Entre Dois Mundos escrita por VeraCurva


Capítulo 21
Capítulo 21 - Um Lobo em Pele de Cordeiro




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— Cas, acho que vou aproveitar para falar com o Dean um pouco. - Informava Sam.

— Sim, sim. Vai lá, vai lá. - Incentivava-o Castiel com uma sacudidela de braço, sem nunca desviar a atenção da televisão. - Eu fico aqui a acabar de ver o filme.

 

Entre um abanar de cabeça e um encolher de ombro por ver que não valia a pena perder mais tempo em conversa com o anjo, dado que não demonstrava qualquer interesse, Sam ruma até ao quarto de Dean. Ao chegar bate à porta pedido permissão para entrar.

 

— Vai-te embora. Quero dormir. - Respondia-lhe Dean em modo ríspido.

— Podemos falar só um bocadinho? - Insistia delicadamente.

— Não tou com pachorra nem disposição para falar. Já te disse para me deixares dormir e saíres daqui.

— Desculpa mas desta vez vou ser mais teimoso que tu.

 

Ao entrar encontrava Dean sentado na cama de costa contra a cabeceira, com braços e pernas cruzadas e ar de poucos amigos.

 

— Já nem no meu próprio quarto posso estar sossegado.



Sam aproximava-se do irmão tomando lugar na beira da cama.

 

— Dean, o que se passou com a Bella? - Perguntava-lhe calmamente Sam.

— Nada. - Respondia-lhe num modo seco.

— Dean, escusas de quereres fugir. Já me foi informado do que se passou.

— Então se sabes, tás me a perguntar para quê? - Dean falava-lhe bruscamente.

— Porque quero ouvir o teu lado da história.– Não te chega a versão daquela transmorfa boca de chaleira?

— Dean…

— Dean o raio… O raio é que é Dean. Não há paciência para gajas, ainda mais feiticeiras que são mil vezes piores que as gajas normais.

— É preciso isso tudo? - Sam tentava sempre manter uma postura calma.

— Tudo o quê?

— Essa raiva, essa revolta… sei lá…

— Então se não sabes, ganhas mais em tar calado.

— Dean, a sério. Deixa de ser criança, já somos todos homenzinhos para esse tipo de birras e casmurriçes.

— Se vieste aqui para me insultar podes dar meia volta e regressar para o sítio de onde vieste.

— Eu não vim aqui para insultar ninguém. Antes pelo contrário. Mas só quero perceber o teu lado e também que vejas que não agiste da melhor forma com a Bella. - Sam tentava acalmar o irmão.

— Não me apetece falar dela.

— Não te apetece mas vamos falar. Sabes Dean, a gente é por dentro muito mais do que aquilo que fazemos ou falamos.

— Poupa-me às tuas filosofias Sam. E se faz favor retira-te e deixa-me em paz no MEU quarto, lugar onde acho que ainda tenho alguma autoridade e poder de decisão, pode ser? - Dean não baixava a guarda com o irmão, falando-lhe sempre em modo altivo.- E aproveita enquanto te o faço como pedido, à próxima não será de forma tão amigável. - Alertava-o.

— Ok Dean, tu é que sabes. Já vi que não vale a pena. - Sam erguia-se da cama fazendo a vontade ao irmão.

— Obrigado por decidires deixar de me atazanar o juízo. Tem uma boa noite e até amanhã. - Despedia-se irónicamente enquanto se deitava de lado de costas viradas para a porta, porta essa para a qual Sam se dirigia.




Quando estava prestes a sair, Sam dá meia volta deixando umas últimas palavras.

 

— Sabes Dean, quando um dia te tornares um homem, vais perceber o quanto agiste feito uma criança.

 

E dito isto saía fechando a porta atrás de si, deixando Dean na solidão daquele quarto frio e escuro.





Poucos dias tinham passado desde o tão aclamado jantar pelas três colegas, no entanto era visível a diferença de ânimo em Bella que aparentava estar mais cabisbaixa e desligada dos colegas, querendo por vezes isolar-se, ou pelo menos tentava, pois com Charlotte e Amélia por perto era difícil esconder-se ali e, no entanto, sabia-lhe bem estar perto delas pelos seus disparates.

 

Adele, contudo, tomava atenção a cada passo que as três davam, focando-se especialmente em Bella. Teria aquela sua reacção a ver com algo que tivesse corrido mal no jantar de convívio com os de fora? Ou teria sido só um dia mau?…. Estas e outras questões elevavam nela o desejo de encontrar as respostas o mais rapidamente possível, pois talvez agora pudesse eliminar de vez uma das suas rivais que odiara desde a sua chegada ao instituto.

 

Por agora, iria necessitar investigar mais a fundo a situação da australiana, para ter certezas do seu próximo passo, decidindo-se a segui-las e eleger algumas das suas amigas mais chegadas para tentarem uma aproximação com Bella.






Crystal, fora a primeira eleita da prefeita dos Lua Nova para se aproximar de Bella, dado que apesar de ser fiel a Adele, a rapariga escolhida, dado a ser bastante estudiosa e empenhada, em sempre seguia a prefeita da sua casa para todo o lado, passando grande parte do tempo na biblioteca de volta dos livros, e como tal, deste modo, não iria levantar tantas suspeitas.

 

A aluna “premiada” com a árdua tarefa, começa por tentar a sua sorte sentando-se cautelosamente perto de Bella quando a encontrou uma tarde, sozinha no jardim, ainda sem Charlotte ou Amélia por perto.

 

— Olá….posso fazer-te companhia?

— Como quiseres… - Bella sabia que era uma aluna dos Lua Nova, no entanto, nem todos eram seguidores da Adele apesar de naquele momento ninguém lhe fizesse diferença, pois estava demasiado embrenhada a ouvir música, envolta nos seus pensamentos.

— Ouve, sei que pode parecer estranho, mas se precisares falar, não está aqui mais ninguém e eu não sou como alguns colegas meus, aliás, nem sei como fui destinada àquela casa. Já deves ter-te apercebido, uma vez que partilhamos todos as mesmas disciplinas na mesma hora.

— Não me interessa. Ninguém tem nada a ver com a minha vida. Podes ficar aí, se quiseres, ou podes ir embora…

 

Crystal começava a encontrar os primeiros obstáculos e tinha de arranjar forma de os contornar. Graças a Adele, sempre com as suas artimanhas, tinha conseguido saber os gostos musicais de Bella…

 

— Para a semana há uma banda de antigos bruxos de uma escola da França que vão actuar em Lisboa, no Coliseu, acho que são os Newtralize...são fixes. Os Prefeitos, se pedirmos com jeitinho, conseguem organizar as coisas e ter as autorizações. O único senão, é que temos de os gramar. Tenho o último álbum deles. Queres ver?

 

Bella olhou de soslaio para a rapariga. “Típico Lua Nova, sempre com as novidades…”

 

— Eles são fixes. - Respondeu ela quase inaudívelmente. - Fazes bem em ter já o albúm, provavelmente vai esgotar rapidamente.

— Tinha esperanças que o pudesses ouvir comigo. - sorria Crystal agitando o CD discretamente. - Anda lá, estou ansiosa por abri-lo.

 

Bella não sabia o que achar de toda aquela situação. Por um lado estava curiosa, por outro pensava se aquilo não teria truque na manga... No entanto, achou que não perderia nada e lentamente, retirou os fones do mp3 e prestou atenção à colega.

 

— Eu sei que os CD’s são fora de moda, eu própria já me cansei de pedir aos meus pais um mp4, mas enfim, pais, não é?... por isso é que trouxe o discman do meu irmão, por vezes é muito prestável para comigo, mas é um chato, não sabe fazer nada de jeito… irmãos mais novos, já sabes como é, mas pronto. E então...alinhas? - Explicou Crystal tentando animar Bella dizendo tudo aquilo como se fosse a coisa mais natural e ridícula do mundo. - Depois, se quiseres, e te sentires melhor, podemos conversar um pouco, vejo que temos coisas em comum. Bem, pelo menos o gosto musical. - Sorria delicadamente.

 

Aquela rapariga parecia começar a ganhar alguns pontos na consideração de Bella que, pondo de lado um pouco a sua má disposição, sorriu à rapariga alinhando na sugestão.

Aquele breve momento de música, tinha gerado momentos de grande diversão entre as duas e partilhavam as suas opiniões sobre as músicas e as letras, Crystal para mostrar mais afinidade, desabafava com Bella alguns aspectos e situações pessoais, embora arriscando-se a não saber nada em troca por parte de Bella… mas era um risco que tinha de correr.

Bella pousou os fones junto da colega e suspirou violentamente.

 

— Não sei, só sei que estou farta. - Bella parecia começar finalmente a desabafar.

— Rapazes?

— Pois claro, havia de ser o quê mais? São tão idiotas!

— Pois, eu imagino. Mas digo-te, não adianta ficar assim, é isso que lhes dá gozo. Temos de mostrar que nos são indiferentes, aliás, em tudo, somos muito melhor que eles, querida, nisso tens de concordar comigo. - Concluía Crystal confiantemente tentando acalmar a colega que a ouvia com toda a atenção possível. - Aliás, digo-te mais, nunca lhes devemos dar oportunidade de nos domarem. Se deixamos... somos somente um objecto. Temos de lhe fazer ver o valor que possuímos. Se não o virem, haverão mais por aí. Alguns deles com o tempo até se tornam chatos e rotineiros.

 

Bella estava surpreendida, a forma como ela falava, toda aquela superioridade descontraída, era como se retratasse Dean ao detalhe, mas ela não queria ser demasiado óbvia e contar tudo à colega dos Lua Nova. Havia naquele discurso coisas que a própria Bella não podia aceitar.

 

— É mesmo. Já demonstrei demasiadas vezes, e penso que ele também,mas  umas vezes está tudo bem, no outro momento já não está…- desabafou Bella - Realmente já não o entendo.

— Portanto ele não sabe o que quer… - murmurou Crystal num sorriso estranho.

— Pelos vistos não.

— Não te preocupes, agora é uma excelente altura para o ignorares até ele se aperceber o que perdeu. Pareces ser uma miúda excelente.

 

Ambas permaneceram em silêncio durante alguns minutos, aproveitando a calma que se tinha instalado até ser horas de regressar às últimas aulas da tarde.

 

— Está na hora. Preparada? - Perguntou Crystal levantando-se prontamente carregando os livros junto ao peito.

— Que remédio.

— Oh já me esquecia, vou ter de aturar os meus colegas de Casa….às vezes nem eu própria os aguento, mas hey, é o que nos calha...não sei que mal fiz eu. - Ria ela acenando em despedida e afastando-se. - Vemo-nos mais tarde, foi muito bom falar contigo.

— Sim.. - murmurou Bella achando tudo ainda surreal. -”Se estás onde estás, por alguma razão é, mas até podes nem ser má de todo, aliás todas as Casas têm os seus defeitos e qualidades e, no entanto, nem todas as pessoas são a imagem ideal da sua Casa” - pensa Bella para si mesma. - Enfim, hora de ir…

 

Nessa noite ao jantar, o qual decorreria em Monserrate, Bella, movida pela curiosidade, procurava pela colega com quem tinha conversado à tarde, sem prestar atenção às tagarelices sem sentido das suas amigas.

 

Adele tinha entrado na sala com a sua legião de seguidoras e admiradores. Com um andar majestoso, ocupava o seu lugar procurando de imediato Bella com o olhar, com um sorriso radiante no rosto. Quando Bella olhou em volta novamente, viu Crystal afastada de Adele por 4 colegas. Isso provavelmente poderia ter sido combinado entre elas para não levantar suspeitas, pois Bella não confiava praticamente em ninguém, muito menos nos Lua Nova, mas ainda assim, talvez a rapariga até lhe tivesse dito a verdade.

A risota na mesa de Adele era incomodativa, parecia uma constante festa, as risadas seduziam os rapazes que queriam saber detalhes de toda aquela animação mas não era permitido andar sempre a trocar de lugares. No entanto, a piada era fazer chacota sobre todos os restantes colegas, a forma de falar, o país de origem, as famílias, as roupas…..e principalmente comentavam sobre as três raparigas. Todo o jantar tinha sido alegre entre todas as Casas, cada um de sua forma, até que no final, Adele fora a primeira a abandonar o espaço, como se estivesse atrasada para algum encontro, estando estranhamente entusiasmada. Era hábito levarem os pratos para um canto da mesa para os Ewoks de serviço os recolherem, mas no caso de Adele ela olhou em volta para um rapaz e fez-lhe sinal.

 

— Tu aí, queres ser muito útil para mim? Leva depois o meu prato, obrigadinha. Tenho mais que fazer do que levar um prato até ali para depois sair pelo lado oposto.

 

Prontamente o rapaz acena com a cabeça, com os olhos a brilhar como se tivesse ganho um troféu ou um autógrafo de alguma celebridade.

 

Adele tinha regressado ao seu plano inicial.

Após Crystal lhe ter contado tudo o que Bella lhe tinha transmitido, tinha agora a confirmação de que ela e Dean se tinham desentendido novamente, o que lhe daria a oportunidade de preparar mais pequenos feitiços com diversos graus de força, sendo que os mais fortes teriam de ficar em repouso mais dias, e os mais leves de utilização instantânea, onde estes últimos lhe permitiriam manter Dean sobre a sua alçada e a aceitar facilmente. Teria também de recorrer às várias técnicas de artes divinatórias e viagens astrais para saber os locais que ele iria frequentar de modo a fazer dos encontros uma “coincidência” e assim, dar-se a conhecer e aproximar-se novamente dele. Certamente agora seria mais fácil.

 

No dia seguinte, tinha já informações suficientes sobre Dean e só lhe faltava uma forma de conseguir um passe livre para sair. A única maneira de o fazer era ter, mais uma vez, a autorização do seu chefe de casa, apresentando uma boa razão para a saída. Pelos seus cálculos, em apenas uma semana, teria o rapaz na palma da sua mão.

A julgar pelo que tinha descoberto sobre Dean, o seu ponto fraco eram mulheres bonitas que iriam na sua conversa de engate. E ninguém melhor que Adele para alinhar nessa jogada.


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