Never Say Never escrita por Drix


Capítulo 20
More Than a Feeling




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POV Elena

Fecho a porta e faço um mapa mental das coisas que o Stefan disse pra eu conseguir a vaga. Não sei se estou preparada pra me tornar alguém sociável, muito menos se aguento as pessoas me olhando com pena por causa do acidente dos meus pais.

Vou conversar com minha irmã. Caminho pela sala, paro na cozinha e pego um copo d'água. Me lembro do jeito que Stefan me olhou na mesa do jantar, e do abraço. E a forma que ele ficou constrangido agora, na saída. É, o mesmo menino que a Kath descreveu e que falei no telefone.

Não posso mais focar nessa raiva que eu criei. Tenho outras prioridades agora. Deixo o copo na pia e sigo o corredor até os quartos.

— Hey. - paro na porta do escritório onde os dois continuam assistindo TV. - Preciso falar com vocês.

Katherine dá pausa e se ajeita no sofá, claramente alarmada. - O que houve, aconteceu alguma coisa?

— A semana Ivy. - respondo, e vejo que ela não sabe do que se trata, mas, Damon responde, imediatamente.

— Tá cedo ainda. É só na última semana do mês. - ele responde, também se ajeitando no sofá. Eu puxo a poltrona e fico de frente pra eles.

— Não tá não, eu preciso me preparar e nem sabia que isso existia. Eu tenho um monte de coisa pra estudar, saber quem é o representante, fazer ele me conhecer, conseguir a entrevista, fazer bonito na tal festa...

— Stefan te falou isso? - ele pergunta. Kath cansa de não entender e pede uma explicação, ele mesmo explica. - Ela só precisa fazer uma entrevista com o representante da Columbia.

— São só duas vagas, Damon. - digo, desolada.

— Mas, você pode tentar depois, de novo. Não acho que você precise se alarmar dessa forma agora.

— Stefan falou a mesma coisa, mas, e se eu quiser agora, o que eu preciso além da doação e usar o sobrenome do papai?

— Espera. - ele se ajeita mais ainda no sofá. - Vocês não leram os documentos que o sr. Callahan mostrou sobre a sua educação? - olha pra nós duas meio confuso. - Pelo visto não, né. Muito bem, o Dr. Gilbert já tinha intenção de te mudar de colégio. O advogado deu a entender que a grana que ele separou seria pro caso de morte, mas, não, eles já estavam vendo uma transferência pra você, numa escola preparatória Ivy. E, consta uma doação generosa pra Universidade também.

— Como assim? Eu não estava sabendo de nada disso, eles iam me transferir sem me contar?

— Eu não posso te dar certeza, porque não tinha nada concretizado, mas, pelo que eu li dos documentos anteriores e anexados, seu pai estava consultando duas escolas próximas a vocês. Ambas particulares.

— Mas que história, eu estudei em colégio público a vida inteira, por que eles fariam isso com Elena?

— Baby, não se aborreça com o que eu vou dizer, nem você Elena, mas, são cursos muito diferentes. Você cursou jornalismo, e sempre participou de atividades relacionadas a isso. Elena quer medicina. Além do consultório do pai de vocês, quais outros lugares que ela vivenciou isso? - ficamos caladas por um momento, e sim, me senti mal. Eles achavam que eu não ia conseguir a vaga, é isso? Kath verbalizou meus pensamentos.

— Você tá dizendo que meus pais acharam que ela não fosse capaz?

— Não, eu estou dizendo que eles queriam que ela tivesse uma oportunidade melhor de mostrar que é capaz. - ele explica.

— Mas e por que a doação? - ainda tô confusa.

— Porque é normal, as famílias mais abastadas doarem pras universidades, pras pesquisas, dando visibilidade ao nome do aluno, e melhorando seu score pra entrar numa Ivy. Seu pai já garantiu sua vaga na festa de apresentação. É claro que depende da sua média no colégio, e das suas atividades também, você precisa se nivelar, mas, o seu nome está marcado. - ele responde num tom satisfatório. - O representante vai avaliar seu currículo, e depois é só fazer a entrevista. E, sim, vai ter que se apresentar como Gilbert, pelo menos avisar ao reitor, porque na entrega das pastas, o representante da Columbia precisa saber que você é você.

— Como assim, se apresentar como Gilbert, Elena? Você não está usando seu nome no colégio? - Kath ainda não sabia, eu nunca falei. Não lembrei. Parei pra explicar e completei.

— Eu não sei se tô preparada pra todo mundo me olhando como a órfã coitadinha. - ela me olhou um pouco temerosa e segurou minha mão.

— E por que você decidiu garantir essa vaga agora? - ela me pergunta. - Por que não faz como todo mundo, no tempo certo, por que precisa se preocupar com isso tão cedo?

— Porque se eu conseguir isso agora, tudo vai ser mais fácil pra mim. Tá tudo sendo tão diferente, e estranho, e ainda tenho que me preocupar em conseguir seguir a turma, e depois garantir minha vaga. Se ela vier agora, eu posso respirar e me dedicar a só passar de ano. - respondi, sendo o mais sincera possível, mas, no fundo tem um pouco de orgulho, eu quero mostrar pra essa gente desse colégio que eu sou tão boa, que acabei de chegar e consegui minha vaga.

— Você acha que consegue se nivelar a tempo? - Kath pergunta, parecendo preocupada.

— Não sei, mas, eu quero tentar. Pelo menos.

— E o que você precisa de nós? - Ela segura minha mão e eu não sei responder. Olho pra eles, e me questiono.

— Não sei, acho que só apoio. Eu não quero que me olhem diferente pelo meu nome, mas parece que isso inevitavelmente vai acontecer, né?! - os dois sacodem a cabeça dizendo sim. Pressiono os lábios um pouco inconformada.

— Mas isso não é necessariamente um problema, Elena. Você estuda numa escola onde 97% dos alunos têm um sobrenome importante. Quem não tem, é filho de professor da própria escola, então, o máximo que vai acontecer, são as portas se abrirem pra você. Dificilmente, elas vão se fechar. - Damon diz, parecendo acolhedor. Ou deveria ser. A ideia de voltar a ser visível pelo nome do papai me assusta um pouco.

— Será que tem como informar só na secretaria, mudar apenas na pasta que vai pra Universidade? E deixar a pauta dos professores de fora? Será que isso é possível? - Kath questiona, com uma ideia maravilhosa, percebendo meu temor. Minha irmã me conhece como ninguém.

— Eu não sei, mas, não custa perguntar.

— Você não precisa informar a sua escolha até a semana anterior, então, ainda tem duas semanas pra decidir, viu?! - Damon esclarece. - Stefan vai te ajudar a estudar?

— Sim, ele foi embora montar um cronograma de estudo pra mim, amanhã mesmo começamos! Depois da aula... Acho que não teremos mais nossos jantares...

— Não senhora! Nada disso. Você não vai ficar na rua o dia inteiro sem comer, ou pior, comendo porcaria. Vai jantar em casa, eu não quero saber! - Kath me interrompe e por um momento fica tão parecida com mamãe que me assusta. - Traz Stefan pra cá, vocês estudam aqui e jantam aqui. Eu prometo que não vou fazer congelado todo dia. Nem que eu contrate uma cozinheira.

— Baby, Stefan não pode vir pra cá todo dia. - Damon lembra. Ela resmunga.

— A gente vai dar um jeito nisso. Amanhã ele vem de novo, eles estudam e jantam. Ele pareceu hoje que não come direito há semanas. Fiquei preocupada. - ele ri e dá um beijo na testa dela, ambos me olham, esperando minha concordância.

Reviro os olhos e concordo.

— Bom, vou descansar, terei dias longos a partir de agora, e preciso dormir direito. Boa noite.

Kath levanta rápido e me dá um beijo na testa dizendo que vai ficar tudo bem. Sorrio e vou pro meu quarto.

POV Katherine

— Não falei que tudo ia ficar bem?! - Entro no quarto falando com Damon.

— Você é maligna! - ele ri.

— Eu conheço ambos o suficiente pra saber que seriam ótimos amigos. Vem, vamo espiar!

Olhamos quase escondidos pra sala e os dois conversam civilizados. Stefan sorri se recostando no sofá e noto que está tudo bem. Eu e Damon vamos pra sala de TV, e deixamos eles sozinhos.

— Quanto tempo será que fica essa paz? - ele me pergunta.

— Pra sempre, espero.

Assistimos um filme, quase adormecidos no sofá quando as cabecinhas surgem na porta, chamando. Pulei de susto. Mas, eles parecem entrosados, o que me conforta, e respondo, sincera.

Stefan decide ir embora, e nos despedimos dele. A coisa só melhora quando Elena informa que o acompanha até a porta. Cutuco Damon, de leve. Ele sorri, passando a mão pela minha cintura, mostrando que entendeu. Voltamos pra terminar de ver o filme.

Alguns minutos depois ela reaparece me contando uma história sobre uma tal semana Ivy que eu nunca ouvi falar. Damon me explica e fico ouvindo a discussão dos dois sobre o assunto que eu não faço a menor ideia do que seja, de verdade.

Agora tudo faz sentido, papai não estava se preparando pra morte deles, estava preparando Elena pra faculdade. Meu coração aperta com a lembrança, mas, sinto um conforto estranho em saber disso.

A minha transição pra faculdade foi tão calma, tão natural que eu não faço ideia do que minha irmã tá passando. Eu tento fazer com que as coisas sejam minimamente estressantes pra ela, mas, cada hora aparece uma coisa diferente. Começo a questionar se essa mudança de cidade foi mesmo boa. Mas ela parece tão decidida que apenas a consolo.

Fico feliz quando ela diz que vai ter ajuda de Stefan, e acho um bom momento pra reaproximar ele aqui de casa. Não gosto dessa ideia dele perambulando sozinho por aí. Rebekah me deixou alarmada com aquela história de ressaca, não gostei disso.

Elena decide ir pro quarto descansar e peço pra Damon me explicar com calma sobre essa tal semana alarmante. Ele explica de novo, com calma.

— Ia ser tão bom se Stefan viesse jantar com a gente todos os dias. - digo, sorrindo.

— Hum... Eu poderia dar um jeito, com esse motorista novo dele, de repente...

— E como você faria isso? - pergunto curiosa.

— Não sei, talvez tirar o GPS do telefone dele, pra começar.

— Hum... Eu não sei se gosto disso. Não gosto dessa ideia de ficar burlando os sistemas do seu pai. Mal ou bem, ele se preocupa com Stefan. Do jeito torto dele, mas, se preocupa. Né?!

— Eu não sei se ele se preocupa realmente com o Stefan ou com quem vai ficar no lugar dele no futuro. Stefan se cria sozinho desde que a Denise faleceu, Baby. Papai nunca está em casa, não se preocupa nem se ele está comendo.

— Ah, isso eu notei, o menino parecia que não via comida há dias! - falo revoltada.

— Então, de repente, um telefone novo, sem GPS, quem sabe?! - ele tenta me convencer, sorrindo.

— Vou pensar. Amanhã ele vem, e você conversa com ele, pra saber o que ele acha, se ele gostar da ideia, tudo bem, não vou me meter nisso. - Concluo, são irmãos, eu não quero interferir. Ele sorri, e damos play no filme novamente.

POV Elena

Deito tentando dormir, mas, minha cabeça gira e ainda tô absorvendo esse tanto de informações só dessa noite. O cara que eu odeio não é o cretino que eu achava, o irmão do Damon é alguém mais familiar que eu pensava, minha vida confortável ia mudar mesmo antes da morte dos meus pais, preciso me tornar alguém diferente se quiser sobreviver nesse mundo novo.

Quando tudo se tornou tão competitivo e feroz? As conversas com papai, todos ensinamentos, eles estavam me preparando pra isso? Cursar medicina é tão louco assim? Eu gosto tanto, mas, não sei se estou realmente preparada.

Me questionar da minha escolha é algo que eu jamais pensei em fazer. De todo jeito, meu compromisso agora é com essa vaga, eu quero mostrar que sou capaz e vou conseguir.

Acordo pela primeira vez com o despertador tocando. Os raios de sol já invadem meu quarto, corro pra me vestir, e saio pra tomar café, quero nadar de novo hoje, e contar pro Stefan a minha decisão.

Chego na piscina e está vazia. O salva-vidas está num canto, mexendo no celular, e nem sinal do professor. Me dirijo pro vestiário pra tirar o uniforme, a porta abre.

— Hey, bom dia! - Stefan me recebe com um sorriso. Me controlo pra não ser grossa, minha reação automática é implicar. Respiro e respondo.

— Bom dia. O treinador tá por aí?

— Tá no vestiário, mas, já já alguém chama e ele vai embora, como sempre. Nem se importe. Tá tudo bem, descansou? - ele me pergunta gentil, e eu não consigo relaxar ainda.

— Dormi mal, pensando em tudo o que você disse, e teu irmão me falou umas coisas, uns planos do meu pai... - digo, passando os dedos acima dos olhos, como se pudesse apagar a preocupação, ele me olha sério e preocupado, continuo. - Bom, eu quero estudar, quero a vaga, você vai me ajudar mesmo? - finalizo.

— Sim, vou. Você conseguindo essa vaga, é bom pro meu currículo também. - me reteso. Essa eu não sabia.

— Como assim?

— Hum... - ele franze a testa buscando a explicação. - Como eu posso dizer... Eu não sou monitor a toa, como você percebeu, eu ganho créditos com isso. Quando o desempenho do aluno que eu ajudo é bom, isso conta pontos pra mim também. É claro que eu gosto de fazer, mas, confesso, nunca é de graça apenas por bondade. - ele termina de falar e recolhe os ombros, como se tivesse se desculpando.

Olho séria, não achei que fosse, lógico, mas, não esperava essa sinceridade tão latente sendo jogada na minha cara dessa forma.

— Eu... Ahn... - fico sem saber o que dizer resmungando coisas sem nexo até ele continuar.

— Então, eu vou te ajudar, e vamos conseguir essa vaga pra você, e sua entrevista vai ser fantástica. - ele sorri e por um momento parece mais otimista que eu.

— E se eu não conseguir?

— Eu não considero essa hipótese. Não trabalho com fracassos. Eu sou um Salvatore, lembra?!

— Eu lembro, mas parece que você esqueceu que isso pra mim não significa nada. - respondo tão automático que nem noto meu tom grosseiro.

— Ouch! Parece que as farpas continuam aí, só esperando que eu vacile. - Eu rio, e me desculpo.

— Não foi intencional. É que apesar de saber a importância dos sobrenomes por aqui eu não tenho a familiaridade que vocês têm com as linhagens, eu nunca me importei com isso, onde eu estudava o que diferenciava eram as notas, não o nome que você herdou.

— Então, se você quiser sobreviver aqui esse ano, vai ter que começar a aprender. E, bom, ainda bem que você está com a Lexi do seu lado, ela é ótima nisso. Agora eu vou nadar, mais tarde a gente vai ter tempo de conversar.

Aceno com a cabeça e entro no vestiário. Saio de roupão, ainda receosa em ficar de maiô na frente dele. Chego na borda da piscina, e ele está entretido nadando. Observo por alguns minutos as braçadas largas e fortes.

Os ombros desenhados acompanhando os braços musculosos. Kath disse bem, ele está lindo. Mas, eu permaneço com vergonha. Tiro o roupão nervosa, ele não tira a cabeça da água, mergulho tão rápido que quase perco os óculos. Me concentro no que vim fazer e esqueço o resto. Pelo menos na água, eu coloco minhas ideias em ordem.


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