Amor é fogo que arde sem se ver.
— Luís Vaz de Camões

    Todoroki queria fazer aquilo do jeito certo.

— Eu posso te beijar? — perguntou de repente.

— O-o quê? — Deku saltou no lugar.

Os seus olhos, como diria em outros momentos, pareciam ter saído de uma HQ americana pela duplicação de tamanho.

— Posso te beijar, Izuku? — repetiu com a mesma suavidade.

Não recebeu uma resposta concreta por um longo minuto. Do lugar onde estava, Todoroki enxergava a fumaça escapando pelas orelhas de Deku, apostava, inclusive, que não demoraria muito para ele começar a murmurar sem parar. Talvez, no final das contas, o astuto filho de Endeavor tivesse apressado as coisas.

— Sim…

O murmúrio escapou tão baixo e envergonhado que, caso Shouto não se encontrasse completamente focado em Midoriya Izuku, dificilmente escutaria. Felizmente, cada poro do seu corpo apontava para aquele baixinho encolhido e corado.

Deku soltou um gemido assim que Todoroki acariciou a sua bochecha com a ponta dos dedos. Uma mão tão fria numa pele tão quente.

— Desculpe… — pediu de imediato.

Entretanto, logo se silenciou quando Deku se esfregou contra a sua palma; sutilmente, de olhos fechados, entregue. Como nunca antes, o coração retumbou num ritmo diferente. Sob os olhos de qualquer outro, tratava-se de um gesto singelo e realmente o era, mas dispunha de um significado imenso. Naquele momento, Deku aceitava Shouto. Não, enfatizava que o tinha aceitado já há algum tempo. Abraçava o seu lado frio, o seu lado quente e todos os choque térmicos que adviriam daí. E Todoroki simplesmente não conseguiu mais se segurar.

Os lábios finalmente se tocaram. Diferente do que Deku tinha pensado, os lábios de Shouto não eram frios, nem quentes, em vez disso uma mistura morna. Era gostoso, bom senti-los contra os seus, mesmo sendo só um selinho.

Como era de se esperar, o primeiro beijo de ambos durou míseros segundos, já quanto ao alvoroço no peito não se podia dizer o mesmo. Com a respiração acelerada, encostaram as testas. Ainda privados da visão, Todoroki experimentou roçar as bocas com calma. O hálito de Deku chocava contra o seu e foi o baixinho quem teve a iniciativa de beijar o seu lábio inferior. Doce, essa era a palavra que vinha à cabeça de Shouto. E, desta vez, foi ele quem provou os lábios de Deku; o superior, o inferior, os cantos.

— Hum… — O garoto arfou quando a língua de Todoroki contornou a sua carne.

— Não pense em nada e abra a boca, Izuku. — O que estava dizendo? Apenas não queria que ele ficasse nervoso. Um braço rodeou as costas estreitas, puxando-o um pouco para mais perto.

Os ombros de Deku relaxaram e os seus lábios entreabriram. Quando a língua de Shouto finalmente alcançou a dele, ambos os garotos respiraram pesadamente na boca um do outro. Era muito bom. Uma intimidade diferente. As mãos subiram para o cabelo de Midoriya e foi com uma agradável surpresa que Todoroki sentiu a maciez daquela confusão de fios. Já as mãos de Deku, antes incertas, seguraram a camiseta nas costas do amigo, encostando mais os corpos. Gemeram baixinho com a sensação.

O beijo estava longe de ser perfeito, tratavam-se apenas de dois adolescentes inexperientes guiados pelo instinto e emoção. Mas, tirando todas essas nuances, eles começavam a estabelecer um ritmo certo. Todoroki até ousou em chupar a língua do garoto, percebendo com agrado o espasmo que acometeu o corpo dele. Infelizmente, o ar não durava eternamente e precisaram de quebrar a carícia.

— Uau — murmurou Deku com os olhos brilhantes, bochechas rubras e lábios inchados.

É, Todoroki tinha conseguido fazer do jeito certo.