Amor nos Tempos da HYDRA escrita por DrixySB


Capítulo 14
Capítulo 14


Notas iniciais do capítulo

Um breve diálogo entre o Doctor e Hope, a filha de Mack, culmina em uma discussão envolvendo Coulson e Ward.



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ASSASSINO

A palavra, em letras garrafais vermelhas, foi grafada manualmente em sua foto, sobre seu rosto.

Era um livro de história que ele tinha encontrado em um dos alojamentos que servia de abrigo a diversos civis, enquanto caminhava de modo incerto pela base militar subterrânea da resistência.

— Os livros de história e os telejornais deveriam se preocupar em mostrar os fatos para as pessoas. Não escondê-los – a voz penetrou seus ouvidos, o surpreendendo. Fitz girou o corpo, encontrando a garotinha que dias atrás havia sido interrogada na HYDRA. A filha de um dos novos integrantes da resistência – no entanto, não é isso que eles fazem. A verdade é enterrada. E somos ensinados a acreditar em mentiras e a falar mentiras.

Fitz a observou se aproximar, estático.

— Esse é meu livro de história – disse, apontando para o objeto encadernado nas mãos de Fitz.

— Foi você quem escreveu isso? – ele perguntou, referindo-se à inscrição ASSASSINO sobre seu rosto na fotografia que havia tirado ao lado de seu pai, poucos anos atrás. Aquela se tratava de uma edição revisada da história oficial. Não havia rispidez ou gravidade no tom de voz que ele empregou para se dirigir à garotinha. E, ainda que houvesse, ela parecia suficientemente destemida a ponto de se aproximar e encará-lo olhos nos olhos, a cabeça sempre erguida.

— Foi meu pai – tornou Hope, resoluta, sem se intimidar – ele quer que eu saiba a verdade que não está nos livros de história. Que não me limite a repetir feito um papagaio as mentiras que vocês vem contando há anos.

Ele a encarava admirado.

— Sabe... – ela arqueou as sobrancelhas – eu não tenho medo de você. Nem meu pai. Somente covardes se aliam à Hydra. É fácil estar do lado de quem detém o poder. Se aliar à resistência, tentar lutar pelo que é certo... Isso, sim, requer coragem.

— Quantos anos você tem? – indagou, genuinamente curioso.

— Dez!

— Você é muito inteligente para a sua idade.

A garotinha sorriu com astúcia.

— Dizem que você também era muito inteligente quando tinha minha idade. Pena que usou sua inteligência de modo errado e criminoso.

O remorso alojado em seu peito pareceu adquirir ainda mais peso, sobrepujando seu coração.

— Hey! – gritou Mack, vindo pelo corredor a passos largos e apressados, com Jemma e Ward em seu encalço – fique longe dela, seu monstro! – exclamou tomado por uma cólera repentina ao ver aquele homem tão perto de sua filha. O mesmo homem que apontara uma arma para a cabeça dela dias atrás. Ele tomou Hope em seus braços, afastando-a do Doctor.

— Eu não ia machucá-la – disse Fitz com serenidade.

— Mas que diabos está fazendo caminhando livremente pela base? Eu não tinha dito que ficasse preso e algemado? – berrou Ward, virando-se para encarar Jemma – Você passou de todos os limites, garota!

— Não me chame de garota— tornou Jemma, contrariada – e não fui eu quem o soltei. Ele ainda estava preso hoje, de madrugada, quando deixei o alojamento.

— Realmente, não foi ela – disse Coulson, surgindo no corredor ladeado por Daisy e May – fui eu.

— Onde estava com a cabeça? – Ward se aproximou do professor de história com uma expressão furiosa, de quem poderia aniquilar quem quer atravessasse seu caminho – deixar esse cara solto?

— Ele se entregou, Ward – rebateu Coulson, elevando a voz – pensei que poderia utilizar suas habilidades para fazer reparos nas armas dos nossos homens.

Desta vez, Grant deu uma risada sádica. Alta.

— Deixou que esse maníaco, assassino, colocasse as mãos nas armas dos nossos homens?

— Ele passou a manhã fazendo isso. Estão devidamente consertadas, calibradas, ajustadas, aprimoradas e prontas para serem utilizadas em uma guerra que a resistência é capaz de vencer – respondeu com um semblante plácido e um ar de quem se divertia diante da cólera de seu interlocutor.

— Você é idiota, por acaso? – vociferou Ward.

— Hey! Você pode falar assim com quem quiser, mas não com o Coulson – tornou Daisy, irritada pelo modo como ele se dirigia àquele que ela sempre conheceu como o diretor da SHIELD e o que representava o mais próximo de uma figura paterna em sua vida.

Grant respirou fundo, procurando se acalmar. Os demais mantinham-se inertes. Não havia o que dizer, nem como agir naquela situação.

— Daisy... Este homem confiou nossas armas a um psicopata!

— Coulson sabe o que faz. Ele deve ter um bom motivo... E vai nos explicar, não vai?

Phil olhou na direção de Fitz, suspirando gravemente.

— Algo me dizia para soltá-lo. Algo me dizia que, já que ele está aqui, se rendendo... Não deveríamos desperdiçar seus talentos. Ao contrário, deveríamos usá-los de modo que nos ajudasse a vencer esta guerra. Sabe? Tirar algum proveito disso.

Ward balançou a cabeça de maneira frenética, ainda incrédulo.

— Até ontem este homem não mediria esforços para aniquilar a resistência. Ele construiu um império embasado pela crueldade e vilania.

— E assim como eu, ele está aqui agora – May interrompeu as palavras de Ward, a voz branda e monocórdica como de costume.

— Não. Eu não posso acreditar. Você dizendo isso, May? - tornou ele, incrédulo.

— Ward, encare os fatos. A situação dele não é diferente da minha.

— Estamos falando de um soldado que seguia as regras devido a um arrependimento do passado e um psicopata para quem matar é o mesmo que fazer três refeições diárias. Não podemos comparar as duas situações.

May respirou fundo, sem dizer mais nada. Era inútil de qualquer modo.

— Eu sei que está irritado, Ward – Coulson tornou a falar – mas...

— Alguma coisa do além te disse para confiar neste homem? – Grant o cortou, a ironia se destacando em sua voz.

— Ele não está portando nenhuma das armas que consertou, está?

— Mas você colocou nossas vidas em risco...

— Ele tinha a minha arma e a do Hunter apontadas para a sua cabeça enquanto fazia o serviço. Não colocamos a vida de nenhum dos nossos em risco.

De súbito, as palavras escaparam a Ward.

— Como disse, só achei que era desperdício não utilizar os talentos dele. Não importa que universo seja. Não posso deixar a HYDRA ganhar. Nem que para isso tenha de tomar medidas drásticas.

O agente o encarava sem reação, levemente desconcertado.

Coulson olhou de um para outro. De Grant para o Doctor.

— Engraçado... Em pensar que poderíamos ser um bom time.

— De jeito nenhum – a ira de Ward retornou – eu jamais trabalharia com esse cara – disse apontando na direção de Fitz que, de braços cruzados, observava toda a cena ocorrer ao seu redor com total apatia. Pelo menos, aparentemente – ele é do tipo que nos trairia no meio da noite. Podíamos estar tomando cerveja em um dia, comemorando mais uma conquista da SHIELD e, no outro, estaríamos no fundo do mar, servindo de comida aos peixes, tudo por ação desse cara.

Daisy tentou morder os lábios, na tentativa de conter o riso, mas seus esforços foram infrutíferos. De modo que uma gargalhada galhofeira se desprendeu de sua garganta. Todos, exceto por Jemma, a fitaram perplexos, sem entender de que diabos ela estava rindo.

Jemma revirou os olhos e cruzou os braços em frente ao corpo, tão enfurecida quanto perturbada pela risada da amiga.

— Não tem graça, Daisy. Isso é apenas... Muito trágico. E absurdo. E ridículo – lágrimas de raiva ameaçavam turvar seus olhos.

— Me desculpa, Jemma. Eu não queria rir, mas isso é tudo muito... Não dá! É como você disse. Absurdo e ridículo – agora ela tornou o olhar na direção de Ward que a encarava com olhos levemente arregalados – sério, às vezes tenho a impressão de que somos personagens de uma sitcom e, alguém em algum lugar, deve estar ouvindo as risadas ao fundo enquanto nos assiste. Isso não é possível. A comédia do mundo do contrário. Esse deveria ser o nome.

— Daisy... – um lampejo de compreensão atravessou subitamente o semblante de Ward – se você está falando do que estou pensando... Eu já disse que eu não sou aquele...

— Quer saber? – Daisy o interrompeu, jogando as mãos para cima em sinal de desistência – esquece! Se eu não sair desse lugar, eu tenho certeza que vou enlouquecer. E minha paranoia será irreversível – concluiu, dando as costas ao restante, e caminhando pelo corredor a passos largos e resolutos.

Ainda sem compreender de fato o que havia acabado de se desenrolar por ali, os demais foram se dispersando, as palavras de Daisy ecoando em suas cabeças.

— Sair de onde, papai? Do que a Daisy estava falando? – inquiriu Hope, ainda no colo de Mack, enquanto ele se dirigia para a garagem.

— Se eu soubesse, eu te falaria, Sparkplug. Vamos ver o Quinjet.

— Yay! – ela comemorou, esquecendo-se momentaneamente do que havia acabado de ocorrer.

Ward encarou Fitz e Jemma uma última vez com uma expressão austera e então se afastou, sem dizer mais nenhuma palavra.

A bioquímica se aproximou de Fitz.

— Então, esteve ocupado nesta manhã? – ela perguntou com uma voz frágil, quase um sussurro.

Ele soltou o fôlego por entre os dentes. Sequer havia reparado que suspendera a respiração.

— Foi uma ideia que assaltou Coulson no meio da noite...

— Eu entendo – Jemma disse, balançando a cabeça.

— Pois eu não. Gostaria de me explicar? – ele tornou, confuso.

— Tudo vai fazer sentido quando atravessarmos o portal.

— Eu vou poder atravessar?

— Você quer isso? Quer deixar esse mundo? – ela inquiriu, nervosamente.

Fitz ponderou por um momento. Pensando na vida que havia construído por ali. Em todo o seu poder, suas conquistas e realizações. No império que havia erguido. Um império, como dizia Ward, cujas fundações eram a crueldade e a vilania. Pensou no tempo que estivera ao lado de Ophelia. O quanto sua frieza e calculismo contrastavam com a doçura e o calor de Jemma. Pensou nas tardes jogando golfe com políticos e jornalistas corruptos como Sunil Bakshi, a fim de criar narrativas que sustentassem a propaganda positiva de uma organização fascista, nazista e subversiva como a Hydra. Lembrou-se do pai para quem havia comprado uma mansão. O mesmo que quebrara seu braço quando ele tinha apenas oito anos. Lembrou-se de como nunca foi feliz. Até porque a felicidade não importava para ele até poucos dias atrás. O que importava era o poder, o respeito adquirido e conquistado através do medo que infligiu à sociedade que governava... Pensou nas segundas chances, na oportunidade de seguir por outro caminho, de tomar outro rumo, da vida que poderia ter...

Sua resposta estava ali. Diante de si.


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