Aluno após aluno iam passando pelo ritual de iniciação, tomando lugar perto dos membros das suas novas casas. Após o último estudante seleccionado, Jordan continuava sem aparecer.

— Professor, tem a certeza que o Jordan ia cumprir com o vosso acordo? Mas que tarefa é que o professor lhe deu afinal, ir à China e voltar no mesmo dia? - Perguntava Sabina já um pouco chateada.

— Não querida… - respondia-lhe Sukru por entre um sorriso - ...Era ir à Austrália. - Informava-lhe adoptando uma postura mais séria.

A aluna encara-o no misto de incompreensão e indignação perante a resposta do professor que, para esta, parecia que ele a gozava.

Sukru por sua vez lança uma vista de olhos no seu relógio de pulso.

— Devem estar aí a rebentar. - Murmurava como falando consigo próprio.

Os restantes directores olhavam para Sukru em modo de quem procura uma resposta por parte do rapaz. Aguardavam algo que ainda não havia comparecido naquela cerimónia. Sukru apenas lhes respondia com um sorriso sereno.

Começavam todos a ficar impacientes. Klaus fazia o seu ar sério ficar ainda mais carregado, Maximus bufava com olhar de desdém, Aurora mexia as mãos nervosamente de forma irrequieta. Dos quatro directores, Sukru era o único que permanecia impávido e sereno, sem nunca retirar o seu largo e pacífico sorriso.

Surgiam murmúrios entre os alunos, alguns entreolhavam-se. Os comentários entre os estudantes começavam a elevar o volume dando origem a um certo ambiente destabilizado.

É então que dois vultos surgem vindos do fundo do grandioso jardim em passo lento. Uma das figuras era alta, de tronco robusto e aparentemente careca. O semblante que o acompanhava era de estatura média e curvilínea, de longos cabelos até cerca de meio das costas. Com o aproximar conseguia-se visualizar mais pormenores e detalhes daquelas duas pessoas que se encaminhavam até aos restantes. Uma delas era já conhecida por todos naquele instituto. Era Jordan, o perfeito dos Wanning Moon, avançando com grande descontração e sorriso estampado no rosto. Sabina ao vê-lo já reclamava com o rapaz entre gesto, mas este não lhe “passava cartão”, prosseguindo o seu caminho.

Sukru ao ver o acompanhante de Jordan, ou neste caso mais propriamente “A” acompanhante, pois tratava-se de um rapariga, esboça um sorriso ainda mais largo, cheio de ternura e carinho. Os olhos do director pareciam brilhar ligeiramente da alegria que este sentia ao ver a jovem.

Por sua vez a rapariga ao contemplar o jovem director, lança-se em corrida até ele, atirando-se para o seu colo num abraço apertado com as pernas envoltas na cintura do professor e os braços em torno do pescoço do rapaz. A expressão da jovem era de extrema alegria. Apertava cada vez mais forte Sukru, que lhe retribuía o abraço com a mesma intensidade.

Tirando Jordan, que ocupara finalmente o seu lugar junto de Sabina, mais nenhum dos presentes naquele recinto fazia ideia de quem se tratava aquela estranha, a razão de a mesma ali se encontrar e ainda menos o facto de esta estar naquelas condições com um dos directores e o mesmo além de o permitir ser recíproco para com ela.

— Tinha tantas saudades vossas pá! - Comentava para Sukru a rapariga entre o abraço.

— E nós tuas Bellinha, nem imaginas a falta que nos fazias.  - Retorquia-lhe docemente o professor.

Colocava a rapariga no chão cuidadosamente enquanto esta se ia deslargado do rapaz. Tomando lugar do lado direito de Sukru, a jovem ajeita-se de modo a recompor-se para encarar os restantes membros do instituto.

Os cochichos entre os alunos era notório, principalmente da parte da prefeita dos Lua Nova, Adele.

— Realmente onde isto já se viu... Mas aquela moça não tem noção do local onde está? Isto são modos minimamente adequados de se comportar no Instituto mais conhecido e prestigiado de todo o mundo mago? - Reclamava a aluna sempre no ser ar de superioridade. - Ela veio directamente extraída da selva só pode.

Adele olhava para a rapariga recém chegada com desdém. Sukru dava uns passos à frente tomando a jovem a seu lado pela mão encaminhando-a consigo. Num gesto de mão pelo ar faz o silêncio reinar novamente naquele local.

— Bem, meus caros alunos… Meus caros colegas ...- Desviava momentaneamente o olhar para os restantes directores e professores. - Aqui ao meu lado está a razão pelo atrasado do prefeito da minha casa. A meu pedido, o Jordan teve autorização para se ausentar o tempo necessário para ir buscar esta menina que tenho o gosto de lhes informar que será uma futura colega vossa. - Informava direccionando-se aos restantes estudantes.

— Então isso significa que a selecção de casas ainda não terminou certo senhor professor? - Questionava um aluno no meio da plateia.

— Terminou sim Beto. - Esclarecia-lhe Sukru.

Beto era um dos alunos da equipa de Sukru, um dos que melhor representava as características daquela casa. De altura mediana, destacava-se visualmente dos restantes pelo seu farto cabelo loiro de jeito africano, parecendo um brócolo amarelo gigante devido ao seu volume e aglomerado de pequenos caracóis que faziam sobressair os seus grandes olhos azuis marinhos e pele morena. Tinha outra particularidade muito peculiar, dialogava sempre na 3ª pessoa, referindo-se a si mesmo pelo próprio nome como se de outra pessoa se tratasse.

— Mas como? - Insistia o jovem- Ela é uma caloira, precisa ser atribuída a uma das casas. É o ritual habitual para o "people" novo aqui no MLI, Beto sabe muito bem disso.

— Eu sei que o “people” novo - Sukru ria ao imitar o termo usado pelo aluno. - passa sempre pelo ritual de iniciação, mas neste caso é diferente pois a Bella ingressará directamente no 6º ano.

Bella era uma jovem que havia sido transferida da Austrália, país de onde era oriunda, para Sintra. Amiga de Sukru e Jordan desde os tempos de infância, era uma rapariga de seus 19 anos prestes a comemorar os 20. Era uma jovem de estatura média alta, curvilínea mas não gorda nem demasiado magra, era nas medidas certas. Com cabelos compridos com alguns de jeitos e ondulações num tom castanho chocolate e pestanudos olhos na mesma tonalidade. Apresentava-se no seu estilo casual habitual, fugindo um pouco por vezes para um simples glam rock chic, sendo adepta dos casacos e coletes de cabedal, em especial os de cor preta, tops de cavas, tshirt’s ou camisas de tons básicos, neutros ou pastel, e as suas jeans, variando entre os tons de ganga azul mais claros ou escuros e ainda algumas em cor acinzentada ou verde seco.

— Ai eu não acredito, temos aqui uma transferida ao fim de 10 anos como já não se via, isto é inadmissível. - Reclamava uma aluna no meio da multidão.

— Inadmissível porquê querida Sasha ?- Inquiria serenamente Aurora por entre um suave sorriso.

— Ora pois tá claro…- iniciava reforço outra jovem ao lado de Sasha . - Como se já não fosse mau o suficiente permitirem a entrada de uma transferida, sabe-se lá porquê, a mesma ainda tem direito a regalias.

Adele ao ver o protesto e argumento das duas jovens, jovens essas além de pertencerem aos Lua Nova eram também duas das suas fiéis seguidoras, aplaude-as de cabeça erguida olhando de lado para Bella com repúdio. Mas toda aquela sua manifestação se dissolve perante o olhar reprovador, intimidante e até mesmo assustador de Klaus que pousava sobre si.

— Se há coisa que vos garanto que a Bella não tem, nem nunca terá são regalias adicionais àquelas a que todos vocês têm direito. - Informava Sukru um pouco indignado com o que ouvira. - Mais informo que até serei bem mais exigente com ela do que com qualquer outro de vós - Apontava com um dedo esticado entre um aluno e outro.-  e ela sabe bem disso de antemão.

— Mas a que casa irá ela pertencer então senhor professor? - Perguntava entusiasmado Napoleão que se encontrava sentado ao lado de Beto.

— Isso ainda iremos conferenciar este fim de tarde, mas logo à noite após o jantar certamente teremos uma resposta não só para ela como para todos vós, para que os restantes colegas de casa na qual ela for inserida a possam receber e os respectivos perfeitos encaminhá-la. - Esclarecia-lhe Sukru.

— Hmf, só espero que não tenham a triste ideia de a depositarem na minha respeitada casa que não é nenhum ecoponto para levar com desperdícios para reciclagem, impensável, seria uma nódoa para nós. - Sussurrava Adele para si própria ainda sobre o olhar ameaçador de Klaus que ao ver a aluna murmurar fixava-a com mais intensidade, ao que esta desviava discretamente a cabeça em sentido contrário encolhendo-se ligeiramente sobre si própria.

Beto erguia-se agora do seu lugar, de braço elevado no ar e dedo indicador esticado o mais que conseguia, chegando mesmo a colocar-se em bicos de pés para que os professores vissem o seu pedido de permissão para falar, face aos vários murmúrios e cochichos que se tinham gerado criando algum barulho.

— Sim Beto, que foi agora? - Questionava Sukru rindo vendo o habitual jeito participativo do aluno em questão.

— O Beto acha que, se assim for possível e se os senhores professores e a jeitosa...ai, airosa, queria o Beto dizer… colega Bella  concordarem, podia-se à mesma fazer o teste do medalhão, o Beto acha que seria engraçado e original para um aluno já no 6º ano.

Os professores entreolham-se e entre gesticulações corporais e visuais acabam por aprovar a sugestão do rapaz.

— Bella e tu o que pensas disto querida? Sente-te à vontade para o aceitares ou não, faremos da forma como te sentires melhor. - Falava-lhe meigamente Sukru.

— É na boa mano. Relex, sem stress, vamos lá prá frentex. - Sorria-lhe a jovem entre uma meiga cotovelada.

Sukru assegurava-se uma vez mais da decisão da rapariga e esta mantinha a sua resposta. Fazendo então um sinal de cabeça direccionado para os restantes colegas de profissão, o director dos Wanning Moon dá início a uma nova selecção. Levava Bella até ao centro do recinto onde os olhares de todos recaíam instantaneamente.  Colocando o pendente envolto no pescoço da jovem, retrocede uns passos atrás para que o objecto seleccionador pudesse exercer a sua habitual função.

Bella observava atenta e curiosamente o medalhão que balanceava abaixo do seu rosto. Este colava-se agora ao peito da jovem criando-lhe um ligeiro formigueiro na zona em questão. A fumaça branca era libertada, criando a tradicional névoa em torno da jovem, voltando a ser sugada para o interior das narinas do animal. Alguns minutos passavam, mais do que o normal, e o medalhão permanecia colado ao peito da feiticeira, não se vendo quaisquer sinais de fumo colorido prestes a expelir das narinas do lobo de cobre. Todos em seu redor trocavam olhares misteriosos e intrigados, fossem alunos fossem professores, Bella por sua vez mantinha-se concentrada no objecto pousado em si.