Sogans escrita por Malkyum


Capítulo 10
Culpa




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Rafael e Micheli corriam em direção a sua companheira, atravessando esquinas em alta velocidade, todos em silêncio devido a preocupação, e foi assim até que chegassem de volta ao terraço, onde André já havia chegado.

Pâmela, já inconsciente, estava deitada com a cabeça sobre as pernas de André, que acariciava seu coro cabeludo.

— Como ela está, André? – Rafael disse se aproximando dos dois.

— Ela é durona... Só precisa tirar um cochilo, ou como ela costuma dizer, puxar um ronco. – Tentou sorrir, mas a preocupação era mais forte.

— Ela está bem. – Micheli ficou agachada ao lado de Pâmela e André. – Na verdade ele tá até sonhando. Ela tá enfiando sua cabeça num vaso sanitário. Haha!

— Ata. Só em sonho mesmo.

— Brincadeira, bobinho. Mas ela só está desmaiada mesmo. Já contatei o Todd, e logo ele vem buscar a gente.

— Obrigado, Micheli. – Disse Rafael, que agora estava na ponta do terraço, olhando para o céu escuro. Mas falando sério, quem era aquele cara? Até o Pietro reconheceu a força dele.

— Olha Rafa, não adianta ficar pensando nisso. Por hora apenas vamos ficar felizes por nada sério ter acontecido.

— Porra! A Pâmela poderia ter morrido! E é tudo culpa minha! Eu sou o líder, e as decisões são minhas!

Rafael acabou pisoteando o chão com tamanha força que uma rachadura se formou sob seu pé. Todos se assustaram com o ato.

— Ei, não é você quem vai pagar por isso, então controla a raiva. – Micheli disse e deu um tampinha na cabeça de Rafael. – Você não precisa carregar esse peso sozinho... Somos uma equipe, seu idiota. 

— Você tem razão... Me desculpe.

Então um silêncio constrangedor se instalou entre os jovens, que carregavam cada um seus próprios pensamentos e frustrações, todos cabisbaixos.

E assim permaneceu por alguns minutos, até que foram surpreendidos por uma fumaça com forte cheiro de queimado.

— Fala galera! - Da fumaça saiu um garoto, jovem e de altura mediana. Usava somente um par de chinelos e um shorts tactel xadrez vermelho e azul. – Eita, que clima depressivo.  Vim parar num funeral por engano?

— Todd, só leva a gente logo. – Disse Rafael se aproximando do novo integrante do terraço.

— Certo... Todos deem as mãos e vamos nessa.

Um por um foram dando as mãos, sendo que o André e a Micheli apenas colocaram  a mão sobre alguma parte de Pâmela, assim formando um círculo com as mãos dadas.

— Senhoras e senhores, favor manter as mãozinhas juntas durante todo o percurso. Não se esqueçam, vocês estão voando com a Todd Corporation. Boa viagem.

— Sério Todd? Isso é realmente necessário? – Disse Micheli fuzilando-o com o olhar. – Não sei se você percebeu, mas a Pâmela precisa de cuidados!

— Vacilo meu. Foi mal.

E então mais uma vez o cheiro de queimado apareceu, e de repente todos estavam em frente a uma porta metálica, com uma placa escrita “enfermaria”.

— Que merda! Esse cheiro é mais forte ainda quando você esta no centro da fumaça. – Reclamou André, que no mesmo instante agarrou Pâmela e a levou para dentro da sala.

— Micheli, você pode ficar com eles? Preciso reportar tudo para o diretor.

— Claro, Rafa. Pode ir. Eu cuido desses dois.

 Respondeu Micheli, dando um sorrisinho e entrou na mesma sala que André.

Rafael então partiu para a sala do diretor, deixando Todd sozinho no corredor todo feito de metal.

— É... E mais uma vez deixaram o Todd sozinho. Nem mesmo recebi um “obrigado, Todd”, “você é o cara, Todd”. Bem, não importa. Eu sei que sou o cara!

— Falando sozinho de novo, Todd?

O garoto surpreendido olhou para todos os lados, mas não achava a fonte da voz.

— Quem tá aqui?

— A sua consciência, dur.

— Ata. E por acaso essa minha consciência se chama Ramona?  - Disse Todd, se recostando na parede e fechando os olhos, esboçando um sorriso de quem descobriu o maior mistério do mundo. – Vai ficar invisível mesmo?

— Vou sim. Estou treinando para aumentar a durabilidade da minha invisibilidade.

— Ui, que garota aplicada. Bem, antes deu dar o fora daqui, tenho uma notícia boa para te dar. Hehe.

— Opa, solta a bomba.

— Temos um novato. Ele esta na enfermaria no momento, mas tá tudo tranquilo. Logo, logo ele sai.

— E como isso deveria ser uma boa notícia?

— Sério Ramona? Vai se fazer de inocente? Você tá invisível agora, mas aposto que tem um sorriso de orelha a orelha aí estampado no seu rosto.

 - Não sei do que você tá falando, esquisitão. Bem, estou indo nessa.

E então a misteriosa garota começou a assoviar, e foi se distanciando, até que o som sumisse, e novamente Todd ficasse sozinho.

— É, ela com certeza vai trollar o novato. Tanto faz, eu não ligo pra isso. – Todd se desencostou da parede e bocejou. – Preciso tirar um cochilo... Trazer aquele tanto de gente de uma vez só foi desgastante. Hora do cochilo.

E então o a fumaça e o cheiro de queimado tomaram conta do corredor, que agora estava vazio.

Rafael percorreu um longo caminho até chegar a um elevador, que só era permitido para pessoas autorizadas, pois levava para o último andar, a sala do diretor.

Era uma sala pequena e em formato circular, toda feita de metal, com lâmpadas led nos no ângulo formado pelo teto e a parede, dando uma leve e ao mesmo tempo intensa iluminação. Arquivos de 4 gavetas estavam espalhados pela sala, alguns abertos, outros com as gavetas entortadas devido ao peso dos papéis, esses arquivos rodeavam uma mesa retangular de madeira, que se encontrava no centro da sala, e atrás dela uma poltrona, na qual estava sentado um homem alto e robusto. Seus cabelos curtos e ruivos, juntos a sua barba por fazer e a expressão séria em seu rosto enquanto assinava alguns papéis o faziam parecer alguém carrancudo.

Ele devia estar concentrado demais no que estava fazendo, pois não percebeu a presença de Rafael, que ficou a poucos metros de distância da mesa, observando em silêncio o diretor trabalhando, até que finalmente resolveu falar.

— Ahm... Diretor Henrique? – Chamou, um pouco constrangido por ter interrompido o trabalho do homem robusto.

— Oh, Rafael! – A expressão robusta instantaneamente desapareceu da face do homem, sendo tomada por uma feição alegre. – Sente-se, por favor!

Ao sentar-se, não disse nenhuma palavra, deixando um silêncio que foi quebrado pelo barbudo.

— Bem... Tudo bem? Você tá calado demais para o meu gosto. – Disse Henrique, se ajeitando em sua poltrona.

— Não tá tudo bem... Eu falhei feio na missão de hoje. – Rafael mordiscou os lábios.

— Calma, respira. Agora me conta tudo em detalhes, ok?

Após alguns minutos de monólogo, Rafael finalmente terminou de contar o que havia acontecido naquela noite. Henrique ficou em silêncio, processando todas as informações, até que se manifestou.

— Você topou com um cara que tem medo do Pietro, com o Pietro, ninguém morreu, e ainda por cima conseguiu salvar esse Marcos, e isso provavelmente salvou a vida dele. – O grande homem arfou. – Você ainda me diz que falhou? Seguindo sua lógica, eu poderia dizer que eu fui o culpado por ter mandado vocês para uma missão como essa. Você acha que eu cometi um erro? – Perguntou erguendo a sobrancelha.

— Não...

— E muito menos você! Erga essa sua cabeça! Você mandou ver, em minha opinião. Porém – Fe uma pausa.

— Se você acha mesmo que falhou, tenho uma missão para você se redimir. O que me diz?

— Alguém já te disse que esse seu otimismo é contagiante? – Disse Rafael, soltando uma risada. – E qual seria a tal missão, chefia?

— É assim que se fala! – De repente sua expressão ficou séria. – É sobre o Marcos. Aparentemente ele tem um grande valor para a AOPD, já que o Pietro em pessoa foi atrás dele.

— Sim, isso me deixou curioso. Mas também o babaca do Pietro só quisesse uma diversão, e acabou escolhendo o Marcos como brinquedo.

— Duvido muito. Enfim... Você sabe muito bem que é melhor que ele fique aqui conosco, pois ele corre risco de ser atacado novamente. Então você poderia tentar fazer com que ele fique?

— É essa a missão? -  Rafael ficou surpreso pela simplicidade.

— Claro que não é só isso. Caso ele resolva ficar, alguém vai precisar introduzir ele na academia.

— O que?! – Rafael interrompeu bruscamente o homem, pois já havia sacado o que ele iria pedir. – Você tá falando sério?!

— Sim! Você poderia ser o instrutor dele?!

— Uau! Cara, que honra, mas tem pessoas muito mais habilidosas e experientes na academia.

— Mas eu quero que você fique com ele, ok? Isso vai aumentar sua experiência em liderar. O que me acha?

— Eu super topo! Nossa, isso vai ser incrível! Vou ser tipo o Batman e ele meu Robin!                                                                                                                                                                                                                                                     

— É essa animação que eu gosto! Agora vá descansar, pois já é bem tarde. Mais tarde eu passo para ver o estado da Pâmela.

— Entendido. – Rafael se levantou e foi até o elevador. – Não vou te desapontar, Henrique.

— Eu sei que não vai. – Respondeu o diretor, com um sorriso aquecedor em seu rosto. Até logo, Rafa.

— Até.

E então Rafael se foi, deixando Henrique a sós em sua sala, com uma expressão agora preocupada e séria.

— Esse caçador de sogans que me preocupa... Preciso investigar isso melhor, mas tenho tanta papelada pra assinar. – E então o grande homem encenou um falso som de choro. – Bem, reclamar não ajuda. Bora acelerar!


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