The Game is On escrita por Mrs Moriarty


Capítulo 2
A Study in Pink - Cap.1 pt. 1


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora. Aqui é o começo do que vai ser o começo. hehehe
Boa leitura.



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 Valentina Blanch Castellamare estava com fortes dores nas pernas e nos ombros após ter que sair se esgueirando pelos becos londrinos no dia anterior para sair do escritório de Mycroft Holmes sem ser vista pelos capangas de seu pai. No entanto, a garota não poderia estar mais feliz: finalmente estava em solo britânico e já tinha até um trabalho. Bem... – a Castellamare pensou – não é um trabalho DOS MELHORES, mas é um trabalho.

  Com tais pensamentos, a garota puxou sua pesada mala para dentro de um Mini Cooper conversível preto estacionado na frente da estalagem vagabunda que ele passara a noite e acelerou – com a típica pressa de quem não dirige muito bem – para a Baker Street.

  Enquanto tinha uma mão no volante, outra no retrovisor, o cotovelo no rádio (na tentativa de ligá-lo) e os ouvidos em Fox on the run – música que ela pusera seu celular para tocar e agora cantava aos berros – a italiana pensava em como executaria sua incumbência. Bem, a priori, era extremamente simples: não deixar o cazzo do Holmes baby cometer delitos, atirar na Rainha ou afundar a Inglaterra. Simples... Se ela não detestasse estar sem o controle de nada, em um país que não era dela e com mafiosos (sua família) e inimigos dos mafiosos (inimigos da sua família que queriam pegá-la para fazer alguma barbaridade vingativa) no seu pé. E o Holmes? Ela lera sobre ele e suas supostas habilidades. Valentina duvidara tal capacidade até pensar que a inteligência de Mycroft também seria descrita de maneira quase fantasiosa por um jornalista. Ah... O jornalismo...

 “... e, aliás, eu preciso de um emprego de verdad...”

 O pequeno carro rodou na pista em razão de uma colisão e Blanch gritou a plenos pulmões, saindo do carro atravessado na rua:

 - MALDITOS CAZZOS! AGORA EU TENHO QUE GASTAR MEU LATIM COM ESTE ASNO FILHO DA PUTA! VAI TOMAR NO CU, CAZZO! TÔ FALANDO CONTIGO! NÃO VOU SAIR DA FRENTE! POR QUE VOCÊ NÃO SAI DA FRENTE?! SE A PUTTANA DA RAINHA...

 - Senhorita, contenha-se.

 - EU? EU TENHO QUE ME CONTER? E NEM PENSA EM ACELERAR QUE EU TE DOU UM TIRO. SABE COM QUEM CÊ TÁ FALANDO? VALENTINA CAST... er... Digo... – o medo começou a bater na porta da consciência da garota, que finalmente percebeu que, em Londres, as coisas não eram em prol de si como na Sicília.

 - Não sei com quem estou falando, mas a senhorita já vai descobrir com quem está falando se tornar a me desacatar. Dê passagem, pois eu...

 - TÁ COM PRESSA? NÃO PENSOU PRA ONDE TINHA QUE IR QUANDO AMASSOU A MINHA LATARIA, PENSOU? DAQUI EU NÃO SAIO, CAPISCE? QUER CHEGAR LOGO? ENFIA UM ROJÃO NO CU E SAI VOANDO. – a italiana respirou fundo e se encostou no carro de braços cruzados.

  O homem do carro prata que batera em Valentina desceu e foi até ela com uma expressão que ia da perplexidade até a raiva divertida. Ele não parecia acostumado com desacatos.

 - A senhorita está detida por desacato a autoridade. – o homem passou uma mão pelos cabelos grisalhos.

 - Como é?

 Ele deu um sorrisinho e estendeu a mão:

 - Detetive Inspetor Greg Lestrade. Valentina, você vai me acompanhar até a Scotland Yard para responder algumas questões sobre educação e atenção no trânsito.

 - Mas... EU TÔ INDO EM CANA? VOCÊ QUE...

 - Contenha-se, senhorita...

 -... Martínez. – ela engoliu em seco e o detetive a olhou com desconfiança. – Você bateu no meu carro!

 - Se não estivesse distraída teria visto o que realmente aconteceu. Acompanhe-me.

 - Mas, moço... – a Castellamare choramingou em um repentino acesso de infantilidade. – E agora?

— Deveria ter pensado nisso antes de sair por aí desrespeitando as pessoas, capisce? – Lestrade virou de costas com certa curiosidade e andou até o seu carro, pensando de onde surgira a garota de pele branca, cabelos castanhos e personalidade forte que ele mal conhecia, mas já tinha certa simpatia infundamentada (a qual, obviamente, ele não iria admitir).

 

 Dentro do carro do Detetive Inspetor Greg Lestrade...

 

O coração de Valentina errava algumas batidas e ela tremia dos pés até a cabeça. Mal ela pode apreciar os dotes estéticos da capital inglesa, uma vez estava nervosa demais para ver o que passava pelos seus olhos.

 “Dio mio! Meu primeiro dia neste cazzo e já estou sendo PRESA por um TIRA filho de uma puttan... e muito bonitinho. Foco, Valentina. Merda! E se descobrem quem eu sou? Nem papai, muito menos o Mike, vão querer olhar na minha cara... Dio mio... como será que é a polícia? Espero que eles não falem inglês muito rápido, porque eu não vou entender nada... Que nem aquele idiota americano da estalagem: falou uma farmácia inteira e eu não entendi uma pílula...”

 — Itália?

 A cacheada foi arrancada bruscamente de seus pensamentos pelo DI.

 - É. – ela resmungou com mau humor – Não converse comigo, sou sua prisioneira.

 - Se te incomoda...

Ficaram em silêncio até a Castellamare começar a resmungar.

 - O que foi?

 - Não se fazem mais policiais como antigamente... Na Itália eu não estaria sendo presa por um erro seu. – ela disse com um desprezo profundo.

 - Estaria prestando contas com a Máfia, imagino.

 Apesar do tom divertido do policial, a garota ficou repentinamente séria e disse:

 - Se você não estivesse naquele cruzamento... se você não tivesse nascido...

 - Sei que é um incômodo para você estar aqui, mas é igualmente doído para mim, acredite. – Greg revirou os olhos. – Então, colabore... Sem questionamentos sobre a minha existência, capisce?

 - “Uma vida não questionada não merece ser vivida”. E não fale capisce, seu italiano é horroroso. – ela encostou a cabeça na janela do carro e fechou os olhos.

 - Onde leu isso? - ele perguntou, ignorando a ofensa.

 - Algum livro do Platão, a frase é dele. – a italiana falou e o detetive olhou para sua careta de quem está com dor de cabeça.

 — Está se sentindo bem? – Lestrade perguntou e a castanha assentiu em silêncio.

 – Olha, não acho que você seja um cazzo, mas...

 Antes que Valentina terminasse de falar, Greg estacionava na frente da Scotland Yard.

 Ao entrarem, Lestrade e Castellamare foram até uma sala branca e com algumas poltronas, onde o inspetor falou com um rapaz negro e simplesmente deixou Valentina sentada.

 - EI, Lestrade! – ela se deparou com o olhar interrogativo do rapaz negro e sorriu sem graça – Digo, Detetive Lestrade... Vou ficar aqui?

 - Vou pedir para Sally vir aqui, esse não é meu departamento.

 - Tu tá de brincadeira, bambino? Me trouxe aqui para ser interrogada em uma divisão que nem é a tua?

 O detetive tentou esconder a expressão confusa com tamanha sinceridade.

  - Não vai ser um interrogatório, uma vez que...

 - Tá. – ela se emburrou – quando tu bateste no meu carro eu ainda tava na tua, mas agora...

 Lestrade balançou a cabeça rindo e cochichou algo para o outro policial presente antes de sair da sala.

 - Moço... Moço... MOÇO. – o outro finalmente virou para ela – Isso vai demorar muito?

 - A Sargento Donovan não vai interromper sua reunião com o Superintendente para atender uma pirralha malcriada. – ele respondeu grosseiramente e, se não tivesse se perdido em pensamentos, Valentina teria respondido.

 Passados vários minutos, Sally Donovan irrompeu rapidamente pela porta da sala com papéis nas mãos.

 - Marcel, leve isto ao Dimmock. Sim, ainda é o caso de Lauriston Gardens.

— E os suicídios? Ainda estão acontecendo?

 Valentina Blanch Castellamare se inclinou para frente com sua típica curiosidade – como ela mesma diria – “puramente jornalística”. A verdade é que a italiana era uma boa de uma fofoqueira.

 - Foi encontrado outro cadáver em... – a sargento se interrompeu quando percebeu a garota de olhos arregalados sentada na frente deles. – Depois te passo o relatório da perícia.

 - Quanto a esta... – o policial olhou para Valentina, mas foi interrompido pela morena:

 - Eu cuido dessa aí.— Castellamare dobrou o nariz para o ar de superioridade da outra, mas, por um milagre, permaneceu calada.

 Quando o desagradável – aos olhos da jornalista italiana- Marcel foi-se, a não menos antipática Donovan virou-se para ela:

 - Lestrade me contou sobre você e...

— Claro que contou. - Valentina piscou para ela e deu um sorrisinho- Somos íntimos.

  A policial a encarou com um olhar fulminante e ela disse:

 - Scherzo... como vocês dizem? – Blanch pensou um segundo, seus neurônios trabalhando a mil em um grande dicionário mental de inglês.- Brincadeirinha. É isso. Vocês às vezes não reconhecem uma boa piada, mas eu diria que é cultural. Afinal, não dá para se esperar muito humor de um povo governado por uma velha de chapéu, não é?                     

               Cinco minutos depois...   

— PUTTANA DE UM CAZZO! – Valentina gritou, tentando se desfazer a todo custo de um policial enorme que a segurava, olhando com ódio para a sargento que ordenara tal situação. – EU TENHO DIREITO A UMA LIGAÇÃO! TENHO QUE FALAR COM MEU ADVOGADO... aí ele vai dizer pra eu não falar nada... pois – ela sorriu e pôs-se a recitar :  

— “Tudo que você falar poderá e será usado contra você no tribunal”. Viu como vocês são sem graça? NINGUÉM RIU. Eu vou ligar pro Mike.

— Seu namoradinho não vai tirá-la daqui tão cedo. – o tal Marcel debochou.  

— Namorado? – Tina até riu e se benzeu mentalmente – Estou falando de Mycroft Holmes, meu amigo que... 

— O que você disse? – Lestrade, que entrara na sala, verbalizou a expressão assustada dos policiais.  

Valentina deu um sorrisinho e repetiu o que dissera.  

 

É incrível como, mesmo, e PRINCIPALMENTE, na polícia, as pessoas são sujeitas facilmente a ordens superiores. Foram menos de dois minutos com um telefone passando de mão em mão na Yard para que a Castellamare fosse liberada como se nada estivesse ocorrido.

 “E ainda falam mal da Máfia... Mas depois o Mike vai querer me estrangular... Bem, pelo menos valeu a cara de bunda da Donovan. Se estivéssemos na Itália, papai ia... Não. O ANDOLINI. Ele deixou de ser meu pai quando preferiu que a mula do Lorenzo assumisse seu lugar por ser homem.”

Com tais pensamentos ela – FINALMENTE – parou na Rua Baker com as pernas doendo por ter andado tanto.   

— Agora, como se não bastasse, o cazzo do meu carro tá destruído em alguma maldita rua dessa maldita cidade. – Castellamare bufou e percebeu estar sendo observada por uma senhora na frente do 221, ela disse: 

 - A senhorita é Valentina Martínez? – a velhinha perguntou e a italiana assentiu com uma cara de cansaço. 

 - O que aconteceu com você, querida? Estou esperando você desde cedo... 

 - Tive uns imprevistos, Mrs. Hudson. – Valentina sorriu, pois simpatizara com a sua futura senhoria.   

 - Entre. – a senhora Hudson deu passagem para a garota. – Mais cedo vieram deixar suas coisas aqui. 

 - E meu carro?   

 Hudson a olhou com uma cara de decepção e Valentina preferiu deixar isso para o dia seguinte, passando a mão no rosto.  - Espera um pouquinho... quem mandou minhas coisas que estavam lá para cá?  

 - Uns homens vieram aqui mais cedo, Tina. Posso te chamar de Tina? 

  A Castellamare assentiu, por mais que odiasse o apelido que o irmão mais novo, Lorenzo, se referia a ela.

 - Ah! E eles deixaram isso. – Sra. Hudson entregou um bilhete nas mãos da italiana. 

 

 “Mandei deixarem o que estava no carro no endereço que minha equipe achou na mala, que por acaso é o endereço de um... colega...   

— Cazzo, todo mundo se conhece!...

... De qualquer forma, Valentina, imagino que a culpa tenha sido realmente minha (por mais que um pouco mais de atenção sua talvez tivesse sido útil). Então, considere este favor um pedido de desculpas.       

Um abraço,                                                                                                                         Greg Lestrade.” 

 

 - Ui. – Mrs Hudson falou de forma ligeiramente indecente para uma senhora e a jornalista franziu a testa – Este Inspetor é um... 

 - NÃO. – Valentina se desesperou com a perspectiva de um monólogo sobre os amores da juventude de Mrs. Hudson, tendo em vista a experiência com suas tias italianas. – Digo, Sra. Hudson, estou cansada. 

 - Tudo bem, querida. Quanto ao seu vizinho... 

 - Podemos falar sobre isso amanhã? Eu realmente... 

 - Ok, Ok, Tina. Vá descansar. – a senhorinha desceu as escadas falando algo sobre “os jovens de hoje...”.  Valentina riu e entrou no apartamento empoeirado. Ela se jogou no sofá, pondo Mozart para tocar no celular e fechando os olhos. 

 O único motivo para Valentina Castellamare ter se levantado foi a fome intensa, que ela saciaria com todos seus dotes culinários. 

“Você está gorda como uma porca, Valentina!” dizia sua tia Guida quando ela corria escondida para a cozinha e convencia os empregados a deixarem ela cozinhar um belo talharim ou um carpaccio. 

 A italiana sorriu ao lembrar que as águas que se interpunham entre a ilha inglesa e o continente europeu a separavam de um passado de obrigações forçadas e padrões impostos por pessoas que ela pouco respeitava.

  Após “arrumar” o local e jantar, a italiana acabou dormindo no meio de suas malas, sendo acordada por diversos sons desconexos e irritantes de um violino mal tocado.  

 - CAZZO! – ela deu um pulo, saboreando a dor de quem dorme da maneira errada, e saiu de casa, seguindo o som. Valentina subiu as escadas com os pés descalços fazendo um barulho mínimo, que contrastava com seus berros: 

 - VOCÊS PERDERAM A NOÇÃO? QUEM É O MALDITO BUFFONE DE UM CAZZO QUE TÁ ESTUPRANDO ESSE VIOLINO EM PLENAS TRÊS HORAS DA MANHÃ?! FIGLIO DI UNA CAGNA DO CAZZO! TU... 

A Castellamare irrompeu pela porta do 221B e deu de cara com seu vizinho: 

 - Ainda não chegaram campainhas na Itália, Srta. Valentina?

   A garota parou, estupefata. Por um segundo, entorpecida pelo sono, ela esquecera de tudo. Agora estava ali, de camisola, de frente para Sherlock Holmes. 

 - H-Holmes?         


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Notas finais do capítulo

MUAHAHAHHAHAHAHAHHA! TOP esse primeiro dia da Tina em Londres. Qualquer dúvida acerca do italiano pode ser tirada nos comentários :)
Até o próximo!



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