Never Say Never escrita por Drix


Capítulo 6
Say My Name




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POV Elena

Primeiro dia de aula. Acordo cedo demais, a casa está em silêncio. Vejo se minhas coisas estão em ordem. O dia nem amanheceu. O reitor pediu que chegasse às sete pra ambientação, e não são nem seis ainda.

Vou pra janela e observo o sol dando seus primeiros sinais. Sinto um frio no estômago. Minha vida deu uma guinada muito louca. Tudo parece calmo aqui de cima. Um silêncio profundo. Vejo alguns carros passeando na 3a avenida. A cidade que não dorme.

O despertador dá o primeiro toque. Desligo e vou pro banheiro começar meu dia, oficialmente.

Saio do quarto ainda ouço o silêncio. Penso em chamar a Kath, ela disse que iria me levar na reunião com o orientador. Mudo de ideia porque sei que ela é a pessoa mais pontual que eu conheço, e logo já deve sair do quarto.

Vou pra cozinha e começo a preparar o café. Damon comprou alguns pãezinhos ontem, e separo geleia e cream cheese pra acompanhar.

Logo em seguida eles saem sorridentes.

— Bom dia, docinho! - Kath abre um sorriso estonteante.

— Bom dia, Elena, animada? - Damon pergunta, se aproximando da porta pra pegar o jornal.

— Um pouco animada, um pouco medrosa. Não sei o que me espera nesse colégio. - respondo sincera.

— Não tem o que se preocupar, você é uma excelente aluna! - minha irmã responde me dando um beijo na testa, pegando o suco na geladeira, em seguida. Minha maior incentivadora.

Eles parecem estranhamente mais animados que o normal. Kath está de cabelo molhado. Damon se aproxima, e também está. Ah! Que boba que eu sou, eles demoraram a sair do quarto porque estavam transando, óbvio. Sorrio internamente com os olhares cúmplices dos dois trocando os copos. Fico feliz que estejam felizes. O luto não pode durar pra sempre.

POV Katherine

Acordo cedo demais, tento cochilar novamente, e vejo que apesar de escuro, não está tão distante do horário de acordar. Me mexo na cama, impaciente. Penso em tomar um banho relaxante, o dia vai ser mais longo hoje. Assim que me levanto, Damon nota, e com a voz sonolenta me pergunta onde eu vou.

Dou-lhe um beijo na testa e digo pra voltar a dormir.

— Está cedo ainda, dorme mais um pouco.

Ele nem abre os olhos, tenta segurar meu braço me puxando pra perto, mas, não alcança. Saio da cama de novo, e vou pro banheiro. Ligo o chuveiro e espero a água esquentar. O vapor toma conta do ambiente. Tiro minha roupa e entro no box. Começo a sentir a água quentinha batendo na minha nuca e relaxo pensando nas milhares de tarefas que terei depois que deixar Elena na escola.

Sinto a porta do box abrir e Damon entra sorrindo. Acho graça da carinha safada que ele faz.

— Bom dia! - ele diz com o sorriso torto de quem quer fazer arte. Tava tão distraída que não vi a porta do banheiro abrindo. Ele passa o braço na minha cintura e se aproxima, se encaixando atrás de mim, deixando a água cair sobre os dois.

Afasta meu cabelo e me beija na curva do pescoço e ombro. Eu amo quando ele faz isso. Me reteso e sinto ele excitado.

O banho se prolonga. A água abafa os gemidos e eu quase não me preocupo se Elena vai escutar. Temos tido poucos momentos a sós desde que ela se mudou. Aproveito cada segundo desse banho sentindo ele em mim e é sempre mágico.

O despertador toca uma vez, e estamos ocupados pra desligar. Desligamos o chuveiro depois do segundo toque e começamos a nos arrumar. Sem tempo de secar o cabelo, saio do quarto pra tomar café com ele atrás de mim passando a mão na minha bunda.

Avisto Elena, e mando ele parar. Ela parece disposta e fico contente.

Já adiantou o café. Me aproximo e dou-lhe um beijo enquanto Damon pega o jornal. Ele sempre lê enquanto come. É um hábito.

Entrego um copo de suco pra ele, no momento que ele estica a xícara de café pra mim. Sorrimos quando os dedos esbarram. Espero que essa cumplicidade não acabe nunca.

Terminamos o café, e estamos prontos pra sair. Damon decidiu ir de carro hoje, pra deixar Elena e não nos atrasar muito. Embora eu ache que o metrô é sempre a melhor opção.

— Pegou tudo, querida? - pergunto, preocupada. Primeiro dia parece sempre pior.

— Sim, tudo aqui. Embora não faça ideia do que ainda vou precisar. - ela responde parecendo nervosa.

— Vai dar tudo certo. Fica tranquila.

Descemos pra garagem. O elevador para. Alguém entra e cumprimenta Elena. Ela nos apresenta. Uma moça simpática que nunca vi antes. Ela nos cumprimenta e sorri pra Damon de um jeito que não gostei nadinha. Não sou essas neuróticas ciumentas, mas, né, tem coisa que não dá pra se fazer de cega.

Seguro a mão dele mais forte, distraído ainda com o jornal, ele me olha e me beija, sorrindo. Me sinto melhor. Ela sai no térreo e continuamos. Ele continua com a cara enterrada nas notícias. Acho bom.

POV Damon

Sinto Katherine saindo da cama e tento acordar.

— Tá na hora já? Onde você vai? - Ela me responde docemente. Tento encontrar sua mão tateando pela cama, mas, ela consegue escapar. Me mexo tentando voltar a dormir e percebo ela ligando o chuveiro. Não há a menor dúvida que vou entrar lá com ela, agora.

Espero um pouco pra pegá-la de surpresa. Como é linda. Ainda acordo todo dia esperando esse sorriso se abrir.

O despertador toca com ela ainda nos meus braços. Sua respiração ofegante, seus gemidos abafados pela água, preocupada em não chamar a atenção da irmã. Eu a amo ainda mais por isso. A forma como cuida dos outros me encanta demais.

Saímos do banho satisfeitos. Ela coloca um jeans que marca a bunda e fica muito gostosa. Na saída do quarto me sinto tentado em apertar. Tomo uma bronca e acho graça.

Pego o jornal na porta e sento perto delas pro café. Sirvo uma xícara de café preto e ela me serve suco. Adoro nossa sintonia. Sorrio pra ela, que retribui. Elena olha de rabo de olho, e dá um sorriso de canto de boca. Acabou de cair a ficha dela que o cabelo da irmã está molhado. Paciência.

Levantamos, cato minhas coisas, pego minha pasta, com o jornal debaixo do braço.

— Vamos de carro. Assim não nos atrasamos no trabalho. - decido, pegando as chaves. Kath concorda. Sei que ela prefere metrô, mas, não me retruca.

Entramos no elevador, e continuo lendo minhas notícias. A bolsa teve queda, o mercado financeiro está louco. Tento me lembrar se comprei ações dessa empresa. Alguém entra, Elena apresenta, olho rápido demais pra perceber quem é. Ainda tô tentando lembrar se comprei as ações.

Sinto Kath apertar minha mão, deve ter notado que estou preocupado. Ela sempre sabe. Dou-lhe um beijo agradecendo, pra mostrar que tá tudo bem. O elevador para de novo, a pessoa sai dando bom dia, murmuro um 'dia, ainda não consigo lembrar e olho os índices pra saber se a perda é grande. Chegamos no estacionamento e vou em direção ao carro. Espero que não tenha trânsito.

POV Elena

Terminamos o café quase em silêncio. Normalmente, eu e Kath batemos papo, mas, hoje estou um pouco nervosa e ela percebe e não puxa assunto. Damon decide ir de carro, não sei se gosto da ideia. O colégio é tão perto que poderíamos muito bem ir andando.

O elevador para no doze, estranhamente Caroline aparece mais cedo hoje. Aproveito pra apresentar pra minha irmã. Já falei dela antes, agora ela vai saber quem é.

— Bom dia. - ela diz sorridente ao me ver. - Primeiro dia de vida nova?

— Bom dia. Sim, hoje começa. Kath esta é Caroline. Caroline, minha irmã Katherine e meu cunhado Damon. Ela cumprimenta Kath e espicha o olho pro Damon. Vejo Kath olhar fuzilando. Xi, vai dar merda! Sorte que Damon mal levantou a cabeça e cumprimentou ainda com a cara no jornal. Deve ter percebido o olhar dela porque imediatamente a beijou. Caroline olha pra frente, apertando o térreo.

— Faculdade. - Ela responde a minha pergunta mental, porque nunca a vi essa hora antes. Sorrio e aceno com a cabeça. O elevador para, ela me dá um sorriso e se despede com outro bom dia. Katherine reponde meio atravessada, e Damon murmura alguma coisa.

Chegamos no colégio e o prédio é suntuoso. O Espaço de fora parece menor que por dentro. São vários andares e eu poderia me perder aqui dentro. Seguimos pra sala do reitor onde o orientador vai me encontrar.

A conversa de apresentação foi amigável, Katherine tirou algumas dúvidas técnicas, Damon questionou a parte prática e após isso, eles partiram pro trabalho. Eu fiquei com o reitor e o orientador. Eles me assustaram um pouco.

— Senhorita Gilbert, eu vejo aqui que pela sua média, a senhorita era boa aluna no seu antigo colégio, contudo, nossa grade curricular é mais avançada e a senhorita vai ter que se esforçar um pouco mais pra alcançar nossos alunos.

Meu corpo congelou na cadeira. Era justamente o que eu temia. Não que eu me importe de estudar, mas, não quero ficar pra trás justamente no último ano. Olho pra ele um pouco ansiosa e aguardo terminar.

— A competitividade aqui é grande e é melhor a senhorita aumentar suas atividades pra poder se igualar a media da escola. Sugiro que procure um aluno mais antigo pra servir de monitor. Caso não encontre, o sr. Morgan pode indicar alguém.

Apenas concordo com a cabeça ouvindo todas as instruções de como sou insuficiente pro precioso colégio deles. Foi me dando uma irritação e um desejo de provar que estão muito errados. Eu sou filha de Grayson Gilbert, senhores, e se tem uma coisa que meu pai me ensinou foi a não desistir. Quero gritar, entretanto, me contenho. Ambos terminaram suas observações e me liberaram pra aula.

— Senhor Gibson, eu gostaria de ser chamada pelo sobrenome da minha mãe, é possível? Estou começando a vida novamente aqui em NYC e não gostaria que ficassem me lembrando o tempo todo sobre o terrível acidente dos meus pais. - peço, com receio. O acidente saiu em todos os jornais, e noticiários. Queria apenas passar despercebida.

— Certamente. Peça a Sra. Smith que mude a pauta antes de entregar aos professores.

Saio da sala e sinto meu sangue fervendo e meu rosto queimando. Preciso passar na secretaria, entregar minha pasta acadêmica e pegar as informações de aulas, código do armário, essas coisas. Consigo tudo até bem mais rápido que imaginei.

Subo pra aula. O elevador faz um barulho informando que chegou no andar e as portas se abrem dando passagem para um corredor gigante, suspiro, olhando em volta. Vários alunos andando de um lado a outro, animados com a volta às aulas. Meu coração acelera e minhas pernas tremem.

Saio e sigo devagar procurando a numeração do meu armário. Percebo olhares curiosos pra cima de mim. “Aluna nova” ouço alguém sussurrar. Um grupinho de meninas me olha de cima a baixo como se questionasse minha roupa. Eu uso o mesmo uniforme que elas, só que todas vestem algo que nos diferencia. Me sinto fora de moda. Nunca estudei em escola particular, e portanto, não fazia ideia que podia customizar o uniforme e nem sei se consigo.

Encontro meu armário, finalmente, e respiro aliviada. Parecia o corredor da morte. É claro que tô exagerando, mas, me sinto como se tivesse sido julgada e rumo pra cadeira elétrica por usar o uniforme normalmente.

Guardo minhas coisas e percebo alguns alunos olhando pro celular e pra minha cara. Fico confusa. Será que viram alguma foto da Katherine e estão achando que sou ela? Ela já foi colunista da revista, antes de ser editora, mas, caramba, somos parecidas, não iguais. Aliás, acho minha irmã muito mais bonita que eu, inclusive, os cabelos volumosos e cacheados dela são incríveis, e o meu, nem que eu queira muito fica daquele jeito.

Fecho o armário e vou em direção ao que parece a minha sala. Quando entro, todos os alunos comentam, olhando do celular pra mim. Me sinto uma peça em exposição. Procuro um assento no canto e praticamente me escondo na cadeira. Um menino senta atrás de mim e comenta.

— Belo bikine.

Congelo por uns minutos. Como assim? Eu sou nova aqui... Ah não! Eu não acredito! Eu mal comecei a já tem foto minha circulando por aí? Agora eu sinto que o corredor da morte não é má ideia. Quero me tornar invisível. Passei a minha vida toda em Richmond e nunca passei por isso. Meu primeiro dia nesse colégio do inferno e alguém espalhou foto minha de bikine.

Olho a hora, e falta apenas o dia inteiro pra eu ir embora. O professor entra na sala. Imagino que o assunto Elena vai acabar agora. Mas, pra meu pavor, ele pega o fichário e vê que sou nova. Me obriga a levantar e me apresentar. É oficial, anjos, me levem agora, é só o que eu peço!

Aguardo um minuto, como meu pedido não é atendido, eu me levanto, e me apresento.

— Oi, meu nome é Elena Pierce, eu vim de Richmond, Virgínia. - e ouço as risadinhas por toda a sala, e um oi Elena, em coro debochado. Senhor, me leva daqui! Peço de novo, mas, nada acontece. Me sento novamente e a aula começa. Graças a Deus!


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