A lenda de Jack Utrar escrita por Arturhm13


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Cada vez mais Jack se revela, mostrando que ele é bem mais do que diz ser.



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A cidade estava cheia de feirantes, pessoas ofereciam todo tipo de produtos a uma quantia razoável de moedas. As ruas pareciam um verdadeiro formigueiro com gente indo e vindo sem parar. O céu claro daquele dia tão ensolarado incomodava um pouco a vista de Jack, que há tempos não saia de casa. Com uma das mãos ele tentou tapar os raios de sol enquanto observava atento a todos os detalhes do seu novo lar.

— Detesto quando a cidade está assim, geralmente eu tenho o dobro de trabalho. Eu sou uma espécie de guarda real, eu mantenho a segurança nessas ruas. – Disse Belamir enquanto estufava o peito orgulhoso. – Mas me conte, o que você fazia em Candrávia?

Naquele instante uma lembrança do seu tempo de infância veio à mente de Jack.

* * *

— Quantas vezes vou ter que lhe dizer, você não vai ser um soldado?! – Gritava o pai de Jack, Pedro Utrar, um velho padeiro.

— Mas pai, nem todos os... – Tentou argumentar Jack que na época tinha apenas onze anos.

— Aquilo ali é um poço de imundície, eles se acham superiores só porque portam uma arma e nos cobram impostos altíssimos! – Dizia o seu pai enquanto batia a massa de pão com violência na mesa. – Nós somos uma família de padeiros. Meu pai era padeiro, meu avô era padeiro e, Deus, você será um padeiro também, agora me deixe trabalhar!

* * *

— Jack?

— Hã? Ah, me desculpa, estava um pouco distraído. Bem, eu era apenas um padeiro. – Respondeu sorrindo.

Belamir ficou um pouco desapontado com a resposta simples de Jack. Ele era daqueles homens que gostava de aventuras e de histórias mirabolantes, não se imaginaria levando uma vida pacata de padeiro.

— Parece ser legal também e, já que estamos sendo sinceros um com o outro, eu preciso confessar que não sou exatamente um guarda real. – Disse com um sorriso amarelo no rosto. – Na verdade eu estou mais para um vigia de ruas. Mas a vida é uma caixinha de surpresas e eu sinto que minha sorte está virando meu amigo.

Uma carroça, guiada por um sujeito de máscara verde, escondida sob um manto, passou entre os dois em alta velocidade. Por pouco a condução não atingiu Belamir, que caiu em uma poça de água. O transporte levava uma carga de baús e se dirigia para os estábulos. Jack sorriu e estendeu o braço para que seu amigo pudesse se levantar.

— Tenho certeza que sim, mas por hora é melhor se secar.

Os dois começaram a rir, não existia muito tempo ruim para aqueles dois.

— Belamir! – Um grito tenebroso seguido de pisadas profundas roubou toda a atenção. – O que pensa que está fazendo aí sentado! Quantas vezes mais pretende chegar atrasado?! Isso vai sair do seu pagamento!

— Mas gente, parece que o gordo acordou de mau-humor hoje... – Murmurou Belamir em voz baixa enquanto ficava de pé e se limpava.

— O que você disse?! – Perguntou o sujeito estufando o peito.

— Nada não senhor, eu já estava indo para o serviço. – Respondeu fazendo sinal de sentido.

O homem em questão era Nestor, um dos soldados que guardavam as muralhas da cidade, Belamir trabalhava para ele fazendo a ronda e tudo mais que ele pedisse.

— Esse aqui era aquele primo que lhe falei que estava para chegar à cidade, o nome dele é Jack. Ele não tem muito talento na espada, mas é jovem e cheio de vida, então ele poderia começar a trabalhar como meu ajudante, o que é que o senhor acha?

Os olhos de Nestor ficaram enormes e ele franziu o cenho, seu rosto corou imediatamente. Parecia que ia explodir.

— Por que raios acha que vou gastar mais dinheiro real do que já gasto mantendo você?! – Gritou enquanto enfiava o dedo no peito de Belamir, sua voz era rouca. – Se ele é seu parente por certo deve ser outro preguiçoso que só vai me dar dor de cabeça!

— Socorro!

Um grito de mulher ecoou pelas ruas. Um sujeito mal vestido passou correndo enquanto segurava uma gargantilha com algumas pedras verdes, esbarrando na barriga avantajada de Nestor que, por muito pouco, não caiu.

Jack que até então apenas ouvia em silêncio a discussão, desatou a correr atrás do sujeito, seguindo-o pelas vielas estreitas da cidade, deixando Nestor e Belamir para trás.

Após cruzar algumas ruas, percebendo que não poderia ganhar na corrida de seu perseguidor, o gatuno entrou em um beco escuro na tentativa de despistá-lo, no entanto acabou encurralado. Para seu desespero, o beco estava bloqueado por uma pilha enorme de blocos de feno.

— Para trás! – Ameaçou o bandido sacando uma espada curta de lâmina velha e enferrujada. – Se der mais um passo eu lhe arrancarei a vida sem piedade!

Jack que até então se encontrava desarmado, agarrou uma velha vassoura que estava jogada no canto da parede e deu dois passos em direção ao sujeito.

— Não dê mais nenhum passo, você está desarmado. Se quiser, lhe entregarei algumas destas pedras e você me deixará partir, não tem mais ninguém nesse beco, ninguém saberá de nada.

Cada pedra daquele colar parecia valer uma pequena fortuna, no entanto Jack continuou em silêncio a caminhar em direção ao bandido.

— Eu te avisei! – O ladrão levantou sua espada e correu para golpeá-lo.

Em um movimento rápido, Jack acertou a mão do rapaz com força, usando a ponta do cabo, fazendo com que ele soltasse a espada. Em outro golpe, vindo de baixo, acertou-o no queixo, derrubando-o e o deixando inconsciente.

Algumas pessoas surgiram por trás de Jack no beco e em seguida vieram Belamir e seu chefe correndo.

— Para trás, eu cuido de tudo! – Gritava Nestor quando se deparou com a cena.

O bandido ainda estava apagado no chão, sua arma jogada de lado e aquele rapaz, sem tantos atributos, de pé segurando o cabo de uma vassoura.

— Mas gente, não é que ele sabe usar uma espada? Agora é um bom motivo para contratá-lo como meu ajudante, com ele as ruas se tornarão bem mais seguras. – Disse Belamir, aproveitando a plateia que se formava.

Sem jeito para negar o pedido para o, até então, herói, Nestor teve que ceder a pressão dos populares e contratá-lo.

— Pois bem, ele será seu ajudante e sua responsabilidade. Isso significa que um deslize dele e os dois estão na rua! – Nestor se virou e com passos pesados deixou o local.

As pessoas aplaudiram e a mulher recuperou o colar. Em pouco tempo a multidão havia se dissipado e Jack e Nestor se encontravam novamente sozinhos.

— Parece que eu consegui o tal emprego afinal. – Disse sorrindo.

— Agora que estamos a sós, me diga: você não foi totalmente honesto comigo quando disse que era padeiro, ou será que estou enganado? – Perguntou Belamir com o ar desconfiado.

Os dois começaram a caminhar, dando início a sua ronda.

— Eu sempre me dobrei as vontades de meu pai. Por isso segui a profissão da família e sua grande paixão, que era ser padeiro. Mas eu sempre sonhei em me aventurar pelo mundo, por isso nunca deixei de treinar um dia sequer.

— Pois aqui está a sua chance. E parece que você já está muito bem encaminhado.

— Não sei se ser subordinado daquele cara é o que eu chamaria de chance. – Disse Jack sorrindo. – Como um cara como aquele pôde se tornar soldado?

— Hoje ele não passa de um balofo, que mal cabe na armadura, reparou no bigode gorduroso dele? Coisa gasturenta rapaz. – Belamir se estremeceu todo. – No entanto, dizem que ele já foi um grande soldado algum dia.

— Me pergunto o que teria acontecido.

— Não sei, vai ver ele se casou. – Brincou Belamir arrancando um bom sorriso de seu amigo.


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Notas finais do capítulo

Deixem aqui o comentário de vocês, favoritem se tiverem gostando e em breve postarei mais capítulos.



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