Obscuro escrita por Helena Lourenço


Capítulo 11
Capitulo X - Indesejado


Notas iniciais do capítulo

Maior capítulo até agora, espero que gostem :)



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Capitulo X
        Indesejado

 

 

         Alec, Jane e eu saímos para a cidade, os gêmeos para alimentaram-se e eu para conseguir bolsas de sangue para abastecer o Castelo. Eles me deixaram na praça da cidade, cerca de cinco quilômetros de distancia do Castelo, apenas.

  Sentei em um banco e observei o lugar enquanto os gêmeos afastavam-se, em busca de suas vitimas. Eu tinha tentado fazer Alec virar vegetariano, alegando que aquilo era cruel. Mas ele apenas me respondeu que a crueldade fazia parte dele.

  Eu tinha que admitir que Alec até pudesse ser carinhoso comigo e Anne, mas com o resto do mundo... A máscara de vilão era sua maior diversão. E maior arma.

  As luzes da praça estavam parcialmente acesas. Algumas partes estavam completamente escuras, que nem mesmo minha visão mais avançada me permitia enxergar através das sombras dos becos. Mas eu ainda podia sentir a movimentação de algo.

Algo não. Alguém.

  Eu sabia que não seria Alec nem Jane, ambos tinham partido para a parte mais alta da rua, onde tinha mais gente a essa hora da noite. Como Alec já havia dito e repetido tantas vezes, eu me firmei no banco, sem qualquer intenção de ir atrás da movimentação.

 Mas isso não impediu que eles fizessem o mesmo comigo.

  Senti uma pancada na cabeça, não o suficiente para me fazer desmaiar, mas me deixou bem desorientada. Cai do banco, apoiando minhas mãos e joelhos no chão para não bater de cara no asfalto. Mãos foram colocadas em minha boca e eu fui erguida do chão.

   Tentei me libertar, mas meus braços e pernas estavam impossibilitados; de alguma forma, eu não conseguia move-los.  Estavam dormentes, duros. Fui carregada até um dos becos escuros da praça. Na minha mente, eu gritava por Alec.

  Fui colocada do que eu acho ser uma lata de lixo, e meu raptor se afastou. Meus olhos se ajustaram nas sombras, e eu pude ver sua forma. Ele era baixo, porém forte. Tinha cabelos loiros e olhos bem vermelhos.

Então a incredulidade tomou conta de mim, junto com a raiva.

Eu o conhecia.

Atrás dele, alguém riu e falou:

— Que bela aquisição para a longa lista de presentes que você me trouxe, Frederico. Estou lisonjeado. E tenho certeza que Caleb também ficará.

Engoli em seco, tentando mais uma vez gritar para Alec, por pensamento.

Caleb.

Aqueles eram lacaios de Caleb Meliorn.

— Quem são vocês? — consegui perguntar. Minha garganta havia se fechado, e estava seca. E tenho certeza que ambos podiam ouvir meu coração batendo freneticamente em meu peito.

O vampiro deu um passo à frente, rindo levemente. Consegui distinguir um cabelo escuro e só de onde ele estava.

— Eu esperava mais da companheira de Alec. — ele disse, soando falsamente decepcionado — Esperava que ela fosse mais feroz, pelo menos. Sei lá, mais xingamentos, ameaças de morte...

  Senti-me instantaneamente nauseada. Eu ainda não conseguia mexer nenhum dos meus membros. Minha cabeça agora latejava, cortesia da pancada que Federico tinha me dado.

  Então eu o sentir. O cheiro amadeirado que fazia anos eu não sentia e tinha feito questão de esquecer. Depois o rosnado. Não um rosnado de vampiro, mas o de um... Não.

  E então a forma avermelhada saltava das sombras atrás dos lacaios de Caleb.  Ouvi o grito surpreso dos vampiros, e então eu tinha o controle do meu corpo novamente e me ergui.

  Gritei por Alec outra vez, e dessa vez eu pude sentir quando minha suplica tinha sido ouvida. Mas um dos lacaios de Caleb, o que estava zombando de mim agora corria para fora do beco.

Apenas para encontrar com um Alec raivoso na entrada. Eu jamais vira Alec em ação; jamais quis ver. Mas não desviei o olhar quando Alec arrancou o braço dele. O vampiro gritou, mas Alec não ligou.

 Ao meu lado, os gritos de Frederico tinham cessado, e eu sabia que ele também olhava para Alec torturando o vampiro. Mas eu sentia seus olhares em mim também. Avaliando-me.

Suspirei.

Alec arrancou a cabeça do vampiro, não sem antes tirar informações dele.

Sempre trabalhando.

  Então ele estava me abraçando. E eu comecei a chorar, agarrando a blusa dele com força. Ele beijou minha testa, e se afastou um pouco, olhando-me atentamente, a procura de qualquer machucado, e quanto não encontrou suspirou aliviado.

  Ouvi passos se aproximando, então Alec ficou novamente rígido. Remexi-me nos braços dele, quando os mesmo me apertaram mais contra si. Um ato meio possessivo, mas eu não liguei.

Ele salvou minha vida.

Alec assentiu, mas não se afastou.

Lutando contra minha vontade de me afundar nos braços de Alec e deixar que ele lidasse com ele, eu me virei.

Apenas para ver olhos tristes me encarando de volta.

— Oi, Jacob.

***

Voltamos para o Castelo.

  Jane tinha se encarregado de arrumar as bolsas de sangue enquanto eu me acalmava em uma espécie de restaurante 24h. A mesma tinha ficado visivelmente irritada com o ataque, porém mais ainda por não ter impedido; eu tentei argumentar com ela, dizendo que não era culpa dela, mas minha cunhada era terrível.

 Isso não melhorou quando ela olhou para Jacob. O ódio de Jane pelo o que Jacob tinha feito comigo era tão grande quanto o de Alec – e o meu. Não seguimos direto para o Castelo, Alec tinha ligado para Aro, pedindo permissão para levá-lo, ainda que a contra gosto para que depois seguíssemos para lá.

     Meus pais tinham sido avisados, durante a ligação, e agora estavam na portaria do Palazzo. Minha mãe soltou uma respiração aliviada quando me viu e uma de surpresa ao ver Jacob atrás da gente. Quieto, e com a cabeça baixa.

  Minha mãe me pegou em seus braços, e assim como Alec, procurou por machucados. Meu pai lia o que tinha acontecido em minha mente. Mamãe soltou-me, então abraçou Jacob, o trazendo para dentro do Castelo.

 Ouvi o grito de Anne assim que cruzamos o corredor da Sala dos Tronos, para onde estávamos indo.

— Mãe! — ela surgiu das sombras, se enfiando em meus braços. Apertei minha filha contra meu peito, angustiada e com medo do que ela poderia fazer quando percebesse quem exatamente estava entre nós — Tia Sulpicia me contou. Você está bem? Eles te machucaram? Eu vou...

— Você não vai fazer nada — segurei a cabeça dela entre minhas mãos, vendo algumas lágrimas solitárias escorrerem por seu rosto. Por sorte, Anne não era nada parecida com Jacob, tirando os cabelos e os olhos. Ela sorriu um pouco, e voltou a se enfiar em meus braços. — Está tudo bem agora.

Ela assentiu, ainda com o rosto escondido em meu peito.

E a voz Demetri soou divertida, apesar de eu ver o alivio e temor em seus olhos:

— Quando eu te disse que era para você treinar, Renesmee, era para eventualidades como essa. — ele colocou a mão na cintura, e levantou as sobrancelhas. Ele estava parecendo com a minha mãe, quando a mesma ia brigar comigo por algo estúpido e engraçado que fazia — Mas nããão. Alec pode cuidar de mim, eu não preciso.” — ele fez uma péssima imitação da minha voz, o que fez Anne soltar-se de mim para gargalhar junto com o pai.

Olhei de cara feia para Demetri, e ele apenas me devolveu um dar de ombros e olhar debochado. Seus lábios se ergueram em um sorriso.

— Da próxima vez, pelo menos me leve junto. Adoraria arrancar a cabeça de alguém.

— Sua aquisição de cabeças está se esgotando, meu caro Demetri? — usei o mesmo tom debochado que ele, o fazendo gargalhar.

— Acho que Aro está esperando. — falou minha mãe, e eu me lembrei que ela, meu pai e Jacob ainda estavam ali, fato que eu tinha esquecido.

Era fácil esquecer Jacob, percebi.

Alec segurou minha mão, então me guiou para a Sala dos Tronos. Aro parecia irritado, andava de um lado para outro. Caius parecia igualmente irritado, mas mantinha-se em seu Trono. Nenhum sinal de Marcus e das bruxas.

— Renesmee, querida. Fiquei preocupado quando soube do ocorrido. — ele segurou minhas mãos e depois afagou minha bochecha. Durante aqueles anos que passei em Volterra, eu tinha aprendido a viver com Aro, com seu jeito esquisito. Até tinha certo nível de carinho por ele. — Sinto muito mesmo, querida.

Assenti.

— Tínhamos um infiltrado esse tempo todo — murmurei, tentando tirar da cabeça o que tinha passado — Fredie era um dos guardas pessoais de Alec, foi ele quem e arrastou para o beco.

  Aro assentiu e então se virou para seus irmãos: — Vamos fazer uma vistoria no Castelo. Entrar na mente de cada um, para não existir riscos de novos infiltrados.

Ele nos dispensou logo depois. Tudo que eu queria era deitar em uma cama e dormir, mas minha mãe parou Alec, Anne e eu no corredor. Jacob estava atrás dela, e eu me perguntei se ela iria começar com aquele discurso de “arrependimento” de Jacob.

— Acho que vocês precisam conversar. — ela falou, indicando Jacob com a cabeça. Alec apertou minha mão. — Todos vocês.

— Talvez ela esteja certa. — Alec falou, para minha surpresa. Mas seu aperto se repetiu e eu entendi o que ele pretendia. Reprimi um suspiro. Anne uniu as sobrancelhas em confusão. — Vamos para o Chalé, lá teremos privacidade.

***

  Jacob não proferiu nenhuma única palavra enquanto caminhávamos para o Chalé. Sua cabeça ainda estava baixa, mas eu o conhecia o suficiente para saber que ele estava irritado.

Falei pra Alec por pensamento: Vai esfregar na cara dele nosso relacionamento?

Deixei que cada palavra fosse carregada de malícia e diversão.

O sorriso torto dele foi resposta suficiente.

  Anne, que seguia na frente, claramente ainda confusa, abriu a porta do Chalé. Ela ascendeu às luzes e sentou-se no sofá, algo que eu sabia ser o automático dela.

 Arrisquei um olhar para Jacob. Ele encarava a parede lateral a da entrada e eu conseguia enxergar o que ele via: fotos. Fotos e mais fotos de Anne, Alec e minha grávida. E principalmente, uma foto nossa juntos, no dia do primeiro aniversario de Anne.

 — Sente-se.

E ele o fez, sentando-se a nossa frente, desviando o olhas das fotos.

— Explique-se.

Ele suspirou.

— Bella contou a Charlie que encontram você. — ele começou — Charlie contou a Seth que, querendo ou não, me mostrou. Eu liguei para Bella dezenas de vezes, mas ela não atendia. — suspirei, eu sabia por que minha mãe não tinha atendido: ela estava ocupada com o “trabalho” que Aro deu a ela (que eu não faço a menor ideia) que nem mesmo eu conseguia falar com ela direito. — Mas ela tinha contado a Charlie onde estava, e eu liguei os pontos. E eu vi atrás de você. Do meu amor.

Alec bufou, encostando o corpo na poltrona.

— Eu estava hospedado no hotel ao lado do beco que você estava, e senti seu cheiro. —Jacob continuou, ignorando Alec. — Eu não liguei para nada, apenas fui até lá e vi aqueles vampiros com você. Vi como você parecia assustada, e fui ajudá-la. Mas então ele — apontou o dedo para Alec, claramente com repulsa — apareceu e começou a torturar o cara e depois abraçar você. Eu travei no meu lugar.

— Eu estava falando da traição, Jacob.

Então Anne pareceu se der conta do que estava acontecendo e de quem estava agora na nossa casa. Ela soltou uma exclamação.

— Espera um momento. Esse é o cara que traiu você, mãe?

 Assenti, mas segurei a mão dela quando ela pareceu que ia avançar em Jacob. Seus olhos negros brilharam em fúria acumulada.  

— Por que ela fica te chamando de mãe?

— Porque ela é minha mãe, gênio. — Anne revirou os olhos — Vou voltar para o Castelo, de repente esse ar passou a ser tóxico.  

Ela saiu batendo a porta.

— Eu estava bêbado, Renesmee. A festa de Despedida de Solteiro do Paul tinha acontecido, todos beberam muito. Eu juro como não me lembro de nada, apenas de acordar na manhã seguinte com aquela garota na minha cama e você na porta do meu quarto. Juro que...

— Pare com suas juras. Isso não muda o fato de que você me traiu. — convenientemente, minha voz saiu dura e nenhuma lagrima ameaçava cair de meus olhos. Vi o sorriso satisfeito de Alec quando continuei: — Bêbado ou não, querendo ou não, traição é traição. Você me ensinou isso.

Ele engoliu.

— Desculpe.

Suspirei.

 Encostei meu corpo ao de Alec quando me senti exalta; um pedido silencioso para que ele guiasse o resto da conversa, se necessário. Olhar para Jacob depois de tantos anos me deixou mais nervosa do que eu tinha imaginado.

 Devo contar a ele sobre Anne?

Alec balançou a cabeça, de cima para baixo, com um brilho no olhar que eu não estava entendendo, a princípio: mas depois eu entendi. Ele tentaria conversar com Anne, mas ela seria capaz torturar Jacob de formas bem... criativas.

— Mas tem outra questão que temos que tratar Jacob — o nome dele em minha boca era azedo, e tinha gosto de cinzas — O motivo de eu ter ido à sua casa aquele dia.

Ele se apoiou nos joelhos, claramente confuso.

— Eu estava indo contar que estava grávida.

 Quando o peso de minhas palavras o atingiu, ele empalideceu.

— O quê? Grávida?  Nós temos... — ele se interrompeu, escondendo o rosto nas mãos — Aquela menina, é ela?

Assenti.

— Não que você vá consegui conversar com ela, de qualquer forma — Alec comentou, se esparramando mais na poltrona. Seu pé fez menção de se apoiar na mesa de centro, mas ele se interrompeu, me dando um sorriso culpado. Balancei a cabeça.

— O que quer dizer com isso, vampiro?

— Anne te odeia. — eu falei e ele me encarou. — Ela conhece toda a história, e se eu fosse você e tivesse amor a minha vida, eu não tentaria me aproximar dela. Ela tem maneiras bem diferentes de fazer uma pessoa implorar pela morte.

— Você manipulou minha filha contra mim?

  Ele parecia bem raivoso. Mas toda essa raiva não era nada comparada a que Alec tinha, e eu percebia que ele fazia um esforço enorme para não cravar seus dentes em Jacob.

— Ela não é sua filha, cachorrinho — ele falou, um leve sorriso em seus lábios — Biologicamente falando, talvez. Mas não passa disso. Para Anne, você não passa de um doador de esperma.

Jacob bufou.

— E, o que você quis dizer com “ela tem maneiras bem diferentes de fazer alguém implorar pela morte”? Você — ele apontou para Alec, ódio brincando em seus olhos — A transformou em uma de vocês?

Alec arrumou a postura, mas fui eu quem respondeu, usando um termo que Jane usara certa vez:

— Ela foi criada entre víboras, pessoas cuja natureza é matar. Ela andou pela Realeza Vampira, isso a tornou alguém sem muitos sentimentos, assim como seu pai. — Alec sorriu com a fala e quando Jacob ia retrucar, eu completei: — Seu verdadeiro pai. Aquele que a criou e a amou. Aquele que Anne enxerga como seu pai, seu exemplo. E eu estou bem satisfeita com isso. Agora, já estamos conversados, pode, por favor, sair de minha casa?

  Ergui-me do sofá, assim como Alec. Jacob permanecia imóvel enquanto digeria as palavras. Ele empalideceu, e pude ver um lampejo de tristeza em seus olhos, mas não me importei. Não muito.

 — Não me importo com o que você faz com sua estadia em Volterra, só não cruze com o caminho da minha filha. Tenho certeza que ela não será tão receptiva com você como nós estamos sendo.

Alec posicionou-se ao meu lado, encarando Jacob, que não fez muita coisa depois, apenas levantou-se e saiu pela porta da frente. A cabeça baixa e os ombros caídos.

   Permiti-me suspirar quando a porta foi fechada atrás dele e me dei ao luxo de me acomodar nos braços de Alec. Ele permaneceu rígido por alguns instantes, antes de sua postura relaxar e ele me apertar contra si. Não permiti que lágrimas escorressem pelo meu rosto, não choraria por Jacob.

Nunca mais.

 Alec me beijou, intensa e verdadeiramente, e me senti bem melhor instantaneamente. Suas mãos – que estavam em meu rosto – desceram pela minha coluna, me causando arrepios. Ele me pegou no colo e nos levou para o quarto.

E ele me amou pelo resto da madrugada.

Como se fosse a primeira vez.


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Notas finais do capítulo

:)