Amor nos Tempos da HYDRA escrita por DrixySB


Capítulo 8
Capítulo 8


Notas iniciais do capítulo

Um embate verbal entre Daisy e Jemma.



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Estúpida!

Jemma censurou a si mesma ao mesmo tempo em que rumava para a entrada da base da SHIELD.

Depois daquela noite com Fitz, achou que fosse se sentir melhor por recuperarem sua relação física e, até mesmo, que seria possível ele despertar definitivamente durante seu momento de intimidade. Isso atestaria que o amor que partilhavam transcendia universos. No entanto, apenas fez com que ela se sentisse pior ao notar o quanto o Fitz do Framework divergia do outro e, para completar - pelo que deu a entender - ele não fazia questão de abandonar aquele mundo antes que pudesse consertar seus erros.

Sendo generosa, isso poderia levar décadas.

Avistou Daisy assim que adentrou o corredor de acesso à base.

— Jemma, onde esteve? – a inumana indagou, caminhando com passos determinados na direção de sua amiga.

À guisa de uma resposta, a bioquímica baixou o olhar, abraçando o próprio corpo como se estivesse se sentindo desamparada. Não era mesmo necessário que verbalizasse. Estava explícito em seu rosto.

Daisy sacudiu a cabeça em reprovação.

— Não acredito que passou a noite com ele...

— Daisy... – Jemma tentou, mas era inútil.

— Você não vê que só está se machucando assim? Que isso tudo pode não passar de uma armadilha? – ela respirou fundo antes de prosseguir, levando as mãos à cintura – Ward tinha razão.

O semblante da bioquímica endureceu ao ouvir aquele nome.

— O que Ward tem a ver com isso?

Tarde demais, Daisy se deu conta do que havia acabado de dizer. Ela mordeu a parte interna dos lábios, desviando o olhar. Seu rosto enrubesceu.

— Você não...?

— Não venha me julgar quando você passou a noite fazendo o mesmo que eu – a inumana não perdeu tempo em interromper as palavras da amiga.

Jemma deu uma risada sarcástica, cerrando os olhos em total descrença, sacudindo a cabeça de um lado para o outro.

— Eu não acredito que você esteve com aquele sádico e psicopata. É demais para assimilar.

— O mesmo pode se aplicar a você! – rebateu Daisy, alteando o tom de voz.

— É diferente! – Jemma praticamente gritou – Não queira comparar...

— Diferente como? No que exatamente as duas situações diferem?

— Fitz está sendo manipulado, controlado mentalmente!

— Será que está mesmo?

O espanto tomou conta do semblante de Simmons. Sua boca se entreabriu.

— Eu não posso acreditar no que estou ouvindo. Acha mesmo que Fitz está fazendo tudo isso deliberadamente?

— Eu vi do que o Fitz deste mundo é capaz. Eu senti na própria pele, lembra-se? Ele queria me machucar. Você está se iludindo, Jemma. E eu não me surpreenderia se ele estivesse te atraindo para uma emboscada.

— É diferente porque o Fitz do mundo real não é esse monstro do Framework, ao contrário do Ward.

— Pelo menos o Ward deste mundo é um homem bom.

— Esse Ward não existe! Ele é um amontoado de códigos! O verdadeiro era um lunático e ele já está morto. É você quem está se iludindo!

O duelo de vozes e os ânimos exaltados de ambas capturou a atenção de alguns agentes e civis que se encontravam próximos dali.

— Está tudo bem com vocês? – perguntou Hope, a filha de Mack, as espiando a uma distância considerável de onde elas se encontravam – dá para ouvir seus gritos daqui.

— Ela tem razão. Não estou conseguindo me concentrar no meu livro – mencionou Hunter, logo atrás de Hope.

A consciência de que estavam discutindo a altos brados atingiu as duas amigas violentamente. Daisy cerrou os olhos e respirou fundo ao ouvir a voz da garotinha e do agente, então virou-se para encará-los.

— Está tudo bem. Nós... Estamos apenas tentando resolver um... Impasse.

Um tanto desconfiada, Hope assentiu, desaparecendo de suas vistas juntamente com Hunter.

— Não podemos subestimá-la, ela é muito esperta – disse Daisy, tornando a olhar na direção de Jemma. Ambas constrangidas pela cena que haviam acabado de protagonizar.

— Tem razão – Jemma concordou com tom de voz ameno – Daisy, me desculpe...

— Não, eu é que peço desculpas.

— Não acredito que estávamos discutindo por...

— Por causa de homens— ela sacudiu a cabeça, rolando os olhos e desaprovando sua própria atitude – não é possível.

— Somos muito melhores do que isso – tornou Jemma.

— Com certeza... Venha, vamos conversar em outro lugar! – Sugeriu a inumana, sentindo-se ligeiramente envergonhada ao espiar uma última vez, por cima do ombro, os curiosos atraídos por sua discussão ruidosa. Pouco a pouco, eles se dispersaram e voltaram aos seus afazeres.

*

— Ele se lembrou de você? – perguntou Daisy em um sussurro, ao adentrarem o que elas conheciam no mundo real como a sala comunal da base.

Jemma deu um sorriso entristecido.

— Lembrar não é uma opção aqui, Daisy – afirmou, sentando-se em uma poltrona.

A inumana moveu-se rapidamente para sentar-se ao seu lado.

— O que quer dizer?

— As memórias... Ficaram todas do outro lado – respondeu após um longo suspiro – as lembranças que eles possuem... Coulson, May, Mack, Fitz... São apenas da vida que viveram aqui. Quando Radcliffe e Aida criaram esse mundo, implantaram novas memórias, reescreveram suas vidas. De modo que eles jamais poderiam lembrar-se do que não viveram. Faz sentido, é tudo tão óbvio –uma risada desprovida de humor escapou de sua garganta – isso estava claro desde o começo, mas eu... Bem, eu tinha esperanças de que se passasse um tempo com o Fitz... Se me aproximasse e ele olhasse nos meus olhos... Ele iria despertar – sua voz falhou de repente, entrecortada devido às lágrimas que ameaçavam deslizar pela sua face. Jemma fez o possível para contê-las.

— Eu te entendo, Jemma. Como em um filme romântico... Ele te olharia, lembraria... Teria até uma trilha sonora – Daisy gracejou, de modo a tentar desanuviar o clima tempestuoso que pairava sobre suas cabeças.

A bioquímica riu, mas a verdade é que ela estava despedaçada por dentro.

— Eu sei que é estúpido. Ainda mais vindo de uma prodígio que, com 17 anos, já possuía dois Ph.D. Eu simplesmente dispensei a lógica e optei por acreditar no impossível. É ciência e eu ignorei completamente. É óbvio que ele jamais se lembraria uma vez que... Eu nunca fiz parte da vida dele nessa linha temporal – agora ela deixou que as lágrimas corressem livremente.

— Jemma – Daisy tocou seu ombro, tentando consolá-la – enquanto eu estive presa na Hydra, Aida me fez uma proposta... Disse que eu poderia ter uma vida longa e feliz. Ao lado de Lincoln – ela sentiu um nó se formar na garganta ao proferir o nome do falecido namorado, então respirou fundo e continuou – E eu não vou mentir para você... Por um segundo, eu considerei essa opção. Mas depois pensei no preço que teria de pagar por isso e me dei conta de que não valia a pena arriscar tanto por algo que nunca seria real... Então eu compreendo. O amor nos faz agir de maneira imprudente às vezes.

A bioquímica assentiu, resignada.

— O fato é que May e Coulson... Eles toparam nos ajudar e lutar ao lado da SHIELD por sentirem que havia algo de errado na vida que costumavam levar. Uma coisa que Aida não pode roubar de nenhum de nós é nossa essência. Não podemos fugir do que somos – observou Jemma assumindo um tom de voz reflexivo – mas eles não tem nenhuma lembrança do mundo de onde vieram originalmente, não é?

Daisy meneou a cabeça, concordando. Compreendendo aonde a outra queria chegar.

— O mesmo se dá com o Fitz. Ele parou para analisar suas ações e percebeu que há algo de extremamente errado em seu comportamento, na ideologia da organização que governa, no fato de nunca se arrepender ou de não sentir empatia... Mas ele simplesmente não teria como se lembrar de uma vida que não viveu...

— Eu pensei que Coulson houvesse se lembrado.

— Não é possível – Jemma negou com a cabeça – Pode ter sido algo similar à sensação de déjà-vu que sentimos no mundo real. No mais, ele só estava se reconectando à sua essência. Percebendo de qual lado deveria lutar... É como quando a gente encontra o nosso lugar no mundo depois de uma série de decisões erradas. Quando percebemos que não estamos exatamente onde deveríamos estar...

— O que eu senti quando deixei a SHIELD – concluiu Daisy, pensativa.

— Mais ou menos isso – Jemma fez uma breve pausa antes de prosseguir – o problema é que, para Fitz, com a educação que ele teve e o modelo de homem que moldou sua índole... Parecia natural. O assassinato, a tortura, o racismo... Tudo isso sempre fez parte da vida de Fitz nesse lado.

— Não é possível que o pai dele tenha uma influência tão determinante sobre quem ele é.

— A presença do pai somada à apatia resultou nisso, Daisy. Fitz me disse uma vez, pouco antes de tudo isso acontecer, que seu problema era confiar demais. Depositar grandes expectativas nas pessoas e acabar sendo traído por elas. Foi assim com Ward, com Radcliffe... Aqui, ele simplesmente não confia. É incapaz de amar.

Daisy ponderou se deveria verbalizar o pensamento que perpassou sua mente, mas não conteve a curiosidade.

— A não ser pela Madame Hydra.

Jemma tornou o rosto abruptamente em sua direção.

— Sim. Ela tomou o meu lugar na vida de Fitz. Me substituiu...

— Ok... – Daisy procurava conectar os pontos, buscar uma fundamentação plausível para as atitudes de seu amigo naquele mundo – mas Coulson, de alguma forma, se reconectou à sua essência quando finalmente falou comigo. May ao tomar a atitude de ajudar os outros durante o incidente que vitimou Mace. E Fitz...?

— Quando me viu. Pouco depois de matar Agnes – Jemma replicou em um sussurro.

Um sorriso contido curvou os cantos dos lábios de Daisy.

— Então... Sua presença continua representando um papel fundamental na vida de Fitz.

Jemma retribuiu seu sorriso, ainda sustentando certa melancolia no olhar.

— Eu odeio dizer isso justamente após te dar esperanças, mas... Tem certeza de que não é uma artimanha? Que Fitz não está... Bem, isso é muito estranho de se dizer, mas... Te seduzindo para destruir a resistência da SHIELD?

A bioquímica cerrou os olhos, sentindo uma pontada aguda no peito.

— Eu quero acreditar que não...

— Até onde vi ele era muito fiel à Madame Hydra.

— Bem, é de se questionar a importância dela em sua vida, quando mesmo sabendo que ela está inválida em uma cama, ele passou a noite comigo... – o rosto de Jemma se transformou, ficando grave de repente, e ela sentiu um gosto amargo na boca – nossa, isso foi horrível de se dizer!

Daisy mordeu os lábios, contendo uma risada.

— Eu nunca conseguiria imaginar um cenário em que você fosse a amante de Fitz enquanto ele está noivo de uma androide maluca que ganhou vida – ela se arrependeu no exato instante em que pronunciou as palavras. Mas já era tarde demais. Jemma jogou a cabeça para trás, batendo com a palma das mão na própria testa – Sinto muito, Jemma. Eu não deveria fazer esses comentários idiotas...

— Não, está tudo bem... É tudo muito bizarro – Jemma cruzou os braços em frente ao corpo, encarando o chão vazio, parecendo distante de repente. Por certo, avaliando os rumos tortos que a sua vida e a de seus amigos haviam seguido naquela realidade alternativa.

— O problema desse mundo falso é que ele é palpável... – falou Daisy, tentando trazer sua amiga de volta, libertando-a de suas divagações – Tudo parece tão real e tangível que pode acabar nos atraindo, nos levando à loucura...

— Fala de Ward? – Jemma perguntou sem rodeios ou qualquer traço de crítica.

— Também! – a inumana suspirou.

— O que está acontecendo entre vocês?

— É confuso... Eu acho que esse é o Ward que eu gostaria que o do mundo real fosse... É só uma fantasia trazida à realidade – enquanto procurava explicar uma situação que nem ela própria se julgava capaz de compreender, seus olhos pareceram ligeiramente diminutos, sua voz soou frágil.

A bioquímica a fitou com um semblante complacente, movendo a mão para agarrar a de Daisy em um aperto firme que indicava sua cumplicidade. A inumana sorriu, retribuindo o gesto.

— Pelo menos, como em A Origem, tenho um totem para me ajudar a distinguir o mundo falso do mundo real.

Jemma franziu a testa, confusa.

— O livro de Hunter. Ele jamais leria um livro em nossa realidade.

Desta vez, a bioquímica não evitou a risada que se desprendeu de sua garganta, grata por sua amiga lhe trazer um pouco de leveza e alívio em uma época tão tempestuosa em suas vidas.


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Notas finais do capítulo

;)



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