Destinos Cruzados escrita por ihavetogonow


Capítulo 4
Past x Future


Notas iniciais do capítulo

Mais 3 capítulos pra vocês.
Obrigada pelos comentários nos capítulos anteriores ♥

Boa leitura!



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Havia algumas horas que Fel estava dormindo, eu não tive coragem de acorda-la ainda, todas aquelas confissões dela ainda estavam martelando em minha cabeça, me deixando com um turbilhão de emoções das quais eu ainda não estava sabendo muito bem lidar, sem deixar que o ódio falasse mais alto.

Eu não havia sofrido nada, absolutamente nada se comparado a ela e eu sentia que haviam mais coisas escondidas e que provavelmente ela não confiava em o bastante pra reparti-las.

O som da campainha me trouxe de volta, me levantei e fui o mais rápido que consegui atender a porta. Não queria que o barulho a acordasse.

Abri a porta e Samantha estava parada atrás dela com dezenas de malas.

— Oi Samantha. – A cumprimentei cansado.

— Onde você esteve? – Ela perguntou entrando e eu tive que ajuda-la a colocar aquilo tudo pra dentro.

— Ocupado. – Respondi. – Tive que socorrer uma amiga e precisei operá-la.

— Nossa. Ela está bem? O que aconteceu com ela? – Ela quis saber.

— Ela está bem sim. – A respondi parcialmente.

Eu não podia falar sobre Felicity pra ela.

Ela sentou no sofá e eu a segui. Com a grande diferença que eu me joguei sobre ele, exausto.

— Disse que me levaria ao aeroporto. – Ela fez um bico

— Eu sei Samantha, mas eu passei a noite em claro, a maioria do tempo no centro cirúrgico, me desculpe. – Esfreguei a nuca fechando os olhos.

— Achei que.. que pelo menos fôssemos nos despedir. – Ela alisava minha coxa esquerda. Quando ela ia subir e tocar o meu membro, eu a parei.

— Por favor Samantha, não. – Pedi

— Desculpe. – Ela pediu – Pensei que você pudesse querer se despedir de mim.

— Samantha, eu vou me despedir de você – Segurei sua mão – Só não me peça sexo, por favor.

— Tudo bem – Ela sorriu dando um suave aperto na minha mão. – Eu sei que me dispensou ontem.

— Eu não fiz por maldade Samantha. – A corrigi – Eu apenas não posso mais te enrolar – Passei minha outra mão na cabeça.

— Certo, não precisa se desculpar ou.. ou explicar, de qualquer forma eu preciso ir. – Ela se levantou – Meu vôo sai daqui a algumas horas.

Me levantei e parei a sua frente.

— Vai ficar muito chateada se eu não te levar? – Fiz uma careta.

— Claro que não. – Ela deu um leve aperto no meu ombro.

— Você sabe que eu gosto de você não sabe? – Perguntei a ela.

— Sim, eu sei. – Ela suspirou – Só queria que fosse o suficiente.

— Me desculpe. – Eu fui sincero. Fiz um carinho em seu rosto e ela deitou sua cabeça na minha palma.

— Posso pelo menos ganhar um beijo? Um beijo de despedida? – Ela pediu num sussurro.

Eu não respondi.

Me aproximei mais dela e depositei meus lábios nos seus. Não foi um beijo apaixonado, não usamos nossas línguas e logo acabou.

Assim que nos separamos e ela abriu os olhos se espantou.

— Ah.. Oi. – Ela disse olhando por cima do meu ombro.

Me virei e Felicity estava parada na ponta do corredor, curvada e um braço abraçando a barriga

Droga! Ela deve ter me visto beijar Samantha. Merda!

— Você está bem? – Fui até ela, esquecendo completamente de Samantha.

— Não – Ela gemeu – Estou com cólica forte.

— Ok – Tentei ficar calmo. – Vamos deitar de novo, tudo bem? – Ela assentiu. – E eu vou cuidar de você.

A levei pro quarto novamente.

Quando voltei pra sala Samantha ainda estava ali.

— Essa é a amiga que você disse? – Ela me perguntou

— Sim, preciso cuidar dela. Me desculpe.

— Tudo bem, eu já vou. – Eu a levei até a porta e nos despedimos e ela se foi.

Eu fui até meu closet. Peguei dentro da minha maleta um remédio injetável para cólicas.

Quando voltei para o seu quarto, Fel havia se deitado novamente.

— Fel? – A chamei me sentando ao seu lado na beirada da cama. – Vou te dar uma injeção, tudo bem?

— Uhum. – Ela gemeu.

Eu passei um algodão com álcool na curva do seu braço e apliquei a injeção.

— Isso vai deixar você um pouco sonolenta. – Eu disse – Por favor, não se levante enquanto isso. – Ela assentiu.

— Tente descansar. – Sussurrei alisando seus cabelos – Se sentir algo diferente, não passar ou piorar me avise.

— Pode deixar, eu sei que logo melhora. – Ela disse fraca e forçou um sorriso.

Cinco minutos depois ela dormia.

Jesus! Que dia!

Voltei para sala no exato minuto em que meu celular começou a vibrar.

— Oi mãe. – Atendi

— Olá querido. Como está? – Ela perguntou

— Cansado mãe, muito cansado. – Respondi esfregando meu rosto com a palma da mão livre.

— E como ela está? – Ela quis saber

— Ela ainda sente dor, mas vai ficar bem. – Eu disse. – Ela está aqui comigo. Vou cuidar dela até acabar o resguardo.

— Isso é uma boa ideia? – Ela me perguntou com cautela.

— Mãe.. ela precisa de ajuda e pelo que percebi ela não tem ninguém. – Expliquei.

— E o pai da criança?

— Foi um estupro mãe. – Quando eu vi já tinha falado. – Por favor, não conte isso a ninguém. – Pedi.

— Não contarei querido, fiquei tranquilo. – Ela disse. – Eu só espero que você esteja fazendo a coisa certa.

— Eu acho que estou mãe. – Falei convicto.

— Traga ela com você no domingo. Quero conhece-la.

— Pode deixar, vou falar com ela. – Nos despedimos e eu desliguei.

Já havia anoitecido e eu não queria dormir pra ficar de olho em Fel, mas não consegui. O cansaço me venceu.

“Tenho dois carrinhos de brinquedo eu e mamãe estamos sentados no tapete e os fazendo apostar corrida. O meu é o mais rápido e mamãe sempre me beija por ganhar, ela diz que eu sou esperto. Faço meu carrinho correr ais rápido e forte, ele caí debaixo do sofá, do outro lado, tenho que pegar pra continuar brincando com mamãe antes dele voltar.

A porta se abre com força, não é ele, eu não sei quem são esses homens maus. Eles tem cara de mau. Vejo mamãe se levantar. Ela está assustada. Queria dizer para ela que eu também estava. Vejo um dos homens malvados gritar com a mamãe. Ele quer saber cadê ele. Mamãe fala que não sabe. O homem mau ri. Ri muito alto e bate na mamãe. Mamãe caí no chão chorando. EU não quero ver mais. Me abaixo no sofá e tapo meus ouvidos com as mãos. Um barulho alto, muito alto e mamãe para de chorar. Os homens maus foram embora e deixaram mamãe no chão.

Saí de trás do sofá e chego perto da mamãe. Ela está dormindo. O homem mau fez ela dormir. Sacudo mamãe. Mamãe, acorde! Ela continua dormindo. Pego minha manta no sofá e cubro nós dois. Mamãe ainda dorme. Por que ela não acorda. Quero brincar de corridinha de novo. Quero que mamãe me abrace, mas ela ainda dorme. Só dorme.”

Eu comecei a senti a pele da minha bochecha queimar e achei que fosse por causa do tapete, mas logo ouvi uma voz doce me chamar. Um anjo. Tinha um anjo na minha antiga casa?

— Oliver? – Sua voz doce me chamava. – Acorde, por favor, Oliver. – O anjo diz chorosa.

Eu queria abrir os olhos e vê-la, mas não queria continuar vendo a mamãe dormindo e só dormindo.

— Por favor, por favor, acorde. – Senti algo molhado na minha bochecha – Eu preciso de você, acorde.

Meu corpo é sacudido uma, duas, três vezes com força.

Acordo assustado, num pulo, quando ouvi um estalo e meu rosto queimar.

— Me desculpe, me desculpe. – Fel murmurava e chorava ao mesmo tempo, encolhida contra a mesa de centro. Eu me encolhi no sofá. Era um sonho, era apenas um sonho.

Meu coração estava acelerado, meu corpo tremia, minha boca estava seca, olhos turvos e ouvidos zunindo. Uma sensação ruim de perseguição me dominava e minha vontade era sair correndo dali. Espremi meus olhos. Só um sonho! Só um sonho! Eu repetia como um mantra.

— Oliver? – Felicity me chamou com cautela. Eu ergui meus olhos arregalados e a fitei. Ela estava assustada. Ela se ergueu e andou até onde eu estava. Tentou me tocar, mas eu afastei sua mão com um safanão. – Está tudo bem – Ela assentiu – Estou aqui, está tudo bem. – Ela repetia.

Eu não queria que ela me visse daquele jeito. Me levantei ignorando minha tontura e fui cambaleando até o banheiro do meu quarto.

Tirei minha camisa e meu sapato e entrei de calça no chuveiro frio.

Deixando meu corpo escorrer pela cerâmica gelada até que eu me sentasse no chão. Só um sonho! Só um maldito sonho! Agarrei meus cabelos na inútil tentativa de arranca-los e a dor física substituir a sensação de sentir o corpo gelado da minha mãe de novo.

Quando abri os olhos Fel estava ajoelhada na minha frente. Eu ainda estava atordoado, mas me sentia culpado por ter batido em sua mão. A minha camisa que ela vestia estava ensopada por conta da água fria do chuveiro e ela só vestia aquilo.

— Está tudo bem. – Ela repetiu passando a mão pelo meu rosto. Ela estava tão perto e era tão linda. Eu coloquei minhas duas mãos em sua cintura e a puxei pro meu colo. Assim que ela entrelaçou suas pernas a minha cintura, sentando em meu quadril, suas mãos abraçaram meu pescoço e eu me agarrei a sua cintura, escondendo meu rosto no vão do seu pescoço. Absorvendo seu cheiro.

— Me desculpe. – Sussurrei entre meus soluços.

— Shii, está tudo bem agora. – Ela alisava meus cabelos suavemente enquanto repetia essa frase várias vezes. Minha mão direita se infiltrou em seus cabelos e assim que eu os segurei afrouxei nosso abraço.

Nós nos olhamos por alguns segundos. Tempo suficiente pra eu olhar para os seus lábios e saber o que eu queria fazer.

A boca dela era deliciosa, assim como seu cheiro.

Deus!

O beijo era calmo e só depois que ela percebeu o que estávamos fazendo eu a invadi com a minha língua. Nós puxamos o cabelo um do outro com a mesma força, como se nossos movimentos fossem coordenados. Cada vez que sua língua quente e macia tocava a minha uma vibração era mandada para uma região do meu corpo que estava acordando. Pra completar, Fel gemeu e se mexeu no meu colo, roçando seu sexo no meu.

Eu perdi a cabeça. A única coisa que eu queria era esquecer aquela maldita sensação e a dor de ter perdido minha mãe. O beijo se tornou mais rápido e minhas mãos mais urgentes. Uma delas se infiltrou pela camisa que ela usava e toquei seus seios, me fazendo arfar e ela gemeu quando senti seus mamilos endurecidos contra meus dedos. Nos ergui com ela ainda em meu colo e a pressionei contra a parede. Minhas mãos estavam por todo o seu corpo. Eu queria apertá-la e tocá-la onde eu conseguisse.

Soltei seus lábios pra poder lamber e sugar seus pescoço em busca de ar.

Soltei uma de minhas mãos, que agora estava em seus cabelos e desci pela sua barriga até achar o cós da sua calcinha. Quando comecei a sentir seu calor eu percebi o que eu estava fazendo. A merda que eu estava fazendo.

Me afastei dela e me encostei no vidro do box.

— O meu Deus, me perdoe. – Eu pedi a olhando, mas ela não me olhava. Ela mantinha os seus olhos baixos.

Porque ela não me parou?

Deus! Se eu tivesse continuado eu iria possuí-la em resguardo.

Ok, agora me sinto um lixo.

— Me desculpe Felicity. – Eu disse mais uma vez.

— Está tudo bem Oliver. – Ela ainda não me olhava.

— Não me diga que está tudo bem! Não acabe com o que resta da minha sanidade dizendo que está tudo bem! – Eu quase gritei com ela – Eu.. eu.. eu ia transar com você! Você deveria ter me parado.

Ela se desencostou da parede e ia saindo do banheiro.

— Fel? – A chamei. Ela parou e se virou pra mim. – Você está melhor?

— Sim.

Merda! Eu me odeio.

— Anote seu endereço, por favor. Eu vou lá pegar suas coisas, anote também o que quer de lá. – Eu disse.

— Eu acho.. acho que deveria ir embora Oliver. – Ela finalmente me olhou.

— Me desculpe, prometo que não irá se repetir. – Fui sincero.

— Ok. – Ela forçou um sorriso. Ela se virou e saiu.

Eu mudei a temperatura da água e tomei um banho quente. Eu ainda estava excitado e eu sabia que aquilo me renderia uma puta dor nas bolas.

Saí do banheiro e vesti um jeans e uma camisa branca simples.

Já havia amanhecido. Eu dormi a noite toda naquele sofá. Quando cheguei a sala, ela estava sentada no sofá com a roupa que Thea havia comprado pra ela. Ela assistia desenho animado. Tive que sorrir ao lembrar que ela cada vez mais parecia uma menina.

— Anotou? – Perguntei a ela. Eu estava com vergonha de encará-la

— Está aqui – Ela me passou um pedaço de papel. Eu li. Conhecia o endereço.

— Vou deixar o número do meu celular na geladeira, qualquer coisa me liga. – A avisei

— Ok. – Ela também não tinha me olhado.

— Fel? – A chamei e ela me olhou. – Vamos conversar quando eu voltar.

— Ok. – Ela virou para a televisão.

Eu me senti mal em deixa-la ali sozinha, mas de forma alguma a levaria de volta pra onde Sebastian pudesse vê-la. Sai do prédio e segui em direção ao endereço. O prédio era horrível e não havia um porteiro, sem contar que ficava num dos piores lugares.

Desci do carro e subi dois lances de escada. Abri a porta com a chave que ela me deu e entrei. Era um único cômodo, úmido e mofado, mas muito organizado. Sorri ao imagina-la fazendo de tudo pra deixar aquele local habitável. Fui procurando as coisas que estavam na lista e as arrumando dentro de uma sacola que havia achado ali. Peguei coisas de higiene pessoal, roupas, algumas calcinhas de algodão que estavam ali, umas pareciam um pequeno short.

Tinha uns 20 minutos que eu estava ali. Quando eu ouvi batidas na porta. Na verdade, não era batidas.. alguém esmurrava a porta. Eu fiquei indeciso entre abrir e deixar que a pessoa fosse embora, mas minha indecisão durou pouco... apenas o tempo da porta ir ao chão.

— Ora, ora. – Ele sorriu com cinismo – Veja quem está por aqui.

— O que faz aqui Sebastian? – Minhas mãos já tremiam.

— Eu que deveria perguntar... o que faz aqui doutor? – Ele cruzou os braços na frente do peito.

Sebastian era alto, não muito forte e tinha um pouco de porte, mas ainda conseguia ser um pouco mais baixo do que eu e meus ombros eram largos.

— Não é da sua conta. – Eu disse.

— Cadê minha garota? – Ele sorriu

— Ela não é sua garota! – Falei entre dentes.

— Oh sim, ela é. – Ele assentiu enquanto tinha um sorriso nojento no rosto. – Onde ela está?

— Segura. E bem longe de você. – Respondi.

— Seu tempo com ela acabou Queen. – Seu sorriso desapareceu – Se ela não voltar até hoje a noite eu vou ficar bem bravo.. porque eu vou perder bastante dinheiro. Ela é a melhor puta que eu tenho.

— Ela não vai voltar. – Eu o garanti

— Então eu vou busca-la – Ele sorriu de novo – Onde aquela puta está? – Ele se alterou.

Eu me aproximei dele e ele pegou o canivete, o apontando pra mim.

— Primeiro.. Não se refira a ela assim – Eu disse. Minhas palavras saíram carregadas de ódio. – Segundo ela não é sua garota e muito menos irá voltar e se eu souber Sebastian que você encostou um dedo nela eu mesmo farei questão de mata-lo.

Agora ele riu.

— Tudo isso por uma puta? Sério? – Ele gargalhou. – Ela não vale tanto assim Queen, não serve nem pra uma chupada.

Eu voei em cima dele e ele passou o canivete no meu braço. Eu senti arder e sabia que ele tinha me cortado, mas não ligava. Eu ainda consegui segurar o seu braço que estava com canivete e o imobilizei. Meu antebraço direito imprensava sua garganta e minha mão direita segurava a sua com o canivete em seu pescoço. Slade ficaria orgulhoso de mim. Pagar suas aulas não havia sido de tudo inútil.

— Eu vou avisar pela última vez Blood. – Disse entre os dentes. – Fique. Longe. Dela.

— Ela me deve e se eu pegá-la eu vou matar aquela piranha. – Ele rosnou.

Eu apertei meu braço na sua garganta.

— Não.. consigo.. respirar. – Sua voz saiu sufocada.

— Essa é a intenção seu merda! – Eu disse. – Quanto ela te deve?

— 10 mil. – Ele disse com a voz ainda sufocada.

— Eu vou te pagar e você some, estamos combinados? – Afrouxei o meu braço em sua garganta, mas o canivete ainda estava em sua pele.

— Sim. – Ele disse.

— Amanhã de manhã estarei aqui com seu dinheiro. – Eu disse. – Esteja aqui às 10 Blood e depois some.

— Ok. – Ele assentiu.

Fui até a cama e peguei a sacola que eu havia acabado de arrumar segundos antes de Sebastian entrar. Quando estava passando pela porta eu o ouvi murmurar.

“Tudo isso por uma puta.”

Eu não me contive mais. Soquei tanto a cara dele, que o deixei no chão.

Eu tinha consciência que meu braço sangrava e que minha blusa estava rasgada, mas eu precisava comprar um celular novo para Felicity. Todos na loja me olhavam desconfiados e eu saí de lá assim que paguei pelo aparelho.

Quando o elevador chegou ao meu andar e eu fitei a única porta no corredor, eu tive medo.

E se ela tivesse ido embora? Eu não estava pronto pra isso. Dei alguns passos e alcancei a maçaneta. Meu coração se acalmou no mesmo instante em que ouvi sua gargalhada atrás da porta.

Ela estava ali.

Assim que ela me viu diminuiu a risada.

— Hey. – Ela disse

— Almoçou? – Perguntei.

— Sim. Fiz frango xadrez. – Ela sorriu. – Espero que goste.

Eu coloquei sua sacola atrás do sofá.

— Eu gosto, mas não precisava ter cozinhado. – Falei.

Ela fez uma careta e olhou minha camisa branca vermelha de sangue.

— Oh meu Deus! Você está sangrando! – Ela quase gritou.

— Não foi nada. – Eu sai da sala e fui até o meu quarto. Eu precisava de um curativo e um anti-séptico. Sabe lá onde aquele filha da puta colocou aquele canivete.

— Onde você tem um estojo de primeiros socorros? – Fel entrou no banheiro atrás de mim.

— No meu closet. – Eu disse entrando no meu banheiro.

— Senta aí. – Ela apontou pro vaso sanitário e se ajoelhou no chão em frente a ele com a caixa de primeiro socorros na mão. – Senta! – Ela ordenou.

Eu sentei. Fazer o que.

Seus dedos finos e pequenos tocaram a pele do meu abdômen quando ela segurou a barra da minha camisa e puxou. Ela me olhou sem camisa e mordeu os lábios suavemente. Eu tive que desviar meus olhos. Ela pegou um pacote de gazes e abriu, começando a limpar o sangue em volta do corte.

— Você precisa de pontos aqui.

— Eu estou bem. – Lhe assegurei.

Eu gemi e fiz uma careta quando ela passou algo que ardia no corte. Eu vi seu rosto se aproximar do meu ombro. Ela fez um bico, fechou os olhos e assoprou o ferimento pra aliviar o meu desconforto.

Será que ela sabia como mexia comigo?

Eu sorri quando ela abriu os olhos e me fitou.

— Obrigado. – Pedi

— Uma mão leva a outra Dr. – Agora ela passava uma pomada.

— Você leva jeito. – Eu disse. Ela deu uma risada gostosa.

— Carmella me falava sempre isso. – Ela disse triste

— Quem é Carmella? – Perguntei colocando uma mexa que se desprendeu do seu coque atrás da sua orelha.

— Uma pessoa da minha cidade natal. – Ela disse enquanto colocava uma gaze pra fechar o corte. – Ela me dizia isso, sempre que cuidava dos ferimentos de pesca do Noah.

— Quem é Noah?

— Meu pai.

— O que houve com seu pai Fel? – Perguntei com cautela

— Ele morreu... tem 3 anos. – Vi seus olhos marejarem.

— Eu sinto muito. – Sussurrei.

— Eu também. Pode ter certeza. – Ela forçou um sorriso.

Ela encarou minhas cicatrizes e traçou com os dedos.

Merda! Eu não gostava que ninguém as visse. Nem eu gostava de vê-las.

— Que cicatrizes são essas? – Ela perguntou ainda traçando o indicador.

— Isso é de... – Eu a cortei

— Não é nada. – Me levantei a deixando ajoelhada no chão do banheiro. – Pode me fazer companhia no almoço eu preciso falar com você.

— Claro. –Ela se levantou e pegou a caixa no chão, depois de ter guardado tudo que usou.

Eu fui pra cozinha e ela foi até o quarto guardar a caixinha. Eu estava nervoso porque pra explicar minha reação no final da manhã eu teria que contar a ela parte do meu passado. Eu não sabia se estava pronto para conta-lo a alguém que não fosse da família. Mas eu devia isso a ela, ela era a única que estava confiando entre nós dois. Eu sabia sobre ela. Pouco, mas sabia. Ela não sabia nada sobre mim. 

 


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