Sogans escrita por Malkyum


Capítulo 11
Se enturmando




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— É... Marcos? – Henrique agora estava no quarto do novato, que dormia tranquilamente em sua cama. – Poxa, Henrique, você é um adulto e diretor, sério que você tá com vergonha de acordar um aluno? Ai se meus inimigos soubessem desse meu lado inseguro. Ok, mais uma vez. Marcos... - Antes que pudesse terminar, o garoto abriu os olhos. – Oh, finalmente. Bom dia, jovem!

Ainda não totalmente desperto, Marcos ficou encarando o enorme homem que estava de pé ao lado da sua cama, até que reagiu.

— Mas que porra! – Disse rapidamente enquanto engatinhou assustado para o canto da parede. Tentava processar o que aquele lenhador de terno fazia em seu quarto com as luzes apagadas.

— Calma, Marcos. – Tentou se aproximar, mas foi impedido.

— Para trás! – Disse o jovem assustado, erguendo o punho, que já estava brilhando. – Quem é você?

— Marcos, o Rafael não disse que o diretor iria vir e ter instruções? – A voz de Henrique transmitia tranquilidade, apesar da situação. - Bem, muito prazer. Eu sou Henrique, o diretor da academia e da universidade sogans.

Um silêncio se instalou no dormitório, até que Marcos finalmente abaixou seu punho, totalmente constrangido pela situação.

— Sério? Haha! – Soltou uma risada forçada e constrangida. – Eu sei, só estava te zoando. É óbvio, com esse terno aí.

— Relaxa... Não precisa desculpar. Não deve ser muito legal acordar em um lugar que você não conhece e se deparar com pé grande como eu no seu quarto. Sinto muito por ter te assustado.

Marcos agora estava surpreendentemente calmo e a vontade, e decidiu ficar sentado na cama com os pés no chão.

— Que isso... Eu é que sou exagerado nas reações. Mas e então, diretor, né?

— Sim, diretor. – Um clima constrangedor rondava os dois. – E então...

— Então... O Rafa disse que você me daria explicações sobre alguma coisa, certo?

— Oh, claro. Desculpe-me. Bem, eu vim aqui para explicar o que as pessoas fazem aqui na academia, ok? A universidade não tem nada demais. O que a faz se destacar é que ela aceita qualquer pessoa, independentemente de sua raça, religião, orientação sexual, se é um sogan e etc.

— Uau. Esse lugar parece até um conto de fadas.

— A, rapaz, foi difícil conseguir chegar até aqui... Enfim, agora as explicações. Aqui na academia, nós treinamos sogans para que eles aprendam a melhorar e dominar suas individualidades, damos aulas de diversos tipos de luta. Em suma, na academia você vai aprender a lutar.

— Que incrível! – Os olhos de Marcos brilhavam de empolgação. – Mas para que exatamente vocês nos ensinam a lutar?

— Você sabe muito bem como é difícil para um sogan viver nesse mundo, então ensinamos essas coisas para autodefesa. – O rapaz robusto fez uma pausa para coçar sua barba. – E eu sei que você deve estar se perguntado sobre o Pietro, e a razão dele ter te atacado, mas já te adianto que nem nós sabemos o motivo...

— Entendo... Mas quem exatamente é ele?

— Pietro é um cara bem problemático. Ele não costuma dar as caras com frequência, mas quando o faz, é para algo grande.

— Algo grande como o que?

— Ele costuma matar pessoas importantes, como líderes de empresas com grande influência... É mais fácil eu resumir tudo para você.

— Sou todo ouvidos.

— Pietro faz parte de uma organização chamada AODP. Basicamente é um grupo extremista de sogans. Eles se acham superiores, e se você não é um sogan, eles te enxergam como um inseto qualquer, e não importam em matar.

— Já não somos bem vistos, e essas merdas ainda agem assim... Mas qual o objetivo deles? Algo como dominação mundial? – Marcos soltou um olhar de deboche, como se aquilo fosse a coisa mais clichê do mundo.

— Não, Marcos, eles apenas querem causar o caos. Caos pelo caos. – A cara do jovem diretor agora estava séria. – Apenas gostam de matar usando um pretexto ridículo de que são superiores. Claro que alguns deles realmente acreditam nesse pretexto, mas a maioria, assim como o líder, só quer o caos total.

— E como eu não vi sobre eles em nenhum lugar? Nunca passou nada na TV, jornal, rádio, internet, nada! – Marcos levantou e começou a rodear pelo dormitório. – Não faz sentido.

— Calma rapaz. Não sabemos como eles fazem para permanecer no anonimato, mas eu te asseguro de que algo grande vem por aí...

— Como assim...?

— Eles tem recrutado muitos sogans pelo mundo todo, para aumentar a força deles. E quando eles conseguirem força o suficiente... O mundo vai precisar de alguém para rivalizar com eles.

Marcos parou de andar, e ficou olhando para o chão, pensativo.

— Já entendi a ópera toda. – Disse com um sorriso de espertalhão.

— Entendeu?

— Essa academia não é só para autodefesa... Você esta preparando esse pessoal para eles lutarem quando for necessário, não é mesmo? Eles ao menos sabem disso?

Henrique deixou escapar uma cara de surpreso.

— Haha! É claro que meus preciosos alunos sabem disso. Todos aqui aceitaram lutar quando a hora chegar.

— Ufa, ainda bem que eles sabem, senão eu iria ter que contar pra eles. Haha. Agora mudando o foco da conversa, quando que eu começo a treinar?!

— Você tá bem animado pra isso, não é?

— Claro!

— Certo, certo. O Rafael vai ser seu instrutor. Ele vai te apresentar alguns locais da academia, e te ensinar o básico da luta, para que você possa depois começar a treinar junto com a turma dele, ok?

— Oh, então ele vai ser tipo meu mestre?                

— Algo assim. Você é uma figura, em. Mesmo com toda essa mudança repentina na sua vida, você não parece estar abalado.

— É que sabe, minha vida antes era uma merda, e isso tudo parece ser muito melhor do que já vivi até agora. Sei que tudo isso pode ser perigoso, como testemunhei naquele beco... Mas mesmo assim, eu não quero voltar para aquela vida monótona.

— Gostei de você, esquentadinho. Haha! – Henrique soltou uma gargalhada, como se tivesse dito a coisa mais engraçada do mundo.

— Esquentadinho? Que apelido é esse?

— É assim que todos estão te chamando. Não sei quem espalhou isso, mas pegou rápido. Quem sabe esse não pode ser teu nome de herói?

E então começou a gargalhar mais ainda, deixando Marcos vermelho de vergonha.

— Ok, já entendi. Espero conhecer o criador desse apelido logo. – Disse Marcos com os olhos cerrados. – Mas e agora? O que eu faço?

— Ai, ai... Já mandei uma aluna vir até aqui, deve chegar daqui uns dez minutos. Ela vai te levar até o refeitório, já que é hora do almoço.

Marcos colocou a mão na cabeça, surpreso pelo horário.

— Como assim?! Mas já?

— Sim. É bom você arranjar um relógio, já que não tem luz do sol aqui no subterrâneo. Bem, foi um prazer te conhecer, Marcos. Espero que você se de bem com o pessoal daqui. Agora com licença, tenho muito trabalho para fazer.  – E então se dirigiu até a saída, com um sorriso simpático no rosto. – Até logo, esquentadinho.

— Até, lenhador. – Tentou revidar com outro apelido, mas a porta automática já havia se fechado. – Espero que ele tenha ouvido isso. Bem, sozinho de novo. Agora vou desfazer minhas malas.

E então assim o fez. Levou cerca de meia hora até tirar todas as coisas de suas malas e ajeita-las no grande armário branco.

— Certo... Ele disse dez minutos, mas já se passaram meia hora. Que tédio!

De repente a porta se abriu, e atrás dela estava uma garota. Ela usava uma camisa de manga comprida escura bem colada, uma calça fila confort cinza e um par de tênis esportivos. Cabelos castanhos escuros desciam até seus ombros.

— Oi. – A garota estava segurando uma light novel de No Game No Life. – Vamos logo, eu tenho que te levar para o refeitório. – A expressão dela era de alguém que não gostaria de estar fazendo aquilo.

— Oh, tá... – Disse Marcos, pego de surpresa pelo modo que a garota foi direta.

E então os dois saíram do dormitório, dando início a uma longa caminhada.

Após alguns minutos de silêncio, Marcos tentou quebrar o clima estranho entre os dois.

— Nossa, esse lugar é imenso! Estamos andando tem 10 minutos e não chegamos. – Disse o novato após um longo silêncio, impressionado com o tamanho da academia. – Como você não se perde? São tantas curvas, e tudo parece igual...

— Bem – Respondeu a jovem, fechando a light novel e acolocando em seu bolso. – Depois de viver aqui por três anos, esse lugar não parece tão grande e confuso como aparenta. A, e a propósito meu nome é Janus.

—Oh, prazer. Meu nome é Marcos, mas você já deve saber disso.

— Sério? Pensei que fosse esquentadinho.

Marcos soltou uma risada tímida, e a garota esboçou um sorriso de canto.

— Muito engraçada. Bom saber que o apelido já se alastrou tanto assim. – Respondeu o rapaz moreno, com um tom de sarcasmo. – E nossa! Três anos? Como é viver aqui?

— Acho que é normal, tirando o fato de que aqui podemos treinar e usar nossos poderes a vontade.

— Isso é o máximo! – Os olhos de Marcos brilhavam de empolgação, e Janus percebera. – Tem muita gente poderosa aqui? E qual o seu poder? Quem é o mais poderoso aqui? – E então se interrompeu, pois havia percebido que estava sobrecarregando a garota que mal conhecia. – Oh, me desculpe... Acho que me empolguei demais.

Marcos ficou surpreso e confuso ao ver um sorriso vindo da garota que mal esboçava qualquer reação que não fosse má vontade de estar ali, que agora parecia mais leve e solta.

— Tudo bem. Eu também fiquei animada como você quando entrei... A ideia de poder ficar mais forte é empolgante, não é?! – A jovem olhou para o Marcos com um grande sorriso, como se tivesse encontrado alguém que a entendesse.

— Sim! Poder lutar com tudo e usar os poderes! A emoção de uma batalha! Trocar socos, derramar suor, a incerteza da vitória!

— Exatamente, cara! Você me entende! Que emoção. O pessoal aqui me acha meio estranha por gostar tanto assim de lutar.

— Minha cara, você não está mais sozinha. – Brincou Marcos, empinando o nariz.

— Mas e então, tá a fim de lutar qualquer dia desses? – Se viu surpresa ao perceber a pergunta que havia feito.

— Você tá querendo dizer que é permitido lutar assim do nada?

— Claro, é como um treinamento. É só a gente agendar um horário para usar uma das arenas.

— Aqui tem até uma arena? Cacete. E é claro que eu topo! Posso não ter feito nenhuma aula de luta, mas cresci apanhando de uns valentões, então digamos que eu sei me defender.

— Quero ver essa confiança toda na hora de lutar. Vou ajeitar tudo pra gente, e depois passo no seu quarto para te avisar quando vai ser a sua surra. – Deu um soco de leve no ombro de Marcos.

— Sabe o que eu percebi? Que acabamos de nos conhecer, mas já gostei pacas de você.

— Sério? Queria o poder dizer o mesmo. Haha. – Disse Janus com uma voz de sarcasmo. – Bem, chegamos ao refeitório.

O refeitório não era nada demais, com exceção do imenso tamanho. Enormes e incontáveis mesas se estendiam pelo terreno, e nelas haviam inúmeras comidas. Marcos não sabia se ficava mais impressionado com o tamanho colossal daquele lugar, ou pelo fato de quase todos os lugares estarem ocupados.

— Pelas barbas de Merlin... Isso é real?

— Bem vindo ao refeitório, novato. É aqui que eu me despeço.

— Espera, o que?! Não, não! Eu não conheço ninguém aqui! – Marcos estava intimidado e com certa vergonha perante a multidão de pessoas desconhecidas.

— Relaxa, o Rafael esta te esperando.

— Mas como diabos eu vou achar ele no meio dessa galera?!

— Bem, isso eu já não sei. Vá procurar, ué. – Janus agora estava notavelmente impaciente.

— Ok... Eu procuro por ele. Talvez eu de sorte e o encontre amanhã. – Tentou ser sarcástico.

— Boa sorte então. Outra hora eu passo no teu quarto para falar mais sobre a nossa luta. Hehe. – O brilho em seu olhar voltou ao tocar nesse assunto. – Até mais, esquentadinho.

— Certo! Até!

Janus saiu de cena, deixando Marcos e sua coragem sozinhos para se aventurar naquele mar de desconhecidos.

— Vamos lá... Não deve ser pior que o ensino médio.

E então saiu procurando por Rafael.


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