Never Say Never escrita por Drix


Capítulo 47
How You Remind Me




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POV Katherine

Depois que Klaus conta tudo sobre a viagem, aproveito uma pausa no assunto pra questionar sobre a ideia absurda do irmão dele. A conversa toma um rumo louco quando Stefan lembra do dia da morte do pai.

Fico tensa com todas essas coisas, tentando colocar minha mente em ordem. Depois de divagarmos sobre teorias da conspiração, me lembro da coisa que Gladys disse, que mais me incomodou. Stefan sozinho naquele apartamento imenso.

— Kath... - Damon me retruca e olho furiosa. - Acho que ele vai querer ficar em casa, com as coisas dele.

— Eu andei olhando mobiliário hoje, essa semana mesmo o escritório passa a ser um quarto e você vai ficar confortável com uma cama e todas as suas coisas. - ignoro e digo, decisiva, voltando a olhar pra Stefan

— Baby, já conversamos sobre isso. - Damon me desautoriza e meu sangue ferve.

— Isso foi antes! A Gladys está certa. Ele não vai ficar sozinho naquele apartamento imenso, sem supervisão. Um adolescente, Damon, sem supervisão de adulto? Ele pode ser o menino mais incrível do mundo, mas, ainda é um adolescente. Você viu o que deu Elena sozinha, nesse mundo do Upper East Side. Essa atmosfera competitiva transformou minha garotinha. Não mesmo, sem nenhuma chance! Ele vem pra cá, e isso é indiscutível! - Ele desiste de discutir, não há nenhuma chance de me convencer do contrário.

— Vou mudar a mobília do quarto amanhã mesmo, pra Stefan se sentir em casa, mas, aqui. - digo.

POV Stefan

Kath discute furiosa, resolvendo minha vida por alguns segundos. Ela lembra das coisas que Elena fez, e a forma que ela coloca parece tão fora de contexto. Olho pro lado, Elena abaixa a cabeça, sem nem tentar se defender, me dando a impressão de arrependimento e meu peito aperta. Será que julguei mal?

Kath continua, altiva, decidindo minha mudança, eu não penso em discutir, mas, não quero ficar aqui. Eu moro do lado da escola desde sempre. O prédio agora é meu, conheço os funcionários, todos. Só meu quarto tem o tamanho dessa sala e...

— Por que em vez disso, vocês não se mudam pra lá? - tenho essa brilhante ideia deixando todo mundo pasmo.

— O quê? - Ela gagueja, me olhando, estarrecida. Explico.

— É. Se é pra eu não ficar sozinho, por que vocês não vão pra lá? O apartamento é maior, o andar inteiro, só meu. Tem uma dezena de quartos e já estão todos mobiliados, a sala de video separada do escritório, espaço não falta. E, você pode remobiliar do seu jeito, se quiser. - digo, sorrindo. - Ainda tem a varanda e o terraço, com piscina. - Sorrio pra Elena. - Não dá pra treinar, mas, ninguém vai tirar foto sua lá. - Ela sorri, envergonhada e solta minha mão. Me vejo perdido por ela ter me largado, mas, acho graça do jeitinho que ela se encolhe.

Damon olha pra Katherine e sinto que ele gostou da ideia. Ela continua olhando, incrédula. Ele intervém.

— Parece uma boa ideia. Um espaço maior e Stefan com a gente. Além disso, tem a Anna pra fazer o jantar, todos os dias. - ele sorri pra ela.

— Eu... - ela cerra os olhos e parece indecisa. Vejo ela olhando pra Elena, que não se manifesta. Ela se aproxima da irmã. - O que você acha, docinho, de outra mudança?

— Bem... Não é como se eu fosse mudar de cidade. - Elena responde. - É só um apartamento. E, se tem mais espaço, parece o mais correto a fazer, não é?

— Bom, tudo bem, fui vencida. Essa semana, então, nos mudamos. - ela responde, mais mansa. - Contudo, você vai vir jantar aqui todos os dias, até irmos pra lá. - e aponta pra mim.

— Kath, eu tenho aula depois do abrigo, de direção, lembra? - tento negociar.

— E não janta?

— Na verdade, eu tenho jantado no abrigo mesmo, por isso. - Elena confirma com a cabeça, quando Kath olha desconfiada.

— Tudo bem. - ela resmunga. - Quarta feira, pelo menos?

Acabo aceitando, não vou deixar de tirar a habilitação por causa de uma aula a menos. Ela sorri e concorda. Já está tarde, Damon decide me levar pra casa, mesmo eu dizendo que não precisa. Na realidade, eu cheguei com a ideia de passar na Caroline na saída, mas, isso parece não fazer nenhum sentido agora. Ainda bem que não combinei nada. Seria muito desagradável deixá-la me esperando.

POV Elena

Pareceu uma confusão de absurdos essa noite. Estava tudo tão divertido e calmo e de repente, um vacilo e várias coisas vêm à tona, num turbilhão de informações desencontradas. Que coisa louca esse lugar. Amigos que traem, pais que não dão atenção a seus filhos, descobertas aterrorizantes.

Vejo Stefan perdido no meio do caos e repito o mesmo movimento que fiz no hospital. Seguro a mão dele, mostrando apoio. Eu não sei o que dizer, mas sussurro que vai ficar tudo bem. Dessa vez, eu acredito nisso. Ele sorri pra mim e meu coração dispara, como uma bateria eletrônica.

Permaneço quieta, sem palpites. Eu não tenho o que falar. Mesmo Katherine querendo decidir a vida de Stefan. Ele mora sozinho, praticamente, desde os 14 anos. O pai vivo não era exatamente uma figura constante, como Damon cansou de dizer. E, embora seja adolescente, parece muito mais responsável que eu.

Ele e Lexi, estranhamente, são uma dupla cheia de sabedoria e conselhos que me surpreendem. Joe também, mas ele tem um estilo mais selvagem. Aliás, Lexi é o anjo bom na vida do Stefan, e Joe, o diabinho soprando no ouvido, dizendo que ele precisa curtir mais a vida. Não só no ouvido do Stefan, ele tem dito isso pra mim também.

Katherine esbraveja que o Upper East Side me modificou. Mas, não foi isso. Eu sempre fui competitiva. Tanto que entrei pra natação, pra disputar sozinha o primeiro lugar. Esporte coletivo nunca foi meu forte, odeio dividir. Acho que a ideia de Rebekah me vencer foi o que me incomodou, fico pensando que talvez, a minha briga era pela atenção do Stefan. Se eu percebesse isso antes...

Se eu tivesse notado que eu já tinha a atenção dele, eu nem tinha entrado nessa briga, na verdade. Olho pra ele, atento ao que minha irmã diz, e de repente ele tem a ideia de nos mudarmos todos pra lá. Estar tão perto dele assim me deixa tonta.

Ele brinca sobre a foto tirada, me sinto mal e solto a mão dele. A lembrança disso me incomoda porque traz de volta tudo que cerca esse episódio. Até o dia que fui atacada por aquele cretino e a nossa briga, depois. Eu preciso dizer a ele, me explicar. Mesmo que não dê em nada, tenho que ter coragem de dizer.

Kath me pergunta sobre a mudança. Eu não sei o que dizer. Estar tão próxima de Stefan me tira do eixo, mas, pelo que percebo, não tem outra solução. Respondo, sincera. Eu não tive problema pra mudar de cidade, não vão ser algumas ruas que vão me assustar.

Ela continua decidindo o que ele deve ou não fazer e eu me levanto, tirando as coisas da mesinha, pra guardar. Já está tarde, tenho aula amanhã e esse dia foi bem cansativo, pelo menos pra mim.

Damon resolve levar Stefan em casa, Kath continua resmungando do meu lado, sobre o que a mãe da Rebekah falou, e Klaus que não tomou partido.

— E agora, a gente ainda tem que se preocupar com uma mudança. - ela suspira.

— Mas, Kath, haveria uma mudança de todo jeito. Stefan vindo pra cá, é uma mudança. E, você teria que mudar todo o quarto.

— É, mas, mudar um é diferente de mudarmos os 3. - ela retruca, abrindo uma cerveja. Olho, estranhando, ela odeia cerveja.

— Irmã... Pensa só, ele acabou de perder o pai. O pai da ex-namorada está abrindo um processo contra o irmão dele, não parece mais viável que ele queira ficar no único lugar que ele se sente seguro agora?

Acabo de falar e nem acredito nas minhas próprias palavras. Andar com a Lexi parece que está fazendo algum efeito, afinal.

— Quando você ficou tão esperta, querida?! - ela sorri, dando um gole na cerveja.

Sorrio de volta. - Também não sei. Vou me deitar, amanhã tem aula. - dou um beijo nela e sigo pro quarto.

* * *

Apaguei exausta e quase não ouvi o despertador. Peguei minhas coisas correndo e mal comi. Chego na escola alguns minutos depois do normal e Stefan está se alongando. Ele sorri ao me ver, minhas pernas tremem, eu tropeço nos meus próprios pés e acabo caindo.

— Ei, tudo bem? - ele se aproxima correndo, pra me ajudar, sendo gentil. Meu coração dispara e sinto falta de ar.

— Eu... sei lá, me atrasei hoje e saí de casa sem comer. - a melhor desculpa que arranjei.

— Ei, não era pra nem ter vindo então. - ele diz, ainda me levantando. - Onde já se viu treinar sem comer?

Sorrio sem graça, equilibrando minhas coisas nas mãos. Ele continua.

— Tem aquele café aqui perto, vamos lá antes da aula começar. Vou me vestir. - ele sorri de novo, indo pro vestiário. Fico olhando e colocando minha cabeça em ordem.

O que aconteceu, de ontem pra hoje, que tudo mudou? Sento na arquibancada, esperando, e minha mente vaga em todos os acontecimentos do final de semana. Não chego a nenhuma explicação razoável pra essa mudança, mas, também não importa agora. O que adianta ficar procurando motivos, ele não está mais me evitando e é isso que realmente importa.

POV Stefan

Apesar da loucura que foi ontem, acordei estranhamente disposto hoje. Acho que cheguei cedo demais, não vejo Elena na piscina. Troco de roupa e começo meu alongamento. Acho que tá na hora de parar com essa palhaçada de não nos falarmos direito.

Por mais que eu pense que ela agiu errado, nos momentos que eu precisei, ela estava do meu lado e se eu não souber valorizar isso eu não sou a pessoa que pensava ser. Vejo ela chegando e sorrio. Ela tropeça em algo e corro pra ajudar.

Resolvo ir pra cafeteria aqui perto, já que ela não tomou café, e suspendo o treino. Me visto rápido, guardamos nossas coisas no armário e vamos.

— Já começaram a preparar a mudança? - pergunto, curioso.

— Não sei, na verdade. Eu fui dormir ontem logo que você saiu, e mesmo assim, acordei atrasada.

— Hum... Kath não pareceu gostar muito de se mudar.

— Bom, ela vai ter que aceitar. Ou isso, ou você morar sozinho. - ela sorri.

— Eu tô empolgado com a ideia.

— Sério? - ela pergunta, estranhando.

— É, morar com meu irmão de novo, ter a casa cheia, nossos jantares. Senti falta disso. Você não?

Ela me olha sorrindo e meus batimentos aceleram sem controle, como se meu coração se esforçasse pra sair do meu peito e se entregar a ela.

— Um pouco, sim. Mas... Você não está nervoso com isso? Digo, a Kath vai começar a ditar as regras, e bom... Você nunca teve isso antes, né?!

— Ah, mais ou menos. Papai deixava ordens expressas, que se eu não obedecesse tinha castigo. Eu nunca quebrei nenhuma... Quer dizer, além de fugir dos seguranças. - lembro, gargalhando.

— E encher a cara nas festinhas. - ela fala, me repreendendo.

— Foi meu pai que me ensinou a beber, se ele reclamasse disso seria contraditório. Além do mais, eu nem bebo tanto, é só um pouco, pra poder ser simpático.

— Você não precisa de álcool pra isso. - ela responde e fico envergonhado. Aproveito que ela terminou de comer e levanto rápido.

— Vamos? - ela levanta e esbarramos Andy na saída.

— Hey! Curtiram a festa? - ele questiona, sorrindo. Quando vou responder, ele me corta. - Você eu vi que sim, a Marissa é gente boa demais, né?! Ela pediu teu telefone, posso dar? - procuro um buraco pra enfiar minha cara, enquanto ele continua. - Você foi embora cedo, Elena, não te vi mais. Brigou com o namorado, né?

— Namorado? Não, eu tava com dor de cabeça, o som alto acabou piorando.

— Aquele, que foi a festa contigo. Não é teu namorado? - ele insiste, me olhando, em dúvida. Me lembro que falei isso e engasgo, mas, Elena não percebe.

— Ah, o Joe? Não, ele é amigo do Stefan... Bom, meu amigo também...

— Ah, tá! Agora faz sentido porque ele estava em cima da Christina.

— Ei, vamos pra aula, né. A gente vai se atrasar. - tento cortar o assunto, antes que ele piore as coisas.

— Peraí, vou pegar um café. Já tá pronto. - ele diz e volta correndo. - Vamos. Mas, então, cara, a Marissa, adorou te conhecer, falou que vocês passaram a noite juntos e tá doida pra te ver de novo! Se deu bem, hein, pegando a universitária! - Ele piorou! Eu quero enfiar o copo pela goela dele, só pra fazer ele calar a porra da boca! Mas não sei como encerrar a conversa sem dar pistas que estou claramente incomodado.

— Eu... Não quero falar disso. - respondo, tentando ver se ele se toca, e não adianta nada.

— Ah, para de modéstia! Ontem ela ligou pro meu irmão, querendo saber de você. Ela ficou bem impressionada, Stef! Nem acreditou que você nem tem 17. “Ele é um garanhão”, foram as palavras dela. - ele fala rindo, engasgo e tropeço nos meus próprios passos. Era a última coisa que eu precisava que Elena ouvisse.

— Cara! - olho pra ele assustado. - Isso lá é conversa pra ter do lado de uma menina?

— Ah, Elena, desculpa. Eu me empolguei, é que... Me desculpa.

Ela olha pra ele e parece querer se esconder também. Acena com a cabeça, claramente envergonhada. Eu quero desaparecer no ar, me dissipar com o vento, sei lá. Felizmente, chegamos no colégio e ele se afasta. Respiro fundo, e olho pra ela, me desculpando.

— Eu... nem sei o que dizer, eu...

— Tudo bem. - ela me encara, coloca a mão no meu braço e sorri. - Pelo menos você se divertiu. Vamos pegar nossas coisas, o sinal já tocou.

Eu fico uns segundos estático, até despertar e ir atrás dela. Na minha cabeça, ela ficaria chateada em saber que eu dormi com outra. Na minha cabeça, eu ouviria algo do tipo “você não vale nada”, mas, parece que na cabeça dela, tá tudo bem. Na minha cabeça, eu achei que ela não estando com o Joe, eu teria uma chance. E parece que isso só existe na minha cabeça mesmo. Tudo bem, não era pra ser. Vou seguir minha vida, do jeito que tem sido e logo isso passa. Pelo menos, podemos ser amigos de novo, agora.

POV Elena

No caminho pra lanchonete, ele mesmo puxa assunto e eu gosto. Tenho tentado há semanas, sem sucesso, finalmente uma abertura. Ele fala da mudança, e eu nem sei bem o que dizer sobre, até que ele diz que está animado e me surpreende.

Achei que estaria chateado com a falta de privacidade, ter que dar satisfações da vida dele pra alguém que não é nada, fiquei surpresa. Sinto minhas pernas tremendo de novo quando ele sorri e pergunta se não sinto falta dos jantares.

Eu sinto falta de tudo, dos jantares, das conversas, do estudo e até das implicâncias. Acho que sinto falta até do momento que Rebekah aparecia reclamando, e ele sorria pra mim, se desculpando. Sorrio, com as lembranças, e resolvo matar minha curiosidade.

Não perco a oportunidade de uma alfinetada quando ele diz que vivia sobre regras. Por mais responsável que seja, beber não é exatamente um ato responsável. E então, ele fala que o pai começou e fico pasma. Papai não me deixava nem beber vinho nas festas, essa vida por aqui é bem doida mesmo.

Ele se justifica e acabo falando o que penso. Stefan é uma das pessoas mais gentis e carismáticas que eu conheço, sóbrio mesmo. Definitivamente, não precisa de bebida pra isso. Percebo que ele ficou envergonhado quando coloca a mão na nuca. O velho gesto que eu adoro.

É linda a forma como ele faz isso, o cara responsável parece um menino tímido, com esse simples gesto. Eu acho que foi isso que mais me encantou. Esse jeito meigo.

Levantamos e esbarramos Andy, que parece que engoliu uma vitrola. Pior, um disco de fofocas sobre a vida sexual de Stefan. Ele fala, Stefan tenta cortar, ele continua falando e falando. Até o corte final.

Eu vi como as coisas estavam sábado, e depois do que Joe disse ontem, eu continuaria sendo ingênua se não considerasse a hipótese dele ter transado com a moça. É bem óbvio, até. Gostar, não gosto, mas, não posso fingir que não aconteceu. Muito menos agora que foi falado na minha frente.

Andy se desculpa pela inconveniência, e assim que chegamos na escola, Stefan também. Me vejo numa sinuca de bico. Eu não posso fingir que não entendi, e nem demonstrar que isso me aborrece. Não ainda, sem antes conversarmos de verdade.

Decido apenas ser compreensiva. Gostei da gente ter conversado hoje, gostei dele estar mais aberto, e adorei a preocupação em me levar pra comer em vez de treinar. Eu não quero perder esse tiquinho que eu ganhei.

Entramos pra pegar as coisas e assistir aula. Vejo que ele demora a vir, mas, se junta antes que eu me vire. Sorrio, ele sorri de volta. Parece tudo bem.

Percebo que ele está mais leve quando menciona o livro que vamos usar pra filosofar hoje. Não seguro a gargalhada. Ele ri também e tudo parece bem de novo. Ainda bem.


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