Entre Dois Mundos escrita por VeraCurva


Capítulo 27
Capítulo 27 - Prazer... Fergus Crowley




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Numa das suas noites livres, e já que se encontrava sozinha no dormitório, Bella farta de passar as noites daquela semana encafuada nos recintos do MLI, opta por sair em destino a um local em específico, o qual Sukru e Jordan lhe haviam dado a conhecer no início do ano lectivo enquanto não tinha ligação nem confiança com os restantes alunos do colégio face à sua condição de aluna transferida.

Era uma zona no alto de Vale de Porcas, em direcção à freguesia de São Pedro de Penaferrim, onde existia um velho moinho inutilizado mas ainda em bom estado de conservação. Este tinha uma cor num branco límpido com umas largas faixas azul turquesa tanto na base como no topo. No lado direito do moinho existia uma escada que contornava a parede do mesmo, permitindo subir até ao telhado preto daquela construção. Lá de cima conseguia-se avistar uma vasta área de zona envolvente perante uma vista de céu aberto.

Bella sentava-se no rebordo do telhado de costas recostadas no mesmo, posicionado as suas pernas dobradas e mãos repousadas sobre o colo. Aquela noite de Junho encontrava-se agradavelmente amena e calorosa, envolta num céu limpo e estrelado. As minúsculas luzinhas das habitações no cenário diante de si, faziam parecer o reflexo daquele céu nocturno.

Ali estava ela, simplesmente a contemplar aquele quadro vivo por entre momentos em que cerrava os olhos, durante os quais exercia respirações profundas como que absorvendo o ambiente em redor em modo de meditação, relaxamento e carregar de energias. Apreciando o silêncio da noite, interrompido apenas por vezes pelos sons de alguns animais noctívagos que por ali passavam ou habitavam, já que a alguns metros abaixo do moinho existia uma pequena floresta.

A Mãe Natureza parecia chamar por si e Bella sentia necessidade de responder àquele chamamento, encaminhando-se à florestação situada lá em baixo, por detrás de um pequeno aglomerado de casas. Percorria um pequeno trilho de pedras e terra batida que dava acesso ao interior daquela zona verdejante.

Lá estava ela, fazendo uso de mais um dos seus dons, o de controlar alguns aspectos da natureza, comunicando com as árvores, escutando os seus sentimentos, fazendo florir algumas plantas que tendiam a murchar, tornando fértil alguns pontos de terra que pareciam secar, comunicando com alguns dos espíritos que por ali vagueavam, bem como com certos animais que faziam daquele lugar o seu lar, já que Bella os entendia e eles correspondiam-lhe neste entendimento.

A dada altura, Bella encontrava-se num declive na orla daquela floresta, uns metros mais abaixo ainda da zona por onde entrara, sentada no chão relvado de joelhos subidos onde repousava um pequena e simpática coruja. As duas contemplavam-se profunda e ternamente como que se comunicando simplesmente através do olhar e do pensamento, o que tal até era realidade. Ficaram naquele ambiente minutos a fio, admirando-se fixamente até a expressão do animal se ter alterado, assumindo um olhar desconfiado e preocupado.

 

— Que se passa pequenina? O que te está a incomodar? - Questionava Bella vendo a expressão estática da ave pousada sobre si.

 

O pequeno animal inclinava-se ligeiramente para o lado, olhando agora firmemente para o aglomerado de árvores por trás da feiticeira. Bella adoptava uma feição num misto de preocupação e pânico.

 

— Está ali qualquer coisa atrás não está?

 

Vendo que a coruja não desviava o olhar, permanecendo fixa observando o amontoado de troncos das majestosas árvores, e assimilando telepaticamente o aviso de perigo que a pequena ave de rapina lhe transmitia, a caçadora roda vagarosamente a cabeça de forma a posicionar a sua visão no mesmo ponto em que o animal se focava.

Um olhos vermelhos realçavam por entre as largas hastes de madeira, olhos esses que estavam fixos na jovem. Pela sua cor, Bella sabia muito bem do que aquilo se tratava.

A coruja levantava voo indo-se recolher na copa das árvores. A feiticeira erguia-se lentamente com uma certa aflição dentro de si, sem nunca desviar a sua atenção daquele olhar que a controlava. Não havia ido prevenida com nenhum do seu material de caça, o que a deixava ainda mais tensa, um leve medo apoderava-se de si. O corpo ao qual aqueles olhos pertenciam tornava-se visível à medida que caminhava em direcção à jovem. Bella também não tinha consigo o pó de teletransporte para se retirar dali de forma instantânea.

 

— Foda-se! Vou ter de correr. - Murmurava para os seus próprios botões.

 

Poderia naquele momento ter invocado o seu Patronus, o qual no seu caso era representado pela forma de uma cão, mas por mais que se esforçasse, o medo e os pensamentos negativos naquela exacta altura eram maiores e mais fortes que os pensamentos positivos que tentava apressadamente rebuscar na sua mente de modo a conseguir conjurá-lo. A sua única hipótese seria sair dali pelo seu próprio pé.

Lançava-se a correr desenfreadamente subindo o declive, embrenhando-se no mato enquanto o vulto seguia atrás de si. Ouvia os passos do desconhecido ecoarem cada vez mais perto.

 

— Vá lá, vá lá pessoal, ajudem-me amiguinhos do Além. Não sejam assim, não me falhem agora. - Rogava ela enquanto corria estrada acima.

 

O certo é que as entidades espirituais em nada a podiam ajudar naquele momento.

Chegava junto do moinho e num dos momentos em que olhara para trás de forma a confirmar a distância daquilo que a perseguia, não dando conta de uma pedra saliente no chão diante de si, tropeça ficando estendida no chão. O som dos passos aproximava-se, a respiração de Bella acelerava, o corpo começava tremer. Levantava-se sem perder tempo a sacudir a roupa suja de pó e terra, bem como os braços levemente esfolados, prosseguindo a sua fuga.

Encaminhando-se novamente para a estrada, onde se iniciava uma correnteza de habitações, ao alcançar a primeira daquele corredor de casas e estando quase a passar diante do portão da mesma, uma mão por trás de si agarrava-lhe um dos braços puxando-a. Bella encostava-se no muro olhando apavorada para a presença diante de si. Com o braço que se encontrava livre ia apalpando discretamente com a mão a parede em busca do botão da campainha. Ao encontrá-lo, pressiona-o repetidamente na esperança que a porta existente ao seu lado se abrisse.

 

— Calma, não tenhas medo, eu não te vou fazer…

 

O ser diante da feiticeira tinha sido interrompido pelo som do estalar do trinco do portão, ao que Bella ao dar por isso lança uma valente joelhada no entre pernas do semblante que a confrontava, correndo para o interior do jardim da casa.

Seguia para a porta principal do edifício, a qual cutucava freneticamente.

 

— Vá lá, pelo amor da santa, abram a porta. - Rezava Bella controlando sempre o perímetro em volta com o olhar.

 

As suas preces pareciam ter sido ouvidas. A porta abria-se lentamente diante de si e assim que a abertura assumia um espaço suficiente para a trespassar, a rapariga esgueira-se para o interior da casa sem pedir qualquer tipo de permissão. Fechava a porta, encostando-se a esta respirando ainda de forma acelerada.

 

— Boa noite minha jovem. Creio que não é de boa educação, no mínimo, não agradecer.

 

Bella olhava atrapalhada para o homem que se encontrava defronte de si.

 

— Hãa….Boa noite senhor. Peço desculpa por esta invasão. Não me leve a mal por favor. E claro, muito obrigada. - Sorria educadamente.

 

O homem, de estatura mais baixa que Bella, de cabelo e barba castanhos claros com uns reflexos grisalhos e olhos esverdeados, de vestes pretas em toda a sua totalidade e gravata ao peito na mesma cor, observava a rapariga dos pés à cabeça.

 

— A menina andava a fazer treinos para a tropa lá fora a uma hora destas? - Questionava-a contemplando a roupa encardida da jovem bem como o seu cabelo despenteado.

— Não senhor, claro que não. - Soltava uma pequena risada face à inquisição do homem. - Mas porque pergunta isso?

 

Este limita-se a responder-lhe com o olhar sobre ela, ao que a feiticeira ao contemplar-se a si própria apercebe-se do seu estado pouco apresentável. Apressava-se a sacudir a roupa, tentando eliminar o mais que podia o pó e terra contidos no top branco e nos jeans, bem como penteando com os dedos os longos cabelos o melhor que podia.

 

— Hmm, um pouquinho melhor agora sim … - Confirmava o senhor.

 

Bella sorria envergonhadamente, corando um pouco. Mas o seu sorriso depressa é eliminado quando avista uma figura considerávelmente mais alta por trás do homem com quem conversava.

Gritava com uma expressão de aflição no rosto enquanto se encostava o mais que podia na porta, apontando para o indivíduo. O pequeno senhor, que não entendia aquela reacção, limitava-se a inclinar ligeiramente a cabeça para o lado franzindo a testa enquanto observava intrigado a jovem. Bella tentava falar mas, devido aos nervos, a voz insistia em não sair. Olhando em volta apercebe-se de uma escada a poucos metros de si que davam acesso ao piso superior. Como o gentil homem não mostrava sinais de a entender ou sequer socorrer, Bella lança-se direita às escadas correndo degraus acima o mais depressa que as suas pernas lhe permitiam. Chegava a um longo e escuro corredor que possuía uma comprida carpete roxa escura ao longo de todo o soalho. Por entre as paredes pretas, que tornavam ainda mais sombrio aquele espaço, existiam diversas portas. Bella experimentava uma a uma na esperança que alguma se abrisse, mas todas pareciam trancadas, todas excepto uma no fundo do corredor, a última porta do lado esquerdo. Entrava dentro do quarto, ainda mais escuro do que o local de onde Bella acabara de vir, fechando a porta, procurando um sítio onde se esconder ou algo com que se pudesse defender. Ouvia vindo do corredor o barulho de passos a aproximarem-se e não encontrando outro lugar melhor ou mais acessível, mentaliza-se que teria de se refugiar num sítio completamente estapafúrdio e típico dos filmes...Debaixo da cama. Preparava-se para se esgueirar para debaixo do estrado, mas o indivíduo infiltra-se no quarto antes de poder concluir a sua acção, permanecendo de gatas, de cabeça preparada a esgueirar-se para debaixo da cama e rabo empinado, ficando imóvel por segundos, enquanto o estranho avançava agora em passo mais demorado. Bella rodava lentamente de forma a encarar aquela presença ali consigo. Fitava-o perplexa e, a cada passo dado pelo desconhecido, era um movimento de marcha atrás que a jovem exercia no chão à laia de caranguejo.

— Bicha do demónio afasta-te! - Gritava agora a jovem de olhar arregalado. - Volta pró buraco de onde saíste!

— Andas a ver demasiadas paródias do Senhor dos Anéis, rapariga.  - Constatava rapaz.

 

Bella observava-o agora incrédula e confusa. Era um jovem moço que se encontrava diante de si, alto, de cabelo castanho escuro espetado, fazendo um estilo de uma poupa por entre umas madeixas num louro escuro, de olhos castanhos , entroncado e robusto, de vestes formais, que a contemplava com um rasgado sorriso enquanto lhe esticava uma das mãos.

 

— Permite-me ajudar-te. - Indicava-lhe o rapaz esperando que a feiticeira lhe cedesse uma de suas mãos para a erguer do chão.

— Deves pensar que vou cair no teu truque.

— Truque? Qual truque?

— Tás pr’ái a esticar a mãozinha numa de muito simpático e tal e deves pensar que não sei bem o que pretendes....

— Ai sim? E eu pretendo alguma coisa? - O jovem olhava-a confuso.

— Não me tomes por parva. Já cacei vários como tu. Basta eu erguer-me que vais tentar logo cravar os teus caninos na minha jugular.

 

O jovem ria-se.

 

— Achas piada né? A tua sorte é eu hoje não ter vindo armada, senão certamente quem se iria rir não serias tu. - Repreendia-lhe a feiticeira.

— Nunca vi ninguém a falar-me de forma tão científica. Andas a estudar para médica? - Gracejavas educadamente o rapaz.

— E tu andas a estudar para comediante? - Retorquia-lhe a jovem tentando fazer-lhe frente ainda na posição que assumia no chão.

— És ainda mais engraçada quando estás brava.

— Era só o que mais me faltava agora, um vampiro armado em engraçadinho a fazer-se à minha pessoa.

— Hm...Então sabes realmente aquilo que sou.

— Pois é claro que sei. Com essas dentuças e olhos vermelhos irias ser o quê mais? Uma morsa com lentes de contacto?!

 

O rapaz solta umas gargalhadas perante a comparação da jovem.

 

— Ri-te, ri-te. És um filhinho do drácula, eu bem sei.

— Por acaso não, ele é só meu padrasto. - Respondia-lhe com descontração na voz.

— Mas tás numa de gozar com a minha cara? - Refilava Bella ficando um pouco chateada.

— És refilona tu. Gosto disso. Dá-te um toque diferente… Mas não, estou a ser bastante sério no que te digo. Disseste que sou filho do drácula e apenas te corrigi, de que ele não é meu pai mas sim meu padrasto. Ou melhor, era.

 

Bella olhava-o confusa. Começava a não entender nada do que o rapaz lhe falava.

 

— Ele tem razão. O drácula era padrasto dele, antes de eu o pôr a dormir definitivamente. O pai dele mesmo sou eu. - Uma voz surgia por detrás do jovem vampiro.

 

A caçadora desviava agora a sua atenção para a terceira presença ali naquele quarto de olhar ainda mais esbugalhado. Era o senhor que a havia recebido à porta de casa.

 

— Mas… Mas… Então o senhor…. Ai meu santo Merlin.–

Fergus Crowley, muito prazer. - Apresentava-se educadamente o homem esticando uma das suas mão na direcção da jovem de modo não só a erguê-la como a cumprimentá-la.

 

Bella olha-o reticente e o mesmo encara-a de testa franzida e olhar fixo esperando uma reacção da parte da rapariga.

 

— Hm, hm, hm … - Gargarejava o homem como que ajeitando a voz e chamando a atenção da rapariga. - Novamente não é de boa educação desprezar uma apresentação tão educada por parte de quem seja menina. Principalmente em casa de outras pessoas.

— Mas o senhor…

— Senhor não, o senhor está no céu e vamos deixá-lo lá estar sossegado a brincar aos SIMS com os de cá de baixo, é Crowley, sff.  

— Mas o senhor…. ai, Crowley, desculpe...é… é…

— Sou…

— O Crowley é…

— Sim querida sou pai dele. Já te expliquei. O que não percebeste afinal?

 

Bella olhava-o cada vez mais incrédula perante o à vontade e descontracção por parte de Fergus em relação à condição vampiresca daquele que assumia ser seu filho.

 

— Ah, espera, acho que já percebi… - endireitava-se lentamente. - Deves estar a pensar como é que eu encaro a criatura do meu filho com tanta naturalidade, não é mesmo?

 

A jovem acena-lhe lenta e afirmativamente.

 

— Oh minha querida, para o rei do inferno isto é pão com queijo.

— Para o quantas? - Questionava Bella elevando o tom de voz e arregalando cada vez mais os olhos.

— Minha filha, levanta-te e vamos até à sala conversar melhor.

— Não me parece. - Respondia-lhe a jovem relutante.

— Não devias julgar as pessoas assim dessa forma, sabias? - Indicava-lhe Crowley enquanto lhe estendia novamente uma mão. - Creio que também não te agradaria se alguém te julgasse pelo facto de seres uma feiticeira sem te conhecer minimamente primeiro como pessoa.

— Mas como é que sabe que eu….

— Que tu és feiticeira? - Concluia-a Fergus. - Não me ouviste bem quando te disse que sou o rei do inferno? Ou ainda dúvidas da minha palavra?

— Pai, calma. Estamos só a assustá-la ainda mais.

— Aqui ninguém está a assustar ninguém meu filho. A jovem é que é teimosa, ou tem sérios problemas de audição, o que é estranho, podia inventar uma mezinha qualquer ou macumba e pronto. Curada. Simples.


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