? - Inquiria Aurora apontando com o olhar para si mesma bem como para Sukru e Klaus, enquanto se mantinha debruçada sobre a mesa. - Porque será que da tua casa não houve qualquer tipo de referência negativa? - Olhava-o intrigada.

— Então… - Prosseguia Máximus ajeitando snobemente a gravata. - Porque eu ainda sei ter mão e disciplina nos alunos que me correspondem, pois tá claro.

— Parece-me então que insinuas que somos portadores de um mau profissionalismo e de incapacidades de chefia e educação? - Questionava-o Klaus olhando-o fixamente.

— As provas disso estão diante dos vossos olhos.

Aurora assumia uma expressão de revolta, algo incomum na sua pessoa. Sukru não conseguia conter mais o riso, dando umas gargalhadas abafadas enquanto abanava a cabeça em desaprovação.

— Deixa-me adivinhar… - Iniciava o director dos Wanning Moon representando um ar pensativo forçado. - E quem te ofertou toda essa informação foi a menina Blackswan, certo?!

Máximus tossia nervosamente ao ver que o colega dera conta da sua fonte de informação.

— Nem precisas de dizer mais nada Máximus... Essa rapariga desde sempre que choca com elas as três. Já assim o era com a Charlotte desde os tempos primórdios, piorou ligeiramente quando apareceu a Amélia no 5º ano, e agravou-se no primeiro dia em que a Bella ingressou aqui no colégio. - Constatava Klaus.

— Sim, realmente já que o meu caro colega fala nessa transferida sangue de …

— Tu não ouses terminar esse termo para te referires à Bella, estamos entendidos?!!!! - Bramia Sukru erguendo-se da cadeira, batendo fortemente com ambas as mãos na mesa olhando para Máximus com uma expressão de cólera.- Ela é muito mais digna de frequentar este instituto do que muitos de famílias de sangue puro, isso podes ter tu a certeza!

Máximus lançava um suspiro de desdém desviando o olhar de Sukru.

Klaus erguia-se lentamente, tentando acalmar o colega, pedindo para que este se voltasse a sentar.

— Lamento muito desapontar-te caro colega, mas neste estabelecimento todo e qualquer aluno, independentemente da sua casa, tem direito à liberdade de expressão desde que isso não leve a casos de violência ou faltas de educação, o que aqui não é o caso. As meninas não desrespeitaram ninguém e acho até de louvar a maneira como expressam as suas personalidades através da forma como se vestem, distinguindo-se de todos os outros alunos que optam por seguir somente as modas. - Declarava Aurora já no seu estado mais ameno habitual. - Assim sendo, o meu voto é contra.

Máximus vendo cada um dos colegas a reprovar a sua sugestão, mostra-se bastante indignado e ofendido, retirando-se da sala com ar altivo, fechando a porta atrás de si sem proferir qualquer palavra. O certo é que não se dava por vencido, iria resolver a situação pelos seus próprios meios, a bem ou a mal, e desta vez sem consultar os colegas.

Requisitara a presença de Adele e de um grupo de alunas da sua casa no seu gabinete, dando indicação às jovens para entrarem no dormitório das 3 feiticeiras, de quem tinha apresentado queixa, ordenando às suas alunas que recolhessem toda e qualquer peça de roupa das raparigas em questão e que as fizessem chegar até ele que o próprio se encarregaria de as confiscar.

Não ia permitir que três alunas rebeldes arruinassem o bom nome e prestígio do MLI. Iria fazer o que fosse necessário ou não se chamaria ele Rodolfo Máximus.

Cerca de duas horas depois, as suas alunas regressavam à sala particular do director trazendo consigo uma dúzia de saco atolados de peças de vestuário.

Aproveitaram para invadir o dormitório de Charlotte, Amélia e Bella enquanto as três se encontravam ocupadas na biblioteca a estudar concentradamente para as fichas avaliativas de sexta-feira.

Tanto Máximus como Adele sorriam maliciosamente face àquele acto de punição.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Entre Dois Mundos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.