Destinos Cruzados escrita por ihavetogonow


Capítulo 2
Decisions




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Os próximos minutos se passaram como borrões. A minha preocupação maior era garantir eu o choque fosse tratado e a sala cirúrgica pronta o mais rápido possível. Vários exames foram feitos, todos necessários e com urgência.

Eu estava sozinho com ela no quarto, aguardando alguma notícia da equipe, e só então parei realmente para observa-la.

Ela era linda. Extremamente linda. Cabelos loiros longos, meio ondulados, pele clara, que estava mais clara devido a todo o ocorrido da noite, mas nem isso apagava a sua beleza.  O que mais me impressionava no momento, eu não era capaz de deseja-la como há poucos minutos atrás, não sexualmente. Não naquele momento.

— Oi – Ouvi uma voz rouca me tirar dos meus devaneios.

— Oi – sussurrei de volta

— Onde estou?

— Hospital. Desculpa, precisei te trazer.

 A fitei por alguns minutos.

— Eu preciso te informar quem fez seu aborto, fez muito mal feito. Vamos te operar para remover o que ficou no seu útero certo?

— Você quem vai fazer isso? – Perguntou me olhando

— Sim – Respondi.

— Ok doutor. – Respondeu desviando os olhos dos meus.

Meu Deus, ela era uma menina.

E minha cabeça estava dando voltas de vontade de perguntar sua idade.

— Com licença Dr. Queen, sala 05 está pronta senhor. – Maddy falou colocando a cabeça pra dentro do quarto.

— Certo me ajude a leva-la Maddy, por favor. – Vi quando ela assentiu com a cabeça, vindo ao meu encontro empurrando a maca comigo.

Assim que chegamos no centro cirúrgico, um dos ajudantes pegou a maca das minhas mãos e começou a prepara-la.

Fui até a antessala me preparar, coloquei a roupa própria do bloco e fui ao tanque lavar minhas mãos. Acabei de lavar as mãos e entrei na sala.

O anestesista veio ao meu encontro me informar que a anestesia já havia sido aplicada.

Olhei para Felicity e a vi segurando firme a mão de uma enfermeira, provavelmente era medo do desconhecido. Muitos dos meus pacientes ficavam assim.

Vi quando a enfermeira soltou sua mão e deu um leve aceno de cabeça. Era tudo o que eu precisava para começar.

— Certo, vamos lá pessoal. – Falei pra toda minha equipe, me aproximando da cama.

A cirurgia durou cerca de 4 horas e nunca em todos os meus anos de medicina, havia sido tão cansativa e estressante.

Eu mesmo fiz questão de leva-la ao quarto onde ela ficaria em observação e que havia sido reservado para ela.

Deixei a enfermeira com ela terminando de acomodá-la e aferindo seus sinais pós anestesia.

 Fui até a sala dos médicos, precisava trocar de roupa e comer alguma coisa, o dia já estava amanhecendo.

Escutei a porta ser aberta atrás de mim, quando me servia de uma xicara de café.

— Filho fiquei sabendo agora. Como está a garota?

Lógico que ela ficaria sabendo, naquele hospital se sabia de tudo.

— Agora ela está bem mãe, foi complicado, mas deu tudo certo.

— O que vai fazer agora? Já localizou a família dela? Vocês se conhecem a muito tempo?

O que eu faria? Algo passava pela minha cabeça, mas antes de mais nada precisava conversar com ela. E bem dona Moira era mente aberta, mas não seria eu a contar sobre a vida da Fel pra ela.

— Não a conheço. Saí pra beber com Thomas e Roy ontem, quando estávamos saindo do bar a encontrei passando mal no estacionamento. Não sei nada sobre ela.

Senti seu olhar sobre mim. Sabia o que ela estava fazendo. Me analisando. E com toda certeza não acreditando em toda minha história, mas não falaria nada.

Isso era uma das coisas que mais amava na minha mãe. Ela não te forçava a falar, deixava tudo pra seu tempo.

— Sei que tem algo a mais, assim como você sabe que eu sei, mas independente de qualquer coisa, pode contar comigo e com seu pai.

— Pode deixar. Eu te amo mãe.

— Também querido.

Ela deu um beijo em minha testa saiu.

Fiquei alguns minutos ali naquela sala pensando no meu plano mirabolante e se ela aceitaria.

Voltei ao quarto e a enfermeira já havia saído. Ela ainda dormia.

Suas feições eram serenas e tranquilas. Me sentei em uma poltrona próxima e me peguei pensando sobre ela. Sua vida. Sua história.

Não sei em que dado momento eu adormeci, só sei que acordei ao sentir uma mão delicada em meus cabelos.

— Ei – Sua voz era baixa e sussurrada. – Ei doutor.

— Desculpa, eu acabei dormindo. – Me ajeitei na poltrona, a encarando

— Não tem problema, sua noite não deve ter sido como imaginou. – Falou ainda me olhando.

— Você está bem? – Perguntei ignorando o seu comentário.

— Melhor do que mereço. – Respondeu dando um supiro – Quando posso ir embora daqui?

— Assim que o médico desse plantão te liberar. Seus exames precisam ficar prontos pra isso.

— Mas.. você não.. não era meu médico? – Perguntou

— Troca de plantão. Seu caso agora está com outro médico.

Queria saber sobre ela. Mas não sabia por onde começar, ou como ela iria reagir a isso.

Uma batida na porta me trouxe de volta.

— Com licença, trouxe o almoço da paciente. – Uma funcionária da copa entrou carregando uma enorme bandeja. – Alimentos leves senhorita, uma canja e frutas, tudo bem?

— Obrigada – Respondeu ela com um pequeno sorriso, se ajeitando na cama para receber a bandeja.

— Se me dão licença. – A copeira se despediu com um leve sorriso.

Olhei novamente para Felicity que encarava a tigela a sua frente.

— Coma tudo! Isso ajudará para sua recuperação ser mais rápida.

Ela começou a comer e mais uma vez tive que me segurar para não bombardeá-la de perguntas.

— Quantos anos você tem? – Certo, tentei me segurar mais saiu. Eu realmente precisava fazer essa pergunta. Ela era nova demais. Uma menina praticamente.

Observei quando ela largou a colher e me fitou.

— 25 – Respondeu de forma tão mecânica, que tive a imensa certeza que já havia ensaiado aquela fala por muitas vezes.

— Não te dou 20. – Respondi a encarando.

— Pois se enganou Dr. Tenho 25 anos.

Eu a encarei com a sobrancelha arqueada.

— Ok! 22, eu tenho 22 anos. – Disse irritada

Continuei a encarando, balançando a cabeça negativamente.

— Que merda! 21, 21 anos satisfeito? E que coisa agora você quer de mim? É a transa de ontem que fiquei te devendo é isso? Espera só até eu ter alta que te dou o que comprou ontem.

Caminhei até sua cama com passos decididos, peguei a bandeja de suas mãos a colocando no criado mudo ao lado da cama dela.

Me sentei novamente na poltrona e segurei suas mãos.

— Me desculpe, ok? Não era minha intenção te deixar nervosa e não estou e nem penso em te cobrar nada.

Ela me surpreendeu e muito, me puxando pelas mãos e me abraçando.

— Me abraça, por favor.

Eu levantei meus braços de forma hesitante a abraçando de volta, tentando lhe acalmar.

E ali, naquele momento eu tive a certeza que precisava protege-la, ajuda-la de alguma forma.

— Está tudo bem, já passou. Eu estou aqui. – Falei baixo tentando tranquiliza-la

Senti suas lágrimas molharem minha camisa e seus soluços preencherem o ambiente, a apertei em meus braços. Por alguma razão não conseguia solta-la.

Pouco a pouco fui sentindo ela se acalmar e sua respiração ficar calma e ritmada. Com cuidado afastei meu corpo do dela, vendo seus olhos vermelhos e pequenos.

— Descansa um pouco, tá bem? Eu vou atrás do seu médico e quando voltar, quero conversar com você. Quero te ajudar Fel.  – Falei alisando sua face.

Dei um beijo em sua testa, a ajudando se acomodar novamente nos travesseiros a cobri saindo do quarto.

Precisava achar Liam conversar com ele sobre o quadro dela e sobre quando ele pretendia dar-lhe alta. Havia dito pra Fel que a mudança de médico devia-se ao plantão, mas não, eu havia passado o caso dela pra Liam, se ela aceitasse minha proposta, não poderia continuar sendo seu médico.

Eu esperava realmente que ela aceitasse. Que ela quisesse sair daquela vida.

Que deixasse cuidar dela como haviam cuidado de mim anos atrás.

 


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