Amor nos Tempos da HYDRA escrita por DrixySB
Notas iniciais do capítulo
Barbara procura esclarecer para Jemma e Daisy como se deu a ida do Doctor para a base. E, finalmente, fica frente a frente com o ex-marido Hunter.
— Confesso que fui pega de surpresa por sua atitude. Mas era visível que não se tratava de uma emboscada. Ele estava em posição vulnerável – Barbara suspirou antes de concluir seu relato – portanto, por mais incrível que possa parecer, resolvi lhe dar o benefício da dúvida. E, no final das contas, eu estava certa.
— Acho que faz sentido. Isto é, ele tinha as coordenadas, mas não podia simplesmente vir para cá... Seria morto no ato de sua chegada por algum dos agentes que vigiam a entrada da base. E antes mesmo de proferir qualquer palavra – Jemma imprimiu certa austeridade em seu tom de voz e não tardou a olhar na direção de Daisy.
Um tanto encabulada e com os braços cruzados em frente ao corpo, a inumana assentiu.
As três se encontravam na sala que costumava servir de escritório para Mace. Havia uma mesa abarrotada de papéis contendo fichas, informações, estratégias e protocolos de missões anteriores.
— Ele precisava de uma garantia de que o deixariam entrar... – Barbara recomeçou.
— E nada melhor do que uma agente da SHIELD para trazê-lo até aqui – completou Daisy.
— Exato.
— Como ele descobriu sobre você?
Barbara encolheu os ombros diante da pergunta da bioquímica.
— Quem sabe? Ele apenas me disse que foi um palpite certeiro. Depois me pediu para trazê-lo até a base. Eu o alertei que não conhecia a localização. Qual não foi a minha surpresa quando ele me mostrou as coordenadas no tablet... Foi, sem dúvida, algo inesperado e chocante – ela fez uma pausa, fixando o olhar em Jemma e, então, prosseguiu – ele me disse que Jemma Simmons tinha lhe informado a localização. Fiquei ainda mais surpresa por se tratar da subversiva que, até poucos dias atrás, ele perseguia e demonizava com tanta energia.
Jemma devolveu seu olhar com uma expressão insondável.
— Durante todo o caminho até aqui, enquanto eu tentava compreender suas motivações e verbalizava minha opinião sobre não se tratar da ideia mais brilhante ele querer adentrar a base da SHIELD... O Doctor me assegurou que, assim que a víssemos, tudo seria esclarecido. Ainda é confuso, mas acho que consigo compreender de certa forma. Existe um sentimento poderoso entre vocês.
Os cantos dos lábios da bioquímica se curvaram para cima, formando um sorriso tímido e modesto em seu rosto.
— Muito obrigada, Bobbi. Por trazê-lo até a base e... Bem, por levá-lo até o alojamento quando ninguém mais, além de Coulson, se dispôs a fazê-lo.
— Não tem que agradecer – ela sorriu, esfuziante – Bobbi... É um apelido que eu não ouvia há muito tempo. De fato, só o meu ex-marido me chamava assim.
Daisy e Jemma se entreolharam. A inumana ergueu uma sobrancelha ao fitar sua amiga, como se lhe recordasse silenciosamente que deveriam pensar melhor e tomar cuidado na escolha de suas palavras. Isso estava confundindo aqueles que não tinham ideia de suas reais naturezas e de que aquela se tratava de uma realidade simulada.
De repente, o sorriso de Barbara se desfez, cedendo espaço a um semblante grave quando desviou o olhar de Jemma e Daisy e mirou no corredor da base. As outras duas seguiram seu olhar, avistando Hunter no corredor. Aparentemente, ele iria entrar na sala de Mace, mas deu meia volta ao perceber que a ex-esposa estava por ali.
— Com licença – disse Bobbi, rumando para fora do escritório e seguindo os passos de Hunter.
— Tem coisas que nunca mudam – comentou Daisy assim que a agente abandonou a sala.
*
— Hunter – Barbara o chamou enquanto ele procurava se distanciar, andando apressadamente pelo corredor – Já chega de fugir, Hunter! Ainda não conversamos.
— Não tenho nada para conversar com uma traidora – ele girou nos calcanhares e passou por Barbara com a única intenção de esbarrar nela sem lançar um olhar em sua direção.
Uma interjeição de surpresa escapou de sua garganta ao sentir a colisão do ombro dele com o seu braço.
— Pare com isso e fale comigo!
— Eu estou ocupado – ele deu meia-volta novamente e andou em sua direção, ainda sem encará-la, tencionando esbarrar nela outra vez.
Ela o parou, colocando-se diante do ex-marido e o segurando pelos ombros.
— Deixe-me passar! Eu tenho mais o que fazer.
— Não seja ridículo. Está andando pra lá e pra cá nesse corredor, sem nem saber disfarçar que não tem para onde ir. Já é hora de parar com essa infantilidade!
Ele a fitou com um semblante austero.
— Antes infantil do que traidora – rebateu.
— Vai me explicar o que há com você? Passa a vida me chamando de traidora e até agora eu não entendi… - ela soltou seus braços, dando alguns passos para trás, afastando-se.
— Deve ser porque a Hydra engoliu alguns dos seus neurônios. Eu não lhe devo explicações. Você sabe muito bem o que fez.
Ela jogou as mãos para cima, incrédula.
— Não. Não é possível que você e Tripplet estejam mesmo acreditando que eu mudei de lado. Que eu seria fiel à ideologia da Hydra.
— Você trouxe o maníaco para cá. Não seria nenhuma surpresa se isso tudo não passasse de um plano para sabotar a resistência. Não sei como te deixam andar livremente por aí.
— Não seja estúpido. Era um disfarce! – ela vociferou – eu não gostava do que eu fazia, mas tinha de fazer em ordem de proteger o meu disfarce e o que restou da SHIELD. Não pense que gostei, nem por um minuto, de ferir pessoas inocentes. Eu machuquei alguns inumanos, sim. Mas jamais cheguei a um grau extremo de violência e crueldade como o Doctor. Eu fui prudente.
— E ainda assim o trouxe para cá.
— Ele está preso! Veio para se render – afirmou, categórica – e, no mais, não tem nada a dizer sobre o seu amigo Ward ter usado a força bruta inúmeras vezes contra possíveis inumanos? Só a mim que você dirige essas suas palavras gentis?
— Ward não estava lá, dando de ombros quando Kara Palamas foi torturada e morta – engoliu em seco antes de continuar – e não se envolveu intimamente com Clint Barton.
Barbara apertou os olhos, massageando a ponte do nariz com o polegar e o indicador.
— É isso, não é? – o volume de sua voz diminuiu consideravelmente – todo esse rancor é proveniente do meu envolvimento com Clint – agora ela o encarava de modo penetrante.
O semblante de Hunter, contudo, permaneceu inescrutável.
— Não se restringe a isso.
— Você não precisa continuar escondendo o jogo.
— Escondendo? – tornou ele, ofendido.
— Olha – ela respirou fundo, procurando escolher com sabedoria suas palavras – sobre Kara... Eu lamento mesmo. Mas não pude ajudá-la. Eu fui vê-la antes de ser executada. E ela mesma me disse para prosseguir com meu disfarce. Que era melhor perder um soldado ao invés de dois. Que a resistência já contava com poucos membros e não poderíamos continuar perdendo nossos agentes. Eu tentei... Queria dar um jeito de salvá-la, mas no final das contas, ela estava certa. Não havia como ajudá-la sem acabar entregando a minha própria cabeça. Mesmo em seus derradeiros momentos, ela pensou estrategicamente. A ideia era garantir que a Hydra tivesse confiança em mim.
Hunter sacudiu a cabeça, assentindo. Uma mescla de ironia e hostilidade se destacando em sua expressão.
— Kara mostrou bravura até o fim, eu entendo. Mas você, Barbara... A ideia era garantir que a Hydra tivesse confiança em você? – ele repetiu suas palavras, o cenho franzido, o tom de voz hostil – e, para isso, precisou dormir com Barton?
Ela entreabriu os lábios, uma ligeira expressão de espanto tomando conta de sua face.
— Hunter... Acha mesmo que senti algum prazer em fazer isso?
Os olhos de seu ex-marido lacrimejavam. Ela não sabia dizer se eram de raiva, tristeza ou decepção. Mas era provável que se tratasse das três alternativas.
— Espero que não! – a voz saiu entrecortada. O mercenário se odiou por isso, por não conseguir evitar que sua voz quebrasse enquanto pronunciava aquela sentença.
Barbara sacudiu a cabeça de um lado para o outro, sem olhar para Hunter.
— Clint era o alvo mais fácil. Ele é leal à Hydra...
— E vocês se conhecem desde a época da Academia, não? Seu ex-namorado e tudo mais... Só precisou fazê-lo relembrar dos velhos tempos – ele comentou com visível sarcasmo, já recuperado de seu momento de fragilidade.
— Não seja tão severo comigo. Mace, Ward e eu concordamos que a alternativa mais fácil era me aproximar de Barton. Recuperar a cumplicidade que tivemos um dia. Mas você me ofende quando recorre à retórica sexista de que usei meu corpo para ganhar sua total confiança. Eu usei a minha inteligência. Como de costume – esbravejou – Infelizmente, o que aconteceu mais tarde entre nós, acabou se tornando uma consequência. Barton não é uma má pessoa. Ele é como May. Um soldado que segue as ordens.
— Um pau-mandado – tornou, ríspido e insolente.
Ela deu de ombros.
— Como preferir.
— Você tem sentimentos por ele, não tem? – Hunter manteve o rosto duro e impassível feito pedra, fingindo não se importar com a resposta.
A agente Morse engoliu em seco.
— Como eu disse, não acho que ele seja uma má pessoa. Só fez uma escolha errada...
— Não respondeu à minha pergunta.
Barbara olhou no fundo de seus olhos antes de tornar a falar.
— Não sinto por ele o que eu sinto por você – sua voz caiu para um sussurro ao final da sentença, mas havia segurança em seu tom.
A expressão no rosto do mercenário se alterou sem que ele mesmo percebesse. De austera para comovida.
— Meu Deus, Barbara – disse ele, sentindo um repentino nó se formar em sua garganta – não sabe o que eu passei durante todo esse tempo em que esteve infiltrada.
— Eu entendo – ela baixou o olhar, convencida de que o sofrimento que lhe havia infligido não cessaria tão cedo – talvez fosse melhor para você que eu jamais tivesse regressado. Que eu realmente me tornasse leal à Hydra.
— Não! – ele foi rápido em contestar – Eu tinha medo que você não retornasse. Que se ferisse de tal maneira que nunca mais voltasse a ser a Barbara que eu sempre conheci. Quando soube o que houve com Kara Palamas... Eu tive medo que o mesmo acontecesse com você e fiquei me torturando, imaginando como seria. Por isso meu desdém... A minha raiva, meu desprezo quando você tentava me contatar e quando chegou aqui, hoje – ele fez uma pausa, dando um longo suspiro antes de prosseguir – eu queria tirar você da minha vida definitivamente. Assim não seria tão doloroso te perder.
A sinceridade na voz e na expressão que ele portava em seu rosto era tocante. Barbara o fitou com um olhar enternecido antes de se aproximar. Os braços de Hunter foram receptivos a ela. Com os olhos cerrados, a agente encostou sua testa na dele e ambos permaneceram por alguns segundos em silêncio, apenas ouvindo o som de suas respectivas respirações.
— Sempre te falei para não morrer lá fora. Fico feliz que tenha seguido meu conselho – sussurou Hunter, quebrando o silêncio.
Barbara apenas sorriu, ainda apreciando a sensação de ter os braços dele ao seu redor. Uma sensação que há muito não experimentava.
*
Da sala que antes pertencera a Mace, Jemma, recostada à mesa e de braços cruzados, espiava toda a cena se desenrolar no corredor.
— Não sente falta disso? – indagou com um certo ar de saudosismo.
Daisy levantou o olhar dos papéis que consultava – que continham as coordenadas cedidas por Radcliffe para a saída daquele mundo – a fim de compreender a que exatamente Jemma se referia.
— Bobbi e Hunter entre tapas e beijos? Não mesmo.
A bioquímica revirou os olhos.
— O que eu quis dizer é se não sente falta dos nossos amigos, Daisy.
— Sim – a inumana suspirou, nostálgica – seria maravilhoso se pudéssemos construir um mundo novo usando somente as coisas boas deste e do mundo real. E eliminando tudo mais que aconteceu de ruim em ambos.
Jemma assumiu uma expressão reflexiva por um breve momento, ponderando aquele raciocínio.
— Você escolheria esse Ward.
Daisy, que novamente havia afundado o rosto nos mapas que levavam ao suposto fim daquele mundo, ergueu o olhar para encarar sua amiga com alguma surpresa, as pupilas ligeiramente dilatadas. Então cerrou os olhos, sacudindo a cabeça como se espantasse seus pensamentos para bem longe.
— Nah, temos de viver a realidade, ter os pés no chão. Como disse um sábio uma vez, não vale a penal viver sonhando e se esquecer de viver.
— Foi o Dumbledore quem disse isso. E ele foi criado por J.K. Rowling. Sendo assim, a frase é de uma sábia.
— Tanto faz – foi a vez de a inumana rolar os olhos diante daquela correção – o fato é que devemos aceitar. Mas vale uma realidade problemática do que um mundo de ilusão, onde nada é legítimo – ela pausou, deixando os papéis de lado por um instante e fixando seu olhar em Jemma – Mas seja qual for o universo, real ou alternativo, espero ter você sempre ao meu lado. Acho que não sobreviveria nem meia hora sem minha parceira de crime.
Jemma sorriu mediante o comentário de sua melhor amiga e se aproximou para lhe dar um abraço que foi prontamente correspondido. Daisy apertou os olhos, também com um sorriso no rosto, sentindo uma inegável sensação de lar e familiaridade naquele simples gesto.
— Atrapalho algo?
Elas se afastaram repentinamente ao ouvir a voz de Ward. Ele se encontrava parado na soleira da porta, o rosto inexpressivo.
— Por favor, Ward! Sem mais comentários hostis sobre o Doctor. Jemma já sofreu o suficiente – advertiu Daisy, colocando-se na frente de Simmons como se quisesse protegê-la. O ato foi involuntário, tendo, provavelmente, passado despercebido pela inumana.
— Não ia fazer um comentário maldoso. Só perguntar por que ela não está salvaguardando a cela do nosso mártir – tornou Ward, irônico, tentando disfarçar o quão enciumado estava ao ver que Jemma importava mais para Daisy do que ele próprio.
— Fitz está desacordado, lembra-se? Por culpa sua.
Um sorriso jocoso se formou em seu rosto antes de ele responder.
— Culpa minha, não. Foi o Hunter.
— Por ordens suas – tornou Jemma com rispidez – agora, se me dão licença, eu vou ver como ele está.
Ela passou por Ward sem lançar um último olhar em sua direção e fazendo o possível para sequer encostar nele ao sair da sala.
Após alguns segundos de silêncio, ele perguntou.
— Já está tarde. Você não quer dormir?
— Eu já vou – respondeu Daisy.
— Está irritada comigo?
— Vamos conversar em outra ocasião, agora não é o momento...
— E quando vai ser?
— Depois conversamos, Ward – respondeu de modo terminante.
— Depois. Depois você nem vai estar mais neste mundo. Então para que se preocupar, não é? - comentou, de modo seco.
Ela abriu a boca para dizer algo, mas ele já tinha dado meia-volta, deixando-a sozinha na sala.
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