Entre Dois Mundos escrita por VeraCurva


Capítulo 12
Capítulo 12 - Uma Manhã de Transfigur"animação"




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/735806/chapter/12

A segunda feira daquela primeira semana de Abril amanhecia serena e os alunos da residência que despertavam mais cedo juntavam-se na sala do piso inferior, conspirando um plano para arrancar os restantes das camas mais depressa, enquanto alguns se ocupavam com a tarefa de preparar um pequeno almoço requintado, coisa rara de se ver, e tendo gerado um momento bem aproveitado dado que nem todos os dias os horários permitiam o ajuntamento à mesa de refeições de todos os ocupantes da residência.

No seu quarto, Bella fora a única a despertar cedo e acompanhar os colegas no serviço de despertar, colocando gritadores junto às portas, gaiolas de pixies furiosas prestes a abrir-se e pequenos monstros peludos de várias cores que adoravam fazer trapaças, mas de personalidade dócil, tudo com a ajuda de Beto Forró Bódó e Sebastião da Bruma, pois em partidas e situações cómicas eles eram especialistas.

Os alunos que ainda dormiam jamais iriam desconfiar do que vinha a acontecer. Ao sinal de Jordan e Stefan, alguns colegas desatavam aos gritos em diversas partes da residência tocando sirenes da polícia e alarmes em simultâneo, enquanto outros soltavam as pixies dentro dos quartos que, de imediato, puxavam as mantas das camas e os cabelos dos alunos que ainda se encontravam deitados, mordiscando-lhes os braços e dedos dos pés. Quanto aos monstros, estes corriam para cima dos leitos, pulando em cima dos feiticeiro como se fossem bolas saltitonas.

Assim que estes eram despertos pelo pânico e tentando afugentar com almofadas e safanões no ar as criaturas travessas, os alunos perseguiam os causadores do tumulto que se apressavam a descer as escadas, obrigando-os a exercerem a perseguição até à sala de estar onde os esperava uma requintada mesa cheia de bolos, pão, compotas, leite, chá, sumo e cereais.

A disposição dos alunos atacados era idêntica à de um vulcão prestes a entrar em erupção.

Bella ria a largas gargalhadas ao ver o estado em que as suas colegas de quarto haviam ficado. Amélia semicerrava os olhos e Charlotte comia com as pernas em cima da cadeira, de tão assustada que ainda se encontrava devido às pixies, vigiando sempre a zona inferior da mesa e os cantos da sala, vingando-se dos colegas atirando-lhes com compota ao utilizar a colher como catapulta, gerando-se assim uma animada batalha de comida.

— Tanto trabalho para nada! - Refilava Liam Facatino, um aluno dos Mezzaluna, rindo e escondendo-se por trás da porta de um armário raso.

— Agora já não acham tanta piada, é? - ria Charlotte correndo atrás de Alura, uma colega dos Vollmond, com dois pães na mão tentando fazer-lhe mira, enquanto Alura segurava numa tampa de tacho e uma colher de pau como que na intenção de a afastar de si.

— Eu tenho uma colher de pau e não tenho medo de a usar, ouviste? Vais-te arrepender se me acertares com isso! Olha o desperdício de comida!

— Ai sim? Então usa-a lá!

Charlotte fazia um pão voar na direcção de Alura que tinha conseguido defender-se com a colher como se se tratasse de um taco, lançando o pão para longe de si, acertando em Stefan que acabara de despejar farinha e sumo na cabeça de Napoleão, que com os seus cabelos de largos caracóis castanhos, parecia agora uma farta couve-flor.

Alguns alunos no entanto, preferiram colocar-se à parte daquele acto de demência, saindo a correr para fora daquele edifício.  

Quando os ânimos haviam acalmado, ficara a árdua tarefa de apanhar as pixies e arrumar tudo. As limpeza e arrumação eram os mais pequenos dos seus problemas, visto que bastava um encantamento e a casa arrumava-se sozinha, os pratos flutuariam para o lava loiça, a esfregona bailaria pelo chão, os panos secariam as coisas em pleno ar…  A grande luta ali era agora o prepararem-se a tempo para a primeira aula do dia, que estava a escasso minutos de começar.

Os Prefeitos das três equipas, dado que ninguém da casa dos Lua Nova habitava na residência por considerarem no seu ponto de vista uma casa na árvore algo semelhante a uma espelunca, à excepção de Sebastião da Bruma que fugia às regras da sua equipa dos Lua Nova e partilhava quarto com Beto e Napoleão, teriam de se certificar que ninguém iria fazer gazeta, chegando a arrastar dois rapazes mais preguiçosos. Um deles tinha-se transformado em rato e tinha sido difícil de o apanhar para o fazer voltar à sua forma normal e expulsá-lo da casa. O outro tinha-se escondido dentro de uma arca de madeira, à qual os chefes de equipa não hesitaram em fazer pontaria para a porta da entrada, empurrando a arca pelas escadas abaixo deslizando até à rua, enquanto se deliciavam com os gritos abafados do rapaz que só voltou a ver a luz do dia quando a porta da arca se partira ao bater na ombreira da porta.

Charlotte e Stefan, autores daquele recente acto, assistiam a tudo no topo das escadas, rindo agarrados à barriga, chocando as mãos em vitória.

Restava guardar ainda um pouco de toda aquela animação para o resto do dia pois, para sua sorte, as aulas seriam práticas em pelo menos três disciplinas: Poções, Transfiguração e Feitiços e Encantamentos. Alguns alunos dos Lua Nova criticavam, entre si, o cenário sucedido na residência , enquanto que outros, por sua vez, se tinham divertido bastante, embora preocupados com a aparência perante os professores, as olheiras, o ar de cansaço, os poucos cuidados…

A primeira aula era de Transfiguração. Bella tinha já os seus materiais dispostos enquanto Amélia demorava algum tempo, examinando o estado dos seus materiais, certificando-se de soslaio ao comparar com os de Bella, tendo de corrigir algumas vezes os instrumentos certos para a aula daquele dia com penosa lentidão, visto o cansaço que possuía e o péssimo despertar. Charlly, por sua vez, tinha tudo disposto na mesa mas recostara-se na cadeira, de braços cruzados e pernas apoiadas no cimo da secretária, lutando contra o sono, cabeceando várias vezes, trocando sistematicamente de posição, chegando quase a esticar-se sobre a bancada, apoiando a cabeça sobre a taça que tinha invertido para lhe servir de almofada.

— Oh, Bob Marley... Acorda! Se a professora te vê estás metida em maus lençóis. - Murmurava Lori, sua colega de equipa, tentando esconder o riso.

— Hum? ‘Tá-se bem, ela depois retira-me a punição…- balbuciava a transmorfa agitando a mão lenta e desinteressadamente.

— Põe-te como deve ser, anda lá.

— Sim, sim, já vai, só mais dez minutos...não, acho melhor meia hora.

— Bom dia alunos! - Saudava a professora Narcissia Bloom, uma professora de meia idade, de ar austero mas espírito jovial, de cabelo em tons de avelã sempre apanhado em coque com dois canudos encaracolados caindo sobre a face, entrando apressadamente na sala dirigindo-se directamente à sua secretária trazendo na mão um saco verde-escuro.

Charlotte e todos os alunos de imediato se puseram o mais direitos possível ao ouvirem a voz da professora mexendo nos instrumentos sem saber o que fazer.

— Hoje na aula prática, cada um terá de utilizar os produtos moídos descritos no quadro para dar origem a pedras de Saborrão, utilizados como catalisadores para poções de visão ou para colocar ao pescoço de um dragão para poder dominá-lo mais facilmente e nunca o perder de vista. A tintura que iremos criar, essa, serve também como tinta mágica, usada antes da mesma solidificar, e que apenas os feiticeiros mais experientes poderão interpretar o que com ela for escrito. Têm várias opções, sejam sábios pois se escolherem um único ingrediente errado podem vir a obter resultados catastróficos. Poderão fazer a experiência nestes pequenos Lagartos de Fogo ainda por domesticar...por isso, cabe-vos a vós fazê-lo. Sejam prudentes. Podem utilizar as malgas de barro para colocar a mistura e, após isso, colocar na fornalha e cobrir com a tampa. A mistura deve começar a ficar espessa ao fim de vinte minutos e poderão com duas colheres, dar forma às pedras e voltar a colocá-las na fornalha. Caso estas não fiquem sólidas, considerem o exercício obsoleto, tendo o mesmo de ser compensado com trabalho de casa adicional. Alguma dúvida até agora?

Os alunos mantinham-se em silêncio, tentando ainda absorver as informações dadas pela professora. Havia demasiadas coisas a assimilar logo àquela hora da manhã, as dúvidas eram bastantes e as consequências eram assustadoras.

— É para fazer bolas de sabão? Foi só o que eu entendi…. - sussurrava Amélia a um colega que lhe respondia com um encolher de ombros atrapalhado abanando a cabeça lentamente sem desviar o olhar da professora.

— Óptimo, o silêncio mostra que aparentemente estão concentrados. Irei distribuir os Lagartos de Fogo logo que tenham as pedras devidamente solidificadas.

Os alunos de imediato puseram mãos ao exercício, recorrendo aos manuais para os auxiliar na escolha dos ingredientes que teriam de moer até ficarem num pó muito suave, não se podia sentir qualquer tipo de grão. A professora rodeava os estudantes fila a fila, observando em silêncio e respondendo apenas a dúvidas que achasse aceitáveis.

— Menina Blackswan, acho deveras interessante a sua escolha da Cinza de Pegacórnio (Híbrido de Pégaso com Unicórnio) mas não consigo entender o seu propósito para o pretendido. Se fosse a si, seria mais razoável, não queremos aqui um pedaço de visco negro ardente com asas a esvoaçar por aí.

A aluna petulantemente sem olhar para a professora responde-lhe:

— Porque a prata e a seiva de pinheiro com que irei envolver a cinza, irão formar a crosta. Logo…. - Adele olhava para a sua malga, e o seu semblante desanimava-se dando de seguida lugar a uma frustração aterradora. - ….Será provavelmente um pedaço composto de visco fervilhante voador contido em prata. Ou seja, tudo errado! Vou fazer novamente. Que ódio!

— Seja ponderada menina Blackswan, ainda tem quarenta minutos. A pressa é inimiga da perfeição.

Bella, Charlotte e outros seis alunos, começavam a examinar as tinturas. Pareciam ter uma coloração e textura apropriadas, e para as testarem pegavam numa pena e escreviam algo na mesa. A tinta era como que invisível, mas só a professora agora poderia confirmar. Alguns alunos já tinham conseguido a tintura nas condições apropriadas e preparavam o próximo passo, a modelagem e solidificação nas fornalhas.

Havia alunos que ainda se debatiam com a escolha e consistência dos ingredientes escolhidos, embora se focassem no manual...por vezes, a intuição era o que bastava…

A professora aproximava-se da mesa de Bella e de Charlotte simultaneamente , já que se encontravam paralelas, deitando um estranho líquido azul escuro sobre as bancadas, o qual iluminava as frases elaboradas pelas alunas.

— ”Macaco quer é buá” ? Pode-me explicar o que é isto menina Cooper??

Amélia dirigia o olhar em surpresa para a colega, abafando o riso, tendo sem querer soprado uma pequena nuvem de aranhas moídas em pó, desatando a tossir em seguida, levando um calduço da professora.

— Desculpe professora, não me ocorria mais nada, e não sabia se iria conseguir ler.

— Desta vez passa…..e aqui a menina Caputo.. “Tata de Linta no Rapelo Cabado?” Cada vez vos entendo menos sinceramente...ora que raio de palavreado este… - Meneava a cabeça a professora com um ligeiro sorriso e um brilho nos seus olhos verdes que quase lembravam duas esmeraldas reluzentes.

Os alunos da Lua Nova, nomeadamente Adele revirava os olhos com uma expressão de repulsa no rosto.

— Bom, no entanto, parece-me que podem mesmo passar à próxima fase, pelo menos as tinturas estão correctas. Escrevam os ingredientes que usaram e coloquem-nos por ordem. Ingredientes diferentes, podem alcançar o mesmo fim se forem devidamente processados. - Elogiava a professora. - Continuem o excelente trabalho, estão quase lá. Amélia, é a sua vez….oh meu Merlim! “Pim, Pam, Pum” ??? Ai, enfim, continue, continue.

No decorrer da aula poucos eram os alunos que tinham falhado o exercício, deixando-se desanimar ligeiramente. Os restantes celebravam em júbilo por terem conseguido completar a difícil tarefa no tempo que tinham, e a professora, vendo que faltavam poucos minutos para o fim da aula, permitira que ficassem à vontade para ajudar os colegas ou fizessem experiências livremente, ou ainda tentassem esclarecer dúvidas com a professora sobre outros temas até chegar a hora do intervalo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Entre Dois Mundos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.