Never Say Never escrita por Drix


Capítulo 40
Still Breathing




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POV Elena

Eu mal consegui dizer o recado, a minha mente voltou automaticamente pro dia do acidente dos meus pais. Que situação terrível vamos passar de novo. As pessoas, elas deveriam morrer sempre de morte natural. Velhinhas, pra gente poder se preparar psicologicamente pra isso. O ciclo da vida deveria ser esse, sempre.

Acidente. Que palavra desgraçada. Enquanto Damon troca de roupa, nervoso, Katherine pega alguns telefones na agenda de papel, procurando cardiologistas conhecidos de papai. Eu fico perdida no meio desse caos, não sei bem o que fazer e minha cabeça gira.

Stefan, meu Deus, deve estar desesperado. Preciso vê-lo. Pego o celular e mando uma mensagem pro Joe ir direto pro Hospital, nesse momento ele precisa dos amigos por perto. Damon sai do quarto, com o celular na mão, conversando com alguém, sobre transferência. Pega as chaves do carro e saímos correndo.

Kath dirige enquanto ele tenta remover o pai pra outro hospital especializado que minha irmã conseguiu o contato. Assim que ele desliga, já liga novamente pra outro médico pedindo pros exames do pai serem enviados pra esse hospital, imediatamente.

Chegamos rápido e o motorista de Stefan está na porta. Damon passa direto, sem saber quem é e George o chama. Ele olha confuso.

— Senhor, eu vi sua foto nas coisas do seu irmão. - ele diz se explicando.

— Cadê ele? - Damon pergunta nervoso.

— Tá lá dentro. Eu preciso falar uma coisa, seu pai, ele já não estava bem, mas, o menino não sabe disso. Ele estava em tratamento há meses. Eu o trouxe pra cá, por instruções do próprio médico dele.

Damon ficou mais confuso ainda, mas não cancelou a transferência. Decidiu falar com os médicos primeiro, antes de resolver qualquer coisa. Subimos e vimos Stefan sentado, segurando um copo de café, olhando pro vazio à frente.

Assim que nos viu, ele levantou num ímpeto e foi direto abraçar o irmão. Vi um flashback se formando na minha mente. Eu perdida, Bonnie do meu lado, ninguém me dizia nada, Kath chegou e fiquei aliviada em vê-la.

Katherine abraçou os dois e ficaram assim, por um tempo. Se não fosse uma situação aterrorizante, seria uma linda cena. Me aproximo deles, ainda tonta, e sento na poltrona vazia do lado onde ele estava, tentando apagar da minha mente os pensamentos de um dos piores dias da minha vida.

POV Stefan

Vejo George e John levantando meu pai e indo com ele pra fora de casa e vou seguindo, como um zumbi. Ambos ajeitam ele no banco de trás e George senta ao volante, gritando pra que eu entre logo. Olho assustado, sem reação. Saí sem nada, sem celular, sem documento, nada.

Chegamos no hospital e papai respira fraco. Os paramédicos o colocam na maca e vejo George entregando uma maleta pra eles. Eu nem vi quando ele pegou. Mas, minha mente não trabalha de forma clara e me sinto perdido.

Ele segura meu braço e diz que vai ligar pro meu irmão e me pede o número do celular do Damon, eu não sei de cor. Ele olha a agenda do celular dele e ainda tem o numero de casa gravado e liga. Me passa o telefone pra falar, mas, eu olho ainda confuso, as palavras não saem.

A cena toda parece coisa de filme. Sabe, aqueles que, alguém que seria eu, vê tudo de fora, e é como se as coisas acontecessem em frações de segundos e as pessoas passam em câmera lenta? As palavras entram pelos meus ouvidos e não absorvo.

Vejo a correria de outros pacientes de emergência chegando, as luzes das ambulâncias, pessoas chorando, médicos correndo, e tudo parece muito surreal. A imagem que vem na memória é de quando mamãe entrou aqui e nunca mais saiu.

Meu estômago dói, sinto minha cabeça rodando, ouço a voz de George ao fundo e ela se mistura com todo o barulho em volta e as lembranças do último dia que vi minha mãe. Tudo parece se repetindo, fico tonto e George decide entrar comigo.

Me coloca sentado na recepção e me traz um copo de café. Sei lá pra quê, fico segurando o copo, aguardando notícias, que não vêm. O café esfria na minha frente e ouço a voz do meu irmão me chamando. Olho pro lado e tudo se repete.

Ele chegando, aflito, enquanto eu esperava a enfermeira me dizer o que aconteceu. Minhas lágrimas descem sem controle no momento que ele me abraça. Tudo de novo, essa reprise que parece sem fim.

— Foi culpa minha... - digo entre soluços.

— O quê? Não, claro que não, Stef.

— Foi sim, eu disse pra ele que terminei com a Rebekah e a gente discutiu. Logo em seguida ele passou mal.

— Hey, não, não foi culpa sua. Papai não estava bem faz tempo. - ele tenta me acalmar e me deixa confuso. Me conta o que George disse e eu fico pior.

— Se eu soubesse disso... Foi culpa minha, eu não tinha que ter contrariado ele.

Sinto Damon e Katherine me guiando pra sentar. Ela sai e volta com outro copo, mas dessa vez com água, enquanto meu irmão tenta me convencer que não fiz nada. Ela me obriga a beber e tento, entre os soluços. Damon me diz que precisa falar com os médicos, pra saber se vai precisar de transferência, e me deixa com Kath, ainda me obrigando a beber água e alisando minha cabeça.

Respiro, assim que o copo fica vazio. Ela se distancia pra jogar o copo fora e sinto uma mão segurando a minha. Olho pro lado assustado e vejo Elena. Não tinha me dado conta da presença dela. Ela me olha com ternura, esqueço completamente que estávamos brigados e a abraço.

Ouço meu nome de novo e olho pra trás, conferindo. Lexi e Joe se aproximam, nervosos, e me abraçam assim que me levanto. Ele se afasta e vejo indo cumprimentar Elena, acompanho com os olhos enquanto Lexi seca meu rosto com a mão.

Conto pra ela o que houve e ela repete as palavras do Damon. Mas não consigo tirar essa culpa do meu peito. Se eu não tivesse dito nada, muito menos discutido com ele, estaríamos jantando essa hora. Estava tudo bem, papai andava sorrindo das minhas piadas no jantar, estava ficando mais em casa, e até me deixou voltar a encontrar meu irmão.

Damon volta nervoso. Não deixaram fazer a transferência. Ele fala algo baixinho pra Katherine e me levanto querendo saber. Ele me diz pra me acalmar e isso não ajuda. Então ele explica que o caso é grave, e os médicos já tiveram que fazer uma ressuscitação.

Sinto minhas pernas fraquejarem. - Tudo culpa minha! - levo a mão até a cabeça, girando o corpo e vejo todo mundo preocupado. Tento me controlar. Kath me segura pelos braços e fala calmamente.

— Stefan, até um gol do seu time poderia causar um infarto no seu pai. Ele estava debilitado há meses. Não se martirize. - ela me abraça e afaga meu cabelo, como fazia quando eu era criança. Mas, agora eu sobro uns 15 cm pra cima e o abraço já não me cobre mais.

Respiro me afastando dela, mais controlado, e me sento de novo, no mesmo lugar, entre Lexi e Elena, que volta a segurar minha mão entre as dela. Eu sinto um conforto estranho com esse gesto. As horas passam com médicos indo e vindo informando as condições do meu pai. Nenhuma notícia é boa. A cada vinda ele piora e sinto meu peito apertando com a sensação que a próxima pode ser a última.

O médico voltou, chamando eu e meu irmão num canto, e foi exatamente o que aconteceu. Meu pai não aguentou e faleceu pelo stress causado. Não ouvi nada além disso, meu cérebro deu pane. Fui eu que causei o stress discutindo com ele, uma discussão tão idiota, que poderia ter sido evitada.

Kath abraça Damon, eu permaneço sentado, catatônico. Ele me chama e tudo volta a parecer aquele filme, onde eu sou o personagem que assiste tudo de fora. Ele me levanta e me abraça, Kath também. Vejo Lexi e Elena vindo na minha direção e Joe atrás delas.

Eles falam algo e eu não ouço nada além de um zumbido estranho. Elena me abraça, eu não tenho reação, meus braços não acompanham os movimentos deles. Damon me guia pra outra sala, olho pra minha mão, Elena entrelaça os dedos nos meus e anda do meu lado. Eu olho pra ela e parece tudo tão distante.

Meu pai morreu, aqui, no mesmo hospital que minha mãe, e tudo parece tão igual. Exceto pela presença da Elena, de mãos dadas comigo. Eu ando conforme me guiam, e nem sei pra onde, sei que estou me deslocando, mas pareço flutuar. Eles estão falando comigo, e eu vejo, porém, não ouço.

Os olhares estão preocupados, Kath abraça Damon, que parece desolado. Joe está do lado de Elena, Lexi do meu lado também. Sinto um vento gelado no meu rosto e ouço barulhos de ambulância. Desperto do estado em que estava ouvindo Damon dizendo que vou pra casa com eles. Não recuso.

George se aproxima, querendo notícias, e me dou conta que ele ficou do lado de fora o tempo inteiro. Damon responde pra ele e dá algumas instruções. Enquanto isso, Joe se despede de mim. Lexi me abraça. Elena não solta minha mão, e abraço Lexi com a outra livre.

Vejo Joe falando algo pra Elena e dando um beijo carinhoso no rosto dela. Sinto meu peito doer. Ele e Lexi vão embora, George se despede e vai também, Damon e Kath apontam o caminho pro carro, e Elena permanece segurando minha mão. Eu tento soltar, ela não deixa. Não insisto.

Kath segue abraçada no meu irmão, eles conversam algo baixinho. Observo os dois andando, ainda tonto com tudo. A imagem do meu pai caindo no chão me perturba. A imagem do meu melhor amigo beijando a garota que eu tô apaixonado também.

Eu entro no carro e me escoro na porta, encostando a cabeça no vidro. Vejo as luzes da cidade passando, o barulho das buzinas, o movimento incessante da Times Square, as pessoas que estão sempre correndo.

POV Elena.

Passamos horas aguardando as notícias que quando chegavam, nunca eram boas. Damon estava nervoso, mas, controlado. Stefan estava muito abalado, se culpando por tudo. Isso deixou todo mundo preocupado. Quando o médico veio com a terrível notícia de falecimento, eu me lembrei de como meu mundo caiu e segurei a mão dele, tentando mostrar que ele não estaria sozinho, nunca. Como Bonnie fez comigo. O médico disse que o stress da ressuscitação acabou debilitando ele mais ainda, e ele não resistiu.

Apesar de chateado com a morte do pai, Damon conseguiu resolver toda a burocracia do hospital, dar instruções pro motorista e decidir levar Stefan pra nossa casa. Ele ficou catatônico e ficamos todos alarmados.

Kath arrumou o sofá no escritório pra ele dormir, tentando deixar tudo o mais confortável possível, e deu um relaxante pra ele descansar. Ficamos observando o seu sono. Ele estava muito agitado e parecia discutir sozinho em vários momentos, contudo, sem acordar.

Hoje mais cedo, parecia um zumbi. Kath organizou o funeral no clube, enquanto Damon resolveu toda a papelada necessária pra liberação do corpo e os documentos que serão necessários futuramente. Katherine conseguiu juntar toda a sociedade de Manhattan no local e a cerimônia foi muito bonita.

Rebekah apareceu com a família, se aproximou, mas, pareceu fria. Como se eles nunca tivessem estado juntos algum dia. Eu fiquei de longe, observando com Joe e Lexi. As pessoas não pareciam de luto de verdade, em alguns grupos os comentários eram até cruéis. O que me incomodou um tanto.

Damon engolia seco cada aperto de mão que vinha junto com uma alfinetada sobre ele ser o filho indigno. Stefan parecia fora do corpo, agindo como um robô, repetindo os gestos automaticamente. Em determinado momento, quando os cumprimentos acabaram, ele dava uns resmungos ou dizia frases desconexas, e vez por outra, se culpava por ter brigado com o pai e causado o infarto. Isso me deixou apreensiva.

Quase anoitecendo, Damon nos juntou e decidiu ir pra casa. Saímos educadamente, nos despedindo das pessoas que ainda estavam presentes. Kath separou algumas coisas que não foram servidas pra comermos em casa. Foi inevitável não lembrar do roubo da lasanha no funeral dos meus pais, mas segurei o riso.

A imensa diferença é que lá, as pessoas sentiram mesmo. Tudo foi feito com carinho, e até a comida foi levada pelos vizinhos. Aqui, é outro mundo, com buffet e garçons uniformizados, servindo pessoas que só estão cumprindo uma obrigação social. Isso é tão estranho.

Permaneci o tempo todo de mãos dadas com Stefan. De alguma forma, apesar dele não falar nada, senti que consegui confortá-lo estando junto dele. Lexi e Joe também estiveram presentes, e vamos precisar ter paciência pra que ele possa lidar com essa culpa.

Acabamos de chegar, apesar de Kath e Damon tentarem conversar com ele, ele não responde. Só resmunga e sacode a cabeça, como se estivesse em um mundo muito particular de dor. Ele solta minha mão quando a porta do elevador se abre, damos mais alguns passos, Damon abre a porta de casa e Stefan para.

— Preciso ir pra casa. - ele diz, convicto. Olhamos, aflitos. É a primeira vez que ele constrói uma frase conexa em 24h.

— Melhor não, descansa aqui essa noite, amanhã você vai. - Damon responde, cuidadoso.

— Fica, querido, come alguma coisa, eu trouxe aquele brioche que você gosta. - Kath diz, passando a mão pelo braço dele, conduzindo-o pra dentro do apartamento.

Ele não retruca. Segue com ela pra cozinha e senta numa das cadeiras, se apoiando no balcão. Kath separa o tal brioche num pratinho e coloca na frente dele, com um copo de suco. Ele olha pra comida como se refletisse sobre um livro de Dostoiévski. Demora alguns minutos e começa a comer, automaticamente.

POV Stefan

Vejo a porta do elevador se abrindo e me vem na memória a discussão com Rebekah. Vejo Elena do meu lado, me dou conta que ela mentiu pra mim, percebo que ela segura minha mão e solto. A cena do Joe se despedindo dela no hospital, é a última coisa que me lembro.

Depois disso não me lembro de muita coisa. Um vazio permeia meu peito de novo. Afrouxo a gravata que me aperta a garganta. Quero ir pra minha casa. Damon me pede pra ficar, Kath é gentil me servindo algo pra comer, percebo que estou com fome.

Mas não quero ficar. Quero minha cama, minhas coisas. Meu canto, onde eu posso entender tudo que está acontecendo. Eu sequer lembro do funeral, tudo é um imenso borrão até agora. Meu irmão parece ansioso. Elena me olha como se eu fosse um objeto de estudo. Kath me encara, sorrindo.

Termino de comer e eles continuam me olhando de forma estranha, e acredito que devam estar preocupados com a forma que tenho agido desde ontem. Não vão me deixar ir embora. Agradeço o lanche, entregando a louça.

— Posso tomar um banho, antes de dormir? - pergunto, querendo ganhar tempo.

Vejo a movimentação ao meu redor. Elena vai buscar uma toalha, Katherine ajeita o quarto, ou melhor escritório, pra eu dormir no sofá, de novo, e Damon vai buscar um pijama dele pra eu vestir. Desejo boa noite, dou um sorriso fraco, pegando as coisas e me trancando no cômodo.

Tomo banho pra passar o tempo, enquanto aguardo eles dormirem pra poder ir pra minha casa. Saio do banheiro, me visto com a mesma roupa e aguardo os barulhos ficarem fracos. Ouço os últimos passos, as luzes se apagam. Aguardo apenas alguns minutos, pra ter certeza. Abro a porta do quarto e caminho até a saída.

Na portaria, procuro meu celular no bolso, pra chamar George, não acho. Minha carteira também não está, e minha ideia de ir pra casa acaba de falhar miseravelmente. Não quero voltar pra casa do meu irmão. Eles me olham como se eu precisasse de ajuda e me sinto mal. E não rola de ir a pé, já está meio tarde pra ficar perambulando na rua sozinho, vestido assim.

Lembro de Caroline, na casa dela consigo olhar a lista e pegar o numero de George pra ligar pra ele. Peço pro porteiro interfonar e ver se ela está em casa, e acordada. Não é hora pra aparecer na casa dos outros, num domingo.

Subo, pensando em como vou explicar a situação. O elevador abre e as malditas lembranças daquele dia, da briga e da decepção com Elena, insistem em povoar minha mente. Lembro do rosto dela, a expressão assustada, as lágrimas caindo... Paro em frente a porta do apartamento de Caroline, me apoio no portal olhando pro chão e pensando ainda no que dizer pra ela.

A porta abre. Levanto a cabeça e a vejo, de cabelo preso de um jeito displicente, vestida num hobby de seda branco, curto e transparente o suficiente pra eu ver que não tem nada por baixo. Ela sorri, me dando passagem.


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