Por entre uma semana de aulas, estudos e trabalhos de casa, as três feiticeiras desfaziam-se em tentativas para encontrarem o mais pequeno espaço de tempo possível para tratarem das suas prendas para o Amigo Secreto, o que com todas aquelas tarefas e ocupações, tornava escasso o tempo vago para o fazerem.

Amélia sabendo o gosto de Cooper pelo estilo Steampunk,  bem como por piratas, já tinha uma noção do que lhe oferecer de modo a conjugar os dois estilos. Charlotte, por seu lado, não tinha muita paciência para pensar em prendas para Amélia, optando por lhe dar algo algo básico que a amiga já usava no seu dia-a-dia.

Amélia usara o método de compras online para requisitar o seu presente. Chegaria ao posto de correios do mundo não-mago, no centro da Vila de Sintra, na manhã da realização do jantar de Pásoca, só teria de pagar o valor do objecto nos CTT no acto de levantamento do mesmo. Rezava a todos os falecidos magos para que o presente não sofresse nenhum atraso ou desvio inesperado.

Charlly, que não havia ainda dado muita queda nem interesse para a onda das tecnologias, apesar de Bella insistir em explicar-lhe uma coisinha ou outra, comprara o presente de Amélia na quarta-feira à hora do almoço, dia em que tinha aulas da parte da manhã até às 11h30 e só as retomaria às 15h30, dando-lhe uma boa margem de manobra para se deslocar até ao local onde iria realizar a compra.

Bella era a única que parecia não se preocupar com a prenda do seu amigo.

Passava o dia nas aulas bastante concentrada, não que não fosse já de seu hábito, mas nesta semana parecia particularmente mais concentrada do que o normal, especialmente nas aulas de poções dadas por Klaus. Assim que cada aula terminava, tratava de realizar e concluir logo os seus deveres de “casa”, recorrendo ao sossego da biblioteca, onde aproveitava para seguidamente usufruir de uma hora para estudo das diversas matérias. Mas o certo é que andava realmente bastante aplicada na disciplina de poções naquela semana. No tempo que lhe restava livre, refugiava-se numa pequena sala inutilizada já há diversos anos e que para tal Sukru lhe havia disponibilizado o acesso e permitido a sua utilização, entregando ao seu cuidado a chave da mesma.

Era um sala pequenina, não mais que 4 m2 de área. A espaçosa mesa de carvalho escuro envernizado, que se avistava encostada à parede de frente para a porta, bem com as estantes que a ladeavam e restantes mesas de apoio, todos estes móveis concebidos no mesmo material que a mesa principal, tinham uma considerável camada de pó e poeiras sobre si.

Nas estantes podiam-se encontrar livros de diversos temas e matérias, com as suas folhas já amareladas e todos eles também cobertos com uma camada de poeira. Frascos e frasquinhos de vários tamanhos, cores e feitios, todos eles devidamente rotulados, constavam  igualmente nas várias prateleiras, bem como um almofariz e pilão de mármore acinzentado, uma balança de pratos de bronze e ainda um pequeno caldeirão de estanho preto.

Não se sabia ao certo qual teria sido a função daquela sala na antiguidade, nem por quem teria sido utilizada. Bella, antes de fazer uso daquele espaço, optara por lhe dar uma valente limpeza, ao fim da qual a pequena sala parecia ter ganho um brilho especial. Colocara velas pelos vários cantos de modo a ter iluminação suficiente para trabalhar, juntando àquele ambiente uns pauzinhos de incenso que ardiam lentamente, deixando no ar um leve e agradável aroma, os quais havia comprado na Ishtar.

Ali passava ela os seus tempos livres daquela semana, encafuada naquela sala, sozinha, longe dos olhares de todos os restantes daquele instituto, tendo como companhia apenas, além de todo o material existente naquela sala, a sua pena de fénix e o seu caderno de anotações, onde escrevinhava a todo o momento durante o tempo que se encontrava ali dentro.

Charlotte e Amélia, que a procuravam naquelas horas vagas, estranhavam a ausência inexplicável da colega, pois nunca lhe conseguiam apanhar o rasto após as aulas. Por mais que a tentassem seguir, Bella arranjava sempre uma forma de se escapulir, e à noite, no quarto da residência, cada vez que as amigas a abordavam, Bella restringia-se sempre à mesma resposta.

     – Estive a tratar de uns assuntos.

Em momento algum referia ou explicava os assuntos em questão, o que estava a deixar as colegas bastante intrigadas.

Na área fora dos recintos do Instituto, os três rapazes já se havia lançado também na “caça” ao presente dos seus amigos secretos. Cada um já o tinha adquirido, mas tornava-se complicado arranjar um local seguro em casa para os guardar longe do alcance  da vista dos outros dois residentes daquela habitação.

Era manhã de sexta-feira, a noite havia sido longa, entre ansiedade, suspiros de um certo nervosismo e a expectativa da hora tão aguardada preste a bater à porta a qualquer momento.

O relógio marcava as 07h45, onde muitos se levantavam calmamente para as aulas que, ao contrários dos outros dias da semana de 2ª a 5ª feira, se iniciavam como habitual, às 11 horas em ponto, com a disciplina de Herbologia para os alunos do 5º ano e Aritmância para os do 6º , ambas em contexto teórico, e de Muggleologia  para os alunos do 7º ano.

Amélia madrugara de forma a encontrar-se pronta a tempo de dar uma saltada no posto de correio para levantar a sua encomenda, que graças a santo Merlin, já se encontrava lá aguardando a chegada da jovem ao estabelecimento. Após o pagamentos, voltava alegre cantarolando com o objecto nas mãos coberto por um pano preto, de forma a ocultá-lo. Ao passar junto de uma loja de conveniência a caminho do Instituto, aproveitava para comprar um lindo saco estampado para guardar o seu precioso presente.

As aulas nesse dia decorreriam até às 17h30, por entre alguns intervalos para uns breves descansos e relaxamentos, bem como para o almoço.

Ao ser dado sinal de findada última aula desse dia, Bella apressa-se a pegar no seu material, saindo em passo acelerado da sala de aula. As suas colegas de residência dirigiam-se para o quarto, não só para relaxarem um pouco antes de seguirem para o jantar como para escolherem algo mais apresentável e composto para aquela ocasião. A caçadora não havia aparecido no dormitório desde o terminar das aulas. Após uma troca de mensagens com Sam, tinha-se deslocado primeiramente à pequena sala guardado na sua mala de tiracolo uns pequenos frascos, seguindo depois directamente para casa dos três jovens, onde Sam a aguardava para prepararem juntos o jantar, bem como organizar a mesa e últimos preparativos necessários na casa.

Pegava na sua mota, escondida no local do costume, dirigindo-se para casa dos rapazes. Batia à porta tentando ajeitar-se minimamente devido à velocidade a que conduzira e ao facto do capacete a deixar ligeiramente despenteada quando o retirava. Enquanto aguardava que a recebessem, recompunha os cabelos com as suas delicadas mãos. Durante aquele processo, a porta abre-se diante de si, deixando-a um pouco embaraçada por ser apanhada naquela situação, ainda mais por ter sido aquele dos três a recebê-la.

Era Dean, que ao contemplá-la naquele cenário, esboçava um sorriso achando de certa forma engraçada a acção da jovem. Bella corava ligeiramente perante a presença e olhar fixo de Dean. Sentia um calor emergir nas suas rosadas maçãs do rosto. Expressava um sorriso meio atrapalhado enquanto tentava desviar a atenção da presente situação em que havia sido apanhada.

 – Hmmm… Olá boa tarde. Será que posso entrar? - Questionava ainda bastante rosada.

  – Olá, olá. Olhem quem chegou. Por aqui já a esta hora?

 – Aaaa.. sim combinei com o teu irmão vir ajudá-lo na preparação da refeição e a dar um jeitinho nas coisas. Ele está cá, não está? - Bella espreitava por entre os ombros de Dean para o interior da habitação em busca de Sam.

 – Sim está. Está lá dentro na sala armado em decorador de interiores. - Apontava para dentro enquanto fazia troça do irmão.

 – Será que posso entrar então, para lhe dar uma mãozinha como prometido? A ver se temos tudo preparado a tempo. - Questionava-lhe Bella pedindo-lhe permissão para que a deixasse entrar.

 – Hmm...Não sei, deixa-me cá pensar…

 – Vá Dean, não comeces por favor, ao menos hoje dá lá uma folguinha.

 – Não te preocupes boneca, hoje estou particularmente bem disposto. - Sorria-lhe estranhamente em jeito amável.

 – Bem, deve estar um burro pra morrer. - Concluía a feiticeira com um ar desconfiado.

 – Simplesmente correu-me bem a semana. Mas para entrares acho que te falta aí qualquer coisa primeiro.

 – Oi? Como assim? Esqueci-me de alguma coisa? O Sam não me avisou para trazer nada em especial. - Bella sentia-se confusa.

 – Não Bellinha. Falta-te cumprimentares-me. Acho que é de tua educação fazê-lo. - Esclarecia-lhe Dean mantendo sempre o sorriso.

 – Dean, vá lá, deixa-me passar,pff. Não empates mais o pouco tempo que nos resta. - Pedia-lhe Bella enquanto tentava passar pelo caçador, ao que este se mantinha firme a bloquear a passagem da porta.

 – Primeiro, beijo, depois passagem… “No” beijo, “No” entrada Bellinha. - Dean lançava-lhe um sorriso malandro.

 – Se não há mesmo outra forma de me deixares passar para fazer o meu trabalho...

E aproximando-se do rosto do rapaz, dá-lhe um rápido  mas terno beijo na face. O caçador retribui-lhe o gesto mas fazendo-o bem perto da ponta dos lábios da feiticeira. Bella apressa-se a desviar-se do rapaz.

 – Bem, agora que já fui educada já me permites passar?

 – Claro, agora sim tens permissão para acederes  ao interior da minha humilde casa. - Informava-lhe o rapaz desviando-se de modo a que Bella conseguisse entrar, fazendo-lhe uma vénia e um gesto de mão para que passasse.

Bella solta uma risada pela atitude cavalheiresca de Dean, extremamente rara na sua pessoa.

Dean fechava a porta e seguia atrás da jovem.

  – Podes ir andando para a cozinha se quiseres- Apontava-lhe na direcção da mesma - O meu irmão já lá vai ter contigo. Faz de conta que estás em tua casa.

Bella achava Dean estranhamente simpático e lisonjeiro. Mas era preferível assim ao seu habitual feitio torcido, nem que fosse apenas por uma noite.

Preparava-se para tomar rumo à cozinha mas, antes de prosseguir, Dean, por trás de si, sussurra-lhe ao ouvido .

  – Só mais uma sugestão… Não precisas preocupar-te tanto em ajeitares-te daquela forma. És gira e sexy mesmo despenteada.

Bella ficara sem jeito ou reacção perante aquele elogio completamente inesperado da parte de Dean. Este retira-se para a sala, após uma atrevida palmada no traseiro. Bella lança um olhar perplexo para trás face à atitude repentina do rapaz, ao que este se despede com uma piscadela.

Encontrava-se finalmente na cozinha. Com o olhar, contemplava o seu interior observando atentamente tudo em seu redor. Era uma divisão espaçosa, com diversas bancadas de pinho com tampos de mármore branco e armários de topo em torno das quatro paredes, recheados de diversos materiais para refeições como para confecção das mesmas. Num dos cantos encontrava-se o frigorífico, no estilo americano, com uma cor metalizada. No centro daquela sala avistava-se uma “ilha”, constituída por uma bancada em mármore escuro ladeada por um belo fogão com forno.

Procurava um avental que pudesse tomar para si de forma a proteger a roupa de eventuais manchas e salpicos. Após verificar atrás da porta de entrada da cozinha, encontra um pendurando num dos três cabides aparafusados à mesma. Vestindo o adereço, dirige-se para perto da bancada da ilha, ficando de costas para a entrada. Aguardava a chegada de Sam para porem mãos à obra, mas este parecia tardar um pouco em chegar. Numa tentativa de se distrair e passar o tempo enquanto aguardava, deparou-se com o copo ali “perdido”. Pegando nele, decidiu entreter-se batucando com o obejcto na bancada entre reviralvotas enquanto cantava a “cups song”.

Sam entrava sorrateiramente e ao ver a feiticeira naquela interessante coreografia com o copo, decide ficar por momentos a observá-la tentando não a interromper e captar alguns dos movimentos realizados pela rapariga. Apreciava também a melodiosa voz cantante da jovem, que seguia bastante afinada. Quando Bella se apercebe de uma presença por trás de si naquela sala, solta um ligeiro grito envolto num pulo, levando uma das mãos ao peito.

  – Hey Bella calma, sou só eu. - Sam colocava-lhe uma mão sobre um dos ombros numa tentativa de a sossegar.

  – Desculpa, estava tão distraída que nem dei por entrares.

Bella cumprimenta o rapaz com um forte abraço, de braços em torno do pescoço do jovem, por entre dois beijinhos na face, ao que Sam responde agarrando na feiticeira pela cintura elevando-a ligeiramente no ar em forma de abraço apertado e carinhoso. Colocando Bella de novo no chão comenta acerca da coreografia que esta executava com o copo, a qual ele tinha achado bastante divertida e interessante pedindo-lhe que lhe ensinasse. A rapariga indicava-lhe para que arranjasse um outro copo semelhante e prontificava-se a ensinar o rapaz. Por entre algumas falhas, lapsos e bastantes gargalhas, Sam começava a apanhar-lhe o jeito, e os dois punham os respectivos copos a dançar enquanto Bella cantarolava a música.

Toda aquela alegria atraíra a atenção de Castiel que passava num corredor ali próximo, decidindo dar uma espreitadela ao local de onde emergia a risota. Vendo o par numa enorme animação, decide juntar-se a eles. Requisitava também os ensinamentos da jovem para aquele “jogo”, apressando-se a apanhar um copo que se encontrava numa das bancadas do fundo da cozinha, seguindo para junto dos dois amigos. Bella recomeça mais uma demonstração, mas ao tentar imitar a feiticeira, Castiel não se apercebe que era suposto utilizar um copo vazio, e o que tinha nas suas mãos continha água no seu interior. Ao primeiro movimento que executa com o mesmo, o líquido salta em pleno voo disparando para todos os lados, dando um banho nos três. Enquanto Castiel assume um semblante de embaraço e uma certa vergonha, Bella e Sam desfazem-se em risos. O cabelo do anjo pingava por ter sido o mais atingido. Tentava remediar o disparate pegando num pano e limpando o incidente.

  – Bem é melhor eu ir para ali... - apontando na direcção da sala onde se encontrava Dean sentado no sofá assistindo a um programa qualquer na tv. - Antes que cause mais estragos.

  – Oh deixa lá Cass, ao menos serviu para nos rirmos mais um pouco. - Bella tentava sossegá-lo.

  – É… mas não convém empatar-vos mais, senão não tarda a que as outras meninas cheguem e não há comer para ninguém. Aproveito e vou para junto do Dean, que está ali sozinho coitado, deve gostar de um pouco de companhia. Bem, até já meninos. - Voltando costas com um sorriso ainda embaraçado, toma rumo para a sala de estar.

Bella e Sam, tentando recompor-se da brincadeira, começam a conferenciar acerca de quem tratava de que pormenores e confecções. Entediam-se lindamente não só na partilha de tarefas como na cooperação da execução das mesma. Por entre cantorias em conjunto e abanicos, o jantar ia ganhando vida. O cheiro já se fazia sentir por todos os cantos da casa, abrindo o apetite aos mais gulosos.

As horas passavam e as iguarias aguardavam na cozinha para serem transportadas para a mesa da sala quando se iniciasse a ceia.