Obscuro escrita por Helena Lourenço


Capítulo 2
Capitulo I - Convivência


Notas iniciais do capítulo



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Capitulo I
       Convivência

**Renesmee**

 

  Eu estava assustada e com medo do que meus pais podiam fazer se descobrissem minha gravidez. Tinha medo do que Edward faria, tinha medo de encará-lo. E, no entanto, eu fugi. Fui covarde, eu sei. Deveria ter ficado e enfrentado tudo de frente. Se eles se negassem a aceitar ou, pelo inferno, me forçarem a caçar com Jacob, eu poderia finalmente te um real motivo para fugir; mas, eu nem tentei.

   Minha barriga já estava consideravelmente grande quando o avião pousou em Florença. O Volturi estava sério ao meu lado, concentrado em seu livro. Virei o rosto, olhando para as árvores e flores que cercavam o aeroporto. Todos saíram. Alec Volturi finalmente fechou o livro e indicou que saíssemos também. 

  Não tínhamos malas. O Volturi não usava nada a não ser seu terno preto e o manto da guarda Volturi. Tudo que tínhamos eram coisas que tinha comprado para o bebê, todas colocadas dentro de uma mochila que eu carregava nas costas. A roupa que usava deixava minha barriga à mostra, eu costumava passar a maior parte do tempo afagando minha barriga de aparentemente seis/sete meses.

  Na sala de desembarque, Jane Volturi esperava. Ela estava com a expressão neutra, tal como seu irmão, mas eu jurava que vi um vislumbre de surpresa em seus olhos quando me viu ao lado de seu irmão.

O Volturi cumprimentou a irmã com um beijo na bochecha.

  — Irmão, não me diga que foi por isso que ficou essas semanas afastado — Jane exclamou, olhando cética de seu irmão para mim — e ainda engravidou a criança. Alec, alguém lhe contou que isso é pedofilia? A Cullen só tem sete anos.

Volturi suspirou.

— O bebê não...

— Sim, Jane — Volturi me interrompeu quando eu ia falar que o bebê não era de Alec. Olhei para ele. Ele não tinha mudado nenhum músculo de sua face enquanto olhava para sua irmã. — agora, podemos ir para o Palazzo? Preciso falar com os mestres.

Ele pegou meu braço, me arrastando para fora do aeroporto. Jane seguia na frente, mas eu tinha certeza que ela estava com uma pulga atrás da orelha. A mão do Volturi tocava minha pele, então resolvi questioná-lo.

Por que me atrapalhou? E, por que confirmou o que ela disse?

Ele apertou mais ainda meu braço.

— Apenas fique calada — sussurrou.

 Bufei.

   Olhei para a forma impotente de Jane Volturi a nossa frente. Seus passos eram seguros e firmes, suas mãos jogadas na lateral de seu corpo não a fazia menos assustadora, por outro lado – era como se ela pudesse machucar qualquer um sem usar as mãos. Bem, na realidade ela podia. O vestido verde escuro descia por seu corpo pequeno formando ondas em volta de si. O manto Volturi caindo por suas costas.

 Sua irmã me assusta.

Falei para ele.

O Volturi me olhou.

— Deveria ter medo de mim, senhorita, não de minha irmã.

Senhora.

Desde que aceitei a ajuda de Alec, ele não me chamava de outra coisa a não ser senhorita. Como se estivéssemos no século XIX.

Revirei os olhos.

Resolvi entrar na brincadeira dele.

— E por que eu deveria ter medo de você? — falei — senhor.

  E, pela primeira vez em todas essas duas semanas que passamos juntos, na França, onde o Volturi tinha uma casa de campo, ele sorriu.

***

—Então esse foi o assunto urgente que tinha que tratar na França — comentou Aro. Seu sorriso assustador ganhando vida em seu rosto de pedra. — Fascinante!

— Sem duvida, fascinante. — Caius olhou-me cético — Cullen, o que seus pais acham disso? — ele apontou para minha barriga. Instintivamente coloquei minha mãe sobre ela.

— Eles não acham nada. — falei, apertando, involuntariamente, a manga do terno de Alec — eles não sabem.

— Não sabem. — Marcus parecia encantado, pois não para de olhar para minha barriga. Um brilho brincava em seus olhos. — irmão — ele estendeu a mão direita para Aro, que viu seu maior tesouro nos pensamentos de Marcus, pois ele sorria.

— Acho plausível — ele disse — Renesmee, querida, mas acho que nesse estado você precisa do máximo de conforto possível. Alec leve-a para a Casa, sim? Deixe nossa convidada o mais confortável possível.

Alec fez uma reverência.

— Sim, mestre.

  A ‘Casa’ era uma chalé atrás do Palazzo. Na verdade, eram varias ‘Casas’. Uma seguida da outra, espalhadas pela floresta que cercava o castelo. Contei, ao todo, seis grandes casas. Passamos por todas. Eram todas iguais, a única coisa que as diferenciava era o material usado para distinguir seus donos.

Era uma ordem.

A primeira casa era de Jane.

Não li o nome de todas as casas, mas reparei bem na de Alec. Dois andares. Pintada de bege e revestida com madeira polida. Tinha um caminho de pedras vermelhas do portão até a entrada, onde o nome “Alec” era entalhado a ouro.

Fiquei imaginando o quão rico os Volturi eram.

Entramos.

— Seu quarto é o primeiro virando à esquerda. — disse, virando para sair da Casa — ah, e, um aviso — virou-se para mim. Seus olhos vermelhos brilhando de raiva? Não sabia — por nenhuma hipótese, entre no ultimo quarto do corredor. Entendeu? Nenhuma hipótese. É o único lugar que você não pode entrar.

Acenei com a cabeça.

Ele virou-se e saiu.

Subi para o andar de cima, entrando no quarto que ele indicou como meu. Não sem antes encarar a porta no fim do corredor. Diferente das outras, aquela porta era de madeira velha, enquanto as outras eram de mogno. Suspirei.

Mogno.

Papai costumava dizer que os cabelos de mamãe eram de um castanho mogno, escuro e firme. Eu tinha herdado mais do cabelo de mamãe, apesar de meus cabelos terem um fundo cobre, como os de meu pai. Meu coração doeu ao pensar neles e logo veio o fato: eles deveriam estar loucos atrás de mim.

  Há duas semanas eu não dou noticias e por mais que quisesse estar com eles, o medo era maior. Já tinha feito a besteira de sair de casa com um Volturi. Talvez nem me perdoassem se descobrissem. Mas, eu tinha que mostrar que estava bem. De algum modo. Talvez uma carta.

Falaria com Alec na manhã seguinte.

 Vencida pelo sono, resolvi que o melhor, pelo menos por hora, era deitar e dormir.

***

Acordei com batidas insistentes na porta do quarto. Abri os olhos, um depois o outro, para apenas ver Alec sentado na poltrona ao lado da janela, brilhando a luz do sol.

— Como entrou? Pensei que tivesse fechado a porta.

Sentei na cama.

— E fechou. — ele tinha aquela expressão neutra que às vezes me fazia ter vontade de gritar com ele — mas esqueceu-se que essa casa é minha? Tenho todas as chaves. E você esqueceu a janela.

Censurei-me mentalmente.

  Senti um cheio diferente. Olhei para a beirada da cama, onde uma bandeja de comida continha as mais diversas comidas. O que mais chamou minha atenção foi uma jarra de suco de manga – minha fruta favorita. E, outra de sangue. Humano. Suspirei.

— Sangue humano? Achei que tivesse deixado claro minhas preferências.

Ele riu.

— Sim, deixou. — respondeu ele, dando de ombros — mas Aro acha que será melhor, pelo menos enquanto estiver grávida. Sabe, sua mãe bebeu sangue humano enquanto estava grávida de você. Seja uma garota boazinha e faça o mesmo.

Olhei de cara fechada para ele. Mas ele olhou-me quem diz: “pode olhar o quanto quiser, eu não ligo”.

Bufei.

— Que seja.

Enchi o copo com o suco e peguei um pedaço de bolo.

— Vejo que gostou — comentou ele, orgulho — Sulpicia quem fez.

— Sulpicia? Tipo, a esposa de Aro?

— A própria.

Mexi as sobrancelhas, impressionada.

 Continuei a comer, pensando que meu filho teria a fome dos lobos. Sulpicia estaria perdida.

— Alec.

— Diga.

Encarei-o.

— Me sinto culpada por fugir de casa.

— Que voltar?

— Não, isso não.

— Então...?

— Quero apenas avisá-los que estou viva. — falei — tem papel e caneta?

— Vai escrever uma carta? — ele arqueou a sobrancelha e um brilho de ironia brincou em seus olhos vermelhos. — Depois eu que sou antiquado — o Volturi levantou-se e saiu do quarto. Supus que ele fosse buscar – ou procurar – papel. Aproveitei para comer mais a vontade. — aqui, senhorita.

Certo, pensei. Era agora que ele não pararia de me chamar assim.

Suspirei.

Deixei o pedaço de bolo em cima da bandeja e comecei a martelar o que eu escreveria. Queria família. Perdoe-me por fugir. Estou viva. Renesmee. Não. Parecia aqueles bilhetes que Bella deixava quando ia caçar.

Pensei mais.

E, por fim, acabei rabiscando algumas palavras.

Fui estúpida. Sei disso.
E, peço o perdão de vocês.
Talvez eu nem mereça o perdão de vocês. Mas, tudo o que eu posso dizer, por hora, é que estou bem e me alimentado – está para vovó Esme, especialmente. Estou sobre um teto seguro e com ajuda dos moradores que aqui vivem. Não se preocupem. – Apesar de saber que isso é quase impossível.

Eu peço que me entendam. Tive meus motivos, um dia eu conto a vocês.

Prometo.

Até a eternidade.

Renesmee Cullen.

***

*Alguns anos depois*

 

    Anne saltou da pedra que envolvia a cachoeira e pousou ao chão com graciosidade.

  Ela cambaleou para frente, apoiando uma única perna ao chão, usando a outra para o equilibro de seu corpo – inteligente, admito. Ela mirou o alvo.

1, 2, 3...

 A flecha atravessou o rio e acertou, quase, o centro do alvo. Ela suspirou pesadamente, endireitando o corpo.

  Aproveitando a deixa da leve distração de Anne, Felix agarrou-a pelas costas, fazendo-a cair ao chão. Ele passou cada uma de suas grandes pernas pelo corpo magro de Anne, que respirava profundamente.

  Ela deixou seu corpo relaxar no chão.

— Vai desistir? — provocou Felix. Anne o olhou de forma mortal com seus olhos negros. Ela deu um sorriso de canto, e ergueu a perna esquerda, as costas de Felix, chutando-o com força suficiente para desorientá-lo.

— Não, não vou — respondeu ela, já em pé, olhando para Felix que bufava. Ela correu em direção a ele, saltando quando todos pensavam que ia atacar. Felix olhou para os lados, mas Anne tinha desaparecido de suas vistas. E, no instante seguinte, ela estava em seus ombros. — Se eu fosse seu inimigo, você estaria morto agora, grandão — ela sussurrou no ouvido dele, antes de descer para o chão.

— Muito bem, Anne — eu disse, aproximando-me de minha filha. Ela sorriu vitoriosa para mim.

  Ela soltou os cabelos negros do rabo de cavalo, e retirou seu equipamento das costas. Ela me encarou, então eu pude ver o corte em seu lábio e em sua sobrancelha. Suspirei. Eu sabia que era necessário todo aquele treinamento, mas isso não queria dizer que eu queria ver minha filha ferida. 

— Mãe, a senhora viu como eu derrotei Felix? — ela me perguntou, animada, limpando as mãos sujas de lama em um pano que Fredie tinha lhe entregado. Ela sentou-se na mesa comigo, onde uma mesa de café-da-manhã fora preparada, pegando uma maçã.

— Vi sim, — respondi bebendo um pouco de suco — Alec ficará orgulhoso. — Mal vejo à hora dele chegar da missão — ela arrumou o guarda-sol, deixando o Sol de Volterra aquecer sua pele. Ela fechou os olhos, murmurando uma musica — queria ter ido com ele.
— Você é muito nova para missões, Anne — falei — você irá quando for mais velha.  — Vocês dizem isso desde que eu me lembro — arrumou o guarda-sol novamente — eu já tenho idade suficiente. Eu até derrotei Felix, um dos melhores guardas de Volterra.  — Eu sei, eu sei. — levantei da cadeira e servi um pouco do sangue para ela — beba. Vai se sentir melhor.  — Mãe, sangue animal é disgustoso — ela revirou os olhos, acenando para Fredie — traga uma daquelas bolsas de sangue que meu pai guarda no freezer da cozinha.
Revirei os olhos.  — Fredie não é seu escravo, Anne — eu disse, inclinando-me sobre a mesa.
—Bem, ele é criado de papai, então sim, ele é meu escravo — Fredie voltou com a bolsa de sangue dela. Anne rapidamente alcançou um copo, despejando todo o liquido ali — não é mesmo, Fredie?  Ele assentiu.

Fechei a cara.

— Pode ir, Fredie — disse para o vampiro, e ele afastou rapidamente — Anne, eu já lhe disse. Você é uma Volturi, mas...

— Mas os vampiros não são meus escravos — ela completou revirando os olhos — você já me falou isso diversas vezes. — ela se levantou, estalando a coluna — vou tomar um banho, eu estou fedendo a lama.

   Ela me beijou na bochecha, levantou-se e saiu, e eu só podia imaginar o quanto aquela menina parecia com Alec.


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Notas finais do capítulo

:)