Entre Dois Mundos escrita por VeraCurva


Capítulo 1
O Início ... Onde Tudo Começa




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A manhã encontrava-se especialmente amena e solarenga e uma leve brisa percorria os céus lá fora, algo pouco comum para aquela altura do ano, onde normalmente já se começaria a notar os cristalinos pingos de chuva e o friozinho que convidava a tirar do fundo do guarda roupa aquele casaco mais aconchegante bem como aquelas camisolas mais felpudas. Seria, este último, o cenário de marca das manhãs de meados de Setembro, mas a Mãe Natureza parecia ter acordado com vontade de presentear aquela ocasião oferecendo aquele belo clima.

Mal os primeiros raios de sol espreitaram por entre as frestas das cortinas, atravessando os imaculados vidros de cada janela, aquela cintilante luz havia servido de despertador, não tendo sido necessário o habitual esforço para arrancar das camas os mais preguiçosos, que por incrível que pudesse parecer haviam sido os primeiros a erguerem-se dos seus leitos, juntamente com o raiar da madrugada.

A azáfama já se manifestava, quer nos corredores e salão principal, bem como nos diversos espaços verdejantes do exterior e no interior da residência.

 Aquele era um dos dias do ano com um toque especial. A poucas horas estariam prestes a romper pelos portões principais dezenas de novos alunos.

Sim, o local em questão tratava-se de um estabelecimento de ensino, mas não era uma escola como outra qualquer, com matérias como outras quaisquer nem com alunos semelhantes aos demais das escolas da região, até mesmo em comparação ao resto do país.

Aquele era o Montis Luna Institute. Era uma escola para aqueles que haviam nascido com um dom diferente, o dom da magia.

Inserida na verde imensidão da Serra de Sintra, mais precisamente nos parques do Monte da Lua, a MLI, modo pelo qual era conhecida entre os feiticeiros de todo o mundo, distinguia-se das outras escolas de magia por estar em completa fusão com toda a deslumbrante natureza envolvente, por todos os cantos daquele instituto  tinha-se o privilégio de respirar ar puro.

Não existia um único recanto onde não fosse possível encontrar a presença da Mãe Natureza, fosse ela uma árvore, um aglomerado de plantas, um pequeno lago ou um cristalino riacho, ou até mesmo um simples conjunto de rochas adornadas com o jovem, fresco e suave musgo, sempre com as suas microscópicas gotinhas de orvalho que intensificavam o aroma  que exalava daqueles montinhos esverdeados, fazendo com que por quem eles passasse inalasse aquele refrescante odor e em questão de segundos era transportado para uma viagem onde entrava em plena e perfeita harmonia com toda aquela natureza em seu redor, como se passasse a fazer parte da alma de toda aquela flora.

Este era um dos grandes e principais motivos pelo qual diversos jovens feiticeiros colocavam na sua lista a MLI como primeira opção de escola a ingressar, outros tantos, sempre que possível, pediam transferência para a mesma, mas devido ao considerável rol de lista de espera e o grandioso número de alunos candidatos ao primeiro ano de ensino académico que existia todos os anos lectivos, os casos de transferência eram sempre os mais dificultosos de se concretizarem, podia-se até mesmo dizer que eram raríssimos, quase inexistentes. Além de todos estes pontos positivos, o MLI era uma escola de prestígio e conceituada por ser umas das poucas de meramente ensino semelhante ao Universitário no mundo não-mago. Leccionava-se apenas 3 anos naquele instituto e era dali que se prosseguia para o exercer das suas funções profissionais. Normalmente os alunos vinham de escolas de magos de ensinos inferiores, também conhecidos como ensinos básico e secundário. Ao ingressarem no 1º ano da MLI, o chamado 5º ano no instituto, por norma a idade média com que o faziam eram os 18 anos, e lá estudavam a maioria dos magos de puro sangue ou de famílias de renome, tal não queria dizer que não se encontrassem jovens de famílias mais medíocres ou humildes, ou até em salvas excepções e casos raros, alguns magos de “sangue de lama”, termo usado entre os bruxos para quem nasceu de ambos os progenitores não-magos.

O tempo parecia ter voado e a tão aguardada hora da cerimónia anual estava a breves segundos de começar. Os últimos retoques estavam a ser dados e a maioria dos alunos já se deslocavam a passos largos para o recinto onde iria decorrer a celebração, numa tentativa de obterem o melhor lugar possível.

Eis então que começam a ecoar pelos ares do pátio o rufar de tambores.

O Silêncio reinou e apenas  se ouvia a doce melodia da fauna e flora da zona limítrofe.

No centro do átrio encontravam-se os membros do conselho da instituição, composto por 4 directores, cada um deles representante e responsável por umas das 4 casas existentes.

Em primeiro, com a sua presença autoritária com um leve toque snobe, podia-se ver Rodolfo Maximus, homem de origem nacional portuguesa, baixa estatura, com a sua calvice já bem pronunciada, restando apenas uns teimosos mas brilhantes cabelos pretos aqui e ali. A sua indumentária era uma camisa branca e gravata ao peito, sem falhar o seu habitual manto escuro sempre imaculado e de sapato tão cristalino que se jurava ser capaz de ver o próprio reflexo de quem os apreciasse de perto.

A seu lado, com presença mais marcante que a anterior, de seu aspecto imponente de tal modo que era capaz de obter respeito por parte de qualquer um, encontrava-se Klaus Stattlich, de origem alemã, com vestuário mais formal mas sem nunca perder o seu estilo notável, com os seus cabelos aloirados e olhos num misto azul com um suave toque acinzentado.

Seguia-se alguém com uma estrutura considerávelmente mais pequena, face também à altura do colega anterior que media  2 metros e 10 centímetros, sendo o mais alto do instituto. Era uma silhueta feminina, a única mulher existente na direcção. Aurora Isabella Suprema era uma jovem senhora  na casa dos 30 anos, de uma elegância invejável e ar angelical, com os seus longos cabelos dourados, olhos azuis e lábios rosados, nativa do belo país do Dolce Far Niente.

Por último surgia o membro mais novo do quarteto, tanto em tempo de cargo, o qual fazia no presente dia 1 ano, com em idade, rondando os 22 anos. De origem australiana e com toques orientais e suas vestes num tom azul cinza, fazendo sobressair os seus olhos esverdeados em contraste com os seus cabelos castanhos, era assim Sukru Paramount. Fazia-se reconhecer não só pela sua aparência e estilo peculiares, bem como por seu espírito calmo e descontraído e ainda pela sua fragrância , a qual por onde passasse espalhava um aroma intenso e apaixonante.

Todos os alunos estavam sentados na larga escadaria do pátio defronte para os quatro professores.

Avistam-se então pequenos vultos a aproximarem-se do local.

Eram os novos alunos, caminhando em ordenadas filas precedidos pelos casais representantes de cada uma das quatro equipas da escola: Charlotte e Stefan, dos Vollmond; Amélia e Javier, dos Mezzaluna; Adele e Richard, dos Lua Nova; e ainda Sabina dos Waning Moon.

Os perfeitos alinharam os novos membros de frente para os directores da escola. De seguida cada par colocava-se próximo ao chefe respectivo das suas casas. Sabina ao chegar junto de Sukru Paramount, sussurrou:

— Sr. Director, como já é hábito o Big Jordan está novamente atrasado. Não faço sombra de ideia de onde ele se encontra e do que andará a fazer a esta hora em que tanto lhe avisei que deveríamos estar aqui com extrema pontualidade.

Desviando um pouco a cabeça em direcção à aluna que se encontrava do seu lado esquerdo, Sukru responde-lhe no mesmo tom:

— Calma Sabina, relaxa, tenho tudo controlado, ele desta vez tem desculpa para o atraso. Ele foi só ali fazer-me um pequeno favor, deve chegar dentro de breves momentos. Mantém a calma que vai tudo correr bem. - terminando com um doce sorriso e um piscar de olho, os quais fizeram corar as redondas bochechas da aluna.

A jovem acena-lhe num suave movimento de cabeça em modo afirmativo e volta a colocar-se  em postura recta.

Um a um os novos residentes eram chamados ao centro do pátio, sendo anunciado o seu primeiro e último nome aos restantes alunos.

A cada um, em sua vez, era pendurado ao pescoço o medalhão seleccionador do instituto, medalhão o qual indicaria a que casa o aluno em questão iria pertencer durante os 3 anos de estudo.

O pendente,em metal de origens antigas, de formato redondo com adornos de motivos medievais, continha no centro uma cabeça de lobo. Este ao ser dependurado em cada novo aluno, iniciava um sublime balancear em busca do lado esquerdo do peito, lado respectivo ao coração, no qual se colava por magia como se possuísse uma ventosa não visível ao olho humano. Quando se encontrava já bem fixado, o pequeno lobo parecia acordar. No seu rosto começavam a ver-se uns ligeiros movimentos faciais, e em seguida uma névoa límpida e branca era expelida das suas narinas, névoa essa que ia envolver o aluno em questão na sua totalidade, desde o ponto  mais alto da sua cabeça até à zona mais extrema do pé. Aquele leve nevoeiro rodopiava por breves minutos em torno do corpo até ser sugado de novo para dentro da sua origem, as narinas do animal do medalhão. Este era o modo de o objecto seleccionador fazer a avaliação da pessoa, onde ao colar-se na zona do coração, ouvia por detrás dos batimentos cardíacos, os desejos e medos mais sinceros do aluno, enquanto que a névoa lhe dava informação sobre detalhes mais superficiais e outras características que o aluno possuía. O novo feiticeiro sabia a que casa pertenceria a partir daquele momento quando das narinas do animal voltava a sair um leve fumo, desta vez colorido, de entre de uma das 4 cores representantes da escola (azul, roxo, amarelo ou laranja) e contendo a sombra de um animal a passear pela colorida fumaça, animal esse representante da equipa atribuída.

Para os que eram presenteados por fumo roxo com a sombra de um imponente e vaidoso pavão, era sinal que a sua futura equipa seria os Lua Nova, equipa essa liderada por Rodolfo Maximus e  com os perfeitos Adele Blackswan e Richard Overkill. Esta era a casa com uma particularidade especial, para ela apenas eram elegidos os descendentes de linhagem nobre e pura. Os alunos desta casa eram portadores de uma extrema autonomia, organização e aprumo .Eram considerados líderes natos , gostando de se afirmar e fazer-se respeitar pelos que os rodeiam.  Alunos ambiciosos, muito focados na aparência à qual dão grande importância e valor. Não têm por hábito demonstrar os seus sentimentos com facilidade devido à sua personalidade um tanto fechada que aos olhos dos outros poderá parecer insensível. Têm especial gosto pelo belo, pelo que é novo, não gostam do usado, velho ou fracassado, se algo não resulta da primeira vez, não lhe dão continuidade ou muito menos optam por voltar a tentar, preferindo iniciar tudo de uma maneira nova e diferente. Gostam de arriscar e têm uma certa tendência para o perigo. São conhecidos por relações de pouca durabilidade, que lhes servem na maioria das vezes apenas para afirmação do ego. Tal como a fase da lua que representa a sua casa, têm o seu  lado oculto, um lado que se pode tornar obscuro e negro, sendo possessivos, egoístas, egocêntricos e bastante vingativos.

Para quem fosse premiado com o fumo azul e vulto de uma elegante coruja, era indicação que iria aliar-se aos restantes membros da Mezzaluna, casa coordenada por Aurora Suprema, e de seus prefeitos Amélia Bartollo e Javier Angelo. Nesta casa eram colocados os mais inteligentes, aqueles que vivem em constante aprendizagem e em busca de conhecimento. Os alunos desta equipa têm sede do saber, querem sempre crescer a vários níveis seja intelectual, profissional ou pessoal. Dotados de bravura, lutam em prol das suas realizações na hora de enfrentarem qualquer obstáculo que se depare no seu caminho. São trabalhadores, empenhados, focados nos seus objectivos, não perdendo o ritmo. Muito bons a economizar, poupam em tudo quanto puderem, chegando por vezes a serem extremistas nesse aspecto. Contêm uma natureza romântica e imaginação fértil, de tal forma que muitas das vezes acaba por lhes causar problemas e situações embaraçosas.

Se o resultado fosse uma fumaça num tom amarelo torrado com um vulto de um pequeno esquilo a correr alegremente, significava que a casa atribuída era a Vollmond, com a chefia de Klaus Stattlich e os prefeitos Charlotte Cooper e Stefan Vogel. Esta é a casa dos seres iluminados, cheios de vida e luz. Aqui moravam aqueles que  se destacavam por serem sensíveis e inquietos, com certas alterações de humor inesperadas. Com sentidos aguçados, persistentes, são desta família os que lutam pelos seus sonhos e objectivos. O entusiasmo é uma constante nas suas vidas e personalidade. Aventureiros, Leais, não suportam a mentira nem a traição, para eles a Verdade (luz) está acima de qualquer coisa.  Uma outra características dos que aqui pertencem é o facto de quando falham ou perdem algo travam uma árdua luta contra o sentimento de frustração. Fugindo do seu auto-controlo podem-se tornar extremamente obsessivos.

Por fim, se o fumo expelido fosse alaranjado com o vulto de um irreverente lobo tal indicava que a família que os iria acolher seria os Waning Moon, comandada por Sukru Paramount e com prefeitos da casa Jordan Eithan e Sabina Loorea. Esta era a casa correspondente aos mais  introspectivos e auto-analistas. São os que optam pela pouca visibilidade, discretos, não gostando de dar nas vistas nem de ser o centro das atenções. São os mais harmoniosos, vivem das boas energias, tentam afastar tudo quanto é indesejável ou negativo, os típicos Peace and Love. Não dão importância à opinião dos outros, vivem para o que gostam, fazem o que gostam sem se preocuparem o que tal possa parecer aos olhos dos que os rodeiam. Os membros da Waning Moon primam pela diferença, originalidade e irreverência, não gostam de ser iguais aos demais, de seguir modas ou padrões impostos pela sociedade. São de natureza justa, fiel e atenciosa, tornando-se amigos de todos os que aceitarem a sua amizade. Se ninguém os chatear ou incomodar são pacíficos, e, na maioria das vezes, os que os rodeiam  esquecem-se de certa forma da sua presença face à sua personalidade passiva. Podem “fugir” da sua natureza harmoniosa e pacífica aquando de questões de injustiça.

 


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