A lenda de Jack Utrar escrita por Arturhm13


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Como sempre, aqui estou eu perdendo meus prazos (desculpas para quem lê), mas já dizia o grande ditado, antes tarde do que mal acompanhado! Ou algo assim. Espero que gostem do novo capítulo.



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— Escuta, tem certeza que sabe para onde estamos indo? – Perguntou Belamir quase sussurrando. – Eu confio na sua intuição e tudo mais, mas eu me sentiria mais confortável se você me explicasse qual era o plano.

Jack e Belamir, esgueiravam-se pela mata espinhosa, seguindo paralelamente uma trilha nas adjacências da cidade. O caminho era árduo devido à mata escura e densa, um local de difícil acesso, até mesmo para os que seguissem apenas pela trilha.

— Eu já estive em Oakfair antes, com meu pai, ele costuma frequentar as grandes feiras em busca de bom trigo para os pães.

Belamir se espantou com tal revelação. Há anos era ele quem fazia as rondas pelas ruas de Oakfair. Talvez não fosse a primeira vez que o caminho dos dois tivessem se cruzado.  – Pensou. – A cada hora que seguia ele descobria algo novo e intrigante sobre Jack.

— Sei, não, não, eu entendo perfeitamente, mas o que te faz pensar que o acampamento deles fica nessa direção? – Insistiu.

— Lembra-se daquela carroça que quase o atropelou hoje pela manhã? – Jack parou a marcha e fincou a espada no solo. – Você reparou no homem que a guiava?

— Na verdade não muito, eu estava ocupado testando a resistência do solo, se bem me lembro. – Belamir coçou sua sobrancelha, confuso.

— Por sorte eu reparei. O sujeito estava usando uma máscara verde por baixo do capuz. Foi só por um instante, mas eu também pude observar que ele possuía a mesma marca que os bandidos deixaram na parede da sua casa, tatuada no pulso. – Respondeu Jack, apanhando sua espada e continuando a trilha. – A carroça parecia estar se dirigindo à região noroeste da cidade, que é onde ficam os estábulos. Notou que havia marcas de pneu que terminavam no início desta trilha? Então, é só um palpite.

Toda aquela rápida análise deixou Belamir de cabeça grossa, mas ele estava satisfeito.

— Bem, sendo assim eu vou me calar por hora e deixar você fazer o seu trabalho, mas é melhor a gente apressar o passo, há relatos de bestas assustadoras nos arredores de Oakfair.

Um temeroso uivo, vindo da mata, ecoou pela noite e confirmou a teoria de Belamir. Suas pupilas se dilataram e eles olharam assustados um para o outro, a atenção deveria ser redobrada.

Após algumas horas caminhando por entre espinhos, os dois finalmente se encontraram diante de uma enorme clareira. O rosto de Jack, até então confiante de sua brilhante dedução, teve seu sorriso arrancado. Uma pesada decepção inundou sua alma, arrancando-lhe o brilho. Ele olhava em todas as direções, sem acreditar no que via.

Em qualquer direção que se olhasse, nada, além de um enorme vazio, ocupava aquela clareira. Se, algum dia, aqueles bandidos estiveram ali, há muito teriam deixado o local sem deixar rastros.

— É aqui! Você estava certo, Jack! – O coração de Belamir batia alto enquanto ele sussurrava. – Agora só precisamos entrar sem sermos notados, mas, não se preocupe, eu tenho um plano.

Jack observava confuso, Belamir parecia estar completamente fora de sua sanidade. Não havia motivos para comemorar. Eles precisavam era sair logo do local para retomar as buscas, antes que fosse tarde.

— O que você está comemorando? Me desculpa, eu falhei com você, não há nada aqui! – Exclamou em voz baixa.

— Meu querido, isso é só uma questão de ponto de vista, ou você acha que “Clã dos Camaleões” é só um nome bonitinho que eles escolheram? – Disse Belamir entregando um amuleto que trazia em seu bolso.

Jack examinou intrigado o singelo objeto. Na parte de trás do pingente de cor verde, estava gravada a seguinte frase em letras diminutas:

“Eu vejo através de seu disfarce.”

O manto invisível que recobria a clareira caiu diante dele, revelando o enorme acampamento que antes ocultava. Tudo estava tão claro e cheio de vida que era difícil acreditar que, a até alguns segundo, não houvesse nada ali. Os olhos de Jack brilhavam com aquela visagem, um sentimento de interesse germinou em sua alma.

— O nome “Clã dos Camaleões” não é apenas um apelido carinhoso junto a um gosto esquisito por verde. Eles são especialistas em técnicas de ocultação, que é uma das disciplinas repassadas entre os bandidos desse clã. – Explicou Belamir. – Me custou muito conseguir esses raros amuletos, mas foi assim que pude encontrá-los da última vez. Por sorte eu tinha outro pra você.

Jack ouvia, admirado, a explicação enquanto tentava imaginar de onde tinha vindo tal conhecimento. Ele voltou a confiar com mais vigor no sucesso da missão e nas habilidades de seu companheiro. O brincalhão tinha seus truques, afinal.

— E então, qual o seu plano? – Perguntou Jack, animado.

Belamir murmurou algumas palavras no ouvido de seu amigo, que consentiu com um gesto afirmativo de cabeça. Os dois deram as costas e seguiram cautelosamente em direções distintas.

Alguns bandidos dormiam sossegados em suas tendas. O barulho dos grilos se misturava aos roncos intermitentes, criando uma horrenda sinfonia. O acampamento era disposto em uma forma circular, de modo que no centro ficava uma grande fogueira. O resto do clã se fartava de comida e bebida no local.

A passos curtos e cautelosos, Jack se esgueirou até uma grande rocha em frente às barracas. Mais adiante, ele observou dois criminosos que faziam a ronda e conversavam distraídos. Os dois sujeitos usavam lenços verdes como máscara, ocultando assim suas identidades, um deles ainda usava uma touca para cobrir a cabeça.

Tomando cuidado para não revelar sua presença, Jack apanhou uma pequena pedra do chão. A noite estava fria, mas o suor escorria assim mesmo de sua testa. Sua respiração era ofegante, ele tinha consciência dos riscos. Um peso no coração o fez hesitar por um instante, sua mão abaixou e seus olhos se fecharam.

É assim que precisa ser. – Pensou, abrindo-o novamente.

Ele respirou fundo e mirou em um lampião, o qual estava pendurado em um poste. A intenção era deixá-los alerta, sem revelar sua presença. Com precisão e um pouco de sorte, Jack acertou bem no alvo, fazendo-o ressoar. Os dois criminosos sacaram suas espadas e olharam em todas as direções, um pouco desnorteados.

Belamir, havia se escondido próximo a um arbusto. Oculto pelas sombras da noite, ele retirou uma pequena caixinha de músicas do bolso e a jogou no chão a sua frente. A caixinha se abriu e começou a tocar uma valsa melancólica.

Atraídos pela bela música, os bandidos se aproximaram lentamente. Belamir ouviu quando um deles, visivelmente assustado, pediu para que recuassem.

— Vamos voltar, deve ser algum demônio da floresta tentando nos atrair, não existe outra explicação. – Disse ele. – Precisamos chamar o chefe.

— Não existe essa coisa de demônios da floresta Pancho, não seja estúpido! Eu posso pensar em pelo menos outras mil explicações. – Contrariou o outro enquanto se aproximava da caixinha. – Mas que droga é essa?! – Disse enquanto se abaixava para observar de perto.

Ainda agachado, ele examinou o dispositivo, tentando entender como algo assim havia parado ali. Sua vista subiu mais um pouco, até o arbusto escuro a sua frente. Um par de olhos penetrantes o fitava. O jovem bandido sentiu como se olhasse a própria morte nos olhos, ele tentou gritar, mas não havia voz. Em um movimento rápido, Belamir pulou por entre os galhos, atravessando-o com a ponta de sua espada.

— Henzo! – Gritou o outro.

— To... Toque o sino, Pancho. – Foram suas últimas palavras antes de morrer.

— Você vai pagar maldito! – Tomado pelo ódio, Pancho levantou sua arma para golpear Belamir.

Suas mãos tremeram, deixando a espada cair. A lâmina de Jack havia lhe atravessado às costas. Ele balbuciou algumas palavras, antes de seu corpo cair inerte no chão.

— Por um instante eu pensei que não apareceria. – Disse com um sorriso assustado. – Nem acredito que o meu plano funcionou. Isso foi muito perigoso, rapaz.

Jack permanecia em silêncio, ele olhou para o corpo dos dois criminosos. Eles deviam ter entre vinte e vinte e cinco anos. Sua mão ainda estava estendida, segurando a espada ensanguentada.

Belamir deixou seu sorriso de lado e se recompôs ao perceber que algo havia incomodado intimamente seu amigo.

— Nunca acontece da maneira que a gente imagina, mas não se preocupe, vai melhorar. Pelo menos é o que dizem sobre a primeira vez. – Belamir ficou de pé e olhou nos olhos de Jack. – Escuta, eles eram criminosos, de alguma maneira sei que eles esperavam por isso.

— Eu estou bem. Melhor continuarmos com o plano.

Belamir não fazia ideia, mas aquela não era a primeira morte nos ombros de Jack.

— Ê maravilha, agora nós só precisamos nos vestir com as roupas deles e poderemos nos infiltrar para salvar Melissa.

— Espero que a sorte continue a nosso favor.

Devidamente trajados com as roupas de suas vítimas, eles seguiram para o acampamento, ambos parecendo verdadeiros criminosos. Quando chegaram às barracas de descanso, notaram algumas vozes e sombras se aproximando. Seus corações começaram a bater acelerado. Descobririam em breve a eficácia de seus disfarces, caso o resultado fosse negativo e não conseguissem passar despercebidos, jamais sairiam dali com vida.

— Hanzo, Pancho! – Gritou Vernes, um sujeito alto e musculoso.

O homem, sem camisa, cheio de adereços pelo corpo e de aspecto brutal estava acompanhado de outro, um pouco menor.

— Acho que somos nós... Deixa que, eu resolvo. – Sussurrou Belamir baixinho para Jack. – Opa, estamos aqui!

— Vocês demoraram! Sua ronda já terminou há vinte minutos.

— Ah... É... Bem, o idiota aqui achou que tinha ouvido um barulho então nós fomos investigar. – Respondeu Belamir, o falso Hanzo, tentando disfarçar a voz. – No final era apenas um esquilo, fazer o que né, é melhor sempre conferir.

— Sua voz está esquisita, cuide disso. Bem, podem ir se quiser, eu e o Pietro aqui vamos pegar a próxima ronda.

— Ótimo, vou dar uma volta por aí antes de descansar, preciso falar com uma pessoa. As celas foram armadas em que direção mesmo?

— No lado norte do acampamento como sempre, eu acho, por quê? Precisa falar com Arthur? Ele está de mau humor hoje por ter ficado de carcereiro. – Vernes gargalhou. – Bem, não importa, tenho que ir.

Jack e Belamir passaram por mais aqueles dois Camaleões, tudo parecia correr como planejado, ainda não dava para acreditar no quão fácil tinha sido enganá-los, um verdadeiro alívio. Se aqueles dois, não os reconheceram, talvez ocorresse tudo bem no fim das contas.

— Espere aí! – Exclamou Pietro, o bandido menor, para desespero geral. – Venham aqui!

— Pois não? – Pergunto Belamir.

— Tem algo errado aqui... Essa não é a espada de Poncho!

Vernes cruzou os braços e olhou desconfiado para a Beserk. Belamir ficou sem reação, em sua mente fez planos para empunhar sua espada e acabar com aqueles dois. Acabou concluindo que não seria uma opção viável. Os dois pareciam maiores e mais fortes que os primeiros, mesmo se pudessem combatê-los, iriam acabar chamando a atenção do restante do clã. Só restava argumentar.

— Bem... Acontece que... Na verdade...

— Se eu roubei, então é minha! – Respondeu Jack.

Vernes gargalhou em voz alta, quase acordando os outros.

— Bem explicado Poncho, bem explicado! Agora deixe de amolar e vamos para a ronda, Pietro.

Os bandidos finalmente partiram deixando-os a sós.

— Pelo amor das três divindades, eu me borrei todo! Tenho que admitir, sua resposta foi excelente, nem sei como pensou nisso tão depressa.

Jack sorriu e pôs a mão no ombro de Belamir.

— Vamos, temos que ir até o lado norte do acampamento, a noite não vai durar para sempre.


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Notas finais do capítulo

Já estou escrevendo o próximo, deixem o comentário com a opinião de vocês, é sempre bom ler. Um abraço a todos.



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