Amor nos Tempos da HYDRA escrita por DrixySB


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Jemma exige saber os motivos que levaram Fitz a ser frio e cruel no Framework.



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— Hey! Sou eu...

— A porta estava aberta – tornou Jemma, sem abaixar a arma.

— O horário que marcamos... Para nos encontrarmos aqui. Suspeitei que estivesse chegando...

O silêncio opressivo se estendeu por meio minuto. Ambos permaneceram na mesma posição. Jemma, segurando e apontando o revólver, sem vacilar em sua postura, e Fitz procurando refrear seu pavor decorrente de ser o alvo.

— Jemma Simmons, sou eu... – ele tentou, novamente – nós nos falamos ontem.

— Eu sei disso – seu tom saiu mais rígido e severo do que ela planejara – eu estive conversando com Daisy.

Fitz franziu a testa, revelando sua confusão.

— Você a conhece como Skye – explicou. A austeridade ainda presente em sua voz.

Um súbito lampejo de compreensão atravessou o rosto de Fitz.

— Ah, claro! Você contou a ela sobre ontem... E ela alertou, dizendo que isso poderia se tratar de uma emboscada, certo? Para te capturar...

Jemma engoliu em seco, sem responder.

— Entendi! – exclamou, dando uma risada desprovida de humor, e então virou as costas, pondo-se a caminhar pelo apartamento mantendo as mãos erguidas.

Soltando um pouco os ombros, mas permanecendo em posição de ataque, a bioquímica se permitiu respirar calmamente de novo. Ora, se ele estava lhe dando as costas enquanto ela mirava em sua direção, não podia mesmo representar um perigo. Jemma olhou por cima do ombro, aliviada ao se dar conta de que não havia ninguém atrás de si. Usando apenas uma das mãos, fechou a porta do apartamento com um estampido.

A uma relativa distância de onde ela se encontrava, Fitz virou-se novamente, para encará-la.

— Você não vai mesmo soltar a arma? – perguntou, já impaciente.

— Você possui o mesmo brilhantismo e engenhosidade do Fitz que sempre conheci. Pode ter alguma arma, um artefato letal minúsculo em sua roupa, em seus bolsos ou qualquer coisa do gênero – ela mesma se surpreendeu diante da clareza com que se expressava e de seu tom controlado de voz.

— O Fitz do seu mundo também constrói armas e instrumentos letais? Não somos tão diferentes no fim das contas – ele imprimiu certo cinismo em sua risada.

— Vocês são totalmente diferentes. O oposto um do outro. O Fitz que eu conheço cria armas como meio de defesa para derrotar aqueles que só querem propagar a destruição.

— É um herói que luta contra os vilões – era nítido o tom de deboche presente em sua voz.

— Você pode achar graça, mas...

— Olhe – ele abaixou as mãos devagar. Como resposta, ela apertou ainda mais os dedos em torno do cabo do revólver – já parou pra pensar que esse é um discurso um tanto hipócrita? O seu Fitz prega paz construindo artefatos de guerra. Tem de concordar comigo que se trata de uma contradição.

— Este mundo é uma contradição! – contrapôs.

— O seu mundo, que você chama de real, também é uma contradição. Isso não é privilégio apenas de simulacros. O lugar de onde você vem é paradoxal.

— Você só está tentando me deixar confusa – ela mesma não conseguiu identificar a procedência das lágrimas que ameaçavam brotar de seus olhos. Se eram de tristeza ou raiva – Me diga, o que diabos aconteceu... Porque se tornou um assassino frio e sádico?

— Vai abaixar a arma?

Ela não respondeu. Apenas manteve o revólver apontado na direção dele, o que Fitz encarou como sendo uma resposta afirmativa.

— Eu não sei – suspirou pesadamente – isso está em minha natureza. Minha criação.

— Como é possível?

Fitz tornou o rosto na direção de um aparador no canto da sala, sobre o qual havia um retrato. Jemma seguiu seu olhar e, de longe, conseguiu identificar as duas figuras retratadas na fotografia. Ela se aproximou lentamente do aparador, agarrando o porta-retratos com uma das mãos. A imagem de Fitz ao lado de seu pai em frente ao brasão da HYDRA capturou sua atenção de tal forma que ela sequer atentou para a proximidade de Fitz, ou para o fato de que havia abaixado a arma.

— Ele é a minha principal referência de caráter.

A respiração dele em sua nuca somada as palavras que acabara de proferir, fizeram Jemma dar um salto, uma nota estrangulada de surpresa escapando de sua garganta. Ela recuou, cautelosa, fazendo menção de levantar a arma novamente. Quase que por instinto, ele ergueu as mãos a frente do corpo. Após um instante, deu uma risada baixa e irônica e então se afastou, dando a volta no sofá a fim de sentar-se.

Jemma o examinou por um momento. Ele havia afundado a cabeça entre as mãos. Parecia exausto. Infeliz. Ela resolveu se aproximar aos poucos, porém, decididamente. Enfim, aceitara o fato de que ele não oferecia nenhuma espécie perigo. Não se tratava de uma emboscada. Ele tinha o desejo sincero e genuíno de encontrá-la naquele dia.

— Fitz...

A voz dela não passou de um sussurro a penetrar seus ouvidos, ao mesmo tempo em que sentiu o toque hesitante dela em seu ombro. Ele ergueu a cabeça, seu olhar angustiado adentrando o campo de visão de Jemma enquanto ela se sentava ao seu lado. A bioquímica engoliu em seco. Sabia que o pai exercia alguma influência na vida de Fitz pelo que Melinda May havia lhe dito na base. E também o tinha visto entrando no Triskelion pouco antes de ser surpreendida pelos seguranças do Doctor. Mas ver aquela foto... Os dois juntos. Sobre um aparador do apartamento de Fitz. Isso só tornava real o fato que ela tanto temia e relutava em aceitar como sendo a causa do comportamento daquele homem diante de si.

— No mundo real... – ele recomeçou a falar, com certa hesitação – como é a minha relação com meu pai?

Desviando o olhar, um tanto titubeante, ela respondeu.

— Ele o abandonou quando você tinha dez anos. Você foi criado somente pela sua mãe.

— Por que ele me deixou? – Seu tom de voz soou lastimoso, como se estivesse magoado as descobrir aquela informação.

— Foi melhor pra você, Fitz. Ele não era um bom exemplo. Sempre lhe direcionando uma série de ofensas e impropérios... Cometendo abusos verbais, sem se importar com o que você ou sua mãe sentiam... – ela pareceu aflita, de repente – meu Deus! Sua mãe? Onde ela está?

Fitz deu de ombros.

— Não sei... Eu nunca mais a vi – respirou fundo antes de prosseguir – certa vez, no meio da noite, meu pai disse que ela apenas atrapalhava a formação do meu caráter e que estava disposto a fazer de mim um grande homem, tal qual ele era. Me colocou no carro e eu nunca mais a vi.

— E você jamais foi atrás dela?

— Não. Meu pai me bastava – seu rosto assumiu tonalidades estranhas de repente – ele dizia que nada lhe daria mais vergonha do que eu possuir um temperamento como o dela. Esse seria o seu maior fracasso... E, bem, eu não queria desapontar meu pai. Tudo o que sempre fiz foi tentar dar orgulho a ele – seus olhos pareceram perdidos, desfocados – Foi uma longa jornada... Mas após uma série de tentativas falhas, eu finalmente me tornei um grande homem aos olhos do meu pai.

O psicopata do papai. Uma voz gritou as palavras na cabeça de Jemma, fazendo-as ecoar.

Ele deu uma nova risada repleta de escárnio. O som assustou Jemma momentaneamente. Fitz estendeu o braço direito para frente e o flexionou para examiná-lo.

— É engraçado como até hoje, quando ela usa uma voz ameaçadora comigo, quando eleva o tom... Eu sinto uma dor intensa percorrer todo o meu braço.

— Bem, mesmo que tenha sido acidental, ele foi indiretamente culpado. Você estava correndo dele quando caiu da escada.

Finalmente, ele tornou o rosto na direção de Jemma. Um vinco profundo se formando em sua testa, denunciando sua confusão diante das palavras proferidas por ela.

— Foi isso o que aconteceu... No mundo real?

Jemma acenou em aprovação, sentindo um estranho tremor percorrer sua espinha.

— Aqui... Ele quebrou meu braço com um bastão de baseball – confessou, ressentido.

As pupilas de Jemma se dilataram, a perplexidade lhe fazendo suspender a respiração.

— Por que ele fez isso? – sua voz saiu esganiçada.

— Ele queria que eu fosse bom em algo... Eu não era bom em nada. Principalmente em esportes. Depois da terceira tacada errada, ele tirou o bastão da minha mão e o acertou em meu braço – Ele parecia ligeiramente apático, como se isso não o machucasse mais e ele tivesse superado. Provavelmente, até perdoado. Ou mesmo havia passado a acreditar que merecia – depois daquele dia, eu procurava dar o melhor de mim em tudo para não vê-lo perder a paciência. Não adiantava muito... Até finalmente descobrir em qual área eu era realmente bom. Não era bem o que ele queria. Mas eu enriqueci e adquiri poder dessa maneira. Então deixei de ser um fracasso.

Levando uma mão à cabeça, Jemma execrou Alistair Fitz em pensamento. Tratava-se de um péssimo homem. Fosse no mundo real, fosse no Framework. Um exemplo a não ser seguido.

— No mundo real, você foi criado pela sua mãe, uma mulher doce, inteligente e muito determinada. Cresceu e se tornou um homem íntegro, justo, nobre e extremamente leal. E é um engenheiro brilhante. Você está por trás de praticamente toda a tecnologia da SHIELD.

— SHIELD? Então eu pertenço à SHIELD?

Com um aceno de cabeça, Jemma concordou. Fitz, por sua vez, assumiu uma expressão reflexiva.

— Aqui eu fui criado pelo meu pai e sou leal à Hydra. No mundo real, fui criado pela minha mãe e sou leal a Shield... Percebe o que isso quer dizer?

Jemma encolheu os ombros, confusa, sem saber aonde ele queria chegar com aquilo.

— Eu sou influenciável. Faço o que esperam de mim. Dependendo do que me dizem e da forma como me guiam, o meu caminho é determinado. Isso significa que eu não consigo nem mesmo tomar minhas próprias decisões, meu próprio rumo – disse, a cólera crescendo dentro de si sem que ele pudesse evitar.

— Fitz, não é assim...

— É assim, sim – ele sacudiu a cabeça freneticamente – nesse mundo eu sou leal à Hydra, sem jamais questionar seus métodos... No mundo real, por acaso, alguma vez eu questionei os protocolos da Shield? Por mais questionáveis que parecessem? Ou eu sempre fiz o que mandaram?

— Você não compreende o que está acontecendo? Sua consciência está despertando... Está tudo no seu subconsciente... É a sua essência, Fitz. Você é um homem bom que seguiu um caminho errado...

— E incontornável – ele a interrompeu – quando eu acordar do outro lado, eu vou me lembrar do que vivi aqui?

Jemma engoliu em seco, sentindo uma súbita aflição a envolver.

— Possivelmente.

— Eu jamais vou conseguir me perdoar – Ele correu a mão pelo rosto, exasperado.

Até então, a bioquímica tinha preferido não pensar nisso. No entanto, agora, era ele quem estava levantando aquele tópico.

— Fitz, o que eu sei é que não é apenas a influência de seu pai que o fez cometer esses... Atos bárbaros. Ela... Madame Hydra... Construiu esse universo como um meio de fuga. Ela retirava das pessoas seus maiores arrependimentos, de forma que pudessem viver em paz – ela fez o sinal de aspas com as mãos – sem esse peso na consciência. O seu maior arrependimento era confiar cegamente nas pessoas. Enxergar apenas as boas intenções delas... E foi isso que ela tirou de você – disse, de modo claro e pausado.

Parecia plausível. Fitz assentiu.

— Meu pai me ensinou a nunca confiar em ninguém. Assim, não crio expectativas e, consequentemente, jamais me decepciono ou me sinto traído. Fui criado de modo a esperar sempre o pior das pessoas – ele limpou a garganta e prosseguiu – mas estranhamente, de uma forma insana e que eu não consigo explicar, eu confio em você.

Jemma foi tomada pela surpresa ao ouvir aquelas palavras.

— Por quê?

Ele retorceu os lábios, refletindo.

— Talvez seja porque certas coisas são inevitáveis.

Seu coração acelerou. Aquela era uma das frases mais significativas que havia dito a Fitz, tempos atrás, quando tentava fazê-lo entender que não havia nada mais certo do que eles estarem juntos.

— Acredita mesmo nisso? – indagou em um sussurro.

— Bem, talvez você esteja certa quando fala sobre minha essência. Acredito que não podemos fugir muito tempo de quem nós somos. Sempre que tentamos fugir, encontramos o caminho de volta – respondeu, olhando fixamente para ela. A intensidade contida em seu olhar era quase palpável e Jemma teve de conter a necessidade súbita que sentiu de envolvê-lo em seus braços.

Afinal, por mais que estivesse se reconectando à sua essência, ele ainda não era aquele Fitz com quem ela tinha uma história, que, pouco a pouco, conforme os anos avançavam, foi se apaixonando por ela. Aqui, ele era noivo de outra mulher. Ele amava outra pessoa... Estava apenas confuso diante da revelação de que vivia em um simulacro, de que havia outro mundo; o mundo real. Quem não ficaria, afinal? Ele estava apenas curioso com relação a ela. Fitz acabara de dizer que confiava nela sem razão aparente. Não que a amava...

Jemma apertou os olhos, evitando as lágrimas e levantou-se do sofá de um salto, caminhando em direção a enorme janela do apartamento com vista para a rua. Sem compreender o motivo de seu afastamento, Fitz a observou por um momento, sem dizer mais nenhuma palavra.

Durante o silêncio que se seguiu, Jemma, com os braços cruzados, apreciou a vista da janela, dando-se conta do que ela havia deixado passar despercebido nas duas vezes em que esteve ali. Mais cedo, enquanto rumava de táxi para o edifício, estava tão tensa, receosa e distraída que não notara... Apoiou-se na borda da janela de modo a não perder o equilíbrio, assaltada por um turbilhão de emoções.

Ao perceber a comoção, Fitz levantou-se e caminhou apressadamente na direção dela, incerto se deveria se manifestar. Jemma sentiu o ar se agitar atrás de si, ciente do quão próximo ele estava.

— Esse lugar... Eu não havia reparado...

— O quê, Jemma?

Ouvi-lo pronunciar seu nome só veio a somar à onda de euforia que tomara seu ser.

— Ele se situa no mesmo lugar...

— Mesmo lugar?

Jemma virou-se, de modo a olhar para ele.

— Mesmo lugar que o nosso apartamento no mundo real.

A resposta suscitou surpresa, mas também acalentou o coração de Fitz por razões que estavam além de qualquer explicação, desafiando e transcendendo a lógica, a ciência e tudo aquilo que o Doctor sempre acreditou.

— Nós temos um apartamento?

Com os olhos embotados de lágrimas, Jemma assentiu.

— Como este?

Ela sorriu, balançando a cabeça negativamente.

— Não tão sofisticado como este.

O sorriso dela despertou algo dentro de Fitz que ele não conseguiu identificar, mas era contagiante. Só conseguiu sorrir de volta.

— Seu sorriso é tão lindo... Pena que esteja chorando – disse ele, erguendo a mão de modo a limpar as lágrimas que deslizavam pelo rosto dela.

Aquele toque foi ainda mais abrasador do que o sorriso. Fez com que um ligeiro arrepio percorresse seus corpos. A sintonia entre eles, inegável como sempre. Recuperando-se do instante de torpor que acometeu a ambos, Jemma levou sua mão sobre a dele, tomando-a na sua. Seus dedos se entrelaçaram.

— Você sente isso? – perguntou Fitz, o coração agitado – soa tão familiar...

— Porque é familiar – ela devolveu, o semblante enternecido por aquele momento. O ruído constante dos ponteiros do relógio pendurado na parede a distraiu por um segundo. Ela cerrou os olhos, contrariada – Eu tenho que ir...

— Não! – ele a cortou, bruscamente – por quê?

— Eu preciso voltar para a base – ambos falavam aos sussurros.

— Jemma... Eu tenho medo de que... Se você sair por aquela porta, eu nunca mais a veja – disse, aborrecido – Eu não posso perdê-la agora que a encontrei.

— Isso não vai acontecer. Você sempre arranja um meio de me reencontrar... Mesmo em outro mundo – comentou, lembrando-se de quando ele a resgatou em Maveth.

— Já aconteceu, não é? Te perder e reencontrar...

— Sim! Você atravessou o universo por mim – falou, sem rodeios.

Fitz recordou-se do que Radcliffe havia dito. Na ocasião, ele pensou que se tratava apenas de uma figura de linguagem, que não deveria encarar aquilo no sentido literal. Pelo visto, estava errado.

— Eu fiz isso mesmo?

Ela apenas concordou com um lento aceno de cabeça. Sem conseguir se expressar verbalmente.

— E agora você está fazendo por mim.

Até então, ela não havia colocado a situação daquela forma. Para falar a verdade, Jemma mal tivera tempo de analisar os fatos por qualquer que fosse a ótica.

— Eu sequer atentei para isso...

Não houve mais necessidade de palavras. A distância entre seus rostos e corpos foi, aos poucos, se extinguindo. Seus lábios se encontram em um beijo terno, doce e afável. Um beijo que irradiava tanto a pureza de seu afeto, quanto o êxtase de sua paixão. Ambos foram arrebatados pelo desejo, movidos por nada além do que seus corpos almejavam um do outro.

Nenhum deles deixou o apartamento naquele dia. E a noite foi cálida, repleta de esperanças renovadas, de sussurros exaltados e de um intenso ardor.


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Notas finais do capítulo

E, bem... Tem Skyeward no próximo... Não que eu curta, mas é essencial para a história.



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